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PARTE II – PERCEPÇÕES SOBRE GÉNERO E LIDERANÇA

3. A NÁLISE DAS E NTREVISTAS

3.2. I NCENTIVOS À C ANDIDATURA E I NFLUÊNCIA DO G ÉNERO

O Bloco B de questões da entrevista abarcava três questões respeitantes à influência do género na candidatura de mulheres a Conselhos Executivos e respectivos resultados.

Ambas as entrevistadas são de opinião que o cargo de Presidente do órgão de gestão escolar não conta com mais mulheres por uma questão cultural que se prende sobretudo com o papel que socialmente é atribuído à mulher.

Na opinião das entrevistadas, ser mãe e dona de casa, cuidar dos filhos e apoiar o marido, são vistas como tarefas femininas que, pelo tempo que exigem, condicionam o acesso das mulheres a cargos de poder, nomeadamente a cargos de gestão escolar. Com efeito, a Entrevistada B considera que os cargos de gestão obrigam a uma disponibilidade de tempo que as mulheres não têm, o que as leva, segundo a Entrevistada A, a apresentar o mesmo conjunto de desculpas na recusa deste tipo de cargos. A Entrevistada A refere que, no caso dos homens, as mesmas razões não são impeditivos para o desempenho de cargos de gestão. Esta interveniente alude ainda à falta de hábito de ver mulheres nos cargos de gestão de topo e à constante vigilância do seu trabalho.

Quadro 40 – Ausência de mulheres no cargo de Presidente do Conselho Executivo

5. Na sua opinião, porque não existem mais mulheres no desempenho deste cargo, sendo que o número de professoras é superior ao de professores?

Entrevistada A Entrevistada B

 “ (…) é uma questão de cultura.”

 “ (…) a mulher continua a ser vista como mãe e dona de casa e não propriamente como alguém que tem cargos de poder.”

 “ (…) dificuldade em convencer as colegas a trabalhar comigo.”

 “ Elas recusavam os convites sempre com as mesmas desculpas: o apoio que tinham que dar ao marido, os filhos e a falta de tempo”

 “ (…) os homens (…) nunca invocavam que era por causa da mulher ou dos filhos…”

 “ (…) parecia que estavam constantemente a vigiar o meu trabalho (…)”

 “ (…) não estavam habituados a ver mulheres nestes cargos (…)”

 “ (…) esse facto deve-se ao papel que a mulher tem perante a sociedade.”

 “ Como (…) é ela quem trata da casa e dos filhos não sobra muito tempo para se dedicar de corpo e alma à escola, nomeadamente à gestão (…) ”

 “ As (…) colegas (…) mães estão

constantemente preocupadas com os horários (…) ”

 “ Neste tipo de cargos não há horas de saída, e acho que, de certa forma, isso afugenta as mulheres.”

As duas entrevistadas consideram que os homens têm mais apoio para o desempenho de cargos de gestão do que as mulheres. A entrevistada A aponta a sensação de culpa que algumas mulheres têm quando aceitam cargos de gestão escolar. Segundo esta interveniente, as mulheres têm como primeira prioridade o cuidado da casa, dos filhos e do marido. Quando este cuidado é de alguma forma relegado para segundo plano, a mulher não só se sente culpada por abandonar o lar, como chega a ser recriminada socialmente, o que não acontece com os homens, que saem assim beneficiados. A Entrevistada A remata a sua opinião dizendo que as mulheres têm receio que a vida profissional prejudique a vida

familiar. A Entrevistada B é de opinião que se os homens fossem socialmente incumbidos das mesmas tarefas que as mulheres, nomeadamente no cuidado da casa e dos filhos, então seriam as mulheres a estar representadas em maior número nos cargos de gestão escolar.

Quadro 41 – Apoio no desempenho de cargos de gestão escolar

6. Acha que os homens têm mais apoio para o desempenho deste tipo de cargos do que as mulheres?

Entrevistada A Entrevistada B

 “ Sim, sem dúvida.”

 “ As mulheres continuam a recusar os cargos por causa do marido e dos filhos (…) e os homens, (…) acabam por tirar partido dessa situação.”  “ Quando um homem assume uma posição de

poder conta sempre com o apoio da mulher mas quando é ao contrário parece que a mulher é recriminada por abandonar o lar.”

 “ (…) culpada por não ter tanto tempo para a casa e para o marido e (…) negligenciar o cuidado dos filhos.”

 “ (…) receio (…) que a vida familiar tivesse de sofrer alguma alteração por causa da (…) situação profissional.”

 “ Por norma sim.”

 “ Se as mulheres tivessem o mesmo apoio que os homens, se fossem eles a cuidar da casa e dos filhos, então eram as mulheres que estariam (…) mais disponíveis para aceitar cargos de gestão.”

Ambas as entrevistadas consideram que o género é uma vantagem para aceder mais facilmente a cargos de gestão, salientando mais uma vez que as mulheres têm a seu cargo um grande número de tarefas domésticas limitadoras das suas escolhas profissionais. A Entrevistada B refere que o tempo das mulheres se divide em múltiplas tarefas, contrariamente ao do homem. Esta interveniente acredita que quando o dia-a-dia da mulher professora é uma tripla jornada, com todas os afazeres inerentes à casa, aos filhos e à escola, o desempenho de cargos de gestão está posto de parte. Referindo-se à questão cultural, a docente alerta para o facto de as próprias mulheres se julgarem as únicas responsáveis capazes de realizar estas tarefas. A Entrevistada A reconhece a importância da mulher concorrente ao Órgão de Gestão ter tempo disponível para a escola e alude à ausência de docentes com bebés ou filhos pequenos nestes cargos.

Quadro 42 – Género como vantagem para vencer eleições para o Órgão de Gestão

7. Considera que o género pode ser uma vantagem para ganhar as eleições?

Entrevistada A Entrevistada B

 “ Sim.”

 “ A mulher (…) tem a carga da família às costas

e isso condiciona as suas escolhas

profissionais.”

 “ As pessoas votam mais facilmente numa mulher se reconhecerem que ela tem tempo para dedicar à escola.”

 “ Não conheço nenhuma mulher que esteja na liderança de uma escola e que tenha filhos pequenos ou bebés.”

 “ De certa forma sim.”

 “ A mulher dá um apoio ao homem que muitas vezes o homem não pode retribuir.”

 “ (…) a mulher sai do seu emprego, vai buscar os filhos à escola, depois vai para casa, dá banho aos filhos, faz o jantar.”

 “ A mulher ainda vai deitar os filhos, arrumar a cozinha e preparar as coisas para o dia seguinte: as roupas, o almoço e às vezes as aulas do dia seguinte.”

 “ É evidente que nestes casos é impensável a mulher ainda desempenhar um cargo de gestão que lhe exigisse ainda mais tempo.”

 “ (…) a culpa também é de algumas mulheres que mantêm este estado de coisas (…)”

 “ (…) já é uma questão cultural.”

 “ As próprias mulheres acham-se as únicas responsáveis competentes pelo cuidado do lar e das tarefas domésticas.”