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Dos três aos seis anos as professoras encontram-se saindo do início da carreira docente, vivenciando o processo de estabilização, que corresponde ao segundo estágio apontado nos estudos de Huberman (1992); dos sete aos quinze, no meio da carreira, vivenciando experiências de diversificação e/ou questionamento, ou seja, no terceiro estágio; e dos dezesseis aos vinte anos de experiência estariam caminhando para o final da carreira, no período correspondente ao quarto estágio, no qual se destacam, segundo Huberman (1992) características de serenidade, distanciamento afetivo ou conservantismo. (PENNA, 1999, p. 82-83).

Partindo de uma visão mais ampla sobre os ciclos de vida da profissão, nomeadamente tendo em conta as contribuições da sociologia da educação, vários investigadores abordaram trajetórias profissionais de professores, partindo do pressuposto de que as diferentes experiências, atitudes, percepções, expectativas, satisfações, frustrações, preocupações parecem estar correlacionadas com as diferentes fases da vida pessoal e profissional deles. Admite-se que cada uma destas fases não é fechada e nem de passagem obrigatória e que existem também aspectos ou situações pessoais, profissionais, contextuais que influenciam os professores e não devem ser desconsideradas.

Nesse sentido, Facci (2004) assinala que:

[...] é fundamental analisar os ciclos de vida profissional considerando-se as condições históricas do desenvolvimento da carreira. Não é possível aceitar que os professores se desenvolvam voltados apenas para si mesmos, sem considerar fatores políticos, econômicos e sociais que interferem no desenvolvimento do trabalho. (p. 36).

Para Huberman (1992), a trajetória profissional é um processo, não uma sucessão de acontecimentos. Este processo não é linear, mas está repleto de oscilações ou regressões.

A primeira etapa do desenvolvimento desse processo é a entrada na carreira, que inclui as fases de sobrevivência e descobrimento. A sobrevivência tem a ver com o choque com a realidade, ao perceber as diferenças entre os ideais construídos no percurso de formação e o real. O descobrimento está relacionado com o entusiasmo do começo, a experimentação, o orgulho de ter a sua classe, os seus alunos, e de fazerem parte de um corpo profissional. Nesse momento, a experiência pode ser compreendida como fácil ou difícil, levando em consideração o domínio do que é ensinado, a carga de trabalho, as dificuldades na relação com os alunos e a grande necessidade de investir tempo na profissão, seja nos planejamentos das aulas, seja na apropriação dos conteúdos a serem ensinados.

Decorridos quatro a cinco anos de experiência, o professor vive a fase denominada pelo autor de estabilização e compromisso com a profissão, cujas características principais são uma maior facilidade com o domínio da classe, domínio básico de metodologia de

trabalho, pois nessa fase o professor seleciona com mais facilidade os métodos e instrumentos apropriados aos interesses dos alunos. Nesse período, ele tem mais independência para realizar seu trabalho, sente-se integrado aos seus pares e começa a pensar na sua promoção profissional. Essas duas primeiras fases contemplam o chamado período de socialização profissional das experiências em que os professores conseguem estabelecer uma rotina e adquirem competências necessárias à prática profissional.

A terceira fase é denominada pelo autor de experimentação ou diversificação. Essa fase não é igual para todos os professores. Alguns diversificam sua prática e buscam novos estímulos no desenvolvimento da profissão por meio da experimentação, com fins de aprimorarem sua capacidade docente. Outros se voltam para a promoção profissional buscando desempenhar funções de direção ou ocupar cargos administrativos. Entretanto, há ainda os que se diferenciam nessa fase da profissão vivenciando um sentimento de rotina e crise existencial com relação a sua escolha profissional e tendem a diminuir seus compromissos com a docência, numa fase de verdadeira angústia existencial, decorrente da rotina e frustrações do dia a dia, e acabam por se dedicar paralelamente à outra ocupação.

A quarta fase é caracterizada pela busca de uma formação profissional estável. Os professores atingem a maturidade nesta fase. O foco dos professores é encontrar a estabilidade na profissão. Para Huberman, é um período em que os professores se interrogam bastante sobre a sua própria eficácia como docentes. Uns assumem a atividade profissional de forma mais descontraída e menos emocional, minimizam a preocupação com a promoção profissional para se centrarem na vida da escola e na sua prática, procurando desta forma desfrutar o melhor possível a sua profissão. Outros, pelo contrário, sentem-se, como nunca, amargurados com a sua vida profissional, estagnam e não se revelam interessados na sua promoção profissional. Estes professores queixam-se de tudo, dos colegas, dos alunos, do sistema. O período é marcado pelos questionamentos e mudanças mais ou menos conflituosas com relação à docência, influenciadas pelo fato de nesta fase o professor estar cercado de gente mais jovem, como os alunos e os novos colegas de profissão.

Nessa fase, distinguem-se dois grupos profissionais: um caracteriza-se pela serenidade e amadurecimento afetivo, os professores sentem-se menos enérgicos, mostram-se mais descontraídos e menos preocupados com os problemas da prática cotidiana e paternalizam a relação com os alunos. O perfil desse grupo de profissionais está mais voltado para o prazer de ensinar do que a preocupação com a promoção profissional. Para a escola, esse grupo torna-se o esteio, a coluna vertebral, os guardiões da tradição. O segundo grupo de profissionais são os que se sentem amargurados e não se interessam nem mesmo pelo próprio

desenvolvimento profissional, vivem a fase do conservadorismo e do contra, queixam-se dos colegas, alunos, do sistema, do salário. A característica marcante é que vivem um quadro de absoluta insatisfação com tudo e com todos.

A quinta e sexta fase da profissão identificada por Huberman é a preparação para a

aposentadoria. Nessas fases, foram identificados três padrões de características distintos: no

primeiro, o professor demonstra interesse em especializar-se cada vez mais, busca parcerias com os colegas com os quais tem mais afinidade e preocupa-se mais com a aprendizagem dos alunos. O segundo é considerado como o defensivo, percebe-se menos otimismo por parte do profissional, que adota uma postura menos generosa com relação à troca de experiências. O terceiro, Huberman caracteriza de desencantamento, são professores cujos procedimentos demonstram desencanto com relação à experiência acumulada no decorrer do percurso profissional, mostram-se cansados e podem representar uma frustração para os professores mais jovens. Destaca-se que ao final da última fase final há ainda uma tendência de os professores vivenciarem um desinvestimento na carreira.

Fundamenta-se na exposição dessas fases para analisar o perfil dos professores egressos do curso de Pedagogia Modular. Destaca-se que por se tratar de um programa de formação em serviço, e, como já mencionado, a expressiva maioria, ao ingressar no programa, já dispunha de alguns anos de experiência, é improvável a presença de professores em início de carreira na denominada fase sobrevivência e descobrimento. Ainda com base nos dados apresentados no GRAF. 2 (p. 195), o percentual de 5% de professores entre 20 e 30 anos pode ser inserido na fase da estabilização e compromisso. Um número significativo de professores, 48%, pode ser alocado na terceira fase, caracterizada pela experimentação e diversificação, 34% dos participantes da pesquisa oscilam entre 40 e 50 anos. Portanto, é provável que se insiram na fase de busca de formação estável característica predominante da maturidade profissional. Finalmente, 13% estavam acima de 50 anos e encontravam-se em fase de preparação para a aposentadoria. Para esses, sim, a formação representava apenas a garantia de um melhor salário com vistas à aposentadoria.

Na convivência com professores cursistas deste último grupo, durante o percurso de formação, era comum ouvir expressões do tipo: “vou só me formar para dar entrada na

minha aposentadoria” ou ―eu não estou nem aí para o governo, eu quero é me aposentar

ganhando bem‖. Esse ―Ganhar bem‖ referia-se à conquista do piso salarial do nível superior

que significava, à época, dobrar literalmente o salário que recebiam. Entretanto, logo após a formação, os mesmos passaram a reclamar do fato de que pelo Plano de Cargos, Carreira e Salários para se aposentarem precisariam cumprir mais cinco anos de docência. Razão que

justifica nos dois últimos anos o número considerável de processos de pedido de aposentadoria.

Considerando a importância dessa temática, nos capítulos análise (Capítulos. 5 e 6) serão retomadas as fases apontadas por Huberman, com vistas a compreender a relação do processo de formação com as mudanças nas práticas pedagógicas. Intenta-se discutir como essas práticas foram sendo consolidadas de acordo com o tempo de exercício da docência e as mudanças e permanências nelas ocorridas depois de o professor vivenciar a formação em serviço.

No que diz respeito ao perfil de procedência de formação desses professores o GRAF. 3 permite a seguinte leitura: Quando do ingresso na universidade, 38% desses professores traziam as marcas de cursos em formatos distintos do regular, caracterizado por uma formação aligeirada e com pouca assistência e/ou acompanhamento do formador, o que certamente contribuiu para deixar lacunas no processo formativo.

GRÁFICO 3 – Procedência da formação dos Professores de Educação Infantil e Anos Iniciais

do Ensino Fundamental, em formação no Curso de Pedagogia Modular, no polo Rio Branco, em 2004.

Vale ressaltar que grande contingente dos professores encontrava-se fora da sala de aula, enquanto estudantes, há mais de 10 anos, o que colaborou para justificar e/ou explicar as dificuldades encontradas e evidenciadas por eles, no percurso da formação. Justifica ainda os obstáculos encontrados também pelos formadores, na necessidade da formação do hábito de estudo, no exercício da disciplina para realizar o volume de leituras e trabalhos necessários.

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Magistério Magistério Modular Logos II Supletivo

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