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A COMUNICAÇÃO PARA A SAÚDE COMO CHAVE DA PROMOÇÃO DA LITERACIA EM SAÚDE

III. Plano de Gestão

9. Avaliar os outcomes 45 e o impacto da estratégia (Fizemos bem?).

2.1. A origem do conceito e sua relação com a Promoção da Saúde

O conceito de literacia em saúde (health literacy) surge pela primeira vez em 1974, num artigo de Simonds SK, intitulado “Educação para a saúde como política social”47

, onde é apresentado em estreita relação com o conceito de health education. Sem definir propriamente o conceito, o autor defende a importância de existirem padrões mínimos para contribuir para a literacia em saúde em todos os programas escolares (Kwan, Frankish, & Rootman, 2006; National Library of Medicine, 2000; Schulz & Nakamoto, 2013; Sørensen et al., 2012; World Health Organization [WHO], 2009a).

Para além desta primeira relação com o conceito de health education, não se pode também deixar de traçar o percurso do conceito na sua relação com a health promotion. A primeira conferência da Organização Mundial de Saúde sobre Promoção da Saúde teve lugar em Ottawa em 1986, onde foi apresentada a definição do conceito: “Promoção da saúde é o processo de capacitação das pessoas para aumentar o controlo e melhorar a sua saúde” (World Health Organization [WHO], 1986).

A noção de Promoção da Saúde proposta nesta conferência abrange, não só o fortalecimento das competências e capacidades de cada indivíduo, mas também as alterações necessárias a nível social, político e económico para promover a saúde. "Vai para além de um foco nos comportamentos individuais, no sentido de uma ampla gama de intervenções sociais e ambientais" (Organização Mundial da saúde [OMS], 1998a).

Estamos, por isso, perante uma visão sistémica e global da promoção da saúde, com mudanças a ocorrer tanto nos indivíduos como nas estruturas sociais. Um enfoque especial é, ainda, colocado nos conceitos de participação e capacitação, enquanto elementos essenciais para que cada indivíduo consiga promover a sua própria saúde e contribuir para a saúde da comunidade em que se insere. Encontramos no “The Ottawa Charter” a definição das três grandes linhas estratégicas da Organização Mundial de Saúde (WHO) para a Promoção da Saúde e que vão ao encontro dos modelos de excelência já abordados anteriormente como o Modelo Integrado de Comunicação para a Mudança Social de Figueroa e Kincaid (2001): “Estas são a advocacy para a saúde para criar as condições essenciais para a saúde (…) ; permitir que todas as pessoas possam atingir a sua plena saúde potencial; fazer a mediação entre os diferentes interesses na sociedade na prossecução da saúde" (World Health Organization, 1998: 2).

Estas estratégias orientam, por sua vez, as cinco áreas de ação também definidas na Conferência de Ottawa (World Health Organization [WHO], 1986):

 Construir políticas públicas saudáveis;  Criar ambientes de apoio para a saúde;  Reforçar a ação comunitária para a saúde;

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 Desenvolver competências pessoais;  Reorientar os serviços de saúde.

Desde então, tiveram lugar mais sete conferências na área da promoção da saúde, desenvolvidas pela Organização Mundial de Saúde: em Adelaide, em 1988; em Sundsvall, em 1991; em Jakarta, em 1997; no México, em 2000; em Bangkok 2005; em Nairobi, em 2009; e, mais recentemente em Helsínquia, em 2013 (World Health Organization [WHO], s.d.).

É através da “Declaração de Jacarta sobre Promoção da Saúde no Século XXI” que se dá mais um grande passo na definição da importância da promoção da saúde, lançando as bases para o surgimento de um novo conceito no vocabulário da WHO: o de health literacy. Na Declaração de Jakarta é afirmada a importância da aprendizagem, da educação e informação para a promoção da saúde, garantindo assim a participação e a capacitação dos indivíduos: "a aprendizagem sobre saúde promove a participação. O acesso à educação e à informação é essencial para alcançar a participação efetiva e o empoderamento das pessoas e das comunidades" (World Health Organization [WHO], 1997).

A Organização Mundial de Saúde, no seu “Health Promotion Glossary” de 1998, apresenta então a relação entre a health education e health literacy:

A educação para a saúde compreende oportunidades conscientemente construídas de aprendizagem que envolvem alguma forma de comunicação destinada a melhorar a literacia em saúde, incluindo o aumento dos conhecimento e desenvolvimento de competências que se revelem úteis para a saúde individual e comunitária (World Health Organization [WHO], 1998a: 4).

Surge, também, neste mesmo documento, a primeira definição da WHO de health literacy: A literacia em saúde representa as competências cognitivas e sociais que determinam a motivação e a capacidade dos indivíduos para ter acesso, compreender e utilizar a informação de forma a promover e manter uma boa saúde.

A literacia em saúde implica o alcance de um nível de conhecimentos, competências pessoais e confiança para tomar decisões que melhorem a saúde pessoal e comunitária, alterando estilos e condições de vida. Assim, a literacia em saúde significa mais do que ser capaz de ler folhetos e fazer anotações. Melhorando o acesso à informação sobre saúde e a capacidade dos indivíduos para a usar eficazmente, a literacia em saúde é vital para o empoderamento. A literacia em saúde é, ela própria, dependente de níveis gerais de literacia. Baixos níveis de literacia podem afetar diretamente a saúde das pessoas, limitando o seu desenvolvimento pessoal, social e cultural, bem como dificultando o desenvolvimento da literacia em saúde (World Health Organization [WHO], 1998a: 10).

Nesta definição de 1998 encontramos já aquilo que é o conceito de health literacy, numa aceção que compreende um conjunto de mudanças necessárias a ocorrer ao nível dos conhecimentos, atitudes e comportamentos, tendo como fim último o empoderamento dos indivíduos para que se tornem eles próprios atores da mudança, seja para contribuir para a sua própria saúde, como para contribuir para a saúde da comunidade em que se inserem.

105 Em 2009, mais de uma década depois da primeira definição do conceito, na sétima Conferência sobre Promoção da Saúde, que teve lugar em Nairobi, a WHO reitera a importância da literacia em saúde, constituindo-a como uma das cinco faixas temáticas da conferência, verificando-se, assim, a inegável relação entre os conceitos de promoção da saúde e literacia em saúde e, mais ainda, entre esta e a mudança de comportamentos:

Faixa 1: Empoderamento da Comunidade

 Faixa 2: Literacia em saúde e comportamentos de saúde  Faixa 3: Fortalecimento dos sistemas de saúde

 Faixa 4: Parcerias e ações intersectoriais

 Faixa 5: Capacitação para a promoção da saúde (World Health Organization [WHO], 2009b).

No entanto, mesmo antes da Conferência de Nairobi, começavam a ser dados os primeiros passos na investigação sobre literacia em saúde:

(…) uma constelação de competências, incluindo a capacidade básica de leitura e de desempenhar tarefas numéricas para funcionar no ambiente de cuidados de saúde (Ad Hoc Committee on Health Literacy for the Council on Scientific Affairs - American Medical Association, 1999: 553).

(…) competências pessoais, cognitivas e sociais que determinam a capacidade dos indivíduos para aceder, compreender e utilizar informação que promova e mantenha uma boa saúde (Nutbeam, 2000: 263).

O grau em que os indivíduos têm a capacidade para aceder, processar e compreender informações básicas de saúde e serviços necessários para tomar decisões de saúde apropriadas (U.S. Department of Health & Human Services, 2001: 7-8).

(…) capacidades e competências evolutivas necessárias para encontrar, compreender, avaliar e utilizar informação sobre saúde e conceitos que permitam fazer escolhas informadas, reduzir os riscos para saúde e melhorar a qualidade de vida (Zarcadoolas, Pleasant, & Greer, 2003: 119).

O grau em que os indivíduos têm a capacidade para aceder, compreender e comunicar informações para se envolverem nas exigências dos diferentes contextos de saúde, promovendo e mantendo a saúde ao longo de toda a sua vida (Kwan et al., 2006: ii).

(…) uma capacidade funcional relacionada com as competências básicas de literacia e como estas afetam a capacidade das pessoas para aceder e usar informações de saúde” (Ad Hoc Committee on Health Literacy for the Council on Scientific Affairs - American Medical Association, 1999).

As definições acima apresentadas de literacia em saúde, anteriores à Conferência da OMS (Organização Mundial de Saúde) em 2009, definem o conceito sobretudo numa perspetiva das capacidades para aceder, compreender e utilizar informação relacionada com a saúde, permitindo a tomada de decisões com benefícios para a saúde.

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