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5. FRICÇÕES ENTRE O INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES TRIBUTÁRIAS E OS

5.8. Novos Paradigmas da Administração Tributária e a Necessidade de

Vive-se um período de transição e testes em relação à atuação das administrações tributárias, conforme já exposto ao longo deste estudo. Embora este item não verse

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objetivamente sobre nenhum direito ou garantia fundamental, trata-se de tema imprescindível a fim de que as políticas e instrumentos de intercâmbio de informações adotados pelo Brasil não sejam ferramentas exclusivas para o que Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson denominaram de extrativismo fiscal607, em que o Estado utiliza a lei como instrumento de força para extrair riquezas da sociedade, criando-se um ciclo vicioso e autista, sendo a lei utilizada como instrumento de poder de arrecadação de tributos, mas sem nenhuma contrapartida jurídica608.

O receio se justifica pois a maioria das administrações tributárias baseia-se no

modelo firmado por Allingham, Sadmo e Yitzhaki609, com base na teoria econômica do

crime (paradigma do crime), que postula que à medida que se aumenta a probabilidade de fiscalização e punição dos contribuintes, aumenta também o cumprimento das obrigações tributárias. Para esse modelo, o contribuinte é sempre visto pela administração tributária

como um potencial fraudador610 e, portanto, os problemas centrais de uma administração

tributária seriam identificar, controlar e punir os contribuintes que fraudarem ou que não

cumprirem suas obrigações611. Nesse modelo de administração tributária, os instrumentos

utilizados para majorar a arrecadação estão sempre focados em estratégias de controle para maximizar a detecção e a punição612.

No entanto, em uma perspectiva contemporânea das administrações tributárias modernas, estudiosos como Richard Bird e James Alm têm trazido novas dimensões em relação a como a administração tributária pode influir no aumento do cumprimento das obrigações tributárias. Apesar de enfatizar que a coerção estatal é um instrumento importante e necessário na atuação das administrações tributárias, Richard Bird argumenta que nem todos os problemas das administrações tributárias podem ser

resolvidos pela Tax Police613. Existem extensas pesquisas demonstrando que há muito a

607ACEMOGLU, Daron et al. The Colonial Origins of Comparative Development: An Empirical

Investigation. The American Economic Review, Vol. 91, N. 5 (Dec., 2001). p. 1.369-1.401. Disponível em: <http://economics.mit.edu/files/4123> Acesso em: 3.6.2013.

608Cf. SANTI, Eurico M. D. de. Decadência sobre “fatos geradores” que decorrem de atividade

interpretativa do contribuinte, ex vi do Art. 150/CTN, e a jurisprudência do STJ sobre atos “ilícitos”,

“pagamento antecipado” e “contagem do prazo do Art. 173/CTN”.

609CUMMINGS, Ronald; MARTINEZ-VASQUEZ, Jorge; MCKEE, Michael; TORGLER, Benno. Tax

Morale affects Tax Compliance: Evidence from surveys and artefactual field experimente. Journal of Economic Behavior & Organization. N. 70 – 2009. p. 448.

610

BIRD, Richard. Op. cit. p. 4.

611Ibidem. p. 4.

612ALM, JAMES e Torgler, Benno. “Do Ethics Matter? Tax Compliance and Morality”. Journal of

Business Ethics, January, 2011. p. 2.

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ser ganho quando a administração tributária deixa de lado o paradigma do crime e passa a adotar um novo padrão que se instauraria através de múltiplas ações dirigidas a estimular o cumprimento de normas tributárias de uma forma mais eficiente e legítima, reduzindo as incertezas e ambiguidades da legislação614.

A mudança de paradigma proposta altera fundamentalmente o ponto de partida das ações das administrações tributárias. No modelo tradicional, o contribuinte seria sempre um potencial criminoso e a administração tributária teria de pautar suas ações pelo objetivo de alcançar uma maior capacidade de detecção e punição. Contudo, o novo paradigma apresentado por Alm e Bird enxerga a administração tributária além dos fatores puramente econômicos. Ainda que reconheçam a importância da coerção governamental, essa nova perspectiva permite ações variadas das administrações tributárias, que passam a se preocupar também em construir um relacionamento de maior cooperação e confiança com os contribuintes. Nesse sentido, o fortalecimento e o estreitamento da relação entre Fisco, contribuintes e intermediários é uma das recomendações para as administrações tributárias mais enfatizadas pela OCDE615 .

Com efeito, os estudos empíricos realizados por esses autores enfatizam que quanto mais o Fisco ofereça assistência, aja com transparência, respeite a capacidade contributiva, seja responsivo às necessidades dos contribuintes, esteja aberto a uma relação mais cooperativa e menos coercitiva, mais se conseguirá desenvolver a

614 Diante dos resultados encontrados em sua pesquisa, o autor entende que haveria uma moral tributária ou

tax morality que influencia os cidadãos na decisão de cumprir ou não suas obrigações tributárias. A tax morality seria para o autor a motivação dos contribuintes para cumprir as obrigações tributárias. Para tanto, o autor defende que alguns fatores são determinantes para o desenvolvimento das administrações tributárias, tais como: (i) a atmosfera que envolve o cumprimento de obrigações tributárias, ou seja, a percepção que os próprios contribuintes têm de outros contribuintes, em relação à maioria dos cidadãos serem cumpridores ou descumpridores das obrigações tributárias; (ii) a percepção do cidadão de representatividade e redistribuição por parte do governo em relação à receita arrecadada com os tributos; (iii) a percepção da corrupção e da prestação de serviços públicos pelas instituições governamentais; (iv) a preocupação das instituições governamentais em atender necessidades particulares dos indivíduos (responsividade). Cf. ALM, James e MARTINEZ-VAZQUEZ, Jorge. Tax morale and tax Evasion in Latin America (Working Paper 07-04). Georgia State University, 2007. Disponível em http://econpapers.repec.org/RAS/pal49.htm. Acesso em: 2/9/2011; ALM, James e Torgler, Benno. “Do Ethics Matter? Tax Compliance and Morality”. Journal of Business Ethics, January. 2011; ALM, James. SANCHES, Isabel. JUAN, Ana. Economic and Noneconomic Factors in Tax Compliance. KYKLOS, vol 48 – 1995; ALM, James E., LASSEN, David D., ROSE, Shanna. The Causes of Fiscal Transparency: evidence from the American States. Sixth Jacques Polak Annual Research Conference, 2005.

615 OCDE. Tackling Aggressive Tax Tax Planning Through Improved Transparency and Disclosure

Report on Disclosure Initiatives. OCDE Publicações, 2011; OCDE. Study into the Role of Tax Intermediaries. OCDE. Publicações, 2008. Disponível em

http://www.oecd.org/dataoecd/28/34/39882938.pdf. Último acesso: fevereiro de 2011. Apud PACHECO, Mariana P. Fischer. RECEITA FEDERAL DO BRASIL: Historia, Desenvolvimento Institucional e Desafios para o futuro (aprendendo com a experiência Nacional e Internacional) – I Workshop do Núcleo de Estudos Fiscais – NEF/FGV – Junho, 2011. p. 15.

legitimidade da administração fazendária e o cumprimento das obrigações tributárias616. Há, portanto, que se optar por uma postura mais austera e fechada ou mais aberta e democrática617.

Prova de que os contribuintes não podem ser vistos exclusivamente como criminosos está no fato de que durante o período de avaliação da OCDE, a RFB não aplicou nenhuma penalidade a qualquer contribuinte em casos de intercâmbio de informações, haja vista que nenhum contribuinte ou terceiro jamais se recusou a prestar

as informações solicitadas618. Em suma, a maioria dos contribuintes deseja cumprir suas

obrigações tributárias, os recalcitrantes são exceção e, portanto, também devem merecer tratamento excepcional.

O intercâmbio de informações é uma ferramenta desenvolvida para atender aos interesses fazendários, no entanto, os governos devem compreender que a transparência é um conceito de mão dupla, implicando que eles mesmos devem estar mais abertos quanto

ao modo de formular e implementar suas políticas fiscais619. O robusto acesso aos dados

dos contribuintes deve ser refletido na transparência das práticas administrativas adotadas pela RFB para a execução do intercâmbio de informações. Muita atenção tem sido dada à eficiência do intercâmbio de informações, contudo, um novo equilíbrio deve ser encontrado entre, por um lado, a legitimidade da cooperação internacional para combater planejamentos tributários agressivos e à evasão fiscal, e, por outro, a proteção dos direitos constitucionais dos contribuintes620 .

Ademais, é possível que havendo uma procedimentalização que assegure os direitos e garantias fundamentais, o contribuinte também se beneficie das práticas de intercâmbio de informações e não enxergue apenas um mecanismo de controle da administação tributária. Por meio da cooperação internacional é possível alcançar uma

616 MACIEL, Everardo. Considerações Finais. Trabalho apresentado na 45. Assembleia Geral do CIAT

(Centro Interamericano de Administraciones Tributarias). Equador, abril de 2011. Disponível em http://www.ciat.org/index.php/es/cooperacioninternacional/actividadesinternacionales/conferenciastecnicas/ ponencias/1450-ponencias-conferencia-2010.html. Último acesso: junho de 2011.

617 SCHWARZ, Jonathan. Rights and Powers: Protecting the legitimate Interests of Taxpayers. Hardman

Lecture. 18 Novembro 2008. p.16.

618 OECD (2013), Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer

Review: Brazil 2013: Phase 2. p. 75.

619 OWENS, Jeffrey. The long march towards tax transparency. In: Transparência Fiscal e

Desenvolvimento: Homenagem ao Professor Isaias Coelho. Coord: Eurico Marcos Diniz de Santi; Frederico Silva Bastos; Daniel Leib Zugman; Basile Georges Christopoulos. 1. ed. São Paulo: Thomson Reuters, 2013. p. 463.

620 OBERSON, Xavier. The OECD Model Agreement on Exchange of Information – a Shift to the

melhor aplicação da legislação doméstica e dos acordos internacionais, a garantia de ambiente de negócios justos sem favorecimento de um contribuinte em virtude de seu porte econômico e de sua capacidade de operar no exterior, a diminuição do poder atrativo dos paraísos fiscais, e também as joint audits, que possibilitam maior segurança jurídica em relação ao entendimento das administrações tributárias em relação aos contribuintes.

Assim, a evolução das ações e das políticas adotadas pela administração tributária não devem se limitar a medidas para detecção, controle e punição dos contribuintes. Seria louvável que houvesse preocupação em desenvolver ações multifacetadas e com a participação dos contribuintes. Em 2013, o 67º Congresso da International Fiscal Association (IFA) apontou que, para os próximos 25 anos, ações e políticas das administrações tributárias devem incluir a redução do relacionamento adversarial entre fisco e contribuinte, em prol de medidas mais cooperativas, transparentes e que incrementem o diálogo entre esses atores621.

Especificamente em relação ao intercâmbio de informações, seria importante que houvesse um amplo debate com os atores interessados sobre como a troca de informações tributárias pode ser harmonizada com o que prevê o ordenamento jurídico brasileiro. Assim como seria desejável que a RFB possibilitasse uma participação maior dos contribuintes ao longo da cooperação internacional. O debate sobre o intercâmbio de informações tributárias ainda é incipiente no Brasil, em parte, talvez, pelo grande sigilo com que essas atividades da RFB se realizam, e também devido às poucas trocas de informações realizadas até o momento. No entanto, a tendência é que cada vez mais essa ferramenta fiscalizatória se desenvolva e passe a repercutir nas relações entre fisco e contribuintes. Portanto, é preciso estabelecer canais de diálogo enquanto a cooperação para intercâmbio de informações ainda se desenvolve, caso contrário assumir-se-á a postura de importadores de políticas tributárias sem a devida adequação ao sistema jurídico brasileiro.

A administração tributária é instituição responsável pela aplicação e interpretação da legislação tributária, fiscalização e cobrança de tributos. Alterar a Constituição, as leis, e os acordos internacionais não é medida suficiente para melhorar o sistema tributário. É preciso modificar também a forma como a administração tributária brasileira e os

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contribuintes se relacionam. As experiências e modelos propostos por organismos internacionais são relevantes, mas não podem ser singelamente transplantadas para o nosso sistema; é preciso adaptar e pensar os modelos internacionalmente propostos à nossa realidade, e essa tarefa só é possível se houver canais de diálogo entre a administração tributária e os contribuintes.

CONCLUSÕES

C1. Pressuposto do Estado Democrático de Direito é a sujeição do poder público ao Direito e ao escrutínio do povo. É, portanto, preocupante o fato de o Brasil assinar diversos acordos prevendo a cooperação em matéria tributária para troca de informações, mas resguardar dos cidadãos a procedimentalização dessa cooperação no âmbito doméstico. O percurso desta pesquisa justifica as escolhas, o alcance e, principalmente, demonstra que o maior obstáculo deste estudo foi a indisponibilidade da administração tributária brasileira em oferecer informações sobre as práticas de cooperação internacional com outros Estados. A postura adotada pela RFB negando em todas as intâncias o acesso ao Manual de Troca de Informações com e Exterior contraria o sentido da Lei de Acesso à Informação, estimulando a desconfiança e prejudicando a relação Fisco-contribuinte. Por outro lado, a competência recursal da CGU revelou-se fundamental para que se alcançasse o efetivo acesso à informação pública.

C2. O intercâmbio de informações entre os fiscos impõe a transição de um modelo de administração tributária calcada em políticas domésticas para um modelo que atua em um mundo globalizado e informacional. Para lidar com essas transformações, novas formas de regulação e reguladores são exigidas, tais como os instrumentos internacionais para intercâmbio de informações em suas diversas modalidades. Assim, o debate sobre o intercâmbio de informações requer, necessariamente, uma nova postura da administração tributária brasileira e também uma mudança cultural em favor de maior transparência internacional e doméstica das relações entre os Estados, as administrações tributárias e os contribuintes.

C3. O poder da informação e o crescimento da cooperação internacional em matéria tributária na busca por maior transparência governamental e combate à evasão fiscal e ao planejamento tributário agressivo fizeram com que a troca de informações entre Estados entrasse definitivamente na agenda da comunidade internacional. O Brasil tem realizado grandes esforços para adequar suas instituições e legislações aos padrões internacionais no que tange à troca de informações tributárias. Os esforços empreendidos pelo país para desenvolver sua rede de transparência fiscal internacional são no sentido de adequar-se a uma política internacional, aumentar o cumprimento das obrigações tributárias e também porque aqueles países que resistirem à

adoção de maior transparência e intercâmbio de informações estarão sujeitos a medidas de retaliação pela comunidade internacional.

C4. A troca de informações entre administrações tributárias e seus instrumentos devem ser vistos como mecanismos positivos e importantes para uma maior cooperação internacional. Isto porque estimulam um círculo virtuoso de transparência em que cada vez mais haverá compartilhamento de informações entre os Estados e que, consequentemente, aumentam o cumprimento das obrigações tributáras e também auxiliam no combate ao planejamento tributário agressivo, à evasão fiscal e à lavagem de dinheiro. Assim, as experiências de cooperação em matéria tributária e os modelos propostos por organismos internacionais são muito relevantes, e o Brasil deve continuar a se inserir nesse cenário. Contudo, esses instrumentos não podem ser singelamente transplantados para o ordenamento jurídico brasileiro. É preciso encontrar caminhos, critérios e objetivos próprios.

C5. No Brasil, não há instrumento legal específico que discipline o intercâmbio de informações tributárias. A moldura regulatória brasileira é formada da combinação entre dispositivos da CF, do CTN, dos acordos internacionais celebrados pelo país e do Manual de Troca de Informações com o Exterior. Essa estrutura jurídica sugere que o intercâmbio de informações com outros países seja possível, contudo o sistema jurídico brasileiro, também prevê direitos e garantias fundamentais que devem ser assegurados aos contribuintes brasileiros e, portanto, exigem preocupação em relação à adequação das ferramentas de cooperação internacional em matéria tributária celebradas pelo Brasil à legislação interna. A questão principal da troca de informações entre as diferentes nações é encontrar um equilíbrio entre, por um lado, dar e obter informações que auxiliem na aplicação da legislação fiscal e no combate aos crimes tributários, e, por outro lado, respeitar a legalidade, os direitos e as garantias fundamentais dos contribuintes. Trata-se de uma equação entre liberdade e poder.

C6. A legalidade não se constrói apenas com a publicação de leis, mas também com atos de aplicação concreta do direito. É preciso, portanto, conhecer não apenas as regras estabelecidas na estática legislação, mas também aquelas concreta e dinamicamente aplicadas no dia a dia pela administração tributária. O fato é que, no Brasil, ao menos em relação ao intercâmbio de informações, além da restrita

jogo” (legalidade concreta). A moldura prática brasileira revela que a RFB possui a

infraestrutura, o acesso e a autoridade para obter informações dos contribuintes ou terceiros, sempre que necessário. Contudo, a eficácia do intercâmbio de informações no Brasil pode ser mitigada pelas fricções entre essa modalidade de cooperação internacional e os direitos e garantias fundamentais assegurados pela CF e pelo atual posicionamento do STF em relação ao acesso direto da RFB às informações bancárias dos contribuintes.

C7. Ao cuidar da defesa dos direitos e garantias fundamentais dos contribuintes, na verdade, não se está assumindo uma posição unilateral, nem menosprezando o interesse público na arrecadação de tributos. Afinal, não se pode ignorar a necessidade que o Estado tem de obter recursos financeiros para a realização de suas atividades. No entanto, é preciso ter em mente que o intercâmbio de informações é um mecanismo concebido, modelado e estruturado para servir aos interesses das administrações tributárias como instrumento garantidor de eficácia da lei tributária interna em um cenário de operações financeiras e comerciais globais. No entanto, ao realizar suas competências fiscalizatórias a RFB permanece sujeita a respeitar os direitos constitucionalmente garantidos aos contribuintes.

C8. A função administrativa se materializa em um conjunto de atos que, necessariamente, devem observar uma sequência predeterminada que assegure a possibilidade de controle do poder jurídico. A procedimentalização é instrumento garantidor da participação e da proteção dos direitos dos administrados contra os atos praticados de forma abusiva pelas autoridades administrativas. A condução do intercâmbio de informações por parte da adminstração tributária brasileira, portanto, não pode ser improvisada e subjetiva. Em relação ao intercâmbio de informações tributárias a procedimentalização da atividade administrativa é imprescindível para (i) legitimar a atividade administrativa; (ii) garantir os direitos dos administrados; e (iii) facilitar do controle da administração pública.

C9. A ideia de transparência deve ser comprendida como uma via de mão dupla. Assim, não é razoável combater a evasão fiscal, o planejamento tributário agressivo, contruir mecanismos de transparência fiscal internacional, e ao mesmo tempo, atuar secretamente a fim de controlar e punir os contribuintes domésticos sob o mesmo argumento. O aumento do poder fiscalizatório deve se refletir também no incremento da observância dos direitos dos fiscalizados. A não comunicação do contribuinte sobre a

coleta e transmissão de suas informações pressupõe a máxima de que todos os contribuintes fiscalizados por administrações estrangeiras são efetivamente criminosos, na contramão do princípio da imparcialidade da administração pública e de pesquisas que defendem que administrações tributárias democráticas e transparentes são mais eficientes do que aquelas que adotam políticas de ação exclusivamente baseadas na fiscalização e no controle.

C10. Para além de uma garantia constitucional de qualquer país, o direito de se defender é essencial a todo e qualquer Estado que se pretenda minimamente democrático.

O exercício desse direitonão é uma generosidade, mas um interesse público. A garantia

ao exercício ao contraditório e à ampla defesa é necessária em relação ao intercâmbio de informações tributárias, pois, após o envio da informação a um outro país, não há certeza alguma de que o contribuinte terá a oportunidade de se defender ou apresentar provas no Estado estrangeiro. Ademais, os direitos e garantias fundamentais elencados na Constituição Federal são assegurados aos cidadãos em território nacional, portanto, qualquer meio de defesa a esses direitos deve ser concedido em ambiente doméstico.

C11. Conforme as práticas da RFB para cooperação internacional, a depender do mecanismo utilizado para a realização do intercâmbio de informações, é possível que um determinado encargo recaia sobre um contribuinte e não sobre os demais, assim como também é possível que um direito ou garantia concedido a um contribuinte também não seja estendido aos demais. Tal quadro revela um significativo problema de isonomia no tratamento dos atos de cooperação internacional em matéria tributária realizados pelo Brasil. A única forma de garantir à sociedade controle sobre práticas administrativas da RFB e o respeito à isonomia no tratamento dos contribuintes submetidos ao intercâmbio de informações é exigir que se estabeleça uma procedimentalização que assegure o exercício do devido processo legal e, consequentemente, confira um tratamento isonômico aos contribuintes.

C12. Os contribuintes, os órgãos da administração pública e as instituições financeiras irradiam um enorme fluxo de informações que alimenta e atualiza os bancos de dados das administrações tributárias. Os recursos tecnológicos também permitem

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