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3. POLÍTICA TRIBUTÁRIA GLOBAL: O INTERCÂMBIO INTERNACIONAL DE

3.2. Modalidades de Intercâmbio de Informações Tributárias

3.2.2 Intercâmbio Espontâneo (Spontaneous Exchange of Information)

O intercâmbio espontâneo de informações consiste no envio voluntário de informações que um Estado julga ser do interesse de outro Estado e a este são transmitidas numa base casuística e independentemente de uma solicitação154. Essa

152“Whether there are reasons for avoiding notification of the taxpayer under examination or investigation (e.g. if notification may endanger the investigation)”. Cf. OECD (2006) Manual on the Implementation of

Exchange of Information Provisions for Tax Purposes: Module on Exchange of Information on Request. Disponível em: http://www.oecd.org/tax/exchange-of-tax-information/36647823.pdf. Acesso em 18/6/2013. p. 4.

153OECD (2013), Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer

Review: Brazil 2013: Phase 2. p. 83.

154XAVIER, Alberto.Troca de Informações: as novas tendências. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (coord).

modalidade caracteriza-se pela ativa participação das autoridades fiscais, e as informações intercambiadas através dessa modalidade geralmente são eficientes, uma vez que constumam dizer respeito a informações obtidas ao longo de uma investigação doméstica, mas com conteúdo de interesse comum à administração tributária de um outro Estado155

. Para a RFB, a troca de informações espontâneas constitui uma situação na qual a administração tributária de um país, no curso normal de suas atividades de investigação e fiscalização, encontra informação que acredita possa ser útil a outra administração tributária e a transmite, sem que esta última a tenha solicitado156.

A aplicabilidade e a eficiência deste mecanismo dependem, especialmente, da habilidade das autoridades fiscais de um país em identificar informações que possam ser do interesse da administração tributária estrangeira. Nesse sentido, a OCDE recomenda que os países elaborem estratégias para a promoção e o desenvolvimento dessa modalidade de intercâmbio, tais como envio de relatórios, produção de estatísticas anuais e treinamento dos agentes fiscais157. A própria RFB observa que: “É interessante fornecer retorno sobre a utilização da informação recebida, pois isso estimula o fisco estrangeiro a

continuar fornecendo informações espontaneamente”158

.

Tendo em vista aclarar quando o agente fiscal deverá realizar a troca de informações espontaneamente, a OCDE aponta algumas situações em que se deve considerar a possibilidade de se aplicar essa modalidade de cooperação, quais sejam: (i) quando houver razões para se acreditar que determinada informação reflete perda de receita para outro Estado; (ii) pagamentos feitos a residentes de um outro Estado, que se acredita não tenham sido declarados; (iii) obtenção de incentivo fiscal em um Estado que, por consequência, aumentasse a base tributável em um outro país; (iv) informações sobre planejamento tributário; (v) informações que dizem respeito a relações comerciais entre um indíviduo sujeito a tributação em um país e um indivíduo sujeito a imposto em outro país são realizadas através de um ou mais países, de tal forma a gerar uma economia tributária em um dos outros países ou em ambos (bi-não-tributação); e (vi) quando um

155OECD (2006) Manual on the Implementation of Exchange of Information Provisions for Tax Purposes:

Module on Spontaneous Exchange of Information. Disponível em: http://www.oecd.org/tax/exchange-of- tax-information/36647823.pdf. Acesso em 18/6/2013. p. 3.

156

MINISTÉRIO DA FAZENDA. Op. cit. p. 10.

157OECD (2006) Manual on the Implementation of Exchange of Information Provisions for Tax Purposes:

Module on Spontaneous Exchange of Information. Disponível em: http://www.oecd.org/tax/exchange-of- tax-information/36647823.pdf. Acesso em 18/6/2013. p. 3.

158

Estado tem razões para suspeitar que existem transferências fictícias de lucros dentro de grupos de empresas e esquemas de evasão fiscal159.

O fornecimento espontâneo de informação tributária deve conter a identificação das pessoas envolvidas (nome, data de nascimento, endereço, número de identificação fiscal, entre outros), a identificação de intermediários, uma explicação de por que se acredita ser a informação possivelmente útil à outra administração tributária, a forma como a informação foi obtida, se for o caso, o interesse em receber retorno quanto aos resultados obtidos com aquela informação, e os limites no uso da informação, assim

como a base legal para seu fornecimento160. A OCDE161 recomenda ainda que o Estado

informe sobre a notificação ou não do contribuinte, ou intermediário, alvo do intercâmbio, se há alguma objeção para que o contribuinte receba a informação e também se há alguma objeção em revelar trechos da informação fonecida. Para tanto, recomenda- se que quando regras de confidencialidade se aplicarem à informação, o documento deverá conter marcas que permitam a identificação do caráter sigiloso. Por fim, para fins de facilitação do intercâmbio e feedback, recomenda-se identificar o agente fiscal responsável pelo envio da informação.

Novamente, percebe-se que a regra geral é a de que o contribuinte seja informado do trânsito de sua informações pessoais. Apenas quando for justificada é que a notificação não é recomendada.

O acordo para troca de informações celebrado com os Estados Unidos não prevê a possibilidade de intercâmbio de informações espontaneamente, assim como os acordos para evitar dupla tributação celebrados pelo Brasil, salvo no caso do acordo entre Brasil e Portugal. Esse instrumento, assinado em 2001, prevê em seu artigo 26 a possibilidade de troca de informações espontânea162:

2. A autoridade competente de um Estado Contratante poderá enviar à autoridade competente do outro Estado Contratante, independentemente de prévia solicitação, a informação que possua quando:

159OECD (2006) Manual on the Implementation of Exchange of Information Provisions for Tax Purposes:

Module on Spontaneous Exchange of Information. Disponível em: http://www.oecd.org/tax/exchange-of- tax-information/36647823.pdf. Acesso em 18/6/2013. p. 3.

160

Ibidem. p. 3.

161Ibidem. p. 3.

162Artigo 26, 2º, do Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e a República Portuguesa

Destinado a Evitar a Dupla Tributação e a Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento, celebrado em Brasília, em 16 de maio de 2000.

a) tiver motivos para supor que houve pagamento a menos de imposto resultante da transferência artificial de lucros dentro de um grupo de empresas;

b) do uso de informações anteriormente recebidas do outro Estado Contratante, surgirem novos dados ou antecedentes que sejam de utilidade para a tributação nesse outro Estado Contratante;

c) qualquer outra circunstância leve à suposição de existência de perda de receitas para o outro Estado Contratante.

Importante destacar que a troca de informações espontânea é instrumento de fiscalização das administrações tributárias, mas também pode ser utilizada como ferramenta de cooperação em favor do contribuinte, conforme exemplifica a OCDE:

Country A uses the exemption method for the purposes of avoiding double tax on employment income. Maria, a resident in country A, was exempted from tax in country A because she was employed for more than 183 days in country B during the 2003 tax year. Because the Convention between country A and country B assigns taxing rights on

Maria’s employment income to country B, country A spontaneously

informs country B that it granted a tax exemption to Maria for the 2003 tax year163.

Assim, a troca espontânea de informações tributárias trata de dados obtidos no curso das atividades fiscalizatórias de um determinado Estado, e não do cumprimento de um pedido de informação concreto e específico recebido de um outro Estado; tampouco é a modalidade adequada para cumprir exigências de intercâmbios obrigatórios. O intercâmbio espontâneo tem a natureza de intercâmbio eventual ou ocasional, ensejando que a eficácia da troca espontânea em benefício do fisco ou do contribuinte dependerá, numa larga medida, da motivação e da iniciativa dos funcionários da administração tributária do país que comunicou a informação164.

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