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Capítulo 4 Dinâmica da agroindústria canavieira em Goiás: expansão e motivos para

5.5 A relação local com a mão de obra

5.5.2 A qualificação interna da mão de obra em Goiás

Após a expansão da agroindústria canavieira em Goiás, os investimentos para preparar a mão de obra avançaram, seguindo um modelo claro em que os trabalhadores acompanham o movimento da atividade produtiva. Esforços com essa finalidade foram empreendidos pelas universidades, pelas escolas técnicas e pelas próprias usinas.

É notável o aumento de trabalhadores com ensino superior na agroindústria canavieira goiana. De 2006 a 2013, enquanto o número total de empregados no setor aumentou em 57,9%, aqueles com ensino superior cresceu 452,8%. Esse não é um movimento exclusivo de Goiás. No país como um todo, a proporção dos trabalhadores com diploma universitário passou de 1,4% em 2006 para 3,2% em 2013. Em São Paulo, a variação, nesse mesmo período, foi de 1,9% para 4,3%. Goiás, entretanto, apresentou uma mudança mais acelerada, passando de 1,3% para 4,4% (BRASIL, 2015).

Da mesma forma como demonstramos no caso da faixa salarial, essa dinâmica de crescimento é heterogênea ao longo dos municípios. Para análise desses dados, dividimos o emprego em três grupos distintos de escolaridade: até o ensino fundamental, incluem-se analfabetos, pessoas com o quinto ano incompleto, quinto ano completo, do sexto ao nono ano do fundamental, fundamental completo e ensino médio incompleto; até o ensino médio, incluem-se pessoas com ensino médio completo e superior incompleto; e superior completo e pós-graduação, que agrupa trabalhadores que concluíram o ensino superior e aqueles que têm título de mestrado e doutorado. A Tabela 5.4 indica o resultado nos principais municípios produtores.

Tabela 5.4. Estado de Goiás: grau de escolaridade dos empregados na agroindústria canavieira, 2006 e 2013, em porcentagem Municípios 2006 2013 Até o Ensino Funda- mental Até o Ensino Médio Ensino Superior e Pós- gra- duação Até o Ensino Funda- mental Até o Ensino Médio Ensino Superior e Pós- gra- duação Anicuns 91,2 7,7 1,0 79,4 16,0 4,6 Caçu 0,0 0,0 0,0 63,5 30,5 6,0 Chapadão do Céu 0,0 0,0 100,0 78,5 17,3 4,2 Edéia 90,0 8,0 2,0 65,2 28,1 6,7 Goianésia 85,7 12,7 1,6 64,5 30,9 4,6 Goiatuba 84,1 14,3 1,6 69,5 26,2 4,3 Inhumas 94,5 4,6 0,9 90,4 8,8 0,8 Itapaci 88,3 10,4 1,2 82,8 15,8 1,4 Itumbiara 88,9 11,1 0,0 68,2 26,1 5,7 Jandaia 90,9 8,7 0,4 71,4 25,1 3,5 Jataí 0,0 0,0 0,0 64,5 29,4 6,1 Maurilândia 96,4 3,2 0,4 79,8 16,7 3,5 Mineiros 95,2 3,2 1,6 54,6 37,6 7,8 Morrinhos 0,0 0,0 0,0 70,0 27,3 2,7 Perolândia 0,0 0,0 0,0 51,6 41,0 7,4 Porteirão 87,1 8,5 4,4 72,8 23,7 3,4 Quirinópolis 79,2 17,8 2,9 60,0 34,1 5,9 Rubiataba 82,2 16,8 1,0 61,1 36,9 2,0

Santa Helena de Goiás 87,0 11,6 1,4 78,1 19,1 2,8

Santo Antônio da Barra 82,5 15,0 2,5 76,7 19,8 3,4

Serranópolis 86,9 12,1 0,9 80,9 16,7 2,4

Turvelândia 91,7 7,4 1,0 68,4 25,4 6,2

Vicentinópolis 94,6 3,7 1,7 71,4 24,6 3,9

Fonte: organizado pelo autor a partir de Brasil (2015b).

Em 2006, à exceção de Quirinópolis, todos os demais municípios apresentavam um volume de empregados cujo grau máximo de formação era o ensino fundamental acima de 80,0% do total. No ano de 2013, a situação muda. Apenas Serranópolis, Itapaci e Inhumas continuaram superando a casa dos 80,0% de empregados com esse grau de escolaridade.

No que concerne ao ensino superior, o aumento é generalizado entre os principais produtores. Nota-se uma correlação entre os municípios com maior percentual de empregados com ensino superior e aqueles que dispõem de trabalhados na faixa salarial acima de 5,0 SM. A exceção é a entrada de Turvelândia na lista dos principais.

A formação desses profissionais atrela-se às melhorias do sistema universitário da região. Nesse processo, a principal força interna está na UFG. A universidade destaca-se no Centro-Oeste pela alta interação com o setor produtivo (ALMEIDA; POVOA, 2011, p. 415).

De seus 298 grupos de pesquisa, um total de 56, o que equivale a 18,8%, relataram ter vínculos ao menos com uma empresa (CNPQ, 2015a).

Na cana-de-açúcar, além do papel desempenhado pela Ridesa, ressaltamos quatro grupos de pesquisa da UFG: nas ciências agrárias – o grupo melhoramento de plantas, que atua na genética e adaptação das culturas – algodão, cana-de-açúcar, milho, soja, arroz e espécies nativas do cerrado – às condições locais, tendo parcerias com usinas canavieiras150; o grupo fitossanidade em soja e cana-de-açúcar em Goiás, que trabalha na análise e no controle de doenças nessas culturas; e o grupo Manejo Integrado de Pragas (MIP), que estuda essa situação nas culturas agrícolas da região; nas ciências biológicas – o grupo biotecnologia de fungos, que trabalha com o melhoramento genético da cana-de-açúcar, fazendo uso de biotecnologia. Fora de Goiás, destacamos o grupo Silício na Agricultura, da UFU, que desenvolve importantes pesquisas sobre o silício nos solos, plantas e fertilizantes, sendo essencial na orientação do uso da vinhaça na cana-de-açúcar (CNPQ, 2015a).

Além da pesquisa, esses grupos têm papel essencial na formação de recursos humanos. É comum uma parceria entre usina e universidade para o desenvolvimento de trabalhos conjuntos que aliam teoria e prática no estudo de alguma questão específica de interesse da usina. Dessa parceria, cria-se um primeiro contato com estudantes de graduação e pós-graduação que pode resultar uma posterior contratação.

Os cursos de Ciências Agrárias da UFG localizam-se em Goiânia e Jataí, estando, assim, próximos das principais regiões produtoras de Goiás. Além dessa universidade, merece destaque a atuação da UEG, embora ainda em estágio inicial, que oferece os cursos de graduação em Tecnologia em Produção Sucroalcooleira nas cidades de Mineiros e Edéia; e em Agronomia em Ipameri e Palmeiras de Goiás.

Fortalece o campo das ciências agrárias, em Goiás, a presença de profissionais da área de ensino e pesquisa que apresentam o grau de doutorado. Na mesorregião do Centro Goiano, onde está a UFG, essa é a terceira área com maior número de professores doutores, tendo, em 2015, um total de 328, o equivalente a 13,2% do total. No Sul Goiano, a área é a primeira com maior número de doutores. Dos 92 presentes nas instituições dessa mesorregião, 39, o que responde por 42,4% do total, estão relacionados às ciências agrárias (CNPQ, 2015b).

Nesse quesito, cabe mencionar também o papel de Brasília. A capital federal agrupa um volume significativo de cientistas com grau de doutorado dedicados ao ensino e à pesquisa na área de ciências agrárias. São 1.114 profissionais, o que representa 24,0% do total em

150 Entre as usinas, destacam-se Jalles Machado, Denusa, Usina Goianésia, Vale do Verdão, Centroálcool, Goiasa,

Brasília em 2015 (CNPQ, 2015b). Fortalecem o papel nessa linha as unidades da Embrapa e a UNB.

Pode-se inferir que a presença desses profissionais em Goiás e, de certa forma, em Brasília é um elemento indutor da pesquisa local. Como coloca Storper (2013, p. 149), embora, eventualmente, cientistas possam participar de redes que extrapolam a área de localização de seus institutos, a tendência é que os resultados que eles produzam sejam locais. Nas ciências agrárias, as vantagens da proximidade com uma agricultura próspera, como a de Goiás, fortalecem a interação face a face com os produtores e o acompanhamento dos projetos, o que acaba por torná-los mais rentáveis. Cabe lembrar que, na condição brasileira, as ciências agrárias aparecem em segundo lugar – atrás apenas das engenharias – entre as áreas cujos grupos de pesquisa têm maiores vínculos com empresas (CNPQ, 2015a).

Paralelamente à qualificação superior, tem sido feito um trabalho de treinamento específico para o setor. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) oferece o curso “Açúcar e Álcool” em Itumbiara. Esse curso foi criado em 2008 por meio de uma parceria com a usina Alvorada, de Araporã (MG), para qualificação dos funcionários da empresa. Atualmente, a duração é de dois anos, sendo 1.200 horas com 400 horas de estágio. Além da Usina Alvorada, o curso criou parcerias com a BP Biocombustíveis, de Itumbiara, e a Goiasa. Entre 2010 e 2014, um total de 122 alunos formaram-se nessa unidade151. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) de Goiás atua na realização de treinamentos específicos para as atividades relacionadas ao setor canavieiro. Por exemplo, operação e manutenção de colhedora de cana-de-açúcar; plantio mecanizado de cana-de-açúcar; e operação e manutenção de sistema de irrigação por aspersão. Esse último tem ganhado destaque com as parcerias com as usinas Jalles Machado, Energética Serranópolis e Cooper-Rubi.

Goiás, avança, portanto, na construção de um segundo procedimento para qualificar sua influência na expansão da agroindústria canavieira: a qualificação da mão de obra técnica, de nível superior e de pós-graduação. Resultados já são possíveis de se encontrar. Entretanto, estão em andamento. Demonstra-se, assim, que a região tem-se adequado para atender o novo perfil dos trabalhadores do setor.

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