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OCUPAÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E DEMANDAS EDUCACIONAIS NO ESTADO DO ACRE

1.5 A política educacional acriana no contexto do golpe militar

Em 1964, o capitão Edgar Pereira Cerqueira Filho foi nomeado pelo regime militar como governador, tirando do poder, sobre ameaça de cassação de direitos políticos, o até então governador José Augusto.

Neste contexto, a educação buscava se ajustar às necessidades do processo produtivo. As condições do setor educacional eram estritamente deficientes, e o governador nomeado

não demonstrava estar empenhado em suprir as carências educacionais. Seu foco foi atender prioritariamente às solicitações do movimento desenvolvimentista do Governo Federal.

Colocar em prática as ansiedades de um país que se industrializava através da educação, no Estado do Acre, era quase que impossível, visto que o sistema de ensino era portador de graves deficiências. A Secretaria de Educação e Cultura - SEC (nomenclatura utilizada à época para a atual Secretaria de Estado de Educação - SEE) - tinha dificuldade em preparar pessoas para atender às emergentes exigências feitas à educação, as escolas não ofereciam condições de funcionamento, pois os estabelecimentos eram estruturalmente inapropriados, funcionavam de forma precária e não dispunham de profissionais qualificados. O Estado apresentava lacunas no que diz respeito à formação de professores e, se eram emergentes as necessidades educacionais do país, mas emergente ainda era a situação no Estado, em total abandono pelo poder público. Segundo Albuquerque Neto (2007), o governador Cerqueira Filho, reconhecendo as precariedades da educação no Estado, relata, em uma mensagem enviada à Assembleia Legislativa, que:

[...] as escolas são fechadas por falta de professores; que a maioria dos estabelecimentos de ensino necessitavam de reparos urgentes; que há falta de professores no efetivo exercício da função, principalmente , no interior do estado e que a obstrução do fluxo escolar em consequência da baixa qualificação dos professores obrigavam a Secretaria de Educação a restringir o número de classes deixando, em consequência disso, um número considerável de alunos sem matrículas. (p. 23).

A situação precária dos professores do Estado era reflexo da falta de uma política voltada à formação. O desenho territorial, conforme apresentado na FIG. 4 (conf. p. 48), demonstrava a existência, neste período, de sete municípios para os quais a formação de professores ainda não atendia à demanda.

Em 1964, havia apenas um Curso Normal público e localizado na capital, nos demais municípios do Estado - Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Feijó, Sena Madureira, Xapuri e Brasileia - a situação era ainda pior, uma vez que os professores do ensino primário eram formados em curso de primeiro ciclo. Nesta época, o quadro de professores do Estado ―[...] contava com 81,5% de professores não titulados em seus quadros, e, na própria capital, 37% dos professores não possuíam sequer, o primeiro ciclo‖. (idem, 2007, p. 25).

Segundo Farias (2003), a precariedade no campo educacional no Estado do Acre perdurou por muitos anos. Durante toda a década de 1960, o mercado de trabalho para licenciados ficou praticamente intacto, dada a inexistência de professores e de técnicos

formados em cursos superiores para exercerem atividades de docência, de planejamento e de administração do ensino. Segundo o autor, para suprir a demanda de professores graduados e demais profissionais no âmbito da escola, no início da década de 1970, seriam necessários aproximadamente 600 profissionais. Essa situação se arrastou por toda a década anterior.

A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei nº. 4024, de 20 de dezembro de 1961, instituiu o Conselho Federal de Educação (art.8º) e os Conselhos Estaduais de Educação (art.10) como órgãos da administração direta do Ministério da Educação e Cultura e das Secretarias de Educação estaduais. Em 14 de maio de 1964, em cumprimento à referida lei, foi instalado o Conselho Estadual de Educação que passou a regulamentar o processo educacional do Estado, marcando o momento em que as diretrizes nacionais começaram a florescer e a se fortalecer nos estados brasileiros. Em seu primeiro regulamento, o conselho apresenta metas prioritárias para a educação, dentre as quais destacam-se: a elaboração da Lei de Ensino do Acre dentro de um prazo de 180 dias, a contar da sua instalação, adaptando-a à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; opinar sobre o funcionamento de escolas isoladas de nível superior; adotar ou propor modificações e medidas que objetivassem a expansão e aperfeiçoamento do ensino, e emitir parecer sobre assuntos de natureza pedagógica ou educativa.

A despeito do exposto, o Conselho de Educação não estabeleceu como prioridade as necessidades do magistério, mas optou por dar suporte normativo à criação e funcionamento da Faculdade de Direito. Os cursos de Filosofia, Ciências e Letras, que poderiam ser uma alavanca para a qualificação docente, ficaram de fora dos planos do governo de Cerqueira Filho, que demonstrava pouco interesse pelo magistério ou a qualquer tipo de iniciativa à formação ou qualificação docente. Segundo Albuquerque Neto (2007), sua gestão foi marcada pela absoluta ausência de uma política educacional mais agressiva que enfrentasse de fato o alto índice de analfabetismo no Estado; pela ausência de concursos públicos para o ingresso de magistério; pela formação insuficiente de professores do ponto de vista qualitativo e quantitativo; e pela inexistência de uma política salarial que atendesse aos anseios dos profissionais da educação.

Na tentativa de minimizar o desinteresse do poder público para com o magistério e reagir frente ao quadro caótico no que diz respeito à formação e qualificação de professores, a SEC – Secretaria de Educação e Cultura utilizou-se do apoio de um grupo de professores formados pelo PABAEE, que, dentre outras coisas, serviu para implantar e fortalecer ações de ensino na educação primária no Estado. De acordo com Tavares (1987, p. 44), dentre os objetivos estabelecidos pelo referido programa, estavam a introdução e demonstração de

métodos e técnicas utilizados na educação primária e a criação e adaptação de material didático e equipamentos disponíveis no Brasil à educação primária.

O programa de apoio certamente exerceu considerável influência em milhares de educadores brasileiros, mas conseguiu também, por meio do assessoramento técnico, consolidar no país um grupo de educadores de tendência pró-americana. Dessa forma, o país foi preparado para trilhar o caminho do ensino mais técnico, desde a sua articulação no início da década de 60.

Segundo Paiva e Paixão (2000, p. 117): ―[...] pode-se admitir que o PABAEE trouxe propostas metodológicas mais modernas, mais sistematizadas num conjunto de ações que tinha o sistema de ensino como objetivo‖. Ressalta-se que essas ações não romperam definitivamente com o modelo ainda valorizado e instaurado pela Reforma de 1927.

No entanto, no Estado do Acre, a crítica que se faz à implementação do referido programa deve-se ao encaminhamento das ações pedagógicas que, em alguns aspectos, demonstrou na sua implementação absoluto desconhecimento da trajetória, das rotinas, das necessidades da escola pública primária e da realidade do Estado, primando pela utilização de forma descontextualizada das técnicas. Entretanto, são inegáveis suas contribuições, e essa pode ser considerada no período a única iniciativa à qualificação dos professores.

O governo de Cerqueira Filho, durante os vinte e sete meses que governou o Estado, não conseguiu formular uma política educacional que enfrentasse o alto índice de analfabetismo no Estado, não foi aberto nenhum concurso público para o ingresso no magistério e absoluta inexistência de formulação e implementação de uma política de valorização do profissional da educação no que concerne a formação, qualificação e melhoria salarial.

Em decorrência da rejeição do poder público às necessidades do magistério, intensificaram-se neste período movimentos reivindicatórios dos professoresatravés da União dos Professores Primários do Estado do Acre - UPPEA. O movimento foi fundado no dia 25 de junho de 1964, em um contexto em que o movimento militar buscava por meio da coerção policial se consolidar e em que ocorriam graves lutas por todo o país, entre o governo federal e os movimentos populares em oposição ao regime instituído.

A UPPEA se levanta em favor da classe do magistério, buscando melhoria da qualificação e valorização profissional. Embora não tenha sido criada para fazer oposição ao governo, não portando assim característica sindical, buscava a melhoria da qualidade do ensino, e por meio de uma proposta moralizadora, defendia o ingresso no magistério acriano por meio de concurso público e que a fiscalização deste acesso fosse feita por meio do

Conselho Estadual de Educação. O movimento reivindicava ainda a construção de um centro de treinamento de professores.

1.6 A política educacional acriana e a formação de professores: sob a “égide” da

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