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OCUPAÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E DEMANDAS EDUCACIONAIS NO ESTADO DO ACRE

1.8 Um novo cenário político e a persistência de velhos problemas

A década de 1980 e a primeira metade da década seguinte foram marcadas pela efervescência política no cenário nacional, fruto do retorno ao regime democrático, mas também pelo reflexo da grande crise econômica pela qual passou o estado brasileiro atravessando toda a década de 1980.

A falência de um modelo de desenvolvimento centrada no estado nacional como promotor desse processo ruía. Esse modelo de desenvolvimento foi marcado pelo esgotamento do Estado desenvolvimentista brasileiro, em termos de capacidade de gestão do nosso desenvolvimento, pelas mudanças provocadas pela nova divisão internacional do trabalho e pelo financiamento internacional direto dos grandes oligopólios nos espaços periféricos, para o qual o Brasil foi o grande beneficiário em escala global.

O capital passa a ser reconcentrado nos países industrializados, e as únicas fontes de empréstimos passaram a ser as grandes agências multilaterais, isto é, o FMI e o Banco Mundial. O cenário se tornou propício para a fomentação do ideário neoliberal, que significou, entre outras coisas, a adequação das economias periféricas aos ajustes estruturais propostos pelas agências reguladoras e o encurtamento sistemático da capacidade de regulação do Estado brasileiro na esfera da economia.

No Acre, os reflexos dessa mudança foram intensamente sentidos. No campo econômico, houve uma redução drástica nos repasses de recursos do Governo Federal para o Estado, o que pode ser considerado um impacto se levar em conta que ele era a principal fonte de recursos para o Estado e municípios. O extrativismo e a pecuária, tão difundidos na vigência dos governos militares, não foram capazes de fomentar o desenvolvimento do Estado, deixando-o cada vez mais dependente. Todavia, no aspecto político-social, o momento foi rico, fortalecendo a intensa dinâmica dos movimentos sociais que haviam

marcado toda a década de 1980. No tocante à formulação de uma proposta de desenvolvimento, que eclodia e questionava rigidamente as concepções implantadas para a região, exigia-se cada vez mais a participação ativa dos setores subalternos na formulação e implementação das políticas de governo.

Em 1990, capitaneada pelo PT, a Frente Popular do Acre, que agregava, à época, o Partido Democrático Trabalhista - PDT, o Partido Verde - PV e o Partido Comunista do Brasil - PC do B, lançam a candidatura de Jorge Viana ao governo do Estado. Mesmo chegando pela primeira vez ao segundo turno com um percentual de 45,4% dos votos, o candidato da frente foi derrotado por Edmundo Pinto com uma diferença de 12.165 votos.

Edmundo Pinto e Romildo Magalhães, do Partido Democrático Social – PDS, foram eleitos pelo voto popular, graças ao desgaste político que o PMDB experimentou em nível nacional e local. Segundo Albuquerque Neto (2007), o governador eleito encarnou o ―novo‖, apresentando-se como a ruptura do tradicional, do antigo e do ultrapassado. Trazia uma mensagem de mudança e de seriedade e fazia questão de se identificar com a população mais jovem mantendo um estilo desportista e despojado.

Durante seu curto mandato, Edmundo Pinto lançou políticas setoriais a serem desenvolvidas durante seu governo. Um desses setores, considerado por ele estratégico, era a educação. Na caracterização deste campo, evidenciou-se, no período, que o Estado tinha a responsabilidade com o atendimento de 94% da população escolar. No entanto, apenas 39% da clientela do ensino fundamental obrigatório era atendida. O Estado continuava a conviver com índices desmoralizantes em virtude das altas taxas de evasão e repetência. De cada 100 alunos matriculados na 1ª série do primeiro grau, somente quatro concluíam o segundo grau. Considerando apenas o fundamental, 79% dos alunos matriculados na rede encontravam-se em distorção idade-série. O Estado computava ainda 163.520 analfabetos, o que correspondia a 42% da população; e no ensino de segundo grau, apenas 10% da população era atendida. A rede era formada por 975 unidades escolares, com 1.129 salas de aula. Majoritariamente, o trabalho nestas salas era multisseriado e unidocente.

No que diz respeito ao magistério acriano, o perfil traçado indicava um índice de professores sem titulação que chegou a 38%. No entanto, se considerarmos apenas a educação infantil, 44% dos professores atuavam sem habilitação para o magistério. Nas escolas de zona rural, ainda era possível encontrar inúmeras escolas onde os professores tinham como formação apenas o primário em primeiro ciclo.

Para a superação deste quadro caótico, o governo estabeleceu metas prioritárias: universalizar o ensino fundamental, melhorar a qualidade de ensino, reduzir as taxas de

analfabetismo e ampliar a rede escolar iniciando o processo de municipalização do ensino. Dentre as diretrizes setoriais estabelecidas no campo educacional, destacam-se: a modernização administrativa, a valorização do profissional da educação, a melhoria da qualidade de ensino, melhoria da produtividade do sistema de ensino, a expansão da rede de ensino, a ampliação de oportunidades educacionais em todos os níveis e modalidades, redefinição dos papéis e responsabilidades entre estado e município.

Como estratégia para o cumprimento da diretriz acerca da valorização dos profissionais da educação, o governo previu: elevar os níveis salariais, integrar gradualmente ao quadro permanente de professores da SEC o grande contingente de professores do quadro provisório denominados de pró-laboristas, contratados em gestões passadas temporariamente e sem concurso público, e implantar mecanismos e procedimentos de gestão democrática.

No entanto, pela terceira vez consecutiva, um vice-governador assumiu o comando do Estado. Edmundo Pinto foi assassinado, à véspera de prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI, acerca de obras superfaturadas no Acre e que envolviam interesses diversos. O fato impactou o Estado, consternando a população em geral, inclusive não-eleitores.

A partir de então e para cumprir a maior parte do mandato, assumiu o governo do Estado Romildo Magalhães. Para ele, a educação não tinha a relevância necessária. Em seus discursos, fazia questão de apregoar ser um semianalfabeto e orgulhava-se por ter conseguido, nesta condição, subir a rampa do Palácio Rio Branco. Neste sentido, desvalorizava em absoluto a necessidade do processo de escolarização e dos sujeitos envolvidos.

Por esta e outras razões, muitas lutas foram travadas com o Sindicato dos Trabalhadores do Estado de Acre – SINTEAC e como consequência da visão descabida do governador, a formulação e implementação das políticas de formação e valorização dos profissionais da educação sofreram forte interferência, chegando a ser desastrosa na avaliação de muitos. Do intencionado, quando da formulação da proposta de governo, pouco se fez. Sua gestão foi marcada por desmandos e desatinos, ao ponto de pela primeira vez na história acriana ser pedido o impeachment de um governador, embora sem sucesso, graças a sua base governista, em maioria, que o sustentou.

De seu governo, pode-se destacar o total descaso com o campo educacional. Dos 6.550 profissionais da educação, 62% estavam concentrados na zona urbana e 38% na zona rural. Entretanto, a maior concentração da população ainda era no meio rural, correspondendo a 54% da população, evidenciando a ausência de uma política nesta direção. No que diz respeito ao investimento na formação e qualificação docente, os professores residentes na

zona urbana ainda tiveram acesso a alguma possibilidade de formação via os cursos já existentes e na UFAC. Dessa forma, menos de 20% dos professores não tinham habilitação no magistério. No entanto,, dos 1.884 professores da zona rural, 1.166 não possuíam a qualificação mínima necessária para o exercício do magistério. Vale ressaltar que em seu governo os servidores públicos chegaram a ficar três meses sem o recebimento de salários.

O sonho proclamado em campanha pelo governador eleito Edmundo Pinto em nada se concretizou. Neste governo, o Acre subiu de 12 para 22 municípios, todavia, no campo educacional, o ensino de segundo grau atendia apenas 08 municípios. O ensino fundamental não foi universalizado como proposto na campanha, e o atendimento era insatisfatório, o índice de analfabetismo ultrapassava 80% na zona rural, e os professores que atuavam nesta localidade eram, em sua grande maioria, leigos. Pode-se dizer que, nesta gestão, o caos se instalou por todo o Estado.

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