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PARTE I – ORGANIZAÇÃO, GÉNERO E LIDERANÇA

4. L IDERANÇA F EMININA

4.3. B REVE P ANORÂMICA N ACIONAL

A análise das estruturas de emprego ao longo dos últimos anos permite concluir que ainda hoje o mercado de trabalho se encontra segmentado entre homens e mulheres. Embora as mulheres se encontrem presentes em diversas áreas, continuam a existir actividades e áreas profissionais que são maioritariamente ocupadas por mulheres, como a docência. De facto, as mulheres conquistaram uma posição social muito superior à das suas avós, mas ainda distante dos seus colegas do sexo oposto. Conforme refere Ferreira (1999) “enquanto as diferenças entre as mulheres se têm vindo a ampliar, as diferenças entre mulheres e homens não têm sofrido uma alteração comparável” (Ferreira, 1999: 208). Apenas um pequeno grupo de mulheres tem conseguido vingar no mundo laboral maioritariamente masculino, protagonizando mudanças que lhes dão notoriedade e as tornam “mulheres-alibi” (idem). É graças a estas mulheres que se fundamenta a existência de mulheres em posições socialmente mais visíveis. Assim, não raras vezes os assuntos de género são abordados seguindo “uma lógica de comparação entre diferentes gerações de mulheres e não da comparação entre mulheres e homens” (ibidem).

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2005 as mulheres encontravam- se matriculadas em maior número no ensino superior, sendo que nos cursos das áreas de formação de professores/formadores e Ciências da Educação a sua presença era ainda mais notória, conforme evidenciam o Quadro 9 e o Quadro 10.

Quadro 9 – Alunos matriculados no Ensino Superior, por sexo (2005) Homem Mulher Total de alunos matriculados Alunos matriculados no Ensino Superior (2005) Nº % Nº % 168 884 44,3 212 053 55,7 380 937

Quadro 10 – Alunos matriculados no Ensino Superior nas áreas de formação de professores/formadores e Ciências da Educação (2005)

Homem Mulher

Total de alunos matriculados Alunos matriculados no Ensino Superior nas

áreas de formação de professores/formadores e Ciências da Educação (2005)

Nº % Nº %

5 268 16% 27 660 84% 32 928

Os números apresentados no Quadro 12 espelham duas realidades: por um lado, a continuação da escolha destas áreas de estudo pelas mulheres e, por outro lado, a manutenção da feminização da profissão docente.

Segundo dados do Ministério da Educação, em 2002 a taxa média de feminização nos diferentes níveis de ensino era de 76,3%, sendo que era de 69% no ensino secundário e 3º ciclo, 71,6% no 2º ciclo, 91,1% no primeiro ciclo e 98,5% na educação pré-escolar, conforme ilustra o Gráfico 1. Em qualquer um dos níveis de ensino, as mulheres estão representadas em maior número, destacando-se a esmagadora percentagem que se verifica na educação pré-escolar. Com efeito, em 2004 a rede de Educadores de Infância do Ministério da Educação contava com 10 641 mulheres e apenas 181 homens, o que perfaz uma taxa de feminização de 98,7% neste nível de ensino.

Gráfico 1 – Taxa média de feminização nos diferentes níveis de ensino (2002)

Taxa média de feminização nos diferentes níveis de ensino (2002) 98,5 71,6 69 91,1 0 20 40 60 80 100

Pré-escolar Primário 2º Ciclo 3º Ciclo e

Secundário Nível de ensino Pe rce n ta g e m

Estes números, reveladores da feminização na profissão docente, não encontram correspondência quando olhamos para a ocupação dos lugares de topo associados a estas profissões. A título de exemplo, podemos referir que embora Portugal apresente uma das

maiores percentagens europeias de mulheres investigadoras e professoras universitárias (48%), estas encontram-se pouco representadas nos cargos de chefia. Assim, segundo dados de 1995, recolhidos pelo Instituto Nacional de Estatística, 53,4% das mulheres doutoradas eram professoras auxiliares, 32,6% eram professoras associadas e apenas 6,7% eram professoras catedráticas. O Gráfico 2 ilustra esta situação, configurando uma

dificuldade latente no acesso aos lugares de topo da carreira académica.

Gráfico 2 – Colocação no ensino superior de professores doutorados, por sexo (1995)

53,4 46,6 32,6 67,4 6,7 93,3 0% 20% 40% 60% 80% 100%

Prof. Auxiliar Prof. Associado Prof. Catedrático

Colocação no ensino superior de professores doutorados, por sexo (1995)

Mulheres Homens

Esta tendência verifica-se também nalguns Agrupamentos de Escolas e Escolas Secundárias da rede pública. Segundo dados fornecidos pelo Ministério da Educação, no ano lectivo de 2006/07, o cargo de Presidente do Conselho Executivo foi ocupado por homens em 53% dos casos, enquanto que as mulheres tiveram uma representatividade de 47%. Tendo em conta que a eleição para este cargo é trienal, não serão de esperar grandes variações a curto prazo no que concerne às percentagens da representatividade de cada género. Aparentemente, estes números indicam que não existe uma preferência de homens em detrimento das mulheres para o desempenho das funções inerentes ao cargo em análise. Com efeito, nestes níveis de ensino, não existe grande dissemelhança de representatividade entre homens e mulheres.

Porém, uma divisão do país segundo o mapa das diferentes Direcções Regionais de Educação nele existentes, possibilita uma visão diferente, ilustrada no Gráfico 3.

Esta análise mais pormenorizada permite concluir que são os homens ocupam o cargo em questão na sua maioria, o que acontece em dois terços das Direcções Regionais de Educação. Assim, a ocupação do cargo de Presidente do Conselho Executivo por parte de homens ganha maior expressão nas Direcções Regionais de Educação da Região Autónoma dos Açores (61,1%), do Centro (60,5%), do Norte (56,4%) e do Alentejo (57,4%).

Por sua vez, as mulheres apenas estão maioritariamente presentes neste cargo nas Direcções Regionais de Educação da Lezíria e Vale do Tejo (60,2%) e Algarve (59%).

Gráfico 3 – Ocupação do Cargo de Presidente do Conselho Executivo, por Direcção Regional de Educação e por sexo (2006/07)

56,4 44,6 60,5 39,5 39,8 60,2 57,4 42,6 41 59 61,1 38,9 0 0 0 25 50 75 %

DREN DREC DRELVT DREALEN DREALG DREAA DREM

Ocupação do cargo de Presidente do Conselho Executivo, por Direcção Regional de Educação e por sexo (2006/07)

Homem Mulher

Procedendo à dissecação e refinamento da análise dos mesmos dados, desta vez por distritos, temos uma imagem ainda mais conclusiva sobre o assunto, conforme é observável

no Quadro 11. Assim, são notórias as discrepâncias existentes entre o número de homens e

mulheres que desempenham o cargo, consoante a área geográfica analisada, contrariando a ideia inicial de que o cargo em discussão é quase igualmente ocupado por homens e por mulheres.

Assim, a análise destes dados permite concluir que existem distritos onde a ocupação do cargo de Presidente do Conselho Executivo, por parte de homens, excede largamente a ocupação do mesmo, por parte das mulheres, sendo que estes distritos se situam geograficamente no interior do país, nomeadamente em Bragança (82,6%), Guarda (80,6%) e Vila Real (70,3%).

Por outro lado, a representatividade das mulheres na ocupação do cargo considerado ultrapassa a dos homens nos distritos de Santarém (66,2%), Lisboa (62,1%) e Beja (54,5%).

Assim, na melhor das hipóteses, as mulheres obtêm um máximo de ocupação do cargo de 66,2%, o que as situa cerca de 20% atrás dos seus pares masculinos.

Apurar os factores que contribuem para esta realidade é o que nos propomos na nossa investigação.

Quadro 11 – Ocupação do cargo de Presidente do Conselho Executivo, por distrito (2006/07)

Distrito / Região Autónomayy

Presidente do Conselho Executivo

Total de Escolas Homem Mulher % % Aveiro 43 45,7 51 54,3 94 Beja 15 45,5 18 54,5 33 Braga 61 59,8 41 40,2 102 Bragança 19 82,6 4 17,4 23 Castelo Branco 16 53,3 14 46,7 30 Coimbra 33 55,9 26 44,1 59 Évora 16 61,5 10 38,5 26 Faro 34 41 49 59 83 Guarda 25 80,6 6 19,4 31 Leiria 36 62,1 22 37,9 58 Lisboa 88 37,9 144 62,1 232 Portalegre 18 66,7 9 33,3 27 Porto 93 49,2 96 50,8 189 Santarém 22 33,8 43 66,2 65 Setúbal 44 44 56 56 100 Viana do Castelo 20 60,6 13 39,4 33 Vila Real 26 70,3 11 29,7 37 Viseu 44 67,7 21 32,3 65 Açores 22 61,1 14 38,9 36 Madeira - - - - - Totais 675 51 648 49 1323