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A ascensão do Partido dos Trabalhadores e as marcas da governança, da governabilidade e do desenvolvimento sustentável na administração pública

OCUPAÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E DEMANDAS EDUCACIONAIS NO ESTADO DO ACRE

1.10 A ascensão do Partido dos Trabalhadores e as marcas da governança, da governabilidade e do desenvolvimento sustentável na administração pública

Contrariando a forma conservadora e considerada ―natural‖ de constituição de um partido, emergindo de baixo para cima e contrapondo-se radicalmente à ordem estabelecida, o Partido dos Trabalhadores – PT, no Acre, defenderá o socialismo democrático, como forma

de construção de uma sociedade justa, passando a incluir na sua plataforma setores que até então haviam sido mantidos distantes de qualquer participação na vida política do país, dentre eles, os negros, as mulheres e os homossexuais. Neste aspecto, considerando a feminização no magistério, mulheres acrianas, professoras, vão se constituir em novas lideranças. Dentre elas, destacam-se Naluh Gouveia e Marina Silva. O Partido cuidou ainda de dar relevância a temas até então minimizados nos governos anteriores. Dentre muitos, podemos destacar o amplo debate sobre democracia e meio ambiente.

Distinguindo-se, em sua origem, de todos os demais partidos que dominaram o cenário político acriano e monopolizaram a vida política do Estado, marcado pelo autoritarismo desde o início de sua história e, diferentemente da emergência do partido em nível nacional, no Acre, o PT emergiu de movimentos sociais rurais. A criação das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, por padres e missionários da igreja católica signatários das teses da Teologia da Libertação, tendo à frente Nilson Mourão, culminando no processo de organização dos seringueiros em Sindicatos de Trabalhadores Rurais - STRs em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura – CONTAG, liderados por João Maia, configuraram as vertentes que explicam a presença do PT na zona rural do Estado e na periferia de Rio Branco. Nas cidades, principalmente na capital, a construção do referido partido se deu principalmente na UFAC, através do Movimento Estudantil. As correntes ideológicas mais radicais, PRC (Partido Revolucionário Comunista) e LIBELU (Liberdade e Luta), formaram uma geração de quadros cuja trajetória legou ao PT parte da qualidade que o fez partido hegemônico do Acre, nos dias atuais.

Ao mesmo tempo, o partido cooptou forte presença de intelectuais nos seus quadros e conseguiu estabelecer e manter diálogo com a sociedade civil, capitalizando suas bandeiras de luta e tornando-se aquilo que França (2006) denomina de ―germe da vontade coletiva‖.

As ações do partido marcaram profundamente a formulação e implementação de políticas públicas na década de 1990. Contudo, seus primeiros passos no campo institucional não foram promissores, principalmente quando comparada sua margem de votos à de outros partidos em disputa eleitoral. No entanto, aos poucos foi demarcando seu território, fazendo oposição acirrada à velha forma de fazer política no Acre, que privilegiava o clientelismo, o nepotismo, a corrupção e o familismo político.

A despeito disso, ainda no decorrer da década de 1980, o PT nos cenários eleitorais se confirmou apenas como a terceira força eleitoral do Estado, pelo menos do ponto de vista da disputa partidária, mas começou a assumir espaços importantes na vida institucional e no cenário político. A eleição de Marina Silva, em 1988, para mandato junto a Câmara Municipal

de Rio Branco, exercido de forma singular na história do legislativo acriano, serviu como uma espécie de processo educativo na vida política. Primeiramente por ser mulher, professora e por ter no seu mandato conseguido reduzir, drasticamente, os gastos da câmara com despesas pessoais com os vereadores. O corte do denominado auxílio moradia e outros tantos ganharam destaque. Somou-se a isso, o seu compromisso político, assumido com os trabalhadores rurais e com as causas sociais relacionadas ao meio ambiente.

A partir da candidatura de Marina Silva, o caráter institucional do Partido dos Trabalhadores no Acre passa a ganhar força e corpo e ―[...] deixa de ser atividade-meio do partido passando a ser atividade-fim, ou melhor, deixa de ser uma tática e passa a ser a principal estratégia para a conquista do poder.‖ (FRANÇA, 2006, p.75).

No pleito municipal para o período de 1992 a 1996, Jorge Viana, candidato do PT, foi eleito prefeito da capital. Na sua gestão, frente à prefeitura da cidade, ele reaproximou o poder público municipal da comunidade, recuperando espaços urbanos, melhorando serviços de saúde e educação, com um salto de qualidade, principalmente no Ensino Fundamental. Trabalhou na recuperação de meninos e meninas de rua, implantou lei de incentivo à cultura e fazendo jus a sua formação de Engenheiro Agrônomo, criou a política de polos agro- florestais. Destaca-se que esta experiência foi posteriormente premiada pela Fundação Getúlio Vargas como uma das mais interessantes ocorridas no período de seu mandato. Diferentemente do governador, o prefeito da capital teve ao longo de seu mandato níveis de aprovação popular que oscilaram numa média de 85%.

O modelo de gestão implantado na prefeitura de certa forma suscitou propostas de desenvolvimento alternativo para o Estado. Esta foi de forma consistente a oportunidade que o PT obteve de demonstrar à sociedade que era possível um projeto de desenvolvimento diferenciado para o Estado do Acre. Contrariando todos os postulados dos partidos de direita, que apregoavam não ter o partido capacidade governativa e que no máximo atuaria no poder legislativo, a gestão do PT frente ao executivo municipal surpreendeu e mostrou-se reveladora.

Com um plano de governo intitulado ―Vida Nova na Cidade‖, ele investiu na área de habitação por meio do Programa Habitar Brasil, implementou o Programa Saúde nas Escolas, resgatou e valorizou a cultura local e aumentou a arrecadação tributária na ordem de 365%. Como estratégia, o prefeito optou por montar uma equipe de governo mais técnica e menos política, inclusive com profissionais de outros estados, e aclamava a participação da sociedade civil, o que permitiu avanços significativos e o rompimento com a velha forma de fazer política no Acre. A gestão do PT, no Acre, desde o executivo municipal aos dias atuais, frente

ao executivo estadual, destaca-se por pautar sua gestão nos princípios de governança, governabilidade e no desenvolvimento sustentável em todas as áreas da gestão.

Este novo modo de fazer política vai na perspectiva do que alguns autores, como (Wood, 2003; Bobbio, 1999), denominam de governança, chamando a atenção para o papel ativo que passa a ter a sociedade civil como um novo protagonista na sociedade contemporânea, haja vista ter ela forjado o debate para construção de uma agenda que fosse, além do papel burocrático do Estado, o seu papel de regulador ou reprodutor do sistema. Esta atitude passou a requerer uma nova relação entre a sociedade e o governo, exigindo deste que setores diversos da sociedade tivessem mais espaço na cogestão e na formulação de políticas públicas.

A este respeito, Leff (2000) chama a atenção para a relevância das políticas de governo, que passaram, a partir desta visão, a dar destaque a temas até então minimizados, como direitos humanos, democracia e o desenvolvimento sustentável que, no caso do Estado do Acre, eram visíveis nos discurssos e na formulação de políticas de governo.

De acordo com o Banco Mundial, em seu documento Governance and Development, de 1992, Banco Mundial (1992 apud Diniz, 1995, p. 400), a definição geral de governança é:

―[...] o exercício da autoridade, controle, administração, poder de governo‖, ou seja, ―[...] é a maneira pela qual o poder é exercido na administração dos recursos sociais e econômicos de um país visando o desenvolvimento‖, implicando ainda na ―[...] capacidade dos governos de planejar, formular e implementar políticas e cumprir funções‖.

No bojo da discussão conceitual sob esses aspectos, para Santos (1997, p. 340-341) duas questões merecem destaque. Primeiro, a ideia de que uma ―boa‖ governança é um requisito fundamental para um desenvolvimento sustentado, que incorpora ao crescimento econômico equidade social e também direitos humanos. A segunda diz respeito à questão dos procedimentos e práticas governamentais, na consecução de suas metas, que adquire relevância, incluindo aspectos como o formato institucional do processo decisório, a articulação público - privado na formulação de políticas ou ainda a abertura maior ou menor para a participação dos setores interessados ou de distintas esferas de poder.

Partindo de uma dimensão política para a conceituação e distinção entre governança e governabilidade, destaca-se que a governabilidade refere-se mais a dimensão estatal do exercício do poder. O conceito diz respeito ―[...] às condições sistêmicas e institucionais sob as quais se dá o exercício do poder, tais como as características do sistema político, a forma

de governo, as relações entre os Poderes, o sistema de intermediação de interesses‖ (Santos,1997, p. 342).

Diniz (1995, p. 394) dá destaque às três dimensões envolvidas com o conceito de governabilidade: a capacidade do governo para identificar problemas críticos e formular políticas adequadas ao seu enfrentamento; capacidade governamental de mobilizar os meios e recursos necessários à execução dessas políticas, bem como a sua implementação e a capacidade de liderança do Estado sem a qual as decisões tornam-se inócuas. Nesse sentido, evidencia-se que a governabilidade está situada no plano do Estado e representa um conjunto de atributos essencial ao exercício do governo, sem os quais nenhum poder conseguirá ser exercido.

Diferentemente, segundo Santos (1997), a governança está diretamente ligada à performance dos atores e à sua capacidade no exercício da autoridade política. Ela tem um caráter mais amplo, pode englobar dimensões presentes na governabilidade, mas vai além. Na definição de Melo (1995, apud Santos, 1997, p. 341), a governança ―[...] refere-se ao modus

operandi das políticas governamentais – que inclui, dentre outras, questões ligadas ao formato

político institucional do processo decisório, a definição do mix apropriado de financiamento de políticas e ao alcance geral dos programas‖.

O autor ainda destaca que, ―[...] o conceito de governança não se restringe, contudo, aos aspectos gerenciais e administrativos do Estado, tampouco ao funcionamento eficaz do aparelho de Estado‖. Dessa forma, a governança refere-se a ―[...] padrões de articulação e cooperação entre atores sociais e políticos e arranjos institucionais que coordenam e regulam transações dentro e através das fronteiras do sistema econômico[...]‖, incluindo-se aí não apenas os mecanismos tradicionais de agregação e articulação de interesses, tais como os partidos políticos e grupos de pressão, como também redes sociais informais compostas por fornecedores, famílias, gerentes, hierarquias e associações de diversos tipos. (p. 342). Portanto, enquanto a governabilidade tem uma dimensão essencialmente estatal, vinculada ao sistema político-institucional, a governança opera num plano mais amplo, englobando a sociedade como um todo.

Para Diniz (1995), o debate acerca dos principios de governança e governabilidade para um Estado eficiente não somente desfocou das implicações extritamente centradas na esfera econômica como abriu para uma visão mais abrangente das dimensões sociais e políticas da gestão pública. ―Em sentido amplo, capacidade governativa não mais seria avaliada em função apenas dos resultados das políticas governamentais, passando a significar a forma como o governo exerce o seu poder‖ (p.400). Vista assim, constituiu-se como meio e

processo capaz de produzir resultados eficazes, sem necessariamente fazer uso da coerção. Pelo contrário, são as diversas maneiras possíveis de administrar problemas com a participação da sociedade civil, da ação do Estado e dos setores privados.

Neste sentido, o governo de Jorge Viana, inicialmente frente ao executivo municipal e posteriormente frente ao estadual, inaugurou no Acre uma forma diferenciada de administrar, forma esta que vem nos últimos 20 anos ganhando espaço no cenário local, regional e nacional.

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