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Apêndice II – Formulário para as empresas

Mapa 5.4 Estado de Goiás: emprego na cana-de-açúcar e nas usinas, 2013

Fonte: elaboração própria a partir de Brasil (2015b).

Os pontos de destaque no mapa são Goianésia e Quirinópolis, onde existe maior concentração de usinas com grande capacidade de moagem. Juntos, os dois municípios representam 24,9% do emprego nas usinas de Goiás. Na sequência, os municípios com maior destaque (empregos acima de 2 mil na usina) são: Anicuns, Itapaci, Caçu, Inhumas, Jataí, Santa Helena de Goiás, Itumbiara e Chapadão do Céu. Demonstra-se, assim, a maior geração de empregos de forma mais espraiada pela região, com importante participação de municípios pequenos do interior.

O crescimento da agroindústria canavieira, em Goiás, ocorre em um momento em que a conjuntura do setor exigia empregados com maior qualificação. A mecanização trouxe uma mudança no perfil dos trabalhadores. Criaram-se “oportunidades para tratoristas, motoristas, mecânicos, condutores de colheitadeiras, técnicos em eletrônica, dentre outros, e reduz, em maior proporção, a demanda dos empregados de baixa escolaridade” (MORAES, 2007, p. 610). Paralelamente, necessitava-se de profissionais com um grau de especialização técnica na área de caldeiras, soldagem e manutenção.

O trabalho de acompanhamento da cana-de-açúcar aumentou a procura por pessoas para a gerência, coordenação e planejamento da fase agrícola. Os responsáveis por esse serviço precisavam estar aptos a absorver o conhecimento nas interações com os centros de pesquisa, buscar as novas tecnologias disponíveis para o setor e adaptá-las às condições locais.

Um fenômeno que ilustra o crescimento da mão de obra qualificada está no aumento do número de trabalhadores com salários maiores. Para essa análise, fazemos um primeiro agrupamento dos dados de emprego obtidos na Rais em quatro faixas de salários mínimos (SM): de 0,5 a 2,0 SM; de 2,0 a 5,0 SM; de 5,0 a 10,0 SM e mais de 10 SM147. Importante lembrar que o SM teve um ganho real – acima da inflação – no período analisado.

A agroindústria canavieira, em Goiás, no ano de 2006, contou com cerca de 24,3 mil trabalhadores na faixa salarial de 0,5 a 2,0 SM, que representaram 51,5% do total; na faixa de 2,0 a 5,0 SM havia um total de 20,2 mil trabalhadores, o equivalente a 42,7% da região; na faixa entre 5,0 e 10,0 SM estavam 1,0 mil empregados, apenas 2,2% da região; na faixa com mais de 10 SM havia 1,6 mil empregados, totalizando 3,6%. Em 2013, a situação foi a seguinte: a faixa entre 0,5 a 2,0 SM tem um aumento para 26,6 mil trabalhadores, mas reduz-se para 35,5% da região; a faixa entre 2,0 e 5,0 foi a que mais aumentou, passando para 41,8 mil empregados e 55,8% do emprego total; a classe entre 5,0 e 10,0 SM aumenta para 4,2 mil empregados, o equivalente a 5,6% da região; a faixa com mais de 10 SM sobe para 2,3 mil, mas tem uma pequena redução percentual, chegando a 3,0% do emprego total (BRASIL, 2015b).

No panorama nacional, a situação do emprego em Goiás está dentro do padrão de São Paulo, Minas Geais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A intensidade dessa proporção, entretanto, varia nos municípios, refletindo distintos graus de comprometimento das usinas em relação à forma como direcionam recursos para atração de mão de obra. Essa questão está apresentada na Tabela 5.3148.

147 Uma parte pequena dos trabalhadores estão inseridos na classe cujos salários não foram classificados. Essa

classe foi excluída da análise. Assim, é natural que o percentual obtido pelo somatório das quatro faixas salariais fique próximo, mas não atinja 100%.

148 A tabela, assim como as informações anteriores, remente à divisão por salários do valor obtido com o somatório

das classes cultivo de cana-de-açúcar, fabricação de açúcar em bruto, fabricação de açúcar refinado e fabricação de álcool. Em relação aos municípios incluímos na análise apenas aqueles que, em 2013, apresentaram um valor superior a 1.000 empregados.

Tabela 5.3. Estado de Goiás: divisão do emprego na agroindústria canavieira por faixas de salários nos principais municípios produtores, 2006 e 2013, em porcentagem

Municípios 2006 2013 0,5 a 2,0 2,0 a 5,0 5,0 a 10,0 Mais de 10 0,5 a 2,0 2,0 a 5,0 5,0 a 10,0 Mais de 10 Anicuns 59,5 35,5 2,3 0,7 44,1 48,4 3,4 1,7 Caçu 0,0 0,0 0,0 0,0 25,4 59,0 12,0 3,3 Chapadão do Céu 0,0 100,0 0,0 0,0 8,6 80,6 7,6 2,3 Edéia 55,9 38,8 2,0 1,3 12,9 76,3 7,0 3,3 Goianésia 51,9 42,3 1,7 0,9 35,7 58,2 3,0 1,6 Goiatuba 44,1 49,8 4,2 1,3 38,9 52,0 6,1 1,5 Inhumas 57,3 38,4 1,9 0,8 56,8 39,1 1,5 0,6 Itapaci 59,9 34,4 1,3 0,8 53,4 42,7 2,0 0,5 Itumbiara 100,0 0,0 0,0 0,0 32,0 56,5 7,3 3,6 Jandaia 55,0 41,8 1,7 0,3 41,3 49,6 5,0 1,8 Jataí 0,0 0,0 0,0 0,0 30,5 56,8 9,7 2,1 Maurilândia 53,8 39,1 1,4 0,3 38,9 53,8 5,9 0,3 Mineiros 29,0 71,0 0,0 0,0 25,3 57,8 11,9 4,1 Morrinhos 0,0 0,0 0,0 0,0 25,4 69,5 3,3 1,0 Perolândia 0,0 0,0 0,0 0,0 23,4 60,1 12,9 3,2 Porteirão 68,1 26,2 3,2 0,6 29,9 61,9 6,9 0,6 Quirinópolis 52,5 37,8 2,9 1,2 22,0 65,3 8,6 2,8 Rubiataba 51,3 46,2 1,2 0,2 43,9 51,6 1,5 0,4

Santa Helena de Goiás 33,7 58,7 2,6 1,0 53,5 41,5 3,0 0,5

Santo Antônio da Barra 45,0 37,5 17,5 0,0 43,4 52,6 3,0 0,9

Serranópolis 33,9 55,3 6,2 3,4 49,8 44,2 4,3 1,1

Turvelândia 45,1 49,8 2,5 0,9 30,5 62,5 5,3 0,9

Vicentinópolis 81,5 13,5 1,3 0,7 28,3 66,8 3,3 1,0

Fonte: organizado pelo autor a partir de Brasil (2015b).

A maior parte das usinas da primeira fase de expansão mantinha a faixa salarial concentrada até 5,0 SM. Entre os maiores produtores149, apenas Goiatuba, Turvelândia, Santa Helena de Goiás e Quirinópolis passaram de 3,0% dos empregados acima dessa faixa salarial. Em geral, esse número representa uma primeira tentativa das usinas de trazer trabalhadores mais qualificados de São Paulo, o que exigia maiores gastos com salários. O início de projetos de mecanização foi um impulso para essa busca, considerando-se que havia poucos operários com capacidade para manobrar as colhedoras em Goiás. Além da fase produtiva, cargos de gerência e administração muitas vezes eram realizados por mão de obra externa, vindos para a região como uma “migração descendente”.

149 Há que se ter um cuidado na leitura desses dados, pois, em 2006, alguns dos municípios ainda não apresentavam

usinas, mas havia alguns poucos trabalhadores atrelados ao cultivo da cana-de-açúcar. Assim, para esse ano, alguns dos dados percentuais ficaram distorcidos pelo pequeno número de empregos. Esse é o caso de Santo Antônio da Barra, Porteirão, Chapadão do Céu, Mineiros, Itumbiara e Vicentinópolis.

Adotar essa estratégia, entretanto, acarretava dispêndios para as usinas. Era comum o problema da adaptação aos modos de vida do interior de Goiás. As pequenas cidades da região não forneciam serviços locais atrativos para reter essas pessoas. Poucos criavam laços com o local, deixando-o assim que outras oportunidades surgiam. Isso aumentava a rotatividade do trabalho, prejudicando a continuidade de projetos. Ademais, em alguns casos, a qualificação do trabalhador estava atrelada ao conhecimento das condições de produção de São Paulo. Ou seja, era necessário prepará-lo para a nova realidade, algo nem sempre fácil de ser feito. Via-se que muitas vezes era mais simples criar, desde o início, um trabalhador qualificado para as condições de Goiás do que adaptar empregados de fora.

Com a segunda fase de expansão, a busca por mão de obra qualificada aumenta. Torna-se residual o número de usinas cujo quadro de empregados na faixa acima de 5,0 SM não superou ao menos 3,0% do total. Em 2013, apenas três municípios (Itapaci, Inhumas e Rubiataba) estavam nessa situação. Por outro lado, em sete ocasiões os trabalhadores acima da faixa de 5,0 SM superavam 10,0% do total: Perolândia, Mineiros e Caçu, onde estão as plantas da Odebrecht; Jataí e Quirinópolis, onde estão tradicionais grupos paulistas; e Itumbiara e Edéia, onde estão as plantas da BP Biocombustíveis. O fenômeno ilustra a entrada, em Goiás, de novos atores, com maior potencial financeiro, dispostos a oferecer maiores salários para a contratação de empregados.

De início, as novas usinas atuaram em duas frentes para obter mão de obra qualificada: trazer trabalhadores de São Paulo e contratar aqueles que se destacaram nas usinas da primeira fase de expansão. Essas medidas, no entanto, não eram sustentáveis para um crescimento nas dimensões que Goiás presenciou. Caso fosse feito apenas dessa forma, o peso do salário desses profissionais passaria a afetar o orçamento das usinas, reduzindo a rentabilidade dos investimentos na região. Era necessário tornar a mão de obra local apta aos serviços da agroindústria canavieira.

Para as usinas, isso era algo conveniente: o investimento permitia a formação de trabalhadores preparados para as condições de produção em Goiás; os vínculos desses empregados com a região eram maiores; o aumento da oferta local teria uma pressão para reduzir os salários; e a mão de obra com conhecimento sobre a região se ampliava, diminuindo a dependência. Pelo lado da população, o trabalho nas usinas, em muitos casos, gerava remuneração superior à das atividades econômicas previamente instaladas. Pelo lado do governo e das prefeituras, observou-se que esse era um passo central para a região. Decorre um esforço interno de qualificação da mão de obra. Proceder dessa forma não apenas daria suporte ao crescimento já obtido, mas seria essencial para possibilitar a evolução do setor.

5.5.2 A qualificação interna da mão de obra em Goiás

Após a expansão da agroindústria canavieira em Goiás, os investimentos para preparar a mão de obra avançaram, seguindo um modelo claro em que os trabalhadores acompanham o movimento da atividade produtiva. Esforços com essa finalidade foram empreendidos pelas universidades, pelas escolas técnicas e pelas próprias usinas.

É notável o aumento de trabalhadores com ensino superior na agroindústria canavieira goiana. De 2006 a 2013, enquanto o número total de empregados no setor aumentou em 57,9%, aqueles com ensino superior cresceu 452,8%. Esse não é um movimento exclusivo de Goiás. No país como um todo, a proporção dos trabalhadores com diploma universitário passou de 1,4% em 2006 para 3,2% em 2013. Em São Paulo, a variação, nesse mesmo período, foi de 1,9% para 4,3%. Goiás, entretanto, apresentou uma mudança mais acelerada, passando de 1,3% para 4,4% (BRASIL, 2015).

Da mesma forma como demonstramos no caso da faixa salarial, essa dinâmica de crescimento é heterogênea ao longo dos municípios. Para análise desses dados, dividimos o emprego em três grupos distintos de escolaridade: até o ensino fundamental, incluem-se analfabetos, pessoas com o quinto ano incompleto, quinto ano completo, do sexto ao nono ano do fundamental, fundamental completo e ensino médio incompleto; até o ensino médio, incluem-se pessoas com ensino médio completo e superior incompleto; e superior completo e pós-graduação, que agrupa trabalhadores que concluíram o ensino superior e aqueles que têm título de mestrado e doutorado. A Tabela 5.4 indica o resultado nos principais municípios produtores.

Tabela 5.4. Estado de Goiás: grau de escolaridade dos empregados na agroindústria canavieira, 2006 e 2013, em porcentagem Municípios 2006 2013 Até o Ensino Funda- mental Até o Ensino Médio Ensino Superior e Pós- gra- duação Até o Ensino Funda- mental Até o Ensino Médio Ensino Superior e Pós- gra- duação Anicuns 91,2 7,7 1,0 79,4 16,0 4,6 Caçu 0,0 0,0 0,0 63,5 30,5 6,0 Chapadão do Céu 0,0 0,0 100,0 78,5 17,3 4,2 Edéia 90,0 8,0 2,0 65,2 28,1 6,7 Goianésia 85,7 12,7 1,6 64,5 30,9 4,6 Goiatuba 84,1 14,3 1,6 69,5 26,2 4,3 Inhumas 94,5 4,6 0,9 90,4 8,8 0,8 Itapaci 88,3 10,4 1,2 82,8 15,8 1,4 Itumbiara 88,9 11,1 0,0 68,2 26,1 5,7 Jandaia 90,9 8,7 0,4 71,4 25,1 3,5 Jataí 0,0 0,0 0,0 64,5 29,4 6,1 Maurilândia 96,4 3,2 0,4 79,8 16,7 3,5 Mineiros 95,2 3,2 1,6 54,6 37,6 7,8 Morrinhos 0,0 0,0 0,0 70,0 27,3 2,7 Perolândia 0,0 0,0 0,0 51,6 41,0 7,4 Porteirão 87,1 8,5 4,4 72,8 23,7 3,4 Quirinópolis 79,2 17,8 2,9 60,0 34,1 5,9 Rubiataba 82,2 16,8 1,0 61,1 36,9 2,0

Santa Helena de Goiás 87,0 11,6 1,4 78,1 19,1 2,8

Santo Antônio da Barra 82,5 15,0 2,5 76,7 19,8 3,4

Serranópolis 86,9 12,1 0,9 80,9 16,7 2,4

Turvelândia 91,7 7,4 1,0 68,4 25,4 6,2

Vicentinópolis 94,6 3,7 1,7 71,4 24,6 3,9

Fonte: organizado pelo autor a partir de Brasil (2015b).

Em 2006, à exceção de Quirinópolis, todos os demais municípios apresentavam um volume de empregados cujo grau máximo de formação era o ensino fundamental acima de 80,0% do total. No ano de 2013, a situação muda. Apenas Serranópolis, Itapaci e Inhumas continuaram superando a casa dos 80,0% de empregados com esse grau de escolaridade.

No que concerne ao ensino superior, o aumento é generalizado entre os principais produtores. Nota-se uma correlação entre os municípios com maior percentual de empregados com ensino superior e aqueles que dispõem de trabalhados na faixa salarial acima de 5,0 SM. A exceção é a entrada de Turvelândia na lista dos principais.

A formação desses profissionais atrela-se às melhorias do sistema universitário da região. Nesse processo, a principal força interna está na UFG. A universidade destaca-se no Centro-Oeste pela alta interação com o setor produtivo (ALMEIDA; POVOA, 2011, p. 415).

De seus 298 grupos de pesquisa, um total de 56, o que equivale a 18,8%, relataram ter vínculos ao menos com uma empresa (CNPQ, 2015a).

Na cana-de-açúcar, além do papel desempenhado pela Ridesa, ressaltamos quatro grupos de pesquisa da UFG: nas ciências agrárias – o grupo melhoramento de plantas, que atua na genética e adaptação das culturas – algodão, cana-de-açúcar, milho, soja, arroz e espécies nativas do cerrado – às condições locais, tendo parcerias com usinas canavieiras150; o grupo fitossanidade em soja e cana-de-açúcar em Goiás, que trabalha na análise e no controle de doenças nessas culturas; e o grupo Manejo Integrado de Pragas (MIP), que estuda essa situação nas culturas agrícolas da região; nas ciências biológicas – o grupo biotecnologia de fungos, que trabalha com o melhoramento genético da cana-de-açúcar, fazendo uso de biotecnologia. Fora de Goiás, destacamos o grupo Silício na Agricultura, da UFU, que desenvolve importantes pesquisas sobre o silício nos solos, plantas e fertilizantes, sendo essencial na orientação do uso da vinhaça na cana-de-açúcar (CNPQ, 2015a).

Além da pesquisa, esses grupos têm papel essencial na formação de recursos humanos. É comum uma parceria entre usina e universidade para o desenvolvimento de trabalhos conjuntos que aliam teoria e prática no estudo de alguma questão específica de interesse da usina. Dessa parceria, cria-se um primeiro contato com estudantes de graduação e pós-graduação que pode resultar uma posterior contratação.

Os cursos de Ciências Agrárias da UFG localizam-se em Goiânia e Jataí, estando, assim, próximos das principais regiões produtoras de Goiás. Além dessa universidade, merece destaque a atuação da UEG, embora ainda em estágio inicial, que oferece os cursos de graduação em Tecnologia em Produção Sucroalcooleira nas cidades de Mineiros e Edéia; e em Agronomia em Ipameri e Palmeiras de Goiás.

Fortalece o campo das ciências agrárias, em Goiás, a presença de profissionais da área de ensino e pesquisa que apresentam o grau de doutorado. Na mesorregião do Centro Goiano, onde está a UFG, essa é a terceira área com maior número de professores doutores, tendo, em 2015, um total de 328, o equivalente a 13,2% do total. No Sul Goiano, a área é a primeira com maior número de doutores. Dos 92 presentes nas instituições dessa mesorregião, 39, o que responde por 42,4% do total, estão relacionados às ciências agrárias (CNPQ, 2015b).

Nesse quesito, cabe mencionar também o papel de Brasília. A capital federal agrupa um volume significativo de cientistas com grau de doutorado dedicados ao ensino e à pesquisa na área de ciências agrárias. São 1.114 profissionais, o que representa 24,0% do total em

150 Entre as usinas, destacam-se Jalles Machado, Denusa, Usina Goianésia, Vale do Verdão, Centroálcool, Goiasa,

Brasília em 2015 (CNPQ, 2015b). Fortalecem o papel nessa linha as unidades da Embrapa e a UNB.

Pode-se inferir que a presença desses profissionais em Goiás e, de certa forma, em Brasília é um elemento indutor da pesquisa local. Como coloca Storper (2013, p. 149), embora, eventualmente, cientistas possam participar de redes que extrapolam a área de localização de seus institutos, a tendência é que os resultados que eles produzam sejam locais. Nas ciências agrárias, as vantagens da proximidade com uma agricultura próspera, como a de Goiás, fortalecem a interação face a face com os produtores e o acompanhamento dos projetos, o que acaba por torná-los mais rentáveis. Cabe lembrar que, na condição brasileira, as ciências agrárias aparecem em segundo lugar – atrás apenas das engenharias – entre as áreas cujos grupos de pesquisa têm maiores vínculos com empresas (CNPQ, 2015a).

Paralelamente à qualificação superior, tem sido feito um trabalho de treinamento específico para o setor. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) oferece o curso “Açúcar e Álcool” em Itumbiara. Esse curso foi criado em 2008 por meio de uma parceria com a usina Alvorada, de Araporã (MG), para qualificação dos funcionários da empresa. Atualmente, a duração é de dois anos, sendo 1.200 horas com 400 horas de estágio. Além da Usina Alvorada, o curso criou parcerias com a BP Biocombustíveis, de Itumbiara, e a Goiasa. Entre 2010 e 2014, um total de 122 alunos formaram-se nessa unidade151. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) de Goiás atua na realização de treinamentos específicos para as atividades relacionadas ao setor canavieiro. Por exemplo, operação e manutenção de colhedora de cana-de-açúcar; plantio mecanizado de cana-de-açúcar; e operação e manutenção de sistema de irrigação por aspersão. Esse último tem ganhado destaque com as parcerias com as usinas Jalles Machado, Energética Serranópolis e Cooper-Rubi.

Goiás, avança, portanto, na construção de um segundo procedimento para qualificar sua influência na expansão da agroindústria canavieira: a qualificação da mão de obra técnica, de nível superior e de pós-graduação. Resultados já são possíveis de se encontrar. Entretanto, estão em andamento. Demonstra-se, assim, que a região tem-se adequado para atender o novo perfil dos trabalhadores do setor.

5.5.3 A dimensão endógena na qualificação da mão de obra

A relação com a mão de obra é entendida como uma configuração em que o aumento no número de empregos – acompanhando o aumento no vínculo produtivo do nível 4

do SAG – eleva a exigência por qualificação, mas a região ainda não está pronta para fornecer trabalhadores qualificados ao setor. Esse é um processo que está se construindo, tendo um elevado progresso nos últimos anos. A tendência é uma melhora do quadro nos próximos anos com o amadurecimento dos cursos espalhados pelo interior do Estado.

A qualificação da mão de obra, sobretudo nas universidades, e a formação de pessoas aptas para o trabalho nas usinas têm peso central na inovação da agroindústria canavieira. Os recursos humanos criados internamente estão familiarizados com as necessidades e as técnicas agrícolas específicas para a região. Eles são formados nessa condição, conhecendo os ganhos que as pesquisas trouxeram para o setor produtivo. Como efeito, acabam por levar para as usinas uma cultura progressista que estimula parcerias com o IAC, o CTC e a Ridesa.

Esse procedimento difunde-se pela região na medida em que existe uma mobilidade dessa mão de obra. Um trabalho bem-sucedido em uma usina pode render frutos que fazem com que outras busquem esses empregados, os quais, em geral, levam consigo as parcerias e o trabalho de inovação. Um exemplo foi a busca pela contratação, por parte das novas usinas, de mão de obra qualificada da Jalles Machado.

Desse processo, cria-se uma segunda dimensão endógena da agroindústria canavieira cujo efeito final vai-se manifestar localmente nas usinas, mas sua geração faz parte de um esforço conjunto da região com os investimentos, sobretudo do Estado, tanto na esfera federal quanto na estadual, nas áreas de ensino e pesquisa.

Finalizamos, portanto, a análise das duas dimensões endógenas que interferem na expansão da agroindústria canavieira. Na parte final do estudo, olhamos, em uma perspectiva microeconômica, como e por que essas duas dimensões se manifestam em cinco usinas de Goiás junto ao trabalho feito para aprimorar a técnica de cultivo.

Capítulo 6

Comportamento estratégico das usinas em Goiás: a heterogeneidade no uso

da técnica

6.1 Introdução

Neste último capítulo, discorremos o trabalho para criar uma técnica específica e a forma como as usinas interagem com os elementos endógenos da região. Passamos, assim, para a análise em uma escala micro, tendo como foco o comportamento estratégico de cinco usinas localizadas em Goiás.

A base das informações foi coletada no trabalho de campo. Visitamos as usinas Jalles Machado, Denusa, Goiasa, São Francisco e Boa Vista. As três primeiras ilustram o perfil de usinas da primeira fase de expansão e as duas últimas, da segunda fase. As entrevistas com os profissionais da gerência e coordenação da fase agrícola foram realizadas durante as visitas, entre janeiro e abril de 2015. O formulário que conduziu as entrevistas está no Apêndice II.

O ponto está em demonstrar como as usinas de Goiás adequaram-se à necessidade de ampliar o conhecimento local, interagir com a pesquisa agrícola e qualificar a mão de obra. O capítulo divide-se em seis itens: nos cinco primeiros analisamos cada usina de forma individualizada, no último abordamos como elas se encaixam na classificação das estratégias como isoladas, independentes, dependentes e diversificadas, ponto esse central na configuração dos laços que conduzem a região para o SPR integralizado.

6.2 Usina Jalles Machado, Goianésia

A Jalles Machado152 é a usina central do processo de inovação da cana-de-açúcar na região. A influência em Goiás é direta, dada a maior proximidade com os demais produtores e a semelhança do ambiente natural, sobretudo em termos de clima. Porém, seu papel transcende a escala estadual, tornando-se uma referência para as usinas do cerrado como um todo e aquelas de São Paulo que estão em ambientes desfavoráveis.

Para compreender as razões de a Jalles Machado assumir esse papel, devemos retornar a 1979, momento em que a usina inicia suas operações. Nessa época, boa parte das usinas canavieiras no país localizavam-se em ambientes favoráveis. A Jalles Machado, pelo

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