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CAPÍTULO 2 TRANSAÇÃO PENAL E SUSPENSÃO CONDICIONAL DO

2.1.4.6 Aceitação da proposta de transação penal

A proposta ofertada pelo Ministério Público - conquanto não prescinda dos requisitos da denúncia (art. 41, CPP), pois a Lei 9.099/95 visa à oralidade, informalidade, celeridade, economia processual etc. - deve restringir os fatos propícios à resposta estatal, de

178 PAZZAGLINI FILHO, Marino et al. Juizado especial criminal. São Paulo: Atlas, 1996. p. 48.

179 “Já se tem falado que o Ministério Público poderia, por meio de uma política institucional, estabelecer quais

seriam os delitos em relação aos quais haveria comportamento favorável ou contrário à transação. Não é possível, contudo, o estabelecimento de regras apriorísticas que ofenderiam a lei, mas nada impede o estabelecimento de metas de atuação priorizada, como pode suceder até mesmo em face do princípio da legalidade. É, aliás, muito importante que o Ministério Público monte estratégias próprias, indicando a que crimes ou criminalidade vai direcionar, preferencialmente, a sua atuação.” Cf. FERNANDES, Antônio Scarance. Processo penal constitucional. 5. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2007. p. 237.

modo que a proposta deve conter a classificação jurídica dos fatos e a pena justa a ser aplicada no caso concreto.181

Não se deve confundir a transação penal com a ação penal condenatória, pois esta tem por objetivo uma pena privativa de liberdade e aquela uma medida alternativa à pena privativa de liberdade. Neste sentido, preleciona Souza Neto182 que a “Transação penal é um plus antecedente ao processo justo, um novo direito do acusado. Restando frutífera a transação, desaparece a necessidade do jus persequendi in judicio, não havendo mais fundamento para o processo penal condenatório.”

Portanto, o autor do fato, ao aceitar a proposta de transação penal, por razões de oportunidade e conveniência, evita as consequências de um processo penal, não se falando em condenação ou absolvição, pois a aceitação da proposta de transação penal representa a submissão voluntária à sanção penal (diversa da pena privativa de liberdade). Isso não quer dizer o reconhecimento da culpabilidade penal183, tampouco da responsabilidade civil.184

Para que a proposta de transação seja homologada pelo juiz, deve haver a aceitação expressa do autor do fato e de seu defensor. A manifestação de vontade do autor, neste caso, é “[...] personalíssima, voluntária, absoluta, formal, vinculante e tecnicamente assistida.”185

Determina o art. 68 da Lei 9.099/95 que da intimação do autor do fato e a citação do acusado constará a necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado, observando-

181 GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antônio; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus

fundamentos teóricos; introdução às bases criminológicas da lei 9.099/95 – lei dos juizados especiais. 5. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2006. p. 449.

182 SOUZA NETTO, José Laurindo. Processo penal: sistemas e princípios. Curitiba: Juruá, 2003. p.143.

183 De fato, com relação à inexistência do reconhecimento da culpabilidade, temos que: “[...] a) a sanção é

aplicada antes mesmo do oferecimento da denúncia, na audiência prévia de conciliação; b) a aplicação da sanção não importa em reincidência (§ 4º do art. 76); c) a imposição da sanção não constará de registros criminais, salvo para o efeito de impedir nova transação penal no prazo de cinco anos, nem de certidão de antecedentes (§§ 4º e 6º do art. 76).” (GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados especiais. 5. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005. p. 164). Para Azevedo, “Deve-se reconhecer, no plano penal e processual penal, uma de duas hipóteses: ou há a aplicação da sanção penal sem que interceda a culpa pessoal como condição sine qua de sua aplicabilidade, o que viola o princípio da culpabilidade; ou existe efetivo reconhecimento, antecipado, da culpa e a pena vem como conseqüência da conformidade do agente com o processo em perspectiva e seu resultado final, o que gera a aplicação da pena sem processo, a violar a cláusula do devido processo legal.” Cf. AZEVEDO, David Teixeira de. A culpa penal e a lei 9.099/95. Revista dos

Tribunais, São Paulo, v. 747, p. 459, jan. 1998.1998.

184 “O não reconhecimento da responsabilidade civil vem consagrado no § 6º do art. 76, quando afirma que a

imposição da sanção penal não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação de conhecimento no juízo cível.” GRINOVER et al., op. cit., p. 164-165.

se que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor público. Portanto, a presença de advogado no ato é imprescindível, nos termos da lei, pois garante ao autor uma orientação técnica.186

O autor do fato e seu advogado, ao aceitarem a proposta, poderão formular contraproposta ao Ministério Público, visando, por exemplo, diminuir a quantidade da pena pecuniária ou a duração e o modo de cumprimento da pena restritiva de direitos.187

Insta assinalar que o autor do fato, considerando-se inocente e devidamente orientado pela defesa técnica, poderá não aceitar a proposta formulada pelo Ministério Público, preferindo dar início ao processo criminal, ser denunciado, e lutar por sua absolvição.

Se houver divergência entre a vontade do autor do fato e de seu advogado, o juiz deverá conciliá-los, usando de bom senso e equilíbrio. Em não se verificando acordo, deverá prevalecer a vontade do autor, desde que devidamente esclarecido sobre as consequências do seu ato.

Somente ao autor cabe a “[...] última palavra quanto à preferência pelo processo ou pela imediata submissão à pena, que evita as agruras de responder em juízo à acusação para lograr um resultado que é sempre incerto.”188 Nesse sentido, a décima quinta conclusão da Comissão constituída pela Escola Nacional da Magistratura, dispõe: “Quando entre o interessado e seu defensor ocorrer divergência quanto à aceitação de proposta de transação penal ou suspensão condicional do processo, prevalecerá a vontade do primeiro.”189

Aceita a proposta pelo autor do fato e seu defensor, o seu cumprimento ensejará a extinção da punibilidade. Já o seu descumprimento, em razão da falta de força coercitiva das penas alternativas, levará à execução do acordo, ao início da ação penal ou à conversão em pena privativa de liberdade.