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A perspetiva pedagógica do modelo High Scope

A estrutura desta tese

Capítulo 4 Os Modelos Curriculares na Educação de Infância

4.1. A abordagem ao modelo curricular High Scope

4.1.2. A perspetiva pedagógica do modelo High Scope

O modelo High Scope propõe que a educação aconteça pela ação da própria criança, assumindo o educador o papel de gestor de ideias, que proporciona várias experiências significativas e ajuda a criança a refletir sobre essas mesmas experiências. Enquanto orientador, consultor e co-construtor do trabalho da criança deve respeitar os

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cinco elementos centrais de apoio e encorajamento sempre que as crianças estão a interagir, em qualquer contexto educativo:

- Partilha do controlo entre as crianças e os adultos; - Centração nas potencialidades da criança;

- Estabelecimento de relações autênticas com as crianças; - Compromisso de apoiar a brincadeira das crianças;

- Adopção de uma abordagem de resolução de problemas face aos conflitos interpessoais (Hohmann, 1997, pp. 76,77).

Outro aspeto importante a referir é que o envolvimento das famílias faz-se ao longo de todo o processo educativo desenvolvido nos diferentes ambientes de aprendizagem, no sentido de dar credibilidade e valor às raízes familiares, sociais e culturais da criança. A abordagem High Scope reconhece o papel importante das famílias no desenvolvimento das crianças, pois “nós queremos que as crianças saibam quem são – que estejam bem enraizadas nas culturas de origem a que pertencem” (Hohmann, 1997, p. 100).

Os educadores que implementam a abordagem High Scope organizam a sala de atividades e outros espaços educativos dentro da instituição de educação de infância segundo as seguintes linhas orientadoras:

- O espaço é atraente para as crianças.

- O espaço é dividido em áreas de interesse bem definidas, de forma a encorajar diferentes tipos de atividades.

- As áreas de interesse estão organizadas de forma a assegurar a visibilidade dos objetos e materiais que incluem, bem como a locomoção entre diferentes áreas.

- As áreas de interesse estão organizadas de forma a ter em conta aspetos práticos bem como as mudanças de interesse das crianças nas atividades.

- Os materiais e objetos são numerosos de forma a permitir uma grande variedade de brincadeiras.

- Os materiais e objetos refletem o tipo de vida e experiências familiares das crianças.

- A arrumação dos materiais proporciona a execução do ciclo “encontra-brinca-arruma” (Hohmann, 1997, pp. 163,164).

A sala de atividades não tem uma única forma de distribuir o trabalho por áreas, nem uma organização fixa do início ao fim do ano letivo. O desenvolvimento do jogo educativo quotidiano nas suas temáticas e materiais influencia a organização e reorganização das diferentes áreas da sala.

Os princípios essenciais orientadores do currículo pré-escolar High Scope são: - A aprendizagem pela ação - A criança constrói as suas aprendizagens e conhecimentos, interpretando o mundo que a rodeia. Tem a oportunidade de se

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envolver em “experiências-chave - as interações criativas e permanentes com pessoas, materiais e ideias que provocam o crescimento intelectual, emocional, social e físico.” (Hohmann, 1997, p. 5);

- Interação Adulto-Criança - A aprendizagem pela ação implica o estabelecimento de interações positivas entre o e educador e a criança, através das conversas e brincadeiras, adulto e criança partilham o controlo das situações e resolvem problemas. Este tipo de interações permite à criança expressar com espontaneidade e confiança os seus pensamentos e sentimentos partilhando com o adulto um verdadeiro diálogo;

- Ambiente de aprendizagem - A estrutura do espaço da sala de atividades e a distribuição de materiais apropriados são devidamente planeados pelo educador. “Assim, os adultos organizam e dividem o espaço de brincadeira em áreas de interesse específicas (…)” (Hohmann, 1997, p. 7);

- A rotina diária - O educador tem de planificar com a criança uma rotina diária sólida que ajude o desenvolvimento de uma aprendizagem ativa, a qual inclui o processo planear-fazer-rever, os momentos em grande grupo, os momentos em pequeno grupo, “através de uma rotina diária comum, focalizada em volta de oportunidades para aprendizagem ativa, as crianças e os adultos constroem o sentido de comunidade” (Hohmann, 1997, p. 8);

- A avaliação - O processo de avaliação das crianças é realizado em equipa. Diariamente o educador recolhe observações das crianças em contexto de atividade. Periodicamente a equipa, usando as observações que anotaram diariamente e as reflexões feitas aquando a planificação da intervenção, preenche um instrumento de avaliação denominado Child Observation Record (COR), ou seja, o Registo de Observação da Criança (Hohmann, 1997).

A figura seguinte demonstra os cinco princípios básicos que enquadram o modelo curricular High Scope para a educação de infância: a aprendizagem pela ação desencadeada através de experiências-chave; os ambientes de aprendizagem onde existem áreas e materiais dispostos de forma a provocar a construção de conhecimento; a rotina diária que estrutura o ritmo do dia-a-dia das crianças, a gestão de tempo em grande e pequeno grupo; a interação adulto-criança desencadeadora de estratégias de interação, de mecanismos promotores de encorajamento e da abordagem de resolução

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de problemas; a avaliação a qual implica trabalho em equipa, registos ilustrativos diários, planeamento intencional e avaliação da criança em contexto.

Figura 9 - A roda da aprendizagem do modelo curricular pré-escolar High Scope

Fonte: Hohmann, M. W., D., 1997, Educar a Criança. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian., p. 6.

Esta imagem de roda em movimento, de pensamento em atuante, à volta de um núcleo central denominado a aprendizagem pela ação, espelha a complexidade e dinâmica dos fatores importantes para a educação das crianças enquanto principais atores nos seus processos de desenvolvimento e aprendizagem. Assim, a figura nº 9, conforme já referimos anteriormente, apresenta esquematicamente os pressupostos curriculares que giram na abordagem High Scope. Estes são imprescindíveis à construção de práticas pedagógicas dos educadores envolvidos na aprendizagem pela ação, no desencadear de interações positivas com as crianças, na criação de ambientes de aprendizagem, na estruturação da rotina diária e numa avaliação de processos educativos. Neste âmbito, podemos afirmar que:

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Não há acção educativa que possa ser mais adequada do que aquela que tenha a observação da criança como base para a planificação educativa. É que isso permite ao adulto programar e agir com base na tensão criativa entre uma perspectiva curricular teoricamente sustentada e um conhecimento real dos interesses, necessidades, competência e possibilidades da criança (Oliveira-Formosinho, 2007a, p. 59).

Logo, num ambiente de aprendizagem preconizado pela abordagem High Scope, os educadores planificam de forma a organizar a sala de atividades em diferentes áreas de interesse, integram-se nas atividades das crianças, fazem a mediação da aprendizagem, encorajam as crianças a envolverem-se em experiências-chave para a educação pré-escolar que são:

(…) uma série de descrições de acções típicas inerentes ao desenvolvimento social, cognitivo e físico das crianças com idades compreendidas entre dois anos e meio e os cinco anos (Hohmann, 1997, p. 32).

O instrumento de avaliação que é utilizado para avaliar toda a estrutura demonstrada na figura nº 5 é o PIP (Perfil de Implementação do Programa). Este está desenhado de forma a observar e refletir o ambiente físico, a rotina diária, a interação adulto-criança e a interação adulto-adulto.

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