• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 TRANSAÇÃO PENAL E SUSPENSÃO CONDICIONAL DO

2.1.4.7 A sentença homologatória da transação penal

Proposta a transação penal pelo Ministério Público, e aceita pelo autor do fato, o juiz homologará o acordo, aplicando pena restritiva de direitos ou multa. Não há dúvida de que

186 Para Nogueira, “A assistência de advogado ganha relevo quando se sabe que ao aceitar a proposta do

Ministério Público estará o autor do fato sujeitando-se a uma sanção penal, ainda que não restritiva da liberdade.” Cf. NOGUEIRA, Márcio Franklin. Transação penal. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 190.

187 ALVES, Rogério Pacheco. A transação penal como ato da denominada jurisdição voluntária. Revista dos

Tribunais, São Paulo, v. 775, p. 471-485, maio 2000.

188 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados especiais. 5. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005. p. 164. 189 FERNANDES FILHO, José. Juizados especiais: atos normativos. Belo Horizonte: Tribunal de Justiça do

se trata de uma sentença, eis que passível de apelação, conforme preceitua o § 5º do art. 76, da Lei 9.099/95. Porém, com relação à natureza dessa sentença, existe divergência a esse respeito.

Bitencourt190 comunga o entendimento de que a decisão que põe fim à relação processual no Juizado Especial é uma sentença declaratória constitutiva, eis que o próprio texto legal exclui qualquer caráter condenatório, ao afastar a reincidência, os antecedentes criminais etc.

O Superior Tribunal de Justiça sustenta que a sentença homologatória de transação penal possui natureza jurídica de sentença penal condenatória imprópria, pois não gera reincidência, a não ser com relação à impossibilidade de ser beneficiado por outra transação penal no prazo de cinco anos.191 Partidário desse posicionamento, Gomes192 leciona que “[...] a sentença penal que aplica imediatamente a pena (não privativa de liberdade) aceita pelo autor do fato é imprópria193. E possui essa natureza porque, ao contrário do que se passa hoje, não gera os naturais efeitos secundários penais ou extrapenais.”

Também neste sentido, Pazzaglini Filho et al194 entendem que a natureza jurídica da sentença homologatória da transação penal é condenatória, pois impõe uma sanção penal que deve ser executada; encerra o procedimento, fazendo coisa julgada formal e material; e impede novo questionamento sobre os mesmos fatos. Existe nesta sentença o reconhecimento da culpabilidade do autor do fato, necessário à aplicação da sanção penal.

Partilhando outro entendimento, Carvalho e Prado195 lecionam que a decisão homologatória da transação penal constitui sentença definitiva, pondo fim ao processo com

190 BITENCOURT, Cezar Roberto. Juizados especiais criminais e alternativas à pena de prisão. 3. ed. Porto

Alegre: Livraria do Advogado, 1997a. p. 107.

191 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Habeas-corpus 14.666/SP. Relator: Min. Fernando Gonçalves. Sexta

Turma. Julgado em: 13 mar. 2001. Diário da Justiça, Brasília, DF, 2 abr. 2001. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=transa%E7%E3o+penal+natureza+jur%EDdica+da +senten%E7a+homologat%F3ria&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=10#>. Acesso em: 4 set. 2012.

192 GOMES, Luiz Flávio. Suspensão condicional do processo penal: e a representação nas lesões corporais,

sob a perspectiva do novo modelo consensual de justiça criminal. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1997. p. 113.

193 Ada Pellegrini Grinover entende que ocorre um equívoco ao se considerar a sentença homologatória da

transação penal como condenatória imprópria, pois “Na sentença que aplica a medida alternativa não há qualquer juízo condenatório, por faltar o exame dos elementos da infração, da prova, da ilicitude ou da culpabilidade.” Cf. GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados especiais. 5. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005. p. 167.

194 PAZZAGLINI FILHO, Marino et al. Juizado especial criminal. São Paulo: Atlas, 1996. p. 53. Para

Marques, “[...] ao mesmo tempo em que decide litígio penal, julgando procedente a pretensão punitiva, a sentença condenatória se reveste da qualidade de título penal executório, constituindo, por isso mesmo, o ato final da fase de conhecimento e o elemento inicial da fase de execução.” Portanto, na sentença condenatória vem declarado que o réu praticou, ilícita e culpavelmente, o fato descrito no tipo penal, pelo que lhe é aplicado, preceito secundário ou sancionador em que vem cominada a pena cabível. Cf. MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Rio de Janeiro: Forense, 1962. v. 3. p. 42.

195 Há autores que admitem a existência de uma sentença condenatória sumária. Entretanto, trata-se de “[...] um

acordo em que o autor do fato acede à proposta formulada e cede o direito de ver-se processar com todas as garantias inerentes em troca de afastar o risco de eventual condenação penal à pena mais severa, enquanto o Ministério Público abre mão da possibilidade de condenação penal à pena privativa de liberdade em troca da

julgamento de mérito, decidindo uma pretensão punitiva estatal não resistida – consensual -, que, todavia, por ser consensual, não possui todas as características da sentença condenatória, como a eficácia civil e o reconhecimento do autor do fato como condenado. Logo, a única característica de sentença condenatória que permanece é a executividade da pena restritiva de direitos ou da multa impostas no acordo.

Para Márcio Nogueira196, a sentença que aplica a pena, frente à concordância dos interessados, não é absolutória nem condenatória, pois o juiz não se manifesta sobre o mérito de um caso penal, restringindo-se a analisar a existência das condições legais exigidas para a eficácia da transação acordada pelas partes, não exprimindo qualquer juízo de valor quanto à culpabilidade. O juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76, § 4º, convalidando uma restrição de direito ou uma multa livremente aceita, consentida, pelo autor do fato, por força do acordo a que chegaram as partes.

É também o entendimento defendido por Grinover et al197, para quem, “[...] na verdade, a sentença não é absolutória198 nem condenatória. Trata-se simplesmente de uma sentença homologatória da transação.” O juiz não estabelece uma pena criminal em razão de um juízo de culpabilidade. Ele somente homologa um acordo firmado entre o representante do Ministério Público e o autor do fato, no qual o primeiro deixa de exercer a ação penal e o segundo se submete à determinada restrição de direitos ou pagamento de prestação pecuniária.199 Não se vislumbra uma imposição de pena pelo juiz ao autor do fato, pois a pena restritiva de direitos ou de multa é livremente acordada pelo autor, que a aceita como forma de evitar o processo penal condenatório. Essa sentença apenas compõe a controvérsia de acordo com a vontade dos partícipes, não gerando a condenação do autuado, a reincidência, rol de culpados (art. 76, § 4º, parte final), efeitos civis (art. 76, § 6º), maus antecedentes, salvo para impedir nova transação penal no prazo de cinco anos (art. 76, § 6º). Em caso de descumprimento da obrigação

efetividade do processo e da maior utilidade social de uma prestação alternativa. Não há inconstitucionalidade alguma na transação.” Cf. CARVALHO, Luis Gustavo Grandinetti Castanho de; PRADO, Geraldo. Lei dos

juizados especiais criminais: comentada e anotada. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 76 e 102.

196 NOGUEIRA, Márcio Franklin. Transação penal. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 195.

197 “A classificação da sentença como homologatória da transação não significa – como pareceu a alguns – que o

juiz, para proferi-la, assuma atitude meramente passiva, ou que não se exija, de sua parte, a aferição da existência dos requisitos de admissibilidade da proposta e da vontade livre e consciente do autuado. Na homologação da vontade das partes, o magistrado é juiz da legalidade (e nisso consiste a discricionariedade regulada), mas não da oportunidade.” GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados especiais. 5. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005. p. 167-168.

198 Sentença absolutória é aquela que “[...] incide sobre a acusação para declará-la improcedente.” Cf. MARQUES,

José Frederico. Elementos de direito processual penal. Rio de Janeiro: Forense, 1962. v. 3. p. 32.

assumida pelo autor do fato, nada se poderá fazer, a não ser executá-la200 - como entende a doutrina e o Superior Tribunal de Justiça –, oferecer denúncia pelo Ministério Público – posicionamento defendido pelo Supremo Tribunal Federal, com repercussão geral, já adotado por algumas turmas do Superior Tribunal de Justiça -, e a conversão em pena privativa de liberdade – não mais adotada pelos tribunais, embora já tenha sido admitida pelo STJ.

Como se pode observar existe divergência quanto à natureza jurídica da sentença homologatória da transação penal – declaratória, condenatória, condenatória imprópria ou meramente homologatória -, ocasionando vários entendimentos a esse respeito, levando juízes a optarem pela não homologação do acordo – o que é inadmitido pelo STF e admitido pelo STJ -, cuja análise será realizada no próximo capítulo.

2.2 Suspensão Condicional do Processo