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Breve síntese histórica: Raízes da Educação de Infância, antes de

A estrutura desta tese

Capítulo 2 A Educação de Infância: O referencial histórico legal

2.3. Mudanças na Educação de Infância em Portugal

2.3.1. Breve síntese histórica: Raízes da Educação de Infância, antes de

No sentido de percebermos o que acontece hoje ao nível da educação de infância no âmbito da educação pré-escolar, na resposta educativa a criança com idades compreendidas entre três e seis anos, sistematizámos alguns dados históricos considerados como as raízes da educação de infância. Assim, reportámo-nos ao final da monarquia portuguesa e avançámos até ao ano de 2011. Recordámos que, durante o final do século XIX, surgiram os primeiros jardins de infância, sob influência das ideias progressistas europeias, sendo fundado, em 1882, o primeiro jardim-de-infância segundo a pedagogia de Froebel. Nesse mesmo período, foram criados os primeiros jardins-escola João de Deus que depois deram origem a uma rede privada de jardins de infância que continuou até aos dias de hoje. A somar a estas iniciativas criaram-se instituições de caráter social tipo asilar, especificamente para crianças com idades compreendidas entre os três e os seis anos, oriundas de meios socialmente desfavoráveis (Vasconcelos, 2000).

No senso comum, as escolas infantis são destinadas a proporcionar um ensino adequado à idade da criança, a colmatar as lacunas educacionais provocadas por uma, possível, deficiente educação familiar, contudo, apesar de se falar de “ensino”, a função predominante destas escolas é a social. Realmente, ao observarmos o que consta no programa de governo previsto para estas escolas, parece haver uma atenção especial ao desenvolvimento físico e social da criança - cuidados com a higiene, saúde e bem-estar da criança no contexto escolar - com grande influência das linhas de orientação da pedagogia de Froebel. Gradualmente, nesta linha de pensamento, há a valorização da criação de contextos educativos para o desenvolvimento e estimulação das crianças enquanto “futuros homens do amanhã”. Além da instrução das crianças, era necessário criar condições para que a criança se desenvolvesse naturalmente (Cardona, 1997).

Esta mesma intenção avança ao longo da primeira república (1910 - 1932), altura em que são criadas mais instituições no âmbito do ensino infantil - designação equivalente à educação de infância atual, como, por exemplo, os jardins-escola João de Deus. Deste modo, o ensino infantil surge como parte integrante do sistema educativo português, onde a intervenção educativa, nas escolas infantis, era realizada exclusivamente por pessoas do sexo feminino com o curso de formação de professoras

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da escola primária. Geralmente as escolas de formação de professores tinham em anexo uma escola infantil (idem).

Durante o Estado Novo (1933 - 1974), a educação das crianças pequenas é estritamente da responsabilidade das mães de família, pois a educação de infância é vista como uma forma de anular precocemente as lacunas educacionais geradas pela educação familiar, orientando as crianças nos “bons costumes da moral católica”. Neste contexto sociopolítico e cultural, a educação de infância estava a cargo de instituições de iniciativa privada e da assistência social. As crianças eram preparadas para entrarem na verdadeira escola primária, dando resposta à Instrução Pública, aos valores católicos e às ideias do regime (idem).

No âmbito da educação de infância durante o Estado Novo, a pouca resposta educativa, dispersa pelo país, era exclusivamente da responsabilidade de entidades privadas. Neste contexto, verificou-se um desenvolvimento da educação pré-escolar destinado a crianças oriundas de classes economicamente estáveis que viviam nas grandes cidades (Vasconcelos, 2000).

Podemos afirmar que, durante este tempo, houve um retrocesso no desenvolvimento da educação de infância, pois esta tinha uma imagem essencialmente assistencial e não estava a cargo do Ministério da Educação.

Na sequência da ideologia política do Estado Novo, a saída da educação de infância do sistema educativo implicou um grande atraso no seu desenvolvimento e o início de uma evolução heterogénea e desordenada, cujas consequências ainda hoje sentimos (Cardona, 1997, p. 56).

No decorrer da reforma realizada pelo Ministro da Educação Veiga Simão, no final do regime do Estado Novo, pouco tempo antes da revolução de abril de 1974, a Educação de Infância em Portugal começou a ser mais valorizada, resultando de pequenas mudanças, preconizadas por diferentes educadores, que aconteceram nos anos cinquenta e sessenta, num contexto sociopolítico agitado por movimentos de contestação ao regime, como, por exemplo, o Movimento da Escola Moderna Portuguesa - MEM, inspirado na pedagogia de Freinet. Assim, no início da década de 60, começaram a surgir grupos de trabalho organizados de educadores e professores, promotores de uma mudança da dinâmica pedagógica e funcionamento das escolas. Construir uma escola menos repressiva e mais centrada nos aspetos socioculturais das

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crianças e na sua participação ativa na gestão das atividades escolares e nas suas aprendizagens era um princípio educativo fundamental (Cardona, 1997).

Veiga Simão elaborou um projeto de educação a ser realizado a longo prazo, cuja frase chave era “educar todos os portugueses”, independentemente das condições geográficas, sociais e culturais, pois investir na educação é construir uma sociedade em progresso, mais justa, mais rica e desenvolvida, numa linha humanista. Falava-se na democratização da educação onde os jovens tivessem a oportunidade de desenvolver as suas competências intelectuais sem condicionalismos sociais e económicos. Na altura, muitos deputados consideraram este projeto um apelo para acompanhar o crescimento e o ritmo industrial da Europa, no pulsar de uma transformação política e económica da sociedade (Stoer 1983). Mas, como já referimos anteriormente, a educação de infância estava a cargo das instituições privadas, localizadas nas grandes cidades, sendo que o acesso era restrito. Assim, decorrente desta crescente preocupação em desenvolver uma resposta educativa de qualidade no âmbito da Educação de Infância, surgem as necessidades de organizar cursos públicos de formação de educadores nas escolas de Magistério Primário, assim como de o Ministério da Educação assumir a responsabilidade da política educativa para a educação de infância porque até então estas formações estavam a cargo das entidades privadas. Em relação à formação de educadores, ministrada nas instituições privadas, propôs-se que seguissem as mesmas orientações dos cursos públicos (Cardona, 1997).

Portanto, depois do 25 de abril 1974, houve um alargamento da rede pública de instituições para a infância, sob tutela do Ministério da Educação e o Ministério do Emprego e Segurança Social, para dar resposta à necessidade de “guarda das crianças”. Isto porque cada vez mais as mulheres portuguesas participavam ativamente no mundo laboral. Salientamos que até 1980, os governos não reconheceram a importância da educação de infância na sua plenitude, havendo pouco desenvolvimento neste âmbito. De facto, o desenvolvimento da educação de infância foi influenciado pelas oscilações e mudanças políticas, económicas, sociais e culturais dos diferentes governos ao longo do século XX. Em 1988, segundo o PRODEP - Programa para o Desenvolvimento Educativo em Portugal, a resposta da educação pré-escolar era de 36%, ainda distante daquilo que era necessário e com grande atraso se compararmos com os países da Europa, nomeadamente Inglaterra, Alemanha e França (Vasconcelos, 2000).

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Portanto, a educação de infância, em Portugal, teve uma evolução pouco acentuada antes dos anos noventa. No entanto “a educação de infância sempre ocupou um lugar diferenciado no sistema educativo” (Cardona, 1997, p. 108).

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