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A COMUNICAÇÃO PARA A SAÚDE COMO CHAVE DA PROMOÇÃO DA LITERACIA EM SAÚDE

III. Plano de Gestão

3. Literacia em Saúde Mental

Grande parte da literatura sugere que a população em geral têm baixos conhecimentos sobre as doenças mentais: são incapazes de identificar corretamente doenças mentais, não compreendem os fatores causais subjacentes, têm receio de que aqueles que são percebidos como doentes mentais, têm crenças incorretas sobre a eficácia dos tratamentos, são muitas vezes relutantes em procurar ajuda para problemas mentais e não têm certezas sobre como ajudar os outros" (Bourget Management Consulting for the Canadian Alliance on Mental Illness and Mental Health, 2007: 1).

Uma abordagem ao conceito de mental health literacy, em português, literacia em saúde mental, assume neste trabalho uma especial importância uma vez que, muito embora as demências sejam uma doença do foro neurológico e não do foro mental, em Portugal são consideradas como parte integrante das doenças englobadas no Programa Nacional de Saúde Mental:

A Saúde Mental apresenta 5 patologias no top ten das entidades nosológicas responsáveis pela maior incapacidade para a atividade produtiva e psicossocial: a depressão major (em lugar cimeiro), os problemas ligados ao álcool, as perturbações esquizofrénicas, as doenças

Enabling quick and informed response to health risks and public health emergencies

Increasing health literacy skills

Providing new opportunities to connect with culturally diverse and hard-to-reach populations

Providing a trained workforce for the design of programs and interventions that result in healthier behaviors Increasing Internet and mobile access.” (U.S. Department of Health and Human Services, 2012: 11-5)

117 bipolares e as demências (DGS - Programa Nacional para a Saude Mental - Direção de

Serviços de Informação e Análise, 2013: 90).

Apresenta-se, por isso, uma breve caracterização do conceito, enquanto derivação da noção de literacia em saúde e transversal a qualquer área da saúde, não aprofundando a sua revisão teórica e centrando a análise nos aspetos que podem ser considerados como válidos para a área das demências.

Segundo o Bourget Management Consulting for the Canadian Alliance on Mental Illness and Mental Health, o conceito de literacia em saúde mental deriva do conceito de literacia em saúde e foi definido em 1997 por Anthony Jorm51 como “conhecimentos e crenças sobre doenças mentais que ajudam ao seu reconhecimento, gestão e prevenção” (Jorm et al, 1997a in Bourget Management Consulting for the Canadian Alliance on Mental Illness and Mental Health, 2007: 8), compreendendo os seguintes fatores:

 Capacidade para reconhecer doenças específicas ou diferentes tipos de distúrbios psicológicos;

 Conhecimentos e crenças sobre fatores de risco e causas;  Conhecimentos e crenças sobre intervenções de autoajuda;  Conhecimentos e crenças sobre ajuda profissional disponível;

 Atitudes que facilitem o reconhecimento da necessidade e adequada procura de ajuda;  Conhecimentos sobre como procurar informações na área da saúde mental.

Tornam-se, assim, evidentes as consequências que podem advir de reduzidos níveis de literacia em saúde mental (Loureiro et al., 2013; May, Rapee, Coello, Momartin, & Aroche, 2014). A capacidade para reconhecer os primeiros sinais de uma doença mental são de especial importância na medida em que o correto encaminhamento e diagnóstico atempado poderão contribuir para uma intervenção farmacológica e não farmacológica adequada, levando ao não agravamento dos sintomas e, consequente, à colaboração para uma melhor qualidade de vida da pessoa e dos que a rodeiam.

Por sua vez, o conhecimento dos fatores de risco e causas da doença é importante na medida em que poderão, no futuro, vir a reduzir as taxas de prevalência. Pessoas mais informadas e esclarecidas poderão adotar comportamentos preventivos e, assim reduzir o seu risco de vir a desenvolver determinada doença.

O terceiro elemento da literacia em saúde mental passa pelos conhecimentos de intervenções para o doente conseguir lidar melhor com a sua doença. Em casos de doenças como as demências, este fator assume um papel importante em casos de diagnóstico precoce da doença, em que o doente terá ainda

51 Jorm, A.F., Korten, A.E. , Jacomb, P.A., Christensen, H., Rodgers, B. & Pollitt, P. (1997). “Mental health

literacy”: A survey of the public’s ability to recognize mental disorders and their beliefs about the effectiveness of treatment. Medical Journal of Australia. 166: 182-186

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as capacidades para tomar decisões. No entanto, nos casos em que a doença é diagnosticada em fases mais avançadas, a tomada de decisão sobre intervenções acaba por recair sobre os cuidadores.

Os conhecimentos sobre as ajudas profissionais ao dispor são o quarto elemento em destaque na definição de Jorm (2000), podendo prender-se com tratamentos farmacológicos ou outras intervenções que possam contribuir para o alívio dos sintomas, para o retardamento da progressão da doença e, nos casos em que tal é possível, para um tratamento e cura.

No que diz respeito às atitudes que facilitem o reconhecimento do problema e a procura de ajuda adequada são, também, um elemento chave para a literacia em saúde mental uma vez que, no caso específico das demências, é necessário contrariar a tendência para o isolamento e promover o envolvimento na sociedade. Assim, conseguir-se-á um aumento da qualidade de vida tanto para os doentes, como para os seus cuidadores.

Por último, o sexto elemento diz respeito aos conhecimentos sobre como encontrar informação, ou seja, à importância dos indivíduos saberem onde procurar informação, como ter acesso à mesma e como reconhecer quais as fontes credíveis e mais adequadas.

Assim sendo, a literacia em saúde mental assume-se como um conjunto de conhecimentos e competências que permitem não só o reconhecimento das doenças mentais, como a sua prevenção e intervenção em caso de doença própria ou de um familiar.

Tal como na literacia em saúde, também a literacia em saúde mental tem como fim último a capacitação e empoderamento dos indivíduos, defendendo-se que pessoas com um grau de literacia em saúde mental adequado poderão transformar-se em agentes de mudança, levar os outros a reconhecer sinais de alerta, a conhecer os fatores de risco, a saber lidar com doentes, a ajudar no dia-a-dia aqueles que cuidam.

O verdadeiro empoderamento na literacia em saúde mental traduzir-se-á também numa redução do estigma52 existente em torno das doenças mentais, que faz com que os doentes e cuidadores vivam muitas vezes isolados e com que o trabalho de advocacy pelos seus direitos seja ainda muito limitado na maioria dos casos (Bourget Management Consulting for the Canadian Alliance on Mental Illness and Mental Health, 2007; Mackert, Donovan, Mabry, Guadagno, & Stout, 2014).

Contudo, considera-se, para os efeitos do presente trabalho, como válido o conceito de literacia em saúde em detrimento da especificidade do de literacia em saúde mental, na medida em que cientificamente as demências não são doenças mentais. Tal como salientado pelo Prof. Doutor Alexandre Castro Caldas:

52

“Negative attitudes and discriminating behaviors towards people with mental illnesses are often referred to as stigma. Stigma involves negative stereotypes and prejudice and is often measured in terms of social distance (the degree to which people are willing to interact socially with others)” (Bourget Management Consulting for the Canadian Alliance on Mental Illness and Mental Health, 2007: 10)

119 A Demência não é um problema de saúde mental. A Demência é um problema que

ultrapassa a saúde mental. Problemas de saúde mental são doenças que estão bem estabelecidas, que se conhecem, que têm acompanhamento médico, têm tratamento médico e portanto devem ser acompanhadas por médico, como psicoses, depressões, neuroses, alterações de comportamento, desvios vários de conduta. Isto não, isto é uma doença que está indexada à idade, que vai aumentar com o aumento da esperança média de vida e portanto é um problema nacional grave e como problema nacional grave devia ter uma atuação específica (Prof. Doutor Alexandre Castro Caldas, 2015, Entrevista, Anexo I).

Na secção seguinte procura-se apresentar os principais aspetos para uma compreensão abrangente da doença de Alzheimer e outras demências, assim como do seu impacto a nível individual, social, económico e político. Este enfoque é justificado pela necessidade de uma ampla análise da situação antes do desenvolvimento de qualquer estratégia de comunicação para a saúde e, paralelamente, também antes de uma qualquer análise à comunicação para a saúde nesta área, como a que se desenvolve neste trabalho.

4. Doenças Neurodegenerativas do Envelhecimento: Doença de Alzheimer e outras Demências

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