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A COMUNICAÇÃO PARA A SAÚDE COMO CHAVE DA PROMOÇÃO DA LITERACIA EM SAÚDE

III. Plano de Gestão

4. Doenças Neurodegenerativas do Envelhecimento: Doença de Alzheimer e outras Demências A população mundial está a envelhecer As melhorias nos cuidados de saúde

4.1.3. Diagnóstico e Intervenção

A Demência significa que a pessoa deixou de julgar aquilo que está à sua volta da mesma maneira que fazia dantes, começa a esquecer-se das coisas, a memória talvez seja o núcleo principal do problema, começa a repetir muitas vezes as coisas, perguntar muitas vezes a mesma coisa, a esquecer-se de tarefas que tinha de fazer, embora isso não seja completamente invulgar nas pessoas com envelhecimento, que também têm alguns esquecimentos que são aceitáveis, mas estes são aqueles que se notam mais, quando a pessoa é capaz de perguntar três vezes seguidas a mesma coisa, sem se lembrar que já perguntou duas vezes e depois pode haver outros sinais acompanhantes que é não ser capaz de se vestir, não ser capaz de se orientar, perder-se na rua… são sinais que começam a interferir no dia a dia e que em princípio vão ser progressivos e que têm um momento em que é necessário fazer uma avaliação médica conveniente, para se perceber exatamente o que se está a passar com a pessoa. Feita a avaliação médica, é preciso estabelecer o que se faz agora e evitar, sobretudo, que as pessoas andem a perguntar a toda a gente o que deve fazer e a seguir todas as opiniões. Um dos problemas que acontece nestes casos é que não há grande crítica em relação ao valor das opiniões e portanto as pessoas vão ouvir as coisas que lhes derem mais satisfação. O mercado está invadido de ofertas que são absurdas e as pessoas vão seguindo essas vias. É preciso que num primeiro momento de aproximação a pessoa seja claramente instruída do perigo das sereias e dizer que é isto que se passa e é preciso dar às pessoas confiança para isso, coisa que não acontece no nosso sistema de saúde, que não dá confiança às pessoas, dá desconfiança. As pessoas não acreditam e vão sempre pedir segundas e terceiras opiniões. Eu não sou contra, desde que estas sejam de pessoas válidas para dar opiniões. Portanto, a grande questão aqui é depois da suspeita ouvir-se o profissional mas depois vai-se procurar outro. Porque aqui é importante ouvir logo o profissional médico, porque há situações que são tratáveis e que podem se tratar, portanto não é exatamente uma Doença de Alzheimer, é um estado confusional, é uma coisa desse género e pode ter regressão, portanto há um momento médico de avaliação da situação e a partir daí ultrapassa já a saúde e passa a ser um problema de acompanhamento social, mais do que médico (Prof. Doutor Alexandre Castro Caldas, 2015, Entrevista, Anexo I)

O diagnóstico de demência ou, mais em específico, de doença de Alzheimer, é feito pelo médico especialista, neurologista ou psiquiatra. O primeiro contacto pode ser feito pelo médico de clínica

127 geral que, depois de prescrever alguns exames e despistar outras doenças, encaminha para a especialidade.

Não existe um único teste capaz de diagnosticar a doença de Alzheimer ou outra forma de demência. O diagnóstico só é obtido através da realização de uma bateria de exames que podem incluir a análise da história da pessoa, exames mentais, físicos e neurológicos, avaliações neuro-psicológicas, para além de testes para descartar outras causas para os sintomas vivenciados.

A demência não tem cura e os sintomas vão evoluindo à medida que a doença vai progredindo. É, por isso, defendida a importância do diagnóstico precoce por forma a permitir às pessoas com demência terem a oportunidade para tomar decisões sobre questões financeiras, jurídicas e de saúde, enquanto ainda têm a capacidade para o fazer. Um diagnóstico atempado numa fase inicial da doença poderá também permitir que a pessoa beneficie de intervenções, farmacológicas e não farmacológicas, que ajudem a desacelerar a progressão da doença e contribuam para a preservação da sua qualidade de vida por um período de tempo mais alargado. Por outro lado, o diagnóstico precoce afigura-se importante para que os cuidadores se possam preparar para lidar com a progressão da doença (Alzheimer Association, 2011; Alzheimer Europe, 2009; Alzheimer’s Association, sem data-e; Alzheimer’s Disease International, sem data-c; Alzheimer’s Society, sem data-f, sem data-g; Associação Alzheimer Portugal, sem data-e).

No que diz respeito ao tratamento da doença, não existe até à data qualquer medicamento que cure, trave ou previna a doença de Alzheimer ou outra demência. A intervenção realizada nos doentes combina terapias farmacológicas e não farmacológicas, como a estimulação cognitiva, que atuam na desaceleração da evolução dos sintomas. Neste tipo de doenças, a perda de uma capacidade é irreversível, atuando os fármacos no sentido de aliviar os sintomas e não de os reverter ou impedir (Alzheimer Europe, 2014a; Alzheimer’s Association, sem data-f, 2015; Alzheimer’s Society, sem data-h; Associação Alzheimer Portugal, sem data-h, sem data-s).

Em Portugal, a terapêutica farmacológica aprovada para a doença de Alzheimer divide-se em duas categorias: terapêutica colinérgica56 e Memantina57.

56 “Estes fármacos, conhecidos como inibidores da acetilcolinesterase, bloqueiam as ações da enzima

acetilcolinesterase, que é responsável pela destruição de um neurotransmissor importante denominado - acetilcolina. A atual terapêutica colinérgica está indicada para pessoas com Doença de Alzheimer, nas fases ligeira e moderada. Os inibidores da acetilcolinesterase são comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde. As pessoas que foram diagnosticadas com Demência podem adquirir os medicamentos com comparticipação, desde que sejam prescritos por um médico neurologista ou psiquiatra” (Associação Alzheimer Portugal, sem data-s).

57 “A Memantina atua num neurotransmissor denominado - glutamato. Este está presente em concentrações

elevadas nas pessoas com doença de Alzheimer. A Memantina bloqueia o glutamato e evita a entrada excessiva de cálcio nas células nervosas, o que iria causar danos nestas. A Memantina é a primeira de uma nova classe de

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4.1.4. Fatores de Risco

Apesar de não ser possível prevenir a demência, tem vindo a ser identificado um conjunto de fatores de risco, o que poderá ajudar a reduzir as hipóteses de desenvolver a doença.

O principal e grande fator de risco da demência é, incontestavelmente, a idade. De acordo com a Alzheimer Association, um em cada três idosos morre com doença de Alzheimer ou outra demência nos Estados Unidos da América (Alzheimer’s Association, 2015).

A incidência de demência aumenta exponencialmente com o aumento da idade. De acordo com diversos estudos, a incidência de demência duplica a cada 6,3 anos de idade, situando- se nas 3,9/1000 pessoas entre os 60-64 anos e as 104.8/1000 com mais de 90 anos (Alzheimer’s Disease International (ADI), 2015: 32).

Para além da idade, os genes, o historial familiar e a portabilidade de Síndrome de Down constituem o conjunto dos fatores de risco não modificáveis, ou seja, aqueles que não são passíveis de serem alterados ou contornados. No entanto, ao contrário da crença de que a demência é hereditária, as formas de demência genética são muito raras.

Existe uma forma rara da Doença de Alzheimer que é transmitida de geração em geração. Esta é denominada por Doença de Alzheimer Familiar (DAF). Se um dos progenitores possui uma mutação genética que provoca DAF, cada filho terá 50% de probabilidade de herdá-la. A presença do gene significa que a pessoa poderá desenvolver Doença de Alzheimer, normalmente entre os 40 e os 60 anos. Esta forma da Doença de Alzheimer afeta um número extremamente reduzido de pessoas. Foram identificados três genes que se sofrerem certos tipos de mutação, vão causar DAF. Estes são denominados: presenilina 1 (cromossoma 14), presenilina 2 (cromossoma 1) e o gene da proteína precursora amilóide (APP) no cromossoma 21 (Associação Alzheimer Portugal, sem data-d).

Por sua vez, os fatores de risco modificáveis incluem uma série de elementos relacionados sobretudo com os estilos de vida, como a prática de exercício físico, hipertensão, obesidade, diabetes, colesterol elevado, tabagismo, alcoolismo, doenças cardiovasculares e alimentação saudável. Encontram-se ainda outros fatores de risco como o baixo nível de escolaridade, traumatismos cranianos ou acidentes vascular-cerebrais (Alzheimer Association, 2011; Alzheimer’s Association, sem data-b, 2015; Alzheimer’s Disease International (ADI), 2012; Alzheimer’s Disease International, sem data-e; Alzheimer’s Society, sem data-d, sem data-e, 2015a; Associação Alzheimer Portugal, sem data-p).

fármacos e atua de forma muito diferente dos inibidores de acetilcolinesterase, que estão atualmente aprovados para o tratamento em Portugal.

A Memantina está indicada para pessoas com doença de Alzheimer nas fases moderadamente grave e grave. É um medicamento comparticipado pelo Serviço Nacional de Saúde” (Associação Alzheimer Portugal, sem data- s).

129 4.1.5. Prevalência da Demência

Em todo o mundo, [surgiram] em 2015 9.9 milhões de novos casos de demência. 1 a cada 3 segundos (Alzheimer’s Disease International (ADI), 2015: ii).

Estima-se que, atualmente, existam cerca de 46.8 milhões de pessoas com demência em todo o mundo, número que poderá duplicar a cada 20 anos, atingindo os 74.7 milhões em 2030 e os 131.5 milhões em 2050 (Alzheimer’s Disease International (ADI), 2015).

Por sua vez, Organização Mundial de Saúde estima que atualmente existam 47.5 milhões de pessoas com demência, surgindo a cada ano 7.7 milhões de novos casos (World Health Organization [WHO], 2015a).

Quadro 2.3 - Estimativa de prevalência da demência (%), gerado a partir de modelos de efeitos aleatórios de Poisson, por região Global Burden of Disease

Região GBD Sexo

Grupos Etários (Idade)

Prevalência padrão para pessoas com mais de 60 anos 60- 64 65- 69 70- 74 75- 79 80- 84 85- 89 90+ ÁSIA Australásia Todos 1.8 2.8 4.5 7.5 12.5 20.3 38.3 6.91

Ásia Pacífico, Alto Rendimento M 1.4 2.3 3.8 6.4 10.9 18 24.9 6.30 F 0.9 1.7 3.1 6.0 11.7 21.7 49.2 Todos 1.0 1.7 2.9 5.5 10.3 18.5 40.1 5.57 Ásia, Este M 0.8 1.3 2.2 4.0 7.3 16.7 26.4 4.98 F 0.9 1.6 2.9 5.3 10.0 17.9 38.7 Todos 0.7 1.2 3.1 4.0 7.4 13.3 28.7 4.19 Ásia, Sul M 1.0 1.7 2.9 5.3 9.4 16.4 33.7 4.65 F 1.5 2.3 3.8 6.5 11 18.1 35.1 Todos 1.3 2.1 3.5 6.1 10.6 17.8 35.4 5.78 Ásia, Sudoeste M 1.7 2.6 4.0 6.2 9.8 15 26.4 7.63 F 1.8 3.0 5.1 9 15.9 27.2 54.9 Todos 1.6 2.6 4.2 6.9 11.6 18.7 35.4 6.38 EUROPA Europa Ocidental M 1.4 2.3 3.7 6.3 10.6 17.4 33.4 7.29 F 1.8 3.0 5.0 8.6 14.8 24.7 48.3 Todos 1.6 2.6 4.3 7.4 12.9 21.7 43.1 6.92 AMÉRICA EUA M 1.3 2.1 3.7 6.8 12.3 21.6 45.2 6.77 F 1.0 1.8 3.3 6.4 12.5 23.2 52.7 Todos 1.1 1.9 3.4 6.3 11.9 21.7 47.5 6.46 América Latina M 1.0 1.9 3.7 7.0 13.0 24.3 55.0 8.50 F 1.0 2.0 4.2 8.4 16.4 32.5 79.5 Todos 1.3 2.4 4.5 8.4 15.4 28.6 63.9 8.48

Fonte: Traduzido e adaptado de World Health Organization [WHO] & Alzheimer’s Disease International (2012)

Em Portugal, a Alzheimer Europe estimou a existência de 182 mil pessoas com demência em 2012, representando 1.71% da população total do país (Alzheimer Europe, 2014b).

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Quadro 2.4 - Estimativa do número de Pessoas com Demência em Portugal: distribuição por género e grupo etário

Grupo Etário Homens com demência Mulheres com Demência Total

60-64 597 3.004 3.601 56-69 4.495 4.146 8.641 70-74 6.793 10.241 17.034 75-79 12.262 18.518 30.780 80-84 16.583 29.983 46.566 85-89 11.667 29.720 41.387 90-94 5.249 17.800 23.048 95+ 902 4.719 5.621 Total 62.260 12.266 182.526

Fonte: Traduzido e adaptado de Alzheimer Europe (2014b)

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