PARTE II – PERCEPÇÕES SOBRE GÉNERO E LIDERANÇA
3. A NÁLISE DAS E NTREVISTAS
3.3. I NTERFERÊNCIA DO D ESEMPENHO DO C ARGO COM A V IDA F AMILIAR
O Bloco C de questões da entrevista era composto por quatro questões e destinavam- se ao estudo que da relação entre o desempenho do cargo de Presidente do Conselho Executivo com a vida familiar da docente. Os aspectos focados foram as ajudas recebidas à docente, a conciliação do papel de mãe/mulher com o desempenho do cargo, a interferência do desempenho do cargo na vida familiar e a repercussão de alterações familiares no desempenho do cargo.
A Entrevistada A considera que um bom suporte familiar é um pré requisito para que as mulheres possam desempenhar o cargo de Presidente do Conselho Executivo. Ambas as entrevistadas receberam ajudas quando integraram as equipas de gestão, sendo de empregada ou familiar, o que lhes permitiu não se preocuparem com as tarefas domésticas. As duas entrevistadas reconhecem que a não existência da ajuda que receberam poria em causa a aceitação do cargo.
Quadro 43 – Influência das ajudas recebidas na aceitação e desempenho do cargo
8. Muitas das docentes inquiridas referem que não concorrem aos órgãos de gestão das escolas devido à falta de ajudas e de tempo para desempenharem o papel que socialmente lhes é atribuído enquanto mulheres. No seu caso específico, teve algum suporte familiar que lhe permitisse ter mais disponibilidade para desempenhar o cargo de Presidente do Conselho Executivo?
Se sim, pensa que se não tivesse tido qualquer tipo de ajuda, concorria igualmente ao cargo?
Entrevistada A Entrevistada B
“ (…) as mulheres que não têm um suporte familiar suficientemente firme para as apoiar na decisão de integrarem Conselhos Executivos, dificilmente desempenham este tipo de cargos.” “ (…) um interesse familiar porque ao ficar mais
perto de casa, à partida, poderá dedicar mais tempo à família.”
“ (…) as mulheres são assessoras e, ainda assim, tem uma boa estrutura familiar.”
“(…) tinha uma empregada a tempo inteiro em casa (…)”
“ (…) se não fosse a ajuda dessa senhora, (…) talvez não tivesse sequer entrado para a gestão da escola”
“ (…) morava com os meus pais e, como tal, para além de ter muito mais disponibilidade para exercer o cargo, não tinha propriamente preocupações relativamente a tarefas domésticas.”
“ (…) foi uma grande ajuda que, a não existir, teria condicionado a minha opção de entrar para a equipa de gestão.”
“ (…) quando me casei, é que tomei noção do tempo que o cargo me exigia.”
“ (…) se já estivesse casada quando me candidatei teria tido outra postura.”
No que se refere à conciliação do papel de mãe/mulher com o desempenho do cargo, a Entrevistada A revela que sentiu alguma dificuldade dado que os filhos estranharam a sua ausência e o tempo que dedicava à escola impediu que os acompanhasse tanto quanto a docente gostaria. Por sua vez, a Entrevistada B considera abandonar o cargo por se encontrar grávida. Na sua opinião, o cargo exige muita disponibilidade de tempo, o que será incompatível com o facto de ser mãe de uma criança pequena.
Quadro 44 – Conciliação do papel de mãe/mulher com o cargo
9. Como conciliou o seu papel de mãe/mulher com o cargo que desempenhava?
Entrevistada A Entrevistada B
“ (…) com alguma dificuldade (…)”
“ (…) era difícil acompanhar os meus filhos tanto quanto gostaria.”
“ (…) estranharam a minha ausência.” “ (…) dizia que eu vivia para a escola.”
“ (…) considero abandonar o cargo
precisamente porque estou grávida.”
“ (…) passar muito tempo na escola e não ter tempo para quase nada…”
“ (…) ter a nosso cargo uma criança e todo o tempo que ela exige.”
Questionadas quanto à interferência das funções inerentes ao cargo de Presidente com a sua vida familiar, ambas as entrevistadas são de opinião que o tempo reivindicado por este cargo é subtraído à família, o que gera as suas consequências. A Entrevistada B expõe que não só a vida profissional condiciona a vida familiar, como a familiar condiciona a profissional. A Entrevistada B narra que a sua vida familiar sofreu mais com a interferência da vida profissional do que o oposto, tendo-se esforçado para que os seus problemas pessoais não se interpusessem no bom desempenho do cargo.
Quadro 45 – Interferência das funções do cargo na vida familiar e vice-versa
10. Sente que o exercício das funções inerentes ao cargo interferiu na sua vida familiar? E vice versa?
Entrevistada A Entrevistada B
“Sim, acho que sim.”
“ (…) o cargo de Presidente tirou-me algum tempo à família (…)”
“(…) não podemos deixar que os problemas familiares prejudiquem o bom funcionamento da escola.”
“ (…) a vida profissional interferiu mais na vida familiar do que ao contrário.”
“Sim, quando se está na gestão das escolas quase não há tempo para a família.”
“Se por um lado a vida familiar é condicionada pela profissional, a profissional também é condicionada pela familiar pois se não estivermos bem, isso também se reflecte no nosso trabalho.”
Ambas as entrevistadas experimentaram alterações familiares quando
desempenhavam o cargo de Presidente do Conselho Executivo, adoptando posições distintas quanto ao desempenho das funções do cargo. A Entrevistada A diz nunca ter deixado que as alterações familiares interferissem no seu trabalho. A Entrevistada B diz que as suas prioridades mudaram e como tal, optou por afastar-se do cargo num futuro próximo.
Quadro 46 – Alterações familiares e repercussões a nível profissional
11. Enquanto exerceu as funções a sua situação familiar alterou-se? Se sim, essas alterações repercutiram-se no desempenho das suas funções?
Entrevistada A Entrevistada B
“Sim (…) ”
“Nunca deixei que essas alterações familiares interferissem no meu trabalho.”
“Adaptei-me a elas e esforcei-me por ter um bom desempenho no cargo, embora o meu estado de espírito não fosse por vezes o melhor.”
“ Sim (…) ”
“ Não é que estas alterações tenham interferido de forma directa no desempenho das minhas funções. As minhas prioridades é que se alteraram (…) ”
“é (…) por recear não estar tão disponível que optei por me afastar.”