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A questão da linha telefónica: ligar Vila do Conde ao Porto

6. O Democrático e as representações de Vila do Conde

6.3. Principais melhoramentos e reivindicações locais

6.3.3. A questão da linha telefónica: ligar Vila do Conde ao Porto

A primeira referência alusiva à reivindicação do estabelecimento de uma linha telefónica que ligasse Vila do Conde ao Porto, no arco temporal em estudo, surgiu na edição de 3 de abril de 1926. Porém, o jornal destacou que este era um dos melhoramentos pelos quais a vila vinha “pugnando desde há muito” mas sem efeitos práticos até à data341.

Por um lado, reconhecia que tinham sido dados passos sérios para a resolução deste melhoramento (inclusive a intervenção da Junta Geral do Distrito), chegando “pessoas categorizadas” do meio “a encetar trabalhos” em colaboração com a vizinha Póvoa de Varzim, que pretendia também adquirir a tecnologia em questão. Contudo, nada de frutuoso resultara dos trabalhos preparatórios que em tempos se haviam realizado342. Efetivamente, as divergências relativamente ao processo de concessão da linha telefónica apresentavam-se como o maior empecilho. Quer isto dizer que os membros do periódico se dirigiram à vizinha Póvoa do Varzim, procurando “saber o que por lá se pensava em matéria de telefones”. Ao que consta, “à Póvoa, só interessava o estabelecimento da linha telefónica por parte da Companhia” que tinha “o exclusivo na cidade do Porto, como a mais vantajosa para os interesses da terra, ao contrário da que seria estabelecida por conta do Estado, com mais reduzidas vantagens”. Qual seria então a melhor escolha? Optar por uma Companhia concessionária privada ou pelo Estado? O periódico reconhecia que não se podia continuar neste impasse: “Estamos, pois, como o tolo no meio da ponte, sem se decidir a atravessá-la ou a retroceder”. Propôs que ou a Câmara Municipal ou a Associação Comercial convocasse “uma reunião” onde se tratasse “o assunto com largueza de vistas” e se discutissem “os pontos divergentes” e de lá sairia a indicação clara do que seria mais profícuo. Recomendava ainda que se entrasse em contacto com a Póvoa de Varzim, de forma a averiguar a decisão tomada pela terra vizinha, sendo que seria certamente vantajoso se ambas as localidades optassem pela

341 “Questão do momento: a linha telefónica”. O Democrático, nº 617, 03/04/1926, p. 1. 342 “Questão do momento: a linha telefónica”. O Democrático, nº 617, 03/04/1926, p. 1.

mesma solução, visto que “a força da vontade de duas terras mais rapidamente” pressionaria “as estações competentes a porem em andamento os trabalhos preliminares e depois os de execução da linha”. Todavia, esclarece: se “divergirem do nosso critério trataremos nós sozinhos de dar execução ao melhoramento que tanto nos interessa”343.

Note-se que, apesar de declarar que se encontrava num impasse relativamente ao melhor caminho a tomar, O Democrático revelou a sua posição, demonstrando algumas preocupações e reservas caso a decisão final fosse optar pela Companhia concessionária do Porto: “abalançar-se-á essa Companhia a estabelecer a linha para Vila do Conde sem que aqui lhe garantam o número de assinantes que ela fixar e que a população e exigências comerciais e industriais não possam suportar?”344.

Nesta toada, foram publicadas declarações e correspondência de “figuras ilustres” que partilhavam das mesmas opiniões apresentadas pelo periódico relativamente à instalação da linha telefónica. O objetivo seria, provavelmente, persuadir a opinião pública, convencendo-a de que a melhor opção seria escolher a concessão do Estado.

Logo o primeiro exemplo destas vozes convergentes com O Democrático foi uma carta redigida por “uma voz amiga […] do Porto”, José Meneres, “homem de prestígio”, na qual o autor concordava com as questões que o semanário levantava, incentivando a luta pela instalação célere da linha telefónica, pois considerava que esse seria um melhoramento de primeira ordem para o município. No que diz respeito à concessão, defendia que se devia optar pelo “telefone do Estado”, “por ser mais económico de assinatura, o de mais fácil ligação com a rede geral do Estado e de mais rápida realização”. No que concerne à chegada de um entendimento entre os dois concelhos vizinhos, Meneres era de opinião que esperar que a Companhia dos Telefones trouxesse a Vila do Conde e à Póvoa as suas linhas era “uma utopia” que só servia “para enredar a efetivação deste melhoramento”. Neste contexto, recordou a tentativa falhada de trazer a linha telefónica às duas cidades através da The Anglo-Portuguese Telephone Company: “Portanto se Vila do Conde quer ter telefone, o que precisa como quem tem fome e precisa de pão, tem apenas um caminho a seguir, e esse, sabe-o muito bem a […] Câmara qual

343 “Questão do momento: a linha telefónica”. O Democrático, nº 617, 03/04/1926, p. 1. 344 “Questão do momento: a linha telefónica”. O Democrático, nº 617, 03/04/1926, p. 1.

é”. Ficava, então, claramente patenteada a opção pela concessão do Estado e, desta forma,

O Democrático apresentou um exemplo de apoio específico à sua tomada de posição345. Outro exemplo foi a publicação de um texto de Pires Monteiro, Tenente-Coronel e deputado, que concordava com a urgência do estabelecimento de uma linha telefónica que ligasse o Porto a Vila do Conde e a Póvoa de Varzim: “Não se compreende que tão importantes centros industriais e estações de turismo tão concorridas na época balnear estejam, em pleno século XX, desligadas da maior cidade do Norte. É civilizadora a campanha patriótica de O Democrático”. Apontou também a importância desta ligação para o Instituto de Socorros a Náufragos, visto que “uma linha telefónica ao longo da costa ou ligando os diferentes pontos da costa com a cidade do Porto” prestar-lhe-ia “um importante auxílio na sua missão altamente humanitária”. Ao mesmo tempo, uma comunicação telefónica beneficiaria também “o problema magno da defesa nacional no seu aspeto da defesa terrestre e aérea da nossa extensa fronteira marítima e a soberania das nossas águas territoriais” que exigia “uma ativa e persistente fiscalização”. De forma a mencionar esforços passados, recordou quando, em 1924, recebeu “uma representação [por diligência da Comissão de Iniciativa de Turismo local] no sentido de ser instalada a linha telefónica”, sendo mesmo indicado o local onde deveria funcionar a estação central. Finalmente, revelou que estudou as duas hipóteses, conferenciando com os diretores da Companhia dos Telefones e com os técnicos da Administração dos Correios e Telégrafos. Acabou por reconhecer que a opção mais vantajosa e rápida era a linha do Estado. Dito isto, Pires de Monteiro conferia o seu apoio à causa defendida por este periódico e alvitrava sem rodeios que a “única solução rápida” seria “solicitar da Junta Geral do Distrito [...] o estabelecimento da linha telefónica por conta do Estado”346.

Firme na sua convicção, O Democrático sentia-se reconhecido por a sua voz estar a ser ouvida pelas entidades competentes, declarando que tanto o Presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal (José Maria Ferreira) como o da Associação Comercial (Alexandre Coentrão) se encontravam empenhados para que a “instalação da linha telefónica” fosse “um facto dentro em breve”, esclarecendo ainda que “face aos trabalhos

345 MENERES, José – “Questão do momento: a linha telefónica”. O Democrático, nº 619, 16/04/1926, p.

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já iniciados na vereação” se estava “na resolução de adotar o princípio da instalação da linha telefónica por conta do Estado”, como aquela que mais interessava no momento. Sendo já aceite que a The Anglo Portuguese Telephone Company não conseguia alargar o seu raio de ação para além dos 20 quilómetros, tomando como centro o Porto, o jornal não via senão possível “aceitar a resolução tomada da instalação da […] rede telefónica ser feita pelo Estado”. Ficou, então, assente relativamente a Vila do Conde que a Câmara Municipal, “entendida com a Junta Geral do Distrito, devia aproveitar os trabalhos, já iniciados pela anterior vereação, para a instalação da rede telefónica a explorar pelo Estado”. Com toda a certeza, a oposição da Póvoa de Varzim a esta solução surgia como uma grande preocupação mas o jornal esperava que aquela entendesse a decisão dos vila- condenses em enveredar pela opção estatal em detrimento da privada, por acreditarem ser a melhor solução347.

Neste ambiente favorável, o jornal mostrava-se confiante que, graças à campanha que vinha empreendendo e a julgar pela “diretriz dada aos trabalhos iniciadores”, a linha telefónica tinha “todas as viabilidades de triunfo”. Perante o apoio do deputado Pires Monteiro à causa, o periódico asseverava que a sua “tão justa causa” teria “uma defesa esforçada”, patrocinando-a onde ela tivesse de ser resolvida e “fazendo remover toda e qualquer dificuldade burocrática” que aparecesse. Jogando em várias frentes, confirmou o apoio da Junta Geral do Distrito, através de uma “entrevista preliminar” com o próprio presidente Álvaro Pimenta. A “aspiração” da Junta era concorrer para que se fizesse a “ligação de Vila do Conde e Santo Tirso ao distrito com o Porto”, uma vez que ambos os concelhos apresentavam esta pretensão, esta deveria ser atendida “com todo o entusiasmo”. Com o surgimento desta nova informação, ficava absolutamente estabelecido que a Póvoa de Varzim mantinha um ponto de vista diferente do de Vila do Conde relativamente à instalação da rede telefónica. Ainda assim, o periódico esperava que, após deliberação com as entidades competentes (Associação Comercial e Câmara Municipal), a “vizinha Póvoa” optasse pela “construção da linha do Estado, porque no momento ou no futuro próximo ou longo” nenhuma outra teria “viabilidade”: “que toda a vereação Povoense veja que a The Anglo Portuguese Telephone Company jamais

conseguirá do Estado a ampliação do raio de ação que usufrui, porque a Administração Geral dos Correios não lho consente, por mais esforços que se empreguem”. Chegaram informações de um membro da Associação Comercial da Póvoa de Varzim que tinha conhecimentos sobre o “funcionamento da linha telefónica de Famalicão” que era do Estado. Sabia-se que “no primeiro mês de funcionamento da linha, se fizeram muitas centenas de chamadas que renderam ao Estado cerca de 1.500$00 e que a assinatura de um telefone custa a insignificância de 100$00 escudos anuais”. Assim se provava, com mais este testemunho, que a melhor opção era indiscutivelmente a linha do Estado. O semanário mostrava-se convicto que, na época balnear seguinte, já seria possível comunicar com o Porto e que a Póvoa de Varzim, perante todos as informações disponíveis, se decidiria pela linha telefónica do Estado348.

De facto, como se tem vindo a explanar, O Democrático não desistia de convencer a Póvoa de Varzim a participar no estabelecimento conjunto da linha telefónica, mesmo que isso significasse ceder à solução que considerava mais vantajosa. Senão veja-se.

O periódico deu conta da reunião ocorrida entre os representantes da Câmara Municipal e a Associação Comercial da Póvoa de Varzim: o senador Santos Graça e Herculano Augusto Pereira Ramalho, diretor deste jornal. A finalidade da reunião “era acordar-se na melhor forma de se poder construir a linha telefónica que do Porto devia servir as duas importantes vilas”. De um lado, Santos Graça recordou os trabalhos realizados anteriormente e defendeu que a melhor solução era fazer com que o Governo autorizasse a The Anglo Portuguese Telephone Company a alargar o seu raio de ação mais 30 quilómetros, sendo que a construção da linha por esta empresa seria a solução mais benéfica para ambas as vilas. Estava persuadido de que com a colaboração dos representantes locais no Parlamento e com os da cidade do Porto, aos quais se juntaria “a prestante cooperação da Câmara Municipal e da Associação Comercial do Porto”, seria possível conseguir do Governo a ação necessária. Do outro lado, Herculano Ramalho, o presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim (João Dias) e o representante da Associação Comercial da Póvoa (Joaquim Martins da Costa Júnior) reuniram-se, tendo decidido que os “representantes das suas corporações e o diretor de O Democrático se

dirigissem no dia 11 ao Porto a fim de solicitarem das suas congéneres todo o apoio para a representação a enviar ao Governo”. Foram, com efeito, bem recebidos na Associação Comercial e na edilidade portuense, alcançando inclusive a “promessa formal de um decidido apoio no pedido a formular ao Governo pelas duas vilas interessadas para o alargamento do raio de ação a conceder à companhia dos telefones” que explorava “estes serviços no Porto”. Neste seguimento, a nova instância de negociações era Lisboa, junto do Governo, e se elas falhassem, como se receava, seria “adotado o estabelecimento da linha telefónica por conta do Estado, ao abrigo da lei nº 1644”349.

Em setembro de 1927, surgia finalmente um avanço palpável: ficava oficialmente “aberta a inscrição de assinaturas para os telefones” que dentro em breve funcionariam “entre esta vila, Porto e outras localidades” e os interessados deveriam dirigir-se ao estabelecimento da Construtora Lopes e Companhia para iniciar o processo350.

O jornal anunciou então que, a partir de 3 de dezembro desse ano, “pelas 13 horas, […] na Estação Telégrafo Postal” seria “oficialmente inaugurado o telefone” da vila “com a cidade do Porto”. A satisfação do periódico era notória: “uma velha aspiração da nossa terra é este melhoramento, debaixo de todos os pontos de vista, importantíssimo. Para o ato estão convidadas várias personalidades da nossa vila e imprensa local”351. Na edição

seguinte, a 10 de dezembro, as primeiras impressões após a bem sucedida instalação da linha telefónica em Vila do Conde tiveram honras de primeira página:

Rejubila a nossa terra por estar na posse de mais um notável melhoramento de indiscutível valor e interesse público, como é o serviço de telefones, que nos faz assim ter ligado a nossa terra com as várias localidades possuidoras já deste meio de transmissão e, muito especialmente, com a capital do Norte, a terra importante em todas as manifestações da vida, com quem estamos em mais íntima e permanente ligação352.

349 “A Linha Telefónica”. O Democrático, nº 623, 15/05/1926, p. 2. 350 “Telefones”. O Democrático, nº 686, 10/09/1927, p. 2.

351 “Telefone”. O Democrático, nº 698, 02/12/1927, p. 2.

Todavia, volvido um ano, a missão não se encontrava ainda totalmente cumprida. Apesar da reconhecida importância da comunicação que se tornara possível realizar com o Porto via telefone, tornava-se imperativa a instalação da rede urbana para que as restantes freguesias do concelho tivessem acesso a idêntica beneficiação. As informações que iam chegando ao periódico eram animadoras. A Comissão de Iniciativa de Turismo, secundada pela Associação Comercial, acabaria por receber informes da Direção Geral dos Correios e Telégrafos de que, em breve, principiariam os trabalhos para a instalação da rede urbana353.

Meses depois surgia a primeira referência à inauguração da rede telefónica numa freguesia: Vilar do Pinheiro. Sem surpresa, O Democrático descreveu as celebrações de inauguração com entusiasmo, aguardando por mais momentos semelhantes em outras localidades do concelho354. Embora dilatadas no tempo, as inaugurações seguintes deram- se em Mosteiró, Mindelo355, Gião e Malta356 (o processo teve naturalmente continuidade mas já fora do período cronológico em estudo).

A inauguração oficial da rede telefónica ocorreu por meados de dezembro de 1929, no edifício da Câmara Municipal e contou com a presença de vários membros do Governo357. Entre as comemorações, foram nomeadas várias telefonistas e o “número dos telefones diretos dentro da vila” elevava-se “a 51 e 15 indiretos, tendo sido já requisitados mais”358.

Esta questão da linha telefónica serve como um dos maiores exemplos de perseverança de O Democrático, colocando em evidência o seu carácter fortemente interventivo em prol de todos os assuntos que promovessem o progresso da Vila do Conde do século XX.

353 “Interesses locais: telefones”. O Democrático, nº 756, 22/02/1929, p. 4.

354 “Em Vilar do Pinheiro é inaugurada a rede telefónica e uma cabine pública”. O Democrático, nº 772,

22/06/1929, p. 2.

355 “Pelas aldeias”. O Democrático, nº 846, 03/01/1931, p. 4. 356 “Pelas aldeias”. O Democrático, nº 1048, 15/02/1935, p. 4.

357 “Vila do Conde: número comemorativo do centenário do nascimento do Dr. Jorge de Faria”. Boletim

Cultural da Câmara Municipal de Vila do Conde, nº 4, 1989, p. 84.

358 “Melhoramentos locais. Foi no domingo passado, inaugurada a linha telefónica”. O Democrático, nº

6.3.4. “Trevas, não. Luz, sim”359

Em 1926, Vila do Conde usufruía já das vantagens inerentes ao fornecimento de eletricidade. Porém, a rede elétrica instalada no município revelava-se ainda insuficiente, pois não chegava a todas as freguesias, era demasiadamente cara e com falhas de funcionamento graves.

De facto, o fornecimento de luz era tão irregular que a imprensa periódica local debatia fortemente este assunto à procura de soluções. O Democrático deu destaque a uma notícia publicada pelo semanário A União, na qual um dos colaboradores deste periódico – Tadeu Pereira Neves, que assinava “Pórfiro” – fazia uma proposta à Companhia Hidroelétrica relativamente ao “fornecimento de energia elétrica ao público a $60 o quilowatt, com as vantagens de” ser “dada luz toda a noite e ainda durante o dia para usos industriais, podendo algumas freguesias usufruir este tão grande como incalculável benefício, o que tudo seria levado à efetivação dentro do prazo máximo de 3 meses”. O Democrático conferia credibilidade a esta sugestão, uma vez que Tadeu Pereira Neves não era um novato nestas querelas pelo melhoramento da eletricidade em Vila do Conde, tendo já colaborado nas colunas deste periódico:

«Pórfiro» não deixa de ser o nosso amigo Tadeu Pereira Neves que, em tempos, a uma chamada nossa por crítica ao contrato da luz elétrica, tratou nas colunas de

O Democrático de uma maneira, clara, detalhada e com argumentos

irrespondíveis tão magno assunto e de tal forma o fez que obrigou a Companhia a apressar o fornecimento de luz elétrica à nossa terra que parecia travado eternamente360.

Desta forma, o jornal garantiu que esta sugestão tinha “todas as garantias de seriedade e eficiência”, não se tratando apenas de um “bouquet de pirotecnia para deslumbrar as gentes”361. Por outro lado, ficou também registada uma demonstração da influência que

a imprensa periódica detinha na época em Vila do Conde (como aliás no resto do país)

359 “Trevas não, luz sim”. O Democrático, nº 637, 20/08/1926, p. 3. 360 “A tão decantada luz elétrica”. O Democrático, nº 637, 20/08/1926, p. 2. 361 “A tão decantada luz elétrica”. O Democrático, nº 637, 20/08/1926, p. 2.

dado que a maioria dos responsáveis pelos periódicos eram cidadãos influentes, com estatuto social elevado.

Escusado será dizer que foi avassalador o entusiasmo que rodeou esta revelação, visto que as condições de fornecimento de energia elétrica no concelho eram irregulares e de duração reduzida. Normalmente, o funcionamento da eletricidade começava apenas às 21 horas, terminando às 2 horas da madrugada – ou seja – apenas cinco horas diárias de eletricidade por 1$70 o quilowatt. Ficar-se-ia a aguardar a resposta da Companhia a tal proposta e que atitude tomaria a Câmara Municipal caso o feedback da empresa fosse negativo362.

No entanto, o jornal não apresentou seguimento à proposta feita à Companhia Hidroelétrica, visto que a opção – como se verá – seria pela municipalização.

De facto, o semanário patenteou uma indignação crescente ao constatar que o problema da eletricidade não tinha resolução à vista, dirigindo-se à companhia concessionária da vila – Electro-Hidráulica de Portugal – com duras palavras de insatisfação pelas razões que já se conhecem. Os problemas no fornecimento da eletricidade durante a noite permaneceram e a população encontrava-se em estado de revolta. Além disso, o jornal apontava as consequências negativas que as intermitências constantes do serviço de iluminação causariam na realização das festas noturnas do município363.

Em 1927 pareceu chegar o auxílio necessário. A Comissão Administrativa da autarquia fez aprovar um empréstimo de cerca de 2.000 contos “para serem empregados exclusivamente no abastecimento e fornecimento de água e municipalização dos serviços de luz”. Embora se considerasse uma quantia modesta, o jornal não desvalorizou a conquista e aguardava avanços364, que foram, todavia, lentos. Cerca de dois anos depois,

em julho de 1929, a Câmara Municipal aprovou outro empréstimo no valor de 1.500.000$00 “a contrair na Caixa Geral dos Depósitos”, destinado, uma vez mais, tanto ao abastecimento de água para a vila, como de luz para as freguesias do concelho365.

362 “A tão decantada luz elétrica”. O Democrático, nº 637, 20/08/1926, p. 2. 363 “A eterna questão da luz”. O Democrático, nº 646, 30/10/1926, p. 2.

364 “Melhoramentos locais – luz, água e saneamento”. O Democrático, nº 687, 16/09/1927, p. 1. 365 “Empréstimo municipal”. O Democrático, nº 775, 13/07/1929, p. 2.

A chegada de dinheiros do Estado fazia conjeturar bons presságios. Porém, em 1930, a eclosão de uma crise camarária e consequente criação de uma nova Comissão Administrativa trouxeram ao de cima a questão da municipalização da rede de eletricidade levada a cabo pela anterior comissão. Acontece que a nova Comissão Administrativa fez aumentar o preço da luz de 1$44 para 1$80 por quilowatt. O jornal revelou que não existiram insurgências a registar relativamente a este aumento, uma vez que as razões apresentadas foram convincentes. Contudo, o caso mudou de figura quando a autarquia fez ressuscitar a cobrança de um consumo mínimo na quantia de 3$50. Considerou, então, esta exigência “imoral” e “injusta”. Porém, os encargos ao serviço