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Capítulo 4 Dinâmica da agroindústria canavieira em Goiás: expansão e motivos para

4.3 A agroindústria canavieira em Goiás: a divisão entre duas fases de expansão

4.3.1 A primeira fase de expansão

Goiás vivenciou uma fase inicial de expansão da agroindústria canavieira entre 1979 e 1991 induzida pelos efeitos do primeiro e segundo Proálcool. Esse foi um momento de crescimento lento e menos dinâmico, mas importante no âmbito regional.

De início, ressalvamos que, antes da primeira fase, houve alguns pequenos empreendimentos canavieiros na região. O primeiro foi a Usina Central Sul Goiana, no município de Santa Helena de Goiás, até então pertencente a Rio Verde. A iniciativa foi tomada pelo órgão do Estado Fundação Brasil Central (FBC), criado em 1943, como parte das metas que moviam a Marcha para o Oeste82. Essa usina “constituiu-se no mais vultoso e sofisticado empreendimento da FBC. Com capacidade para a produção de 40 mil sacas de açúcar e também 40 mil litros de álcool por ano, a fim de abastecer destes produtos as regiões sul-sudoeste de Goiás e leste de Mato Grosso, entrou em funcionamento em meados de 1945” (MACIEL, 2011, p. 8). Entretanto, pouco tempo depois, a usina enfrentaria problemas financeiros, tendo, inclusive suas operações paralisadas em meados da década de 1950. Uma nova etapa iniciou- se apenas em 1964, quando a usina foi adquirida pelo Grupo Naoum, de capital local sediado em Anápolis. Grupo, esse, que mantém o controle até os dias atuais (FRANCO, 2014, p. 73).

Até o momento que antecede o Proálcool, pouco mudaria na agroindústria canavieira em Goiás. Apenas a usina Goianésia, localizada na cidade de mesmo nome, daria início às suas operações, no ano de 1968. Justifica-se, assim, começarmos a primeira etapa de expansão com os efeitos do Proálcool.

Nesse contexto, embora os projetos tenham priorizado São Paulo, houve tentativas de combinar o estímulo ao etanol com uma política de desenvolvimento regional. Fora do Sudeste, que responde por 60,1% dos projetos enquadrados no total do país e 54,7% do financiamento até 1986, a principal região foi o Nordeste, com 19,3% dos projetos e 21,5% do financiamento. O Centro-Oeste ficou em terceiro, com 12,2% dos projetos e 13,9% do financiamento (MAGALHÃES; KUPERMAN; MACHADO, 1991, p. 143).

Ainda que pouco representativo no quadro nacional, esse foi um momento que alguns empresários viram como oportuno para a construção de novas destilarias em Goiás. A pioneira é a usina Jalles Machado, controlada pelo grupo local Otávio Lage, que inicia as

82 Waibel (1947) relata a construção de um engenho para a produção de açúcar e álcool junto à CANG, fundada

em 1941. Esse, segundo o autor, foi “construído com as peças de um engenho de Sergipe, velho e em péssimo estado de conservação, que o Instituto do Açúcar e do Álcool desmontou e enviou para Colônia Agrícola” (WAIBEL, 1974, p. 332). Caberia um estudo mais detalhado sobre os desdobramentos desse engenho. Frisamos apenas que, quando colocamos a usina da FBC como a primeira, nos referimos às usinas que recortamos para análise (ver Quadro 2 do anexo).

operações em 1979 – trataremos dela em detalhes no último capítulo. No ano seguinte, iniciaram-se as operações da usina Vale do Verdão, em Turvelândia, encabeçada pelo grupo Agromen, de Orlândia (SP), ligado ao empresário José Ribeiro de Mendonça. “Este grupo nacional e familiar tem suas atividades ligadas, principalmente, ao setor de produção de sementes de milho, com uma política de diversificação em vários segmentos produtivos do setor rural” (LUNAS, 2010, p. 139).

Essas duas usinas, desde a instalação, teriam forte protagonismo no cenário regional. Mas, além delas, merecem destaque a usina Goálcool, iniciada em 1980 em Serranópolis, como um empreendimento da Companhia Rural Araçatuba (CRA); a usina Denusa, de 1982, localizada no município de Jandaia, pertencente ao Grupo JB, de Brasília; a usina Anicuns S/A Álcool e Derivados, iniciada em 1985, no município de Anicuns, controlada pelo Grupo Farias, de Pernambuco; e a usina Goiasa, iniciada em 1986 e concluída em 1991 no município de Goiatuba, por iniciativa do grupo paulista do ramo de construção civil Construcap.

Todas as usinas que iniciaram a operação na primeira fase de expansão da agroindústria canavieira em Goiás começaram apenas na produção de etanol83. Com a queda no mercado desse biocombustível, iniciada em 1990, essas usinas tomaram rumos distintos. A Jalles Machado, a Vale do Verdão e a Goiasa diversificaram suas operações, respectivamente, em 1993, 1992 e 1996, com a inclusão do segmento de açúcar. A Denusa optou por se manter apenas na área de etanol. A Goálcool encerrou as atividades no ano de 1997, retomando-as apenas em 2005, com um novo controle do Grupo Ipojuca, de Pernambuco84.

Com os investimentos em três das principais usinas do Estado no segmento de açúcar – junto à continuidade da produção açucareira na usina Santa Helena – e a crise na produção de etanol, tem-se uma inversão no uso da cana-de-açúcar em Goiás85. Enquanto, na década de 1980, a instalação de usinas foi conduzida pelo biocombustível, nos anos de 1990, o açúcar foi o produto que cresceu de forma mais acentuada.

Mesmo puxada pelo mercado açucareiro, a agroindústria canavieira em Goiás enfrentou um momento de baixo crescimento nos anos de 1990 e início de 200086. A produção de açúcar sofria com a deficiência logística, que encarecia o deslocamento para os portos.

83 As chamadas destilarias autônomas eram uma das estratégias da segunda fase do Proálcool. Nessas usinas, a

produção do etanol era realizada tanto a partir do melaço quanto do caldo da cana-de-açúcar. Esse sistema permitia a ampliação da produção para atender a demanda dos veículos a etanol (CERQUEIRA LEITE et al, 2007, p. 2).

84 No capítulo 6 fazemos um estudo mais aprofundado das usinas Goiasa, Denusa e Jalles Machado.

85 A Tabela 2 dos anexos ilustra a situação das usinas da primeira fase de expansão ao longo dos anos de 1990.

86 Essa afirmação não é válida para as regiões de cerrado como um todo. O Triângulo Mineiro e o Mato Grosso do

Sul tiveram aumentos representativos na produção canavieira em finais da década de 1990 e início da década de 2000.

Ademais, na época, os esforços voltados para a agricultura estavam na sojicultura, como visto anteriormente. O fraco desempenho fica nítido, se levarmos em conta que, desde a instalação da Goiasa até o ano de 2005, apenas duas novas usinas foram criadas em Goiás. Uma, em 1998, comandada pelo Grupo Farias, de Pernambuco, implantou uma unidade em Itapaci. Em 2004, um novo grupo de origem do Nordeste, Grupo Japungu da Paraíba, constrói a usina CRV em Carmo do Rio Verde.

A situação do setor, entretanto, muda fortemente a partir de então. Como observou Castro (2010, p. 175), regiões do Centro-Oeste que se mostraram pouco aptas para a cana-de- açúcar se tornaram o alvo principal do setor no ciclo de expansão que se formou nos anos de 2000. Iniciava-se uma nova fase de expansão da agroindústria canavieira com intensidade bastante distinta.

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