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PARTE I – ORGANIZAÇÃO, GÉNERO E LIDERANÇA

2. A E SCOLA ENQUANTO O RGANIZAÇÃO

2.3. A E SCOLA COMO O RDEM F ORMAL , I NTERACTIVA E S OCIAL

Na escola tudo se orienta para a educação dos alunos, sendo a organização da escola um instrumento para atingir este fim. Formalmente, tudo está preparado para a consecução desta finalidade, como são disso exemplo a estrutura formal e de funcionamento da escola, a divisão do trabalho e a legislação escolar.

Quando integrado numa organização, o indivíduo leva consigo todo um conjunto de características pessoais que interagem com a estrutura racional e formal da vida organizacional. Desta interacção entre as duas dimensões emerge “um sentido colectivo de identidade, capaz de transformar o lugar de trabalho, de um mero agregado de indivíduos, em um todo distinto, organizado e coeso” (Sanches, 1992: 17).

Sanches (1992) alude a Getzels e Guba (1957) que sustentam que a escola não é mais do que um sistema social aberto que comporta fenómenos de duas dimensões: organizacional (ou nomotética) e pessoal (ou ideográfica).

Esquematizando a escola como um sistema aberto, ilustrado a Figura 2, podemos dizer que a dimensão nomotética influencia largamente o modo de funcionamento de cada escola. Esta dimensão corresponde ao domínio normativo, sendo a sua origem tanto macro como micro sistémica. Com efeito, cada escola está sujeita a normas emanadas por instâncias administrativas “centrais ou regionais exteriores à escola” (Sanches: 1992: 19) e simultaneamente elabora ela própria regulamentos que condicionam comportamentos de professores, alunos e auxiliares da acção educativa. Desta forma, “as instituições escolares adquirem uma dimensão própria, enquanto espaço organizacional onde também se tomam importantes decisões educativas, curriculares e pedagógicas” (Nóvoa, 1992: 15).

A dimensão nomotética define estatutos e estabelece relações de poder que conferem aos actores escolares diferentes papéis. Este processo implica a existência daquilo a que Hoy e Miskel (1987) apelidaram de “expectativas burocráticas” (Sanches, 1992: 18) que a instituição tem em relação ao desempenho dos actores escolares.

Figura 2 – A Escola como Sistema Aberto: Elementos Estruturais (subsistemas)

Fronteira – Estabelecimento Escolar

Instituição Papel Expectativas

Sistema Comportamento

Social Social

Indivíduo Personalidade Necessidades

Fronteira – Estabelecimento Escolar Fonte: Adaptação de W. Hoy e C. G. Misket (1987) p. 60.

ENTRADA SAÍDA

(Adaptado de Hoy e Miskel, 1987: 60 in Sanches, 1992: 20)

Parafraseando Salaman e Thomson (1984), Santos Guerra (2002) refere que a organização educativa é uma instituição paralítica, de forte dependência exterior, onde cada escola é uma realidade concreta e individual. Na opinião do autor é questionável o facto de existir uma organização educativa face à sua forte dependência exterior, quando os seus profissionais têm de cumprir normas e orientações emanadas de instâncias superiores.

Na vertente nomotética não existem diferenças quanto aos actores que desempenham os papéis definidos, na medida em que os actores são meros profissionais cujos comportamentos estão burocraticamente previstos. No entanto, o facto de papéis idênticos poderem ser desempenhados por pessoas com personalidades diversas permite a existência de variabilidade no modo como os professores interpretam e exercem as funções que a instituição determina. Assim, as práticas organizacionais são condicionadas por factores idiossincráticos pois “podem existir diferenças no modo como os actores interagem com as expectativas formais da instituição” (Sanches, 1992: 19).

A relação que se pode estabelecer entre as dimensões nomotética e ideográfica varia inversamente, isto é, a proporção de comportamentos controlados por motivações, necessidades e interesses dos actores é tanto maior quanto menor for o controlo nomotético. Cada escola oferece ao indivíduo uma integração no contexto formal e normativo diferente.

Uma vez integrados na organização, os actores organizacionais assumem um determinado comportamento individual organizacional. A partir deste são desenvolvidos subsistemas sociais de estatuto, poder, comunicação, estruturas e redes de trabalho. Estas componentes organizacionais de natureza sistémica fazem com que a estrutura social da organização se caracterize por relações interactivas e interdependentes. Neste sentido, a organização escolar pode ser também entendida como ordem interactiva visto que toda a

organização formal tem inerente uma dimensão informal, que lhe é intrínseca e natural. Em suma, “a organização informal é um sistema dinâmico de relações interpessoais que se desenvolve espontaneamente no interior das organizações formais, e que tem origem nas necessidades e aspirações específicas dos actores organizacionais” (Sanches, 1992: 23).

Teixeira (1998), referindo-se às filosofias sobre a natureza humana, advoga que o indivíduo influencia em maior ou menor grau o comportamento do grupo e que também o comportamento do indivíduo é influenciado pelos grupos em que se insere, conforme ilustra

a Figura 3. O autor refere-se à Teoria de Campo de Lewin (1935) que assenta em dois

pressupostos: primeiro, o comportamento das pessoas é função de um conjunto de factores existentes no meio ambiente em que a pessoa exerce a sua actividade; segundo, esse conjunto de factores constitui uma relação dinâmica e de interdependência, o campo

psicológico do indivíduo. Conforme já referimos, as vivências pessoais interactivas dos

actores escolares são responsáveis por uma dimensão idiossincrática a que Getzels e Cuba (1957) chamaram de “ideográfica” (Sanches, 1992: 25).

Figura 3 – Factores que influenciam o comportamento de uma pessoa

(Teixeira, 1998: 121) Apoiando-se em Blau e Scott (1962), Sanches (1992) refere que as interacções sociais que se estabelecem no seio da organização e entre os membros do grupo definem o estatuto social. Assim, a estrutura social de um grupo é definida pela dinâmica da organização informal e é caracterizada por distinções de estatuto entre os seus membros. Desta forma, os grupos desenvolvem uma cultura própria, constituída por um conjunto de componentes da cultura grupal como crenças, atitudes e orientações aceites por todos os membros. Esta realidade organizacional adquire um carácter normativo pela definição de padrões de “normalização, integração e diferenciação” (Sanches, 1992: 27) que, por sua vez, influenciam o sistema formal da organização. Esta mútua influência entre os sistemas formal e informal da organização desencadeia um processo dialéctico que se traduz na coesão da própria organização.

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