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A PROBABILIDADE PARA A ERA DA INFORMAÇÃO

No documento Superprevisoes - Dan Gardner.pdf (páginas 118-120)

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A PROBABILIDADE PARA A ERA DA INFORMAÇÃO

Os cientistas abordam a probabilidade de um a m aneira radicalm ente diferente. Eles apreciam a incerteza, ou pelo m enos a aceitam , porque nos m odelos científicos da realidade a certeza é ilusória. Leon Panetta pode não ser cientista, m as captou essa percepção perfeitam ente quando disse: “Nada é cem por cento”.

Isso pode ser um pouco surpreendente. “A m aioria das pessoas identificaria a ciência com a certeza”, escreveu o m atem ático e estatístico William By ers. “Certeza, elas acham , é um estado de coisas sem aspecto adverso, então a situação m ais desej ável seria a certeza absoluta. Resultados e teorias científicos parecem prom eter tal certeza.”14 Na concepção popular, os cientistas produzem fatos e os gravam em tabuletas de granito. Essa coleção de fatos é o que cham am os “ciência”. À m edida que prossegue o trabalho de acum ular fatos, a incerteza é rechaçada. O obj etivo últim o da ciência é a total erradicação da incerteza.

Mas essa é um a visão m uito oitocentista da ciência. Um a das grandes realizações científicas do século XX foi m ostrar que a incerteza é um elem ento inerradicável da realidade. “A incerteza é real”, escreve By ers. “É o sonho de certeza total que é um a ilusão.”15 Isso é verdade tanto à m argem do conhecim ento científico com o do que atualm ente parece ser seu âm ago. Fatos científicos que parecem sólidos com o rocha para um a geração de cientistas podem ser reduzidos a pó sob os avanços da seguinte.16 Todo conhecim ento científico é hesitante. Nada está entalhado no granito.

Na prática, é claro, os cientistas usam a linguagem da certeza, m as só porque é em baraçoso, sem pre que você afirm a um fato, dizer “em bora tenham os substancial corpus de evidência para apoiar essa conclusão, e a m antenham os com alto grau de confiança, perm anece possível, ainda que extrem am ente im provável, que novas evidências ou argum entos possam nos obrigar a revisar nosso ponto de vista sobre a questão”. Mas supostam ente há sem pre um asterisco invisível quando os cientistas dizem “isso é verdade” — porque nada é certo. (E, sim , isso é verdade para m eu trabalho tam bém , incluindo tudo que há neste livro. Lam ento por isso.)

Se nada é certo, segue-se que os seletores m entais de dois e três aj ustes são fatalm ente defeituosos. Sim e não expressam certeza. Eles precisam ser descartados. O único aj uste que resta é talvez o único que as pessoas intuitivam ente querem evitar.

Claro que um seletor m ental de um único aj uste seria inútil. Aquilo é um leão? Talvez. Vão encontrar polônio nos restos m ortais de Yasser Arafat? Talvez. O hom em no com plexo m isterioso é Osam a bin Laden? Talvez. Então “talvez” tem de ser subdivido em graus de probabilidade. Um a m aneira de fazer isso é com term os vagos com o “possivelm ente” e “im provável”, m as, com o vim os, isso introduz um a perigosa am biguidade, e é por isso que os cientistas preferem os núm eros. E as subdivisões desses núm eros devem ser tão refinadas quanto possível para os previsores m anuseá-las. Isso pode significar 10%, 20%, 30%... ou 10%, 15%, 20%... ou 10%, 11%, 12%. Quanto m aior o aj uste fino, m elhor, contanto que a granularidade capture distinções reais — ou sej a, se os resultados que você afirm a terem um a chance de 11% de acontecer realm ente ocorrem com frequência 1% m enor do que resultados de 12% e com frequência 1% m aior do que resultados de 10%. Esse com plexo seletor m ental é a base do pensam ento probabilístico.

Robert Rubin é um pensador probabilístico. Quando estudava em Harvard, assistiu a um a aula em que um professor de filosofia argum entou que a certeza dem onstrável não existe, e “na hora aquilo m eio que bateu com tudo que eu estava pensando”, contou-m e. Isso se tornou o axiom a que guiou seu pensam ento por 26 anos na Goldm an Sachs, com o consultor do presidente Bill Clinton e com o secretário do Tesouro. Está no título de sua autobiografia: In An Uncertain World

[Em um m undo incerto]. Ao rej eitar a certeza, tudo para Rubin se tornou um a questão de probabilidade, e ele alm ej ou o m áxim o de precisão possível. “Um a das prim eiras vezes que nos encontram os, [Rubin] m e perguntou se um a lei passaria no Congresso, e eu disse ‘pode apostar que sim ’”, contou um j ovem assistente do Tesouro ao j ornalista Jacob Weisberg. “Ele não gostou nem um pouco disso. Agora eu digo que a probabilidade é de 60% — e podem os discutir se é 59% ou 60%.”17

Durante seu período no governo Clinton — um a era dourada de reservas nas alturas e da Rubinom ics —, Rubin recebeu elogios efusivos. Após a crise de 2008, foi criticado com igual veem ência, m as se Rubin é herói ou vilão, ou algo entre um a coisa e outra, não m e cabe avaliar. O que m e parece interessante é o m odo com o tanta gente reagiu quando o pensam ento probabilístico de Rubin foi apresentado em um a m atéria de 1998 no New York Times. As pessoas o acharam espantosam ente contraintuitivo, desafiador. Profissionais pregavam as reflexões de Rubin sobre o pensam ento nas paredes de seus cubículos, j unto com m ensagens inspiradoras e fotos de seus filhos. “Pessoas de todas as classes m e disseram com o aquilo as afetou”, contou ele em 2003. Essa reação divertiu Rubin. Ele achava que não havia dito nada surpreendente. Mas quando desenvolveu o tem a em sua autobiografia, a reação foi a m esm a. Mais de um a década depois, “as pessoas ainda m e procuram quando falo em painéis ou coisas assim e dizem : ‘Estou com um exem plar do seu livro, pode autografar para m im ?’, ou ‘O livro foi realm ente im portante e interessante para m im , por causa dessa discussão das probabilidades’”, diz Rubin. “Não sei dizer por que o que m e parece óbvio para um m onte de pessoas parece profundo.”18

O pensam ento probabilístico e os seletores m entais de dois e três aj ustes que nos vêm m ais naturalm ente são com o peixes e aves — criaturas fundam entalm ente diferentes. Am bos repousam em pressupostos diferentes sobre a realidade e com o lidar com ela. E am bos podem parecer inexcedivelm ente estranhos para alguém acostum ado a pensar de outra form a.

No documento Superprevisoes - Dan Gardner.pdf (páginas 118-120)