• Nenhum resultado encontrado

O parecer sobre a criação das Metas de Aprendizagem na Educação Básica

A estrutura desta tese

OCEPE ÁREAS DE CONTEÚDO Desenvolvimento Pessoal e Social

3.4. As Metas Finais de Aprendizagem na Educação Pré-Escolar

3.4.2. O parecer sobre a criação das Metas de Aprendizagem na Educação Básica

O parecer sobre as Metas de Aprendizagem na Educação Básica, n.º 2/2011, publicado no Diário da República, 2ª série – Nº 1, de 3 de janeiro de 2011, é o quinto parecer emitido durante o ano de 2010, elaborado pelos conselheiros Sérgio Niza, Maria José Martins e Maria do Rosário Barros a pedido da Senhora Ministra da Educação. Na introdução deste documento, esta equipa refere ter analisado o projeto Metas de Aprendizagem, conjuntamente com o Programa Educação 2015, enquanto documento normativo que refere as metas e os aspetos necessários para alcançar uma melhoria na Educação e as propostas educativas a serem concretizadas até 2015. Este parecer reflexivo está organizado em três partes: abordagem crítica sobre as políticas curriculares, comentários ao projeto Metas de Aprendizagem e recomendações sobre a adoção destas metas. Optámos por analisar, aprofundadamente, o ponto três - recomendações sobre a adoção das Metas de Aprendizagem, pois aqui interessa-nos perceber e refletir sobre a compreensão do processo de implementação do projeto.

103

Contudo, verificámos aqui uma incoerência: o facto do projeto das Metas ter um caráter não obrigatório e do Programa Educação 2015 objetivar, normativamente, as Metas a serem alcançadas pelas escolas e pelos alunos até 2015.

Apresentamos, em seguida, uma breve síntese deste parecer, importante e complexo pela densidade de ideias a refletir, igualmente válido para o contexto de educação de infância: uma abordagem crítica sobre as políticas curriculares para o desenvolvimento de competências básicas. Os factos históricos que marcaram o processo de implementação das políticas educativas no âmbito do desenvolvimento curricular, ao longo das últimas décadas, são abordados criticamente, como podemos constatar no seguinte excerto:

Desviou-se, assim, a construção e o desenvolvimento curricular de uma conceção que se pretendia centrada no uso social das aprendizagens escolares, para diminuir ou anular os obstáculos de transferência das aprendizagens escolares para o mundo do trabalho e da vida quotidiana, tal como se vinha verificando com todos os anteriores modelos curriculares, e deparámo-nos, de novo, com a recentração dos currículos por competências, para o uso exclusivamente escolar de competências académicas e não para o seu uso no desempenho das funções sociais autênticas, como parece urgente (M.E., 2011).

Os autores, Sérgio Niza, Maria José Martins e Maria do Rosário Barros, referem que as Metas de Aprendizagem são lançadas com o desfasamento de dez anos em relação ao Currículo Nacional e num contexto incerto das políticas curriculares, implementadas no nosso país nos últimos vinte anos.

Comentário ao projeto Metas de Aprendizagem

- É de saudar o facto de o Ministério da Educação ter formalizado um contrato com a Universidade de Lisboa para a elaboração do projeto Metas de Aprendizagem, pois estas são ponderadas como instrumentos de apoio à gestão do currículo, no sentido de serem utilizados de forma voluntária e livre pelos professores, podendo-se constatar que este facto decorre do reconhecimento da sua importância no desenvolvimento da prática pedagógica e do envolvimento dos alunos, e das famílias no processo educativo.

- É necessária uma reflexão por parte dos diferentes intervenientes educativos, utilizando um discurso mais acessível a todos, nomeadamente a alunos e suas famílias, sobre os critérios de avaliação do desempenho escolar. Logo, ao retomarmos os cinco pressupostos referidos no documento, facilmente poderemos verificar uma falha na comunicação e explicação necessária ao entendimento do documento (resultantes da

104

hermeticidade da sua linguagem), quer por parte do aluno, sobre o seu desempenho, quer de todos os outros agentes envolvidos no processo educativo, afirmando-se que:

Com efeito, os referenciais constituem uma deriva entre a discrição dos níveis de competência (ou proficiência), como constam nas línguas estrangeiras (standards), e os perfis de aprendizagens intermédios e finais relativos a conteúdos ou objetivos e, por vezes, mesmo a capacidades e atitudes esperadas (M.E., 2011).

Recomendações sobre a Adoção das Metas de Aprendizagem.

- No contexto acima referido, enfatizamos a necessidade de utilizar uma linguagem académica mais acessível a todos os intervenientes do processo educativo que a equipa do projeto pretende envolver, nomeadamente alunos e famílias, aquando do processo de validação das Metas.

- Verifica-se, ainda, a pertinência de construir dispositivos de apoio à gestão curricular, principalmente para melhorar os processos de monotorização das aprendizagens, avaliação e sistematização do trabalho do educador/professor e dos alunos. O projeto Metas de Aprendizagem também pretende responder aos objetivos do Programa Educação 2015. Neste ponto, são apresentados sete subpontos que espelham recomendações decorrentes de um estudo aprofundado da Educação no contexto europeu e nacional.

- Durante os anos de validação das Metas de Aprendizagem é preciso ponderar a eventual utilização das mesmas na gestão das provas aferidas, isto porque poderá “provocar uma desregulação dos resultados escolares, justamente durante o ciclo temporal do Programa Educação 2015, que pretende promover a melhoria dos resultados de aprendizagem e reduzir a repetência dos alunos”. Ainda, é necessário que seja feita a aprovação e apropriação sociocultural e pedagógica das Metas de Aprendizagem, nas escolas e comunidade em geral, procedendo-se ao seu acompanhamento rigoroso durante os dois primeiros anos (2010/2011; 2011/2012) de implementação do Programa Educação 2015. Recomenda-se, também, que durante o período de validação, e tendo em conta o número alargado de metas, seja realizado um ajustamento das metas finais e intermédias aos diferentes níveis de ensino, com especial atenção para os 1º e 2º anos do 1º ciclo.

- Retomar os cinco pressupostos para a elaboração das Metas para conceder maior unidade formal a este documento, a fim de atenuar a diversidade de metodologias na construção dos referenciais por disciplina ou área disciplinar.

105

- Considerando que a qualidade das práticas de ensino é um fator preponderante na melhoria dos resultados escolares urge dar resposta à atualização e aperfeiçoamento pedagógico dos educadores / professores.

- Analisar a possibilidade da criação de uma rede alargada de consultores nacionais, que farão um trabalho em equipa com os coordenadores dos departamentos curriculares, no sentido de atenuar os previsíveis efeitos da adoção de mais um documento curricular estruturado de forma diferente dos anteriores. Isto porque ao mesmo tempo acontece a introdução de novos dispositivos nas escolas, nomeadamente:

o novo acordo ortográfico, novos programas e respetivos manuais, nova terminologia linguística, o documento Metas de Aprendizagem, bem como a reorganização curricular do ensino básico e secundário a terem de decorrer conjugadamente aos objetivos do Programa Educação 2015 para a elevação das competências básicas dos alunos portugueses e a avaliação respetiva da sua evolução (M.E., 2011).

É necessário um grande esforço de mobilização, acompanhamento e interligação durante a implementação destas mudanças políticas da educação, a fim de que se consiga fazer confluir e harmonizar “tantos fatores conflituantes” (M.E., 2011).

3.5. Sintetizando

Na nossa sociedade é evidente a preocupação de todos os intervenientes educativos, com a melhoria do nível de educação em geral e da educação de infância em especial. Neste capítulo procuramos dar ênfase aos documentos e discursos oficiais vigentes dado serem estes uns dos principais referentes para o enquadramento e desenvolvimento do currículo na Educação Pré-Escolar e da ação educativa do educador.

Convicto de que a expressão dramática é um espaço privilegiado de criação, recriação e improvisação no processo educativo de cada criança, confrontando-a com os outros em diferentes contextos, o educador tem de proporcionar atividades promotoras da imaginação e da criatividade. Tem, ainda, um papel primordial na qualidade do ambiente educativo e possui um “espaço de manobra” e liberdade de ação que lhe permitem criar e imaginar projetos, concebendo um currículo adequado aos interesses, necessidades e características das crianças. Assim, no desenvolvimento da sua prática pedagógica, deve ser construtor do currículo com a finalidade de promover

106

aprendizagens integradas, a partir dos contextos e experiências de cada criança. É através da organização do ambiente educativo que o educador espelha o trabalho curricular e a sua intencionalidade educativa. Neste sentido, o currículo pode ser uma prática pedagógica que resulta da interação das várias estruturas - políticas, culturais, organizativas, económicas, sociais, escolares - sustentadas por interesses concretos e responsabilidades partilhadas (Mendonça, 2002). (M. Mendonça, 2002)

Resultante da nossa experiência enquanto educadores, verificámos que o tipo de discurso que utilizamos, aquilo que valorizamos, o tipo de assuntos que dominamos, os conhecimentos e opções psicopedagógicas que assumimos influenciam em larga escala o desenvolvimento e aprendizagem das crianças que estão à nossa responsabilidade, uma vez que as crianças que frequentam a Educação Pré-escolar estão numa fase caracterizada por rápidas transformações a nível de crescimento, desenvolvimento e múltiplas aprendizagens. É neste período que a criança vai reconstruir, com maior profundidade e clareza, a perceção de si e do outro. Daí que o educador tenha um papel marcante enquanto referência organizadora de diferentes interações, devendo por isso estar atento aos aspetos relacionados com o desenvolvimento e aprendizagem da criança (Câmara, 1998).

Todas estas recomendações expostas no parecer n.º 2/2011, sobre as Metas de Aprendizagem na Educação Básica, podem ser pontos de partida para um conjunto de reflexões sucessivas, a desenvolver por educadores e professores, sobre a gestão do desenvolvimento curricular e das práticas pedagógicas que se quer de qualidade.

Apercebemo-nos que neste momento, a um passo da publicação das Metas de Aprendizagem na Educação, é necessário dinamizar nas escolas e outras instituições de educação, de forma a desenvolver um espírito crítico, encontros de reflexão sobre este e outros documentos, impulsionadores da gestão curricular, referência para o desenvolvimento das práticas pedagógicas e o Programa Educação 2015. Estamos certos que surgirão propostas construtivas, em cada contexto e comunidade educativa, para melhorar os processos de aprendizagem dos alunos que, por sua vez, levam a melhores resultados escolares e qualidade na educação. Todos nós queremos que os alunos obtenham melhores resultados e os professores/ educadores desenvolvam a sua prática pedagógica com qualidade, criatividade, satisfação e adequabilidade.

O Parecer não foca especificamente as Metas finais da Educação Pré-Escolar, no entanto é tempo de olharmos para os próximos anos da educação pré-escolar, enquanto

107

primeira etapa do ensino básico, e refletir os contextos educativos envolventes. Enquanto profissionais de educação de infância temos de contribuir ativamente para a investigação e a reflexão das políticas educativas vigentes.

Pensamos ser importante debater com rigor, no contexto das diferentes instituições de educação de infância da Região Autónoma da Madeira, principalmente com aquelas com as quais a Universidade da Madeira tem protocolo de cooperação, a necessidade, a coerência, os contributos dos diferentes documentos de gestão curricular na educação pré-escolar. O resultado destes debates seria valioso para todas as comunidades educativas, pois quando refletimos em grupo podemos ganhar confiança, segurança, conhecimento, competência e qualidade de intervenção.

Sentimos que é importante refletir sobre os processos inerentes à planificação da intervenção e os pressupostos teóricos que a sustentam, pois a reflexão sobre a prática pedagógica do educador, realçando que a forma como educamos as nossas crianças hoje, as experiências e as oportunidades que lhes criamos, influencia grandemente as suas vidas atuais e contribuem para as suas vidas futuras enquanto cidadãos em construção (Oliveira-Formosinho, 2007b).

109

Outline

Documentos relacionados