• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 4 Dinâmica da agroindústria canavieira em Goiás: expansão e motivos para

5.4 Relação com a pesquisa e o conhecimento

5.4.1 As relações com o Planalsucar e a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento

Os primeiros trabalhos de pesquisas sobre a cana-de-açúcar em Goiás iniciaram-se ainda no período do Planalsucar127. Entre as trinta estações experimentais que o programa tinha espalhado pelo país, uma estava localizada no município de Cristalina, cedida ao programa no início dos anos de 1970 por um produtor de soja da região. Nesse campo, foram feitas algumas

127 As informações sobre o Planalsucar e a Ridesa foram obtidas por meio de entrevistas realizadas no dia 25 de

maio de 2015 com o professor Hermann Paulo Hoffmann, coordenador do Programa de Melhoramento de Cana- de-Açúcar da Ridesa da unidade da USFCar, e com o pesquisador Luís Plinio Zavaglia, da equipe de melhoramento genético da UFScar; e por meio de um questionário respondido pelo professor Américo José dos Santos Reis, coordenador do Programa de Melhoramento de Cana-de-Açúcar da UFG.

das primeiras descobertas sobre as particularidades locais da cana-de-açúcar – a mais significativa refere-se à melhor época de plantio, indicando o mês de março como o mais propício – e análises sobre o comportamento da planta no ambiente de cerrados.

Entretanto, os esforços do Planalsucar estavam voltados para o Nordeste, o Rio de Janeiro e o Centro-Sul de forma mais ampla (RIDESA, 2010, p. 24). Não havia lançamentos de variedades para o cerrado e projetos mais amplos para a região. Os estudos feitos em parceria com o IAC eram uma das atribuições dos pesquisadores da Coordenadoria Regional Sul do Planalsucar (hoje assumida pela UFSCar)128.

Nessa fase inicial de exploração da cultura, eram realizados testes para verificar o desempenho de variedades importadas, como a CP 5122, proveniente da Flórida, Estados Unidos, a CO 740, da Índia, e a NA 5679, da Argentina; e variedades nacionais do IAC, como a IAC 52-150 e a IAC 51-205. Os resultados práticos dessa primeira etapa de ensaios são reduzidos, mas, de certa forma, aproveitados, pelas usinas Santa Helena e Goianésia.

Muitas dessas variedades, no entanto, não se adaptaram à região e logo tiveram problemas com doenças. Inicia-se, assim, no decorrer dos anos de 1980, uma nova fase de testes que indicaram a variedade do Planalsucar RB 72-454 (desenvolvida em Alagoas e liberada por Pernambuco) como a mais adequada para o plantio nos cerrados. À época, novas usinas já estavam instaladas na região, o que permitia maior troca de informações. A RB 72-454 era apropriada para ambientes mais favoráveis, como era o caso da maior parte das usinas de Goiás na época. No entanto, ainda faltava, no programa, uma variedade para ambientes mais restritivos.

Essa meta seria alcançada nos anos de 1990 com a configuração atual da Ridesa. O centro de pesquisa teve uma vantagem inicial na expansão da cana-de-açúcar para os cerrados, visto que seu programa de melhoramento genético estava espalhado pelo país. Esse modelo permitiu levar para a região não apenas variedades desenvolvidas para o ambiente de São Paulo (como era o caso da Copersucar e do IAC), mas também aquelas que já haviam prosperado em outras condições edafoclimáticas do país, como as do Nordeste e de Minas Gerais.

Embora a Ridesa funcione de forma descentralizada, como uma rede de universidades federais, no campo organizacional, o trabalho em Goiás era comandado pela equipe da UFSCar. O contato era feito com seis usinas: Jalles Machado, Denusa, Anicuns Açúcar Álcool, Goiasa, Santa Helena e Vale do Verdão.

128 Antonio Ismael Bassinello e Antonio Lazzarini Segalla foram dois expoentes do trabalho da cana-de-açúcar

Desse estudo, há um evento central para a expansão da cana-de-açúcar na região: o desempenho da RB 86-7515, lançada pela equipe da UFV. Esses resultados vieram à tona no final de 1990. A variedade trouxe ganhos próximos de 20% em relação às tradicionais; ampliava o número de cortes antes da renovação do canavial e, sobretudo, permitiria a expansão para ambientes mais restritivos, onde a cana tinha maiores vantagens para competir com os grãos129. Essa variedade, em pouco tempo, se tornaria a mais plantada em Goiás e no país, de uma forma geral.

Em 2004, a UFG seria incluída na rede de universidades federais da Ridesa. Com isso, aos poucos, o papel que a UFSCar exercia na região seria praticamente todo transferido para Goiás. Essa mudança trouxe novos parâmetros. Um primeiro foi incluir a região em um trabalho próprio de melhoramento genético conduzido internamente pela equipe da UFG.

Percebia-se a necessidade desse trabalho. Variedades antigas da Ridesa, de melhor desempenho na primeira fase de expansão, como a RB 86-7515 – que, em 2012, chegou a ocupar 24,0% da área total plantada em Goiás (CTC, 2012, p. 16) – e a RB 72-454130, comportavam a mecanização com dificuldades, pois tinham perfilhamento próprio para corte e plantio manual. Variedades novas, criadas em outras áreas, tinham bom desempenho, mas ainda assim apresentam limitações131.

Era dada à UFG a mesma atribuição das demais universidades. A criação de novas variedades da Ridesa inicia-se com a obtenção de sementes no banco de germoplasma na estação de Murici, em Alagoas. Em seguida, cada uma das universidades recebe as sementes para germinação e formação de seedlings. Nelas, são feitas as etapas de testes (T1, T2 e T3); depois o material é levado para as usinas parceiras para a competição de clones e aqueles de melhor desempenho voltam às universidades para a realização dos ensaios finais. O tempo para concluir o trabalho varia entre 12 e 15 anos, o que garante a projeção de uma variedade lançada pela UFG para final de 2015 ou no próximo ano.

Além de conduzir o lançamento de uma variedade própria, coube à UFG a responsabilidade por acompanhar os testes das variedades RB desenvolvidas em outras regiões, otimizando o trabalho por conta da maior proximidade de Goiânia com os produtores locais.

129 Essa vantagem ocorre pela questão climática nas regiões de baixa altitude, onde o estresse hídrico é mais

acentuado e as chuvas de verão são incertas, o que muitas vezes prejudica o cultivo de culturas de ciclo curto, como a soja. A cana-de-açúcar, por outro lado, tem maior resistência ao déficit hídrico, caso as precipitações atrasem. Essa vantagem faz com que os proprietários de terra se interessem pela produção de cana para as usinas.

130 Essa variedade deixaria de ser plantada a partir de 2010 devido à ferrugem alaranjada.

131 Um exemplo recente é a RB 96-6928, que está ganhando campo em Goiás, mas que é indicada apenas para

Até então, esses estudos revelaram as seguintes variedades que melhor se adaptam à região: a RB 96-6928, desenvolvida pela UFPR; a RB 92-579 e a RB 98-710, da UFAL; a RB 96-5902 e a RB 93-5744, da UFSCar; e a RB 93-509, da UFV.

Os estudos de variedades da Ridesa são feitos em parceria com 14 usinas da região132: Goiasa, Boa Vista, São Francisco, Vale do Verdão, Nardini Agroindustrial133, Denusa, Raízen, Jalles Machado, Cooper-Rubi, Centroálcool, a unidade de Edéia da BP Biocombustíveis e as três unidades da Odebrecht Agroindustrial. Nessas unidades estão os centros de experimentações onde é analisado o desempenho dos clones.

A cana-de-açúcar em Goiás reproduz a mesma lógica do país como um todo em que as variedades da Ridesa são as mais usadas. A Tabela 5.2, realizada com base na intenção de plantio dos produtores do cerrado134 para a safra de 2015/2016, ilustra a situação mais recente dessa vantagem.

Tabela 5.2. Região de cerrados: intenção de plantio de variedades no ano de 2015, em área plantada

Posição Variedade Programa Intenção de Plantio em 2015 1 RB 86-7515 Ridesa 15,72% 2 CTC 4 CTC 10,18% 3 RB 96-6928 Ridesa 9,64% 4 RB 92-579 Ridesa 7,93% 5 IAC 95-5000 IAC 7,25% 6 RB 85-5453 Ridesa 5,53% 7 IAC 91-1099 IAC 5,27% 8 SP 80-1816* CTC 4,27% 9 RB 85-5536 Ridesa 3,44% 10 RB 85-5156 Ridesa 2,55% 11 CTC 15 CTC 2,38% 12 RB 96-5902 Ridesa 1,98% 13 RB 97-5201 Ridesa 1,96% 14 SP 83-5073* CTC 1,87% 15 CTC 2 CTC 1,77% Fonte: IAC (2014).

* As variedades SP pertencem ao programa da Copersucar. Atualmente o CTC responde por essas variedades.

132 Além das usinas locais, cabe destacar a parceria da UFG com a Bunge no Tocantins, onde também são

realizados experimentos.

133 A usina Nardini não foi contabilizada em nossa análise por não constar nos Anuários da Cana entre aquelas que

estão em operação em Goiás.

134 A tabela foi baseada em dados levantados pela reunião do Grupo Fitotécnico do dia 18 de novembro de 2014.

No caso, o agrupamento refere-se às regiões de cerrado que, além de Goiás, incluem Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Tocantins. No total, foram analisados 118.390 ha na região. Entretanto, dado o maior número de parcerias com usinas de Goiás, os dados da tabela podem não ser iguais, mas são próximos dos dados desse Estado.

As variedades da Ridesa respondem por 50,4% da área na atual intenção de plantio nas regiões de cerrados. A RB 86-7515 continua como a principal, com 15,7% do total da região e 31,2% do total das variedades RB. No entanto, há que se destacar que esse percentual vem-se reduzindo ano a ano. A segunda variedade a ocupar mais área é a RB 96-6928, com 9,6% do total, seguida pela RB 92-579, com 7,93%.

Diferentemente do IAC e do CTC, que, como demonstraremos mais adiante, têm uma atuação conjunta na área de melhoramento genético e manejo da cana-de-açúcar, a Ridesa concentra suas ações no primeiro. Existe orientação de manejo como a melhor época de plantio e colheita, mas não é a prioridade do grupo.

Ao internalizar as atividades de adaptação de cultivares e de melhoramento genético, a Ridesa levou para Goiás competência para conduzir as atividades de adaptação e melhoramento genético. Procedimento, esse, que contribui de forma central para que novas tecnologias sejam levadas ao Estado goiano e cria um parâmetro de interferência direta da região na técnica de cultivo da cana-de-açúcar.

Outline

Documentos relacionados