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4. O SISTEMA REGULATÓRIO E PRÁTICO DO INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES

4.2. A Moldura Prática do Intercâmbio de Informações Tributárias no Brasil

4.2.1. A Estrutura Institucional da Receita Federal do Brasil para a Realização do

4.2.2.2. O Acesso às Informações Tributárias dos Contribuintes Brasileiros e a

Necessárias à Atividade Fiscalizatória.

Existindo a disponibilidade de informações, é necessário também que haja infraestrutura para o gerenciamento das informações coletadas, bem como meios coercitivos para que o Estado possa obter outras informações necessárias à atividade fiscalizatória.

A administração tributária brasileira conta com algumas possibilidades de acesso às informações fiscais dos contribuintes para fins de intercâmbio de informações.

384OECD (2013), Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer

Review: Brazil 2013: Phase 2. p. 39.

385Ministério da Fazenda. Receita Federal. Instrução Normativa n. 1.183/2011. Disponível em:

http://sijut2.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?&visao=original&idAto=16156. Acesso em: 15/11/2013.

386Ministério da Fazenda. Receita Federal. Instrução Normativa n. 1.042/2010. Disponível em:

http://sijut2.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?&visao=original&idAto=16007 Acesso em: 15/11/2013.

387Ministério da Fazenda. Receita Federal. Decreto n. 3.000/1999. Disponível em:

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/rir/default.htm. Acesso em: 15/11/2013.

388Ministério da Fazenda. Receita Federal. Instrução Normativa n. 1.033/2010. Disponível em:

Primeiramente, ao receber um pedido de intercâmbio de informações a RFB, por meio da CORIN, busca atender ao pedido do Estado solicitante a partir do seu próprio banco de dados. Na hipótese de a CORIN não possuir as informações necessárias para atender à solicitação do Estado estrangeiro, a unidade local da RFB responsável pelo contribuinte investigado é informada para colaborar com a coleta de informações389. Ao longo do período de elaboração do relatório da OCDE o Brasil recebeu 89 solicitações de administrações tributárias estrangeiras; destas a CORIN foi capaz de acessar informações básicas dos contribuintes diretamente do seu banco de dados em apenas 12 ocasiões. No atendimento dos outros 77 pedidos de intercâmbio de informações foi necessário encaminhar o pedido à unidade local da RFB responsável pelo contribuinte e pela matéria do pedido de intercâmbio390.

Caso a informação também não esteja à disposição nas unidades locais da RFB, a administração tributária brasileira procura contatar outras agências governamentais para obter os dados. A troca de informações interagências é realizada de acordo com a Instrução Normativa n. 19/1998391, que disciplina os procedimentos de fornecimento de dados cadastrais e econômico-fiscais da RFB a outras instituições governamentais. Nesse sentido, destaca-se que além do intercâmbio internacional das informações, é comum também o intercâmbio interinstuticional, porquanto as diversas instituições que coletam informações dos cidadãos realizam o monitoramento e o cruzamento de dados a fim de encontrar inconsistências e fraudes. Assim, nos últimos três anos, a RFB reportou 108 atividades suspeitas ao COAF392.

Quando a informação solicitada ao Brasil não estiver disponível no banco de dados da RFB, nem de outras agências governamentais, ela poderá intimar o contribuinte

389 When an EOI request is received by CORIN, the EOI Unit will first check if the information requested

is available in the RFB´s databases. Such information stored in the database records, includes contact details and address, tax returns, wheter or not a natural or legal person is a resident of Brazil and in what local unit they are registered for tax purposes. If the information requested is of basic nature (such as verification of name, address, and as to wheter tax returns have been filed), the information is immediately accessible by the EOI Unit and in such cases can be furnished directly to the requesting jurisdiction. OECD (2013), Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer Review: Brazil 2012: Phase 2. p. 72.

390 OECD (2013), Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer

Review: Brazil 2013: Phase 2. p. 72

391 MINISTÉRIO DA FAZENDA. Secretaria da Receita Federal do Brasil. Instrução Normativa n. 19/1998.

Disponível em: http://sijut.fazenda.gov.br/netacgi/nph-

brs?s1=IN000000191998021701$.CHAT.%20E%20SRF.ORGA.%20E%2019980218.DDOU.&l=0&p=1& u=/netahtml/sijut/Pesquisa.htm&r=0&f=S&d=SIAT&SECT1=SIATW3. Acesso em: 18/11/2013.

392 OECD (2013), Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer

para que produza a informação necessária ou intimar terceiros para que produzam diretamente a informação, sem que o contribuinte seja informado. Segundo relatado pela

OCDE, “under Brazilian law, there is no obligation to notify the subject of a request for

EOI nor is there a prior notification requirement as such”393. Em suma, o contribuinte só toma ciência da investigação na hipótese de a RFB não possuir as informações suficientes para realizar a cooperação internacional por meio do seu próprio banco de dados Na prática, o período concedido aos contribuintes e a terceiros para que produzam as informações solicitadas é de 20 (vinte) dias394.

Quando a solicitação ao contribuinte de apresentação de informações não for atendida, a RFB possui penalidades que podem ser aplicadas, tais como: (i) multas395; (ii) promover a lacração de móveis, caixas, cofres ou depósitos onde se encontram arquivos e documentos, toda vez que ficar caracterizada a resistência ou o embaraço à fiscalização, ou ainda quando as circunstâncias ou a quantidade de documentos não permitirem sua identificação e conferência no local ou no momento em que foram encontrados396; (iii) requisitar o auxílio da força pública federal, estadual ou municipal, e reciprocamente, quando vítimas de embaraço ou desacato no exercício de suas funções, ou quando necessário à efetivação de medida prevista na legislação tributária, ainda que não se configure fato definido em lei como crime ou contravenção397; e (iv) imputar sanções criminais por desobediência398. Complementarmente, a RFB pode iniciar também um Regime Especial de Fiscalização, nos moldes da Lei n. 9430/1996, artigo 33, e da Instrução Normativa RFB n. 979/2009. Durante o período de avaliação da OCDE, a RFB não aplicou nenhuma dessas penalidades, uma vez que nenhuma agência governamental, contribuinte ou terceiros jamais se recusou a prestar as informações solicitadas para a realização do intercâmbio de informações399.

Caso a informação ainda não tenha sido obtida por meio dos passos anteriores, a informação pode ser solicitada à instituição financeira vinculada ao contribuinte

393 Ibidem. p. 83. 394 Ibidem. p. 73. 395

Decreto-Lei n. 2.303/1986, artigo 9; Lei n. 8.383/91, artigo 3º, I; Lei n. 9.249/1995, artigo 30; Regulamento do Imposto de Renda – RIR/1999, artigo 968.

396 Lei n. 9.430/1996, artigo 36 e Regulamento do Imposto de Renda – RIR/1999, artigo 916.

397 Lei n. 2.354/54, artigo 7º, Código Tributário Nacional, artigo 200, e Regulamento do Imposto de Renda – RIR/1999, artigo 920.

398 Lei n. 2.354/54, artigo 7º, Código Penal, artigo 330, e Regulamento do Imposto de Renda – RIR/1999,

artigo 920.

399 OECD (2013), Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer

investigado. Contudo, a OCDE relata que ainda não foi necessário que a RFB solicitasse informações às instituições financeiras400.

Observa-se que a RFB não faz distinção em relação a informações que tenham ou não interesse para a administração tributária brasileira. A RFB busca atender a todos os pedidos de intercâmbio com as mesmas ferramentas legais e tecnológicas utilizadas nas fiscalizações domésticas401. Portanto, em último caso, a RFB deverá empreender uma investigação para coletar ou produzir a informação solicitada pelo Estado estrangeiro. Para tanto, a administração tributária brasileira deverá utilizar-se de seus amplos poderes para a produção de informações:

The Brazilian competente authority has broad powers to acess accounting and banking information and data on the ownership of legal entities, readily available in their own databases and those of other governamental agencies. In addition, the RFB has a wide array of acess powers at its disposal to acess information from third parties for domestic purposes and, in practice, they make full use of their powers in order to acess information in response toa n EOI request. (...) In the event of non-compliance with an EOI request, adequate enforcement measures are available to comple the disclosure of information, but in practice these have never had to be used for EOI purposes402.

Com efeito, embora existam diversas fontes e mecanismos para a coleta das informações, em alguns casos é possível que surjam situações onde se torne necessário utilizar o poder de enforcement da administração tributária para obter as informações

desejadas. Conforme o citado relatório da OCDE403, a RFB tem poderes amplos de acesso

a informações para fins de intercâmbio internacional de informações e medidas para coagir a produção de tais informações404. Ela também pode convocar pessoas físicas e jurídicas, contribuintes ou não, e outras partes relacionadas, para mostrar livros e documentos e para fornecer qualquer informação solicitada pela RFB no exercício de suas funções405. Em princípio, não há restrições aos poderes de diretamente interrogar

400 Ibidem. p. 67. 401 Ibidem. p. 73. 402

Ibidem. p. 70.

403 OECD (2012), Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer

Review: Brazil 2012: Phase 1. p. 49.

404 O Código Tributário Nacional, em seu artigo 197, prevê uma exceção em relação ao segredo profissional: “não abrange a prestação de informações quanto a fatos sobre os quais o informante esteja

legalmente obrigado a observar segredo em razão de cargo, ofício, função, ministério, atividade ou

profissão”.

405 Lei n. 2.354/54, artigo 7; Decreto-Lei ns. 5.844/43, artigo 123, e 1.718/79, artigo 2; CTN, artigo 195 e

indivíduos ou apreender documentos406. No entanto, no caso de busca e apreensão de documentos em residências ou instalações profissionais, uma ordem judicial é necessária407.

Nesse sentido, a intimação do contribuinte sobre o intercâmbio de informações só ocorre em determinadas situações, como no caso de informações bancárias que não estejam em poder da RFB via DIMOF e informações que não constam do banco de dados da RFB. Nesses casos, a administração tributária brasileira concede o prazo de 20 (vinte) dias para que o contribuinte ou o terceiro intimado apresente as informações solicitadas. Caso contrário a RFB aciona os mecanismos para obter a informação diretamente com a instituição financeira. Não existem exceções a esse prazo para situações urgentes ou situações em que a celeridade é fundamental ao sucesso da investigação408. Assim, nos casos de sigilo bancário o contribuinte é notificado e tem a

oportunidade de impetrar Mandado de Segurança − art. 5º, LXIX, da CF − caso julgue

necessário. Contudo, nas oportunidades em que não é notificado, o contribuinte não tem ciência do intercâmbio de suas informações e tampouco pode garantir seus direitos, aplicando-se assim um tratamento anti-isonômico aos contribuintes brasileiros.

Apesar de as regras proporcionarem amplos poderes à RFB para ter acesso a informações fiscais dos contribuintes, o Supremo Tribunal Federal409, em seu último pronunciamento sobre o tema, tem se manifestado no sentido de que é necessária uma ordem judicial autorizando a divulgação de registros bancários por parte das instituições financeiras. Ademais, várias ações de declaração de inconstitucionalidade contra

dispositivos da Lei Complementar n. 105/2001 aguardam julgamento no STF410.

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