PARTE I – ORGANIZAÇÃO, GÉNERO E LIDERANÇA
3. L IDERANÇA NAS O RGANIZAÇÕES E SCOLARES
3.2. C ARACTERÍSTICAS DOS L ÍDERES E DUCATIVOS
Seguindo e adaptando a Teoria da Energia de Vida Natural de Gary Null (1996) ao contexto escolar, Glanz (2003) defende que existem tipos naturais de liderança baseados em qualidades primárias e qualidades secundárias que suportam o comportamento do líder. Desta forma, o autor estabelece uma divisão entre os dois tipos qualitativos (Glanz, 2003: 15-17):
Como tipos qualitativos primários temos:
i) Dinâmicos – indivíduos extremamente carismáticos;
ii) Adaptáveis – indivíduos que se adaptam bem a situações variadas, embora não
sejam carismáticos nem criativos;
iii) Criativos – indivíduos imaginativos ou com talentos artísticos.
Como tipos qualitativos secundários temos:
i) Agressivos – indivíduos com opiniões muito fortes; ii) Assertivos – indivíduos seguros e autoconfiantes; iii) Empáticos – indivíduos afáveis e encorajadores.
Segundo o autor, da combinação entre os tipos qualitativos primários e secundários resulta um conjunto de sete tipos qualitativos de líderes educacionais, cada um dos quais caracterizado por uma virtude da liderança:
i) Agressivos dinâmicos – indivíduos visionários, cuja virtude da liderança é a coragem e que são a percentagem mais pequena da população;
ii) Assertivos dinâmicos – indivíduos que são agentes da mudança, reformadores e
iconoclastas, sendo a virtude da sua liderança a imparcialidade;
iii) Empáticos dinâmicos – indivíduos que cuidam e ajudam, sendo a virtude da sua
iv) Agressivos adaptáveis – indivíduos que perseguem um objectivo de forma
agressiva, sendo a virtude da sua liderança a capacidade de julgar;
v) Assertivos adaptáveis – indivíduos que são excelentes organizadores e cuja virtude
da liderança é o entusiasmo;
vi) Empáticos adaptáveis – indivíduos de confiança, leais, trabalhadores e cuja virtude
da liderança é a humildade, constituindo a maioria da população;
vii) Assertivos criativos – indivíduos artísticos e criativos, cuja virtude da liderança é a imaginação.
Esquematizando esta perspectiva combinatória que resulta na criação dos sete tipos qualitativos de líderes educacionais, o autor apresenta-nos o esquema que consiste no
Quadro 7.
Quadro 7 – Sete tipos qualitativos de líderes educacionais
Dinâmico Adaptável Criativo
Agressivo Agressivo Dinâmico Agressivo Adaptável Assertivo Assertivo Dinâmico Assertivo Adaptável Assertivo Criativo Empático Empático Dinâmico Empático Adaptável (Glanz, 2003:17) Retomando a ideia de que não existe um único tipo de liderança eficaz e que a prática desta pode ser condicionada pelo contexto, vários autores defendem que a liderança
transformacional poderá ser a que melhor se adapta ao contexto escolar.
No entender de Bernal Agudo (2001), a liderança transformacional é aquela que melhor responde às necessidades das escolas modernas visto que os líderes se deparam com mudanças aceleradas e contínuas, pelo que se torna necessário “liderar a mudança” (Agudo, 2000: 200), principal variável das escolas de hoje. Para o autor, a liderança transformacional é a cultura da mudança, sendo o agente transformador da cultura organizativa. Assim, o autor revisita as características clássicas da liderança transformacional apontadas por Bass (1985) e Alvarez (1998) que, na sua opinião, devem ser tidas em conta quando se considera a liderança das escolas (Agudo, 2000: 200-201):
i) Carisma, para entusiasmar e transmitir confiança e respeito;
ii) Consideração pelo indivíduo, para dar atenção e aconselhar o subordinado;
iii) Estimulação intelectual, para procurar novas soluções para os problemas, de forma
inteligente e racional;
iv) Inspiração, para aumentar o optimismo e o entusiasmo;
vi) Capacidade de construir uma liderança partilhada, baseada na participação, para
criar o sentido de missão na organização;
vii) Considerar o trabalho em equipa como uma ferramenta essencial na consecução
de melhores resultados;
viii) Dedicar tempo e recursos na formação contínua dos seus liderados, para a sua
implicação e valorização pessoal na aplicação de novas tecnologias no seu trabalho;
ix) O líder transformacional considera que desempenha um papel de representante
institucional da organização, e como tal deve dar o exemplo de dedicação, disponibilidade e honestidade nas suas atitudes, de forma a ser coerente com a visão, missão e valores da escola.
Desta forma, “a liderança exercida de forma transformadora pode contribuir para a mudança da cultura escolar aumentando a capacidade individual e colectiva para resolver problemas, bem como ajudar a identificar os fins a alcançar pela organização e as práticas mais adequadas para os atingir” (Bolívar, 2003: 263). Assim entendido, o líder é visto como “facilitador da mudança nas instituições educativas” (idem: 257), premissa para alcançar a excelência. Bolívar (2003), lista um conjunto de características que podem ser observadas
no Quadro 8 e que, no seu entender, existem nas escolas eficazes.
Quadro 8 – Características da direcção em escolas eficazes
(Bolívar, 2003: 260) Segundo Andrews (2005), a revitalização da escola e o potencial dos professores para desempenhar novas formas de liderança nas escolas requerem uma nova imagem da profissão docente. Após uma investigação, a autora concluiu que existe uma relação de sinergia entre os líderes intermédios e os líderes de topo. Segundo a autora, ambos trabalham de forma sustentada na construção de uma escola melhor, o que constitui a
liderança paralela.
Partilhando a opinião de Burns (1978), Rocha (2005) refere que “nas organizações educativas dotadas de autonomia, a liderança deve ser mais “transformacional” do que “transaccional” (Rocha, 2000: 113), já que a primeira implica “a capacity to engage others in
1. Liderança forte e com objectivos claros por parte da direcção.
2. Acordo e consistência entre a direcção e os professores sobre as metas a atingir, os
valores, a missão e a política da escola.
3. A direcção trabalha como uma equipa coesa.
4. Implicação dos professores nas decisões sobre metas, valores e missão da escola. 5. Uma cultura profissional e uma forma de trabalhar em colaboração.
6. Normas de melhoria contínua para professores e alunos.
7. Estratégia de liderança que promova a manutenção e desenvolvimento de
características relacionadas com a cultura da escola.
8. Capacidade de compromisso na resolução de problemas relacionados com a
a commitment to change” (Caldwell e Spinks, 1992: 19 cit. in Rocha, 2000: 113) enquanto que a segunda “is more concerned with maintaining the status quo” (idem).