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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SECTOR

Passo 4: Implementação e Monitorização A Produzir e disseminar

4.1. Definição do Terceiro Sector

O Terceiro Sector foi pela primeira vez definido em 1973 por Etzione, no seu artigo The Third Sector and Domestic Missions, publicado na Public Administration Review (Corry, 2010).

Enquanto o debate sobre como dar resposta às nossas necessidades tem focado o público contra a alternativa privada, uma terceira alternativa, de facto, um Terceiro Sector, tem crescido entre o estado e o sector de mercado. Na verdade este Terceiro Sector pode ser a alternativa mais importante para as próximas décadas, não substituindo os outros dois, mas complementando os seus importantes papéis (Etzioni, 1973: 315).

Estamos, portanto, perante um sector da economia definido em oposição ao Estado ou Sector Público e ao Sector Económico ou Privado, considerados também como sectores separados. Para Etzione (1973), este Terceiro Sector acaba por ser uma combinação do melhor dos dois mundos: “eficiência e conhecimento do mundo dos negócios e interesse público, responsabilidade e planeamento mais amplo do governo” (Etzioni, 1973: 315).

Na prática, “Terceiro Sector” é utilizado para referir de uma forma ampla diferentes tipos de organizações, tais como instituições de caridade, organizações não-governamentais (ONGs), grupos de auto-ajuda, empresas sociais, redes e clubes, apenas para citar alguns, que não pertencem às categorias de estado ou mercado (Corry, 2010: 11).

Também para o National Audit Office do Reino Unido a oposição aos dois primeiros sectores é o foco da definição do Terceiro Sector: “O termo é utilizado para distinguir estas organizações dos outros dois sectores da economia: o sector público (governo) e o sector privado (negócios)” (NAO, 2009: 5).

Estamos, assim, perante um sector da economia separado do sector público ou governamental e do sector privado ou empresarial, que abarca um conjunto alargado de organizações que em comum têm o facto de não terem fins lucrativos e de se centrarem no interesse público, ou seja no bem comum, com objetivos sociais e comunitários: “a sua vontade de servir como veículos para a participação e integração social” (Jenei & Kuti, 2008: 12).

Uma empresa lucrativa cumpriu a sua tarefa quando o cliente compra o produto, paga-o e fica satisfeito com ele; um governo cumpre a sua função quando tem uma política eficaz e efetiva. A organização «sem fins lucrativos» não fornece bens ou serviços nem controla, o seu «produto» não é um par de sapatos, nem uma regulamentação efetiva, mas um ser humano modificado. Estas organizações são agentes da evolução humana e o seu «produto» é um doente curado, um menino que aprende, um rapaz ou rapariga transformado num adulto que se respeita a si mesmo, uma vida inteiramente mudada (Drucker, 1990: 10).

A denominação deste sector não é, contudo, unívoca e, por todo o mundo, encontramos diferentes designações. Nos Estados Unidos da América o termo mais comummente utilizado é tax-exempt sector, em Inglaterra non-statutory sector, e em França économie sociale (Jenei & Kuti, 2008). Falar

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de “Terceiro Sector”, “Sector Não Lucrativo”, “Sector Voluntário”, “Economia Solidária”, “Economia Social” ou “Sociedade Civil”, é, portanto, falar da mesma realidade.

O termo Economia Social que, em diversos países, pode assumir múltiplas designações, como “Terceiro Sector”, “sector não lucrativo”, “economia social e solidária”, “economia alternativa” e tantas outras expressões, corresponde à dinâmica gerada por um conjunto de organizações cuja atividade e sentido de existência reside, sobretudo, nas pessoas e na utilidade social (Instituto Nacional de Estatística & CASES, Cooperativa António Sérgio para a Economia Social, 2013: 14).

Tal como a denominação deste sector da economia não é una, também não é composto por apenas um tipo de organizações, mas sim por um leque alargado, com diferentes características e propósitos de atuação, como grupos comunitários, Organizações Não Governamentais (ONG), organizações de caridade, associações profissionais, fundações, associações religiosas, entre outras (Centre For Civil Society - London School Of Economics, sem data; The World Bank, sem data; World Health Organization, sem data)31.

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“the term civil society to refer to the wide array of non-governmental and not-for-profit organizations that have a presence in public life, expressing the interests and values of their members or others, based on ethical, cultural, political, scientific, religious or philanthropic considerations. Civil Society Organizations (CSOs) therefore refer to a wide of array of organizations: community groups, non-governmental organizations (NGOs), labor unions, indigenous groups, charitable organizations, faith-based organizations, professional associations, and foundations” (The World Bank, s.d.).

“Civil society is seen as a social sphere separate from both the state and the market. The increasingly accepted understanding of the term civil society organizations (CSOs) is that of non-state, not-for-profit, voluntary organizations formed by people in that social sphere. This term is used to describe a wide range of organizations, networks, associations, groups and movements that are independent from government and that sometimes come together to advance their common interests through collective action. Traditionally, civil society includes all organizations that occupy the 'social space' between the family and the state, excluding political parties and firms. Some definitions of civil society also include certain” businesses, such as the media, private schools, and for-profit associations, while others exclude them” (World Health Organization, s.d.).

“Civil society refers to the arena of uncoerced collective action around shared interests, purposes and values. In theory, its institutional forms are distinct from those of the state, family and market, though in practice, the boundaries between state, civil society, family and market are often complex, blurred and negotiated. Civil society commonly embraces a diversity of spaces, actors and institutional forms, varying in their degree of formality, autonomy and power. Civil societies are often populated by organisations such as registered charities, development non-governmental organisations, community groups, women's organisations, faith-based organisations, professional associations, trades unions, self-help groups, social movements, business associations, coalitions and advocacy groups”. (Centre For Civil Society - London School Of Economics, s.d.)

53 4.1.1. As Organizações do Terceiro Sector

Procurando definir que tipo de organizações cabem dentro do Terceiro Sector, surgem duas grandes perspetivas, cada uma com a sua definição: a perspetiva a norte-americana e a perspetiva europeia (Corry, 2010).

Em comum, as duas perspetivas têm o facto de não definirem o Terceiro Sector de forma independente, mas sempre em relação aos outros dois sectores. Por um lado, a perspetiva norte- americana define o Terceiro Sector em oposição ao sector do Estado e ao sector da Economia Privada. Por outro lado, a perspetiva europeia, apresenta uma conceção híbrida do Terceiro Sector, como o resultado da junção dos outros dois.

De acordo com esta perspetiva, o Terceiro Sector não é caracterizado por ser o oposto do sector estatal ou empresarial, mas sim por ter como principal objetivo o bem social. Por isso, engloba nas organizações do Terceiro Sector as cooperativas e firmas que, apesar de terem fins lucrativos, têm objetivos sociais como razão de existência.

As organizações não-governamentais orientadas por valores sociais e que principalmente reinvestem os seus excedentes em mais objetivos sociais, ambientais ou culturais; Inclui-se organizações voluntárias e comunitárias, instituições de caridade e empresas sociais, cooperativas e mutualidades (NAO, 2009: 5).

Para a corrente europeia, aquilo que define uma organização como fazendo ou não parte do Terceiro Sector são os seus objetivos e a sua missão. Caso exista para beneficiar a comunidade, independentemente dos seus objetivos lucrativos, a organização é considerada como parte da Economia Social (Corry, 2010; Laville et al., 1999).

Conceção distinta é defendida pela perspetiva denominada como norte-americana, no âmbito da qual a Johns Hopkins University tem desenvolvido variadíssimos estudos sobre o Terceiro Sector, onde apresenta estas organizações como partilhando cinco características essenciais:

 São estruturadas, ou seja, têm um perfil institucional;  São privadas, ou seja, independentes do Estado;

 Não têm fins lucrativos, ou seja, não distribuem os lucros pelos seus membros;  São independentes, ou seja têm auto gestão e controlo total sobre as suas atividades;  São voluntárias, pelo menos em parte, ou seja, envolvem a participação voluntária, seja para o desenvolvimento de atividades ou para a gestão e direção da própria instituição (Salamon & Anheier, 1997).

De todas as características enunciadas, duas delas acabam por marcar a posição norte-americana: o facto de não terem fins lucrativos e de terem auto gestão. É precisamente o facto de não distribuírem os seus lucros e de não dependerem do Estado que coloca estas organizações num Terceiro Sector, oposto e independente dos outros dois sectores da economia.

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A característica mais essencial e que acaba por determinar a rutura conceptual com a conceção europeia é precisamente a não distribuição dos lucros, fator que leva a que as organizações do Terceiro Sector (OTS) sejam também designadas por muitos autores como organizações sem fins lucrativos ou organizações não lucrativas (ONL).

Quadro 1.5 – Definição de Terceiro Sector para as correntes europeia e norte-americana

Definição Europeia Definição Americana

Ênfase no desenvolvimento da dimensão económica das associações

Ênfase numa abordagem sintética, centrada na interpretação estatística da importância de um sector que compreende toda a

comunidade de organizações sem fins lucrativos. Critério de limites na apropriação privada

dos lucros: inclusão das cooperativas e sociedades mutualistas.

Critério de não-redistribuição do lucro: exclusão das cooperativas e sociedades mutualistas. Fonte: Laville, J., Borzaga, C., Defourny, J., Evers, A., Lewis, J., Nyssens, M., & Pestoff (1999)

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