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4. O SISTEMA REGULATÓRIO E PRÁTICO DO INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES

4.1. A Moldura Regulatória do Intercâmbio de Informações Tributárias no Brasil

4.1.2 O Código Tributário Nacional e a Cooperação Internacional

O anteprojeto do Código Tributário Nacional, elaborado por Rubens Gomes de Souza na década de 1950264, serviu de base para os trabalhos realizados pela Comissão Especial do Código Tributário Nacional no ano de 1954. O texto do anteprojeto, àquela época, já contemplava em seu artigo 253 a possibilidade de assistência e troca de informações entre as administrações tributárias domésticas:

Art. 253. A Fazenda Pública da União e as dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios prestar-se-ão mutuamente assistência para a fiscalização dos tributos respectivos e permuta de informações, na forma estabelecida, em lei tributária de caráter geral ou específico, ou nos convênios a que se refere o art.108.

263SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Estudo, Investigação e Análise − Arbitramento de Lucros:

Subsidiariedade, caráter não-punitivo, relatividade e inaplicabilidade da Súmula n. 59 do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais para casos em que é possível aferir o lucro real do contribuinte. 2013 (mímeo).

264Disponível em: http://www.receita.fazenda.gov.br/Memoria/irpf/historia/hist1964a1967.asp. Acesso em:

Dentre as sugestões elaboradas ao anteprojeto do CTN, duas sugeriam a exclusão do art. 253265. Todavia, o relatório elaborado por Rubens Gomes de Souza justifica a

manutenção do dispositivo sob o argumento de que “o sistema da permuta de

informações é preconizado no plano internacional, como meio eficaz de combate à fraude e à evasão”266.

Posteriormente, o projeto do Código Tributário Nacional (Projeto de Lei n.

4.834/1954) manteve em seu artigo 182267 a redação apresentada no anteprojeto. Com a

aprovação do projeto em 1966, a previsão legal para o intercâmbio de informações entre os fiscos brasileiros foi dada pelo artigo 199 do CTN268, nos seguintes termos:

Art. 199. A Fazenda Pública da União e as dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios prestar-se-ão mutuamente assistência para a fiscalização dos tributos respectivos e permuta de informações, na forma estabelecida, em caráter geral ou específico, por lei ou convênio.

A aplicação da troca de informações entre os fiscos brasileiros nas diferentes esferas federativas já foi apreciada perante o STF269. Nas oportunidades, a Corte se manifestou favoravelmente à aplicabilidade do intercâmbio de informações entre os fiscos domésticos.

Em 1999, surgiu o Projeto de Lei Complementar nº 77/1999, que visava alterar o CTN no que tange aos dispositivos sobre as Limitações do Poder de Tributar, Critérios sobre Extinção e Suspensão de Exigibilidade do Crédito Tributário e Flexibilidade do Sigilo Fiscal. Esse projeto foi redigido conjuntamente pelas Comissões de Finanças e Tributação, de Constituição e Justiça e de Redação. O projeto foi aprovado e tomou a

265 Sugestões de número 775 e 1.007. 266

Ministério da Fazenda. Trabalhos da Comissão Especial do Código Tributário Nacional. Rio de Janeiro. 1954. p. 250.

267Art. 182. A Fazenda Pública da União e as dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios prestar-se-

ão mutuamente assistência para a fiscalização dos tributos respectivos e permuta de informações, na forma estabelecida, em lei tributária de caráter geral ou específico, ou nos convênios a que se refere o art. 56.

268A lei nº 4.131/1962, em seu artigo 16, já previa que: Fica o Governo autorizado a celebrar acordos de

cooperação administrativa com países estrangeiros, visando ao intercâmbio de informações de interesse fiscal e cambial, tais como remessas de lucros e "royalties", pagamento de serviços de assistência técnica e semelhantes, valor de bens importados, alugueis de filmes cinematográficos, máquinas etc., bem como de quaisquer outros elementos que sirvam de base à incidência de tributos.

Parágrafo único. O Governo procurará celebrar, com os Estados e Municípios, acordos ou convênios de cooperação fiscal, visando a uma ação coordenada dos controles fiscais exercidos pelas repartições federais, estaduais e municipais, a fim de alcançar maior eficiência na fiscalização e arrecadação de quaisquer tributos e na repressão á evasão e sonegação fiscais.

269Supremo Tribunal Federal. RE 250.844/SP. Relator Min. Marco Aurélio. Julgamento: 29/5/2012 ;

Supremo Tribunal Federal. ACO 1.098 AgR-TA/MG Min. Joaquim Barbosa. Julgamento: 8/10/2009; Supremo Tribunal Federal. AI 854850/MG. Relator: Min. Rosa Weber. Julgamento: 5/3/2013.

forma da Lei Complementar n. 104/2001, que alterou algumas disposições do CTN. Entre as alterações que a nova lei trouxe, inclui-se o parágrafo único do artigo 199 do CTN:

Parágrafo único. A Fazenda Pública da União, na forma estabelecida em tratados, acordos ou convênios, poderá permutar informações com Estados estrangeiros no interesse da arrecadação e da fiscalização de tributos.

Na época, o Diário da Câmara dos Deputados n. 171, de 16 de outubro de 1999,

publicou que a respectiva alteração legal visava “pacificar o entendimento quanto à

possibilidade de intercâmbio de informações com Estados estrangeiros, com base em tratados, acordos ou convênios”270. A alteração legislativa incluindo o parágrafo único ao artigo 199 do CTN buscou alinhar a legislação tributária nacional à crescente agenda internacional por maior transparência fiscal e intercâmbio de informações. O dipositivo, no entanto, deixa a cargo de outros instrumentos reguladores a forma de realização desse intercâmbio.

O CTN também tangencia o intercâmbio de informações tributárias por meio de seu artigo 198271, que trata das informações protegidas pelo sigilo fiscal. Segundo o dispositivo, é vedada a divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou atividades. Além disso, o parágrafo segundo do mesmo dispositivo exige que o intercâmbio de informações seja realizado mediante processo regularmente instaurado. A discussão acerca da troca de informações e o direito à confidencialidade dos dados do contribuinte e o devido processo será efetuada em momento ulterior deste estudo.

270

Disponível em: http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD16OUT1999.pdf#page=42. Acesso em: 20/8/2012.

271Código Tributário Nacional − Artigo 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a

divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou atividades.

§ 2º O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da Administração Pública, será realizado mediante processo regularmente instaurado, e a entrega será feita pessoalmente à autoridade solicitante, mediante recibo, que formalize a transferência e assegure a preservação do sigilo.

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