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A importância da conservação e embelezamento da zona balnear para a promoção

6. O Democrático e as representações de Vila do Conde

6.3. Principais melhoramentos e reivindicações locais

6.3.1. A importância da conservação e embelezamento da zona balnear para a promoção

O Democrático abordou de forma intensa e recorrente a questão do melhoramento

da zona balnear do município, alertando a autarquia para a urgência da sua reabilitação. Durante toda a década de 1926-1936, e ao longo de todo o ano – mas sobretudo nos meses que precediam a época balnear, quando esta se encontrava a decorrer e no seu rescaldo – , o periódico apelava constantemente a que se procedesse à modernização da maravilha natural que mais atividade turística atraía e que servia de estímulo à economia regional.

Em finais de agosto de 1926, o jornal publicou uma carta redigida por um vila- condense que considerava urgente virar as atenções da Câmara Municipal para a beira- mar, “no sentido de a pôr, o mais breve possível, nas devidas condições de zona de turismo, isto é, no sentido de a pôr em harmonia com as condições de vida próprias do local”. O autor (anónimo) destacava o estado de “abandono” em que se encontrava a zona balnear, considerando-a “semisselvagem”, “cheia de dunas de areia” e “quase por completo vedada ao forasteiro”, o que constituía um “erro gravíssimo”. Perante este cenário, incentivava a que se formasse “em volta da praia de Vila do Conde um ambiente novo, de verdadeiro sucesso, um ambiente de empreendimentos de valor” e que desse “uma ideia firme da sua vitalidade e do seu futuro”. Pedia a máxima diligência destes melhoramentos, uma vez que a “inauguração dos meios de transporte rápidos e cómodos”,

por parte da Companhia do Caminho de Ferro e novas iniciativas da Companhia Portuguesa de Turismo traziam maior número de visitantes e aumentavam a pressão para a realização dos melhoramentos necessários no município. Tornava-se, portanto, imperativo aproveitar ao máximo as potencialidades naturais da praia de Vila do Conde de forma a “cativar e animar o forasteiro” para promover a afluência turística308.

Precisamente por Vila do Conde ser “uma praia considerada de turismo”, o periódico abordou – sem discordar, antes pelo contrário – a cobrança de uma contribuição de 10% sobre as “rendas dos prédios alugados durante a época de banhos e as contas dos restaurantes, hotéis, etc.”. Apesar de ser mais um encargo, “as importâncias arrecadadas pelas respetivas comissões” seriam “destinadas a melhoramentos das localidades” aonde fossem cobradas, “conforme manda a lei”. Assim, O Democrático instava a que os cidadãos cumprissem o seu dever a bem do município e dava exemplos de alguns dos melhoramentos já alcançados, destacando uma “espécie de restaurante/café na praia de banhos”, que, entretanto, acabaria por desaparecer, e a construção de uma estrada de ligação da praia à margem direita do Ave que, embora concluída, deixava “muito a desejar”, especialmente por falhas técnicas na construção. Embora reconhecesse que os progressos atingidos haviam sido ainda poucos e com graves lacunas, o jornal aconselhava a Comissão de Turismo a ser mais cuidadosa no investimento dos fundos ao mesmo tempo que solicitava a continuação do entusiasmo e apoio de toda a população local309.

No que diz respeito ao aluguer de habitações na época alta, este semanário apelava à consciência dos proprietários de casas para arrendar junto da praia, para que tivessem cuidados de higiene básicos com as instalações. O apelo não era descabido face ao “estado de imundice e falta de higiene” em que algumas se encontravam, o que comprometia o arrendamento das mesmas, passando uma má imagem da vila310. Muitos dos turistas que

planeavam ficar, voltavam atrás na sua decisão “por não encontrarem as comodidades e regalias que encontram noutras praias”311. Repare-se, através deste exemplo das casas de

308 “Interesses locais – a beira-mar da nossa praia”. O Democrático, nº 638, 27/08/1926, p. 1. 309 “Turismo”. O Democrático, nº 667, 14/04/1927, p. 2.

310 “A nossa praia”. O Democrático, nº 669, 29/04/1927, p. 1.

praia, a relevância da questão de falta de higiene – aprofundada mais adiante – sempre a exercer o seu efeito negativo na vila, comprometendo inclusive o fluxo turístico. Contudo, a Câmara Municipal era sensível a esta matéria e, em 1929, aprovou um edital que estabelecia que todos os prédios destinados a aluguer durante a época balnear deviam estar devidamente equipados com “fossas mouras”312, “retretes com autoclismo e

deveriam ser caiados interiormente antes de entregues aos inquilinos”313.

Tendo em conta as reivindicações e alguns trabalhos levados a cabo pela Comissão de Turismo, em 1928, a época balnear abriu com outro fôlego. Procedeu-se à distribuição de “elegantes impressos, em forma de carnets, fazendo propaganda a Vila do Conde”; o Casino inaugurou a temporada com espetáculos de música (foi convidada a imprensa local e correspondentes de diários do Porto e de Lisboa para noticiarem os melhoramentos efetuados no edifício314) e o Palace-Hotel reuniu melhores condições de hospitalidade para receber novos clientes. Contudo, o jornal chamou ainda a atenção da Comissão de Turismo para que se procedesse a obras no balneário da praia315, pois encontrava-se extremamente degradado316, e insistiu na abertura de um café para que “as classes menos chics” também usufruíssem da praia317.

Em 1930, inaugurou-se o campo de jogos após a realização de obras profundas318, tendo o jornal noticiado já a intenção da Comissão de Turismo de dotar a praia desta mais- valia no ano anterior319. O novo espaço ficou dotado de um “ponto de reunião elegante, onde às terças, quintas e domingos” se realizavam “chás dançantes” e “diversos jogos”. Além disso, foi construído um “elegante chalet”, onde era servido o chá e a orquestra do Casino tocava320.

Quatro anos depois, o periódico informou que, conforme o que saiu nos órgãos de imprensa diários,fora concedida uma verba – pelo Fundo de Desemprego – de 15.000$00

312 Cavidades subterrâneas para receber imundícies.

313 “As casas do bairro balnear”. O Democrático, nº 762, 05/04/1929, p. 1. 314 “Pela praia”. O Democrático, nº 730, 03/08/1928, p. 4.

315 Este estabelecimento manter-se-ia um problema até 1933, ano em que se realizariam obras de

reabilitação. Cf. “O Balneário”. O Democrático, nº 970, 22/07/1933, p. 2.

316 “A nossa praia”. O Democrático, nº 725, 22/06/1928, p. 2. 317 “Pela praia”. O Democrático, nº 730, 03/08/1928, p. 4. 318 “Campo de Jogos”. O Democrático, nº 831, 12/09/1930, p. 1. 319 “Miudezas”. O Democrático, nº 781, 24/08/1929, p. 2. 320 “Campo de Jogos”. O Democrático, nº 831, 12/09/1930, p. 1.

para o embelezamento da beira-mar. Esperava-se que este fosse incentivo suficiente para que os melhoramentos balneares se tornassem uma realidade já na época balnear seguinte e que a Comissão de Turismo metesse sem demoras mãos à obra na execução de projetos para esse efeito321. A realidade é que, em 1935, se iniciaram obras no coreto da Avenida Júlio Graça; na Avenida Brasil, junto ao balneário, em frente ao mar, procedeu-se à construção de retretes, assim como se inaugurou um bar e uma casa de chá322.

Todavia, as melhorias realizadas ao longo do decénio eram consideradas insuficientes:

A praia está imensamente carecida de melhoramentos que a embelezem e a tornem atraente e confortável aos olhos dos que a procuram ou visitam, para aqui se fixarem durante a época balnear. O pouco que há feito em trabalho fragmentário e sem obedecer a um conjunto de obras previamente delineadas, é pouco, imensamente pouco para o muito que é preciso fazer323.

De facto, haviam sido concretizados, ao longo destes anos, vários melhoramentos mas que não tinham seguido um planeamento coerente e lógico. Efetivamente, nas palavras d’ O Democrático, “a praia está limpinha… mas é só isso”324 e o seu verdadeiro

potencial não havia sido verdadeiramente aproveitado e devidamente amplificado. Decididamente, para este órgão da imprensa vila-condense muito havia ainda a fazer para conferir às praias do concelho maior qualidade e fazer da vila um destino de vilegiatura balnear apetecível para os turistas e, consequentemente, mais rentável para a economia local.