• Nenhum resultado encontrado

OCUPAÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E DEMANDAS EDUCACIONAIS NO ESTADO DO ACRE

1.11 A ampla reforma do aparelho de Estado e a gestão de Jorge Viana: sob a “égide” do

PT

Em consequência do desgaste e fragmentação de partidos tradicionais, da ausência de lideranças competitivas e de um projeto arrojado e empolgante de governo, em 1998 ganhou o pleito eleitoral para governar o Acre, no período de 1999-2002, com 57,70% dos votos válidos, Jorge Viana. Sua campanha foi alavancada pela satisfação da população com sua gestão frente ao executivo municipal, enaltecendo suas qualidades pessoais e administrativas.

Com um programa de governo intitulado ―A vida vai melhorar‖, ele trouxe grandes expectativas para a população acriana. Levantou a bandeira da geração de emprego-renda e habitação e a proposta de um novo modelo de desenvolvimento para o Estado baseado na concepção de sustentabilidade, defendendo o uso equilibrado dos recursos naturais, uma melhor qualidade de vida para a população, especialmente as tradicionais (seringueiros, ribeirinhos e indígenas), e a garantia de sobrevivência das novas gerações.

Diferentemente dos governadores que o antecederam, além de gozar de excelente entrada nos setores médios da sociedade, Viana contava com uma boa articulação junto aos movimentos sociais. Durante a campanha, ele estabeleceu junto à população a meta de que seriam gerados 40.000 empregos, construídas 20 mil casas em programas de habitação. Não se pode negar que, depois de eleito, ele caminhou também nesta direção, mas a centralidade de suas políticas foram norteadas pelo desenvolvimento econômico do Estado, de maneira sustentável e com ampla participação.

O exposto pode ser evidenciado no teor da Lei Estadual nº. 1.307, de 24 de dezembro de 1999:

O estado desenvolverá ações de indução e regulação das atividades econômicas prioritárias, com o objetivo de implementar uma estratégia de desenvolvimento sustentável que incentive o crescimento do emprego e a distribuição de renda. Este novo papel a ser construído e executado coletivamente com a sociedade está fortemente baseado em uma gestão pública alicerçada na transparência, na

democracia, na cultura popular, na solidariedade, na busca da equidade e na socialização do conhecimento e da informação.

Segundo França (2006), essa agenda do desenvolvimento sustentável foi induzida por duas fontes de pressão: de um lado, a sociedade civil representada neste momento pelas ONGs, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Conselho Nacional dos Seringueiros, e, de outro, a pressão externa dos organismos internacionais que já financiavam projetos na região. Dessa forma, este modelo foi absorvido como estratégia central na formulação das políticas de governo.

A primeira demanda do governo foi planejar e executar uma ampla reforma do aparelho do Estado, resgatando sua responsabilidade com o Estado Democrático de Direito, garantindo nela o exercício das liberdades fundamentais e assegurando espaços pacíficos para a convivência dos diferentes segmentos da sociedade. No entanto, vale ressaltar que o que ganhava visibilidade expressiva no cenário nacional neste período não eram as ações do governo em direção a grande reforma, mas o drama de estar exposto às ações do chamado ―esquadrão da morte‖ no Acre. O grupo era composto por policiais e civis que atuavam de forma criminosa e, ligados ao narcotráfico, concorriam para o desmonte do próprio aparelho de governo.

Embora na reforma de governo os princípios neoliberais tenham se revelado de forma menos intensa em função do debate aprofundado e crítico que os partidos de esquerda engendraram, neste período, destaca-se que as propostas do governo estavam situadas na busca de um meio termo, ou seja, eram criativas, mas, tinham também o caráter adaptativo às regras do mercado. Eram reformas do governo, mas também do próprio Estado.

O governo optou então pela reorganização geopolítica, administrativa e econômica do estado, dividindo-o em cinco regionais com vistas ao desenvolvimento a partir de suas potencialidades econômicas e pela modernização da máquina estatal. Salienta-se que o legado de ingerência dos governos anteriores era um serviço público deteriorado com fortes resquícios de apadrinhamento político, relações clientelistas que geraram, contrariando a Constituição de 1988, inúmeras contratações no serviço público, sem concurso, até 1997. Sem contar que o governo herdou um Estado totalmente endividado, com baixa arrecadação de recursos próprios, o que concorria para a alta dependência dos recursos federais, altos índices de sonegação fiscal, atraso no pagamento dos servidores públicos e um quadro funcional inapto para o exercício das funções, sem formação adequada e sem receber qualquer tipo de qualificação. Somava-se a isso o grande contingente de servidores fantasmas, com residência

em outros estados do País. Era improvável que se encontrasse em alguma secretaria de estado um cenário de normalidade administrativa.

Como forma de garantir a eficiência dos aparelhos de gestão, o governo então optou primeiramente pela reorganização da estrutura administrativa do Estado, organizando as secretarias de governo por área temática. Ato contínuo, como forma de garantir a governabilidade orçamentária, assegurar estado democrático de direito, equilibrar as contas e ajustar a máquina administrativa, fixou teto máximo dos salários públicos, reduziu em 20% os cargos em comissões e função gratificada, autorizou por meio da Lei nº. 1.279, de janeiro de 1999, que o poder executivo aderisse ao Programa de reestruturação e de ajuste fiscal de Estado, passou a implementar uma política de formação e capacitação dos servidores públicos e modernizou a infraestrutura dos órgãos do governo. Dessa forma, o governo conseguiu equilibrar as contas públicas e otimizar os investimentos.

Pode-se concluir que a reforma do aparelho de gestão introduzida pelo governo da Frente Popular apresentou-se em duas direções da governança. Na perspectiva do Banco Mundial, classificar-se-ia de bom governo, uma vez que se pautou nos princípios de eficiência e racionalização de gastos públicos em conformidade com o que preceitua o referido Banco. A segunda, por ter conseguido flexibilizar e incorporar muitas demandas dos setores sociais, principalmente dos grupos minoritários em suas propostas e ações. A proposta de governo conseguiu racionalizar os gastos públicos, demonstrar-se eficiente, moralmente confiável, sem que isto significasse privatização dos bens públicos.

No próximo capítulo, serão descritas e analisadas, em um cenário marcado pela ampla reforma nacional, as políticas de formação de professores em serviço formuladas e implementadas no Estado do Acre, no período de 1999-2009, por meio dos denominados Programas Especiais de Formação de Professores para a Educação Básica. Essas iniciativas visaram conferir formação a mais de 70% dos professores das redes estadual e municipais de ensino, objetivando alterar significativamente o quadro educacional do Estado no que diz respeito à melhoria nos indicadores de qualidade. No contexto da discussão, é ainda apresentada a experiência da UFAC e o seu importante papel como agente formador. O capítulo finaliza com uma descrição mais aprofundada do Curso de Pedagogia Modular, objeto da pesquisa, evidenciando sua dimensão e alcance.

CAPÍTULO 2

AS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM SERVIÇO NO ESTADO DO ACRE, NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI

Objetiva-se, neste capítulo, apresentar e discutir como o Estado do Acre, por meio da gestão pública, organizou-se a partir de uma ampla reforma educacional, na direção de superar os problemas estruturais das redes estadual e municipais e, principalmente, encontrar a solução viável para a formação de mais de 70% dos professores que não dispunham, em sua maioria, nem do que era minimamente exigido por lei.

2.1 No cenário da reforma nacional, a formulação das políticas de formação de

Outline

Documentos relacionados