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DESENHO DA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

1. Pergunta de Partida

A primeira etapa do processo de investigação passa pela definição da pergunta de partida, o fio condutor que deve definir claramente o objetivo de todo o trabalho (Flick, 2009; Quivy & Campenhoudt, 2005).

Na esteira de Quivy e Campenhoudt, a pergunta de partida deve caracterizar-se por ser clara, exequível e pertinente. As qualidades de clareza dizem respeito à precisão e concisão do modo de formulação da pergunta de partida que não deve ser vaga nem cobrir um campo de análise demasiado vasto. As qualidades de exequibilidade estão relacionadas com o carácter realista do trabalho, ou seja,

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a pergunta de partida deve estar adequada aos conhecimentos do investigador e aos seus recursos pessoais, materiais e técnicos. Por sua vez, as qualidades de pertinência dizem respeito ao registo em que enquadra a pergunta de partida, isto é, explicativo, normativo, preditivo. O objetivo da pergunta de partida deve ser o do conhecimento, não o de demonstração, devendo ser uma verdadeira pergunta e procurar compreender o fenómeno em estudo (Quivy & Campenhoudt, 2005).

O presente trabalho de investigação pretende dar resposta à seguinte pergunta de partida:

De que forma as estratégias de comunicação das organizações do Terceiro Sector estão a contribuir para o cumprimento das suas missões organizacionais no que respeita à promoção da

literacia em saúde na área das demências?

O principal objetivo passa por explicar em que medida a comunicação estratégica para a mudança social tem um papel importante a desempenhar no cumprimento da missão das organizações do Terceiro Sector. Pretende-se, neste âmbito, discutir a importância de estratégias de promoção da literacia em saúde para dar resposta às necessidades dos públicos-alvo das organizações do Terceiro Sector, especificamente na área das demências.

Tal como referido anteriormente, o estudo da comunicação das organizações do Terceiro Sector na área das demências poderia ser levado a cabo colocando a tónica em variadíssimos públicos-alvo, desde os cuidadores familiares, os cuidadores profissionais, as próprias pessoas com demência em fase inicial, os médicos de clínica geral, aqueles que não têm ainda demência mas que constituem um grupo de risco, entre outros. No entanto, devido ao facto de serem o principal público-alvo das três associações em Portugal, assume-se os cuidadores familiares como o público central.

Assim sendo, por forma a dar resposta à questão de partida, opta-se nesta investigação por uma análise aos conhecimentos e necessidades de informação dos cuidadores familiares de pessoas com demência e, por outro lado, por uma análise à comunicação que tem vindo a ser desenvolvida pelas organizações do Terceiro Sector que trabalham nesta área. Será, assim, possível no final da investigação perceber se a comunicação para a saúde que é realizada no âmbito da doença de Alzheimer e outras formas de demência pelas organizações do Terceiro Sector está ou não a responder às necessidades do seu principal público-alvo. Será possível, por conseguinte, verificar se estas estratégias de comunicação estão verdadeiramente a contribuir para o cumprimento das missões de cada uma das organizações61, na medida em que todas definem o aumento dos conhecimentos sobre a doença como um dos seus propósitos.

Assume-se ainda uma questão complementar que visa, essencialmente, fornecer outra perspetiva de análise da comunicação para a saúde e da contribuição para a promoção da literacia em saúde, a dos órgãos de comunicação social:

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De que forma os artigos publicados nos órgãos de comunicação social estão a contribuir para os conhecimentos dos cuidadores familiares sobre a doença de Alzheimer ou outras formas de

demência?

Vários estudos têm concluído que os mass media têm a capacidade para contribuir para um aumento dos níveis de literacia em saúde, contudo, podem igualmente prejudicar o impacto de estratégias de comunicação para a saúde desenvolvidas por outras organizações (Eiró-Gomes & Atouguia, 2012). De salientar também que nem todos os cuidadores de pessoas com demência têm contacto com as organizações do Terceiro Sector e, por isso, surge como de especial relevo uma investigação adicional da informação veiculada e que pode ser acessível, pelo menos em teoria, por todos. Os órgãos de comunicação social foram, aliás, identificados no decorrer das entrevistas exploratórias como tendo um papel importante a desempenhar na transmissão de informação sobre as demências, assumindo um papel importante para uma caracterização global da comunicação que tem vindo a ser realizada em Portugal para as demências.

Assim sendo, no que diz respeito aos órgãos de comunicação social será possível analisar de que forma estão a abordar a temática das demências e verificar se estão a contribuir para um aumento dos conhecimentos nesta área, papel importante no campo da saúde, tal como trabalhado e defendido por Ruão, Lopes, & Marinho (2012):

Tal como é reiteradamente afirmado por vários investigadores de referência em Comunicação na Saúde, a informação constitui um elemento nuclear na adoção de comportamentos saudáveis e na proteção do ambiente social. A qualidade dessa informação depende, em grande parte, de dois eixos: da promoção de informação relevante por parte de fontes de informação ligadas a este campo e do trabalho rigoroso desenvolvido pelos jornalistas. O primeiro eixo pode ser analisado na perspetiva da comunicação organizacional e comporta as atividades levadas a cabo por instituições ou empresas no sentido de partilhar informação relevante para a adoção de comportamentos saudáveis, uma melhor utilização dos sistemas de saúde ou a prevenção de situações de risco. O segundo tem sido tratado pelos estudos em jornalismo que procuram um melhor entendimento sobre os processos de geração, transmissão e utilização de informação sobre saúde nos média no sentido de, através desse trabalho, se promover um maior conhecimento e uma melhor literacia neste campo (Ruão, Lopes, & Marinho, 2012: 1-2).

Não se pretende, no entanto, uma vez que extravasa o campo das Relações Públicas enquanto Comunicação Estratégica e entra na área dos estudos em Jornalismo, aprofundar questões de inegável interesse, mas que não cabem nos objetivos da investigação, como a origem dos conteúdos utilizados pelos jornalistas, ou tipo de artigos e reportagens, entre outros aspetos que poderão conduzir a uma nova investigação em Ciências da Comunicação.

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Assume-se, assim, a presente investigação como integrada na corrente filosófica do Pragmatismo Americano, iniciado por Charles Sanders Peirce (1839–1914), William James (1842–1910) e John Dewey (1859–1952) e que se caracteriza por tomar por critério da verdade o valor prático e se opor ao intelectualismo. Para o Pragmatismo, um estudo só se justifica caso se verifique a sua utilidade social, sendo esse precisamente o objetivo desta investigação, contribuir para que, pela primeira vez, se analisem as estratégias de comunicação das organizações do Terceiro Sector na área das demências e se verifique se, de facto, estão a ir ao encontro das necessidades dos seus públicos-alvo, se de facto estão a contribuir para a promoção da literacia em saúde e, consequentemente, se de facto estão a impulsionar o cumprimento das suas missões organizacionais (Creswell, 2014; Hookway, 2015).

Existem muitas formas desta filosofia, mas para muitos, o pragmatismo como uma visão do mundo resulta das ações, situações e consequências ao invés de se focar em antecedentes condições (como o pós-positivismo). Há uma preocupação com a aplicação — o que funciona — e as soluções para os problemas (Patton, 1990). Em vez de se focar nos métodos, os investigadores enfatizam o problema de investigação e usam todas as abordagens disponíveis para o compreender (veja Rossman & Wilson, 1985). Como uma base filosófica para estudos com métodos mistos, Morgan (2007), Patton (1990) e Tashakkori e Teddlie (2010) defendem a sua importância para concentrar a atenção no problema de investigação em ciências sociais e em seguida, utilizar abordagens pluralistas para alcançar o conhecimento sobre o problema em causa (Creswell, 2014).

O Pragmatismo Americano defende, portanto, que a utilidade da filosofia deveria passar por investigar apenas o que realmente faz diferença na vida prática, opondo-se a reflexões filosóficas abstratas e, na sua perspetiva, insuficientes. Segundo Creswell (2014), os estudos inseridos na corrente pragmática caracterizam-se, essencialmente, por utilizarem métodos de investigação mistos, numa combinação entre métodos qualitativos e quantitativos.

[Para o Pragmatismo] a verdade é o que funciona no momento. Não é baseada numa dualidade entre a realidade independente da mente ou dentro da mente. Assim, na investigação com métodos mistos, os investigadores usam dados quantitativos e qualitativos no sentido de conseguir fornecer o melhor entendimento sobre o problema da investigação (Creswell, 2014).

Tal como será apresentado adiante neste capítulo, a presente investigação, visando dar resposta a um problema concreto, segue uma metodologia mista62, procurando uma visão alargada e diversificada

62

“By definition, mixed methods is a procedure for collecting, analyzing, and “mixing” or integrating both quantitative and qualitative data at some stage of the research process within a single study for the purpose of gaining a better understanding of the research problem (Tashakkori and Teddlie 2003; Creswell 2005). The rationale for mixing both kinds of data within one study is grounded in the fact that neither quantitative nor qualitative methods are sufficient, by themselves, to capture the trends and details of a situation. When used in

161 do problema que permita contribuir futuramente para uma melhoria prática nas estratégias de comunicação das organizações do Terceiro Sector e, consequentemente, para um aumento da literacia em saúde e para uma melhoria da qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus cuidadores familiares.

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