• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 O MODELO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS NO

1.1 Juizados Especiais Criminais

1.1.5 Competência dos juizados especiais criminais

A competência é a “[...] capacidade de exercer a jurisdição dentro dos limites estabelecidos pela Constituição Federal e legislação ordinária. Fala-se, por isso, que a competência é o ‘limite da jurisdição’, ou a ‘medida da jurisdição’, ou ainda a ‘quantidade de jurisdição.’”59

Com relação aos Juizados Especiais Criminais, a competência encontra-se prevista no art. 1º da Lei 9.099/95. Ela se limita às infrações penais de menor potencial ofensivo, compreendendo a conciliação, o processo, o julgamento e a execução dessas causas. Por isso, ao elaborar o termo circunstanciado, a autoridade policial deve expor o fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, onde ocorreu (lugar), quando ocorreu (tempo), sem minúcias, classificando a infração penal e indicando o seu autor. São pressupostos básicos fundamentais para indicar, inclusive, se o Juizado Especial é competente para conhecer do delito.60

57 Entendimento adotado pela Terceira Seção do STJ no sentido de que, “[...] preenchidos os requisitos

autorizadores, a Lei dos Juizados Especiais Criminais aplica-se aos crimes sujeitos a ritos especiais, inclusive àqueles apurados mediante ação penal exclusivamente privada. Ressalte-se que tal aplicação se estende, até mesmo, aos institutos da transação penal e da suspensão do processo.” SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Habeas-Corpus 34.085/SP, Rel. Ministra Laurita Vaz. Quinta Turma. Julgado em 8 jun. 2004.

Diário da Justiça, Brasília, DF, 2 ago. 2004. p. 457. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/

jurisprudencia/doc.jsp?livre=HC+34085&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=3#>.Acesso em: 2 set. 2012.

58 GOMES, Luiz Flávio. Suspensão condicional do processo penal: e a representação nas lesões corporais,

sob a perspectiva do novo modelo consensual de justiça criminal. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1997. p. 127.

59 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 5. ed. São Paulo: Ed. Revista dos

Tribunais, 2007. p. 145.

60 TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados especiais federais cíveis e

Com relação às infrações de menor potencial ofensivo, destaca-se que todas as contravenções penais são da competência dos Juizados Especiais Criminais. A vedação quanto à pena máxima não superior a dois anos (art. 61) somente atinge os crimes, pois, pela sua natureza, todas as contravenções penais são consideradas, como visto, de menor potencial ofensivo. Não importa sua natureza dolosa ou culposa, a forma qualificada, simples ou privilegiada; basta que a pena cominada não seja superior a dois anos. Trata-se de competência de natureza material, absoluta, não havendo a possibilidade de serem processadas outras infrações, sob pena de nulidade absoluta.61

A Lei 9.099/95, em sua parte processual penal, deve se adequar ao sistema de competência previsto no Código de Processo Penal. Pode-se afirmar que a competência do Juizado é fixada pelo critério objetivo em razão da matéria, podendo sofrer alterações em razão da conexão e continência, permitidos no sistema processual penal.62

A competência será fixada de acordo com a natureza da infração, que deve ser de menor potencial ofensivo e diante da inexistência de circunstância especial que transfira a causa para a Justiça Comum, como no caso do autor que não é encontrado para ser citado (art. 66, parágrafo único), ou quando a causa se apresentar complexa ou com circunstâncias especiais (art. 77, § 3º). Nesses casos, caberá ao juiz do Juizado Especial Criminal decidir sobre o deslocamento de competência, de ofício ou perante requerimento do representante do Ministério Público ou ofendido (art. 77, § 2º e 3º).

Além disso, também ficam excluídas do Juizado as infrações de menor potencial ofensivo que, diante de conexão ou continência, devam ser processadas junto à outra infração de competência diversa. Existindo conexão ou continência, deve haver a separação de processos para julgamento da infração de competência dos Juizados Especiais Criminais e da infração de natureza diversa. Não prevalece a regra contida no art. 79, caput, que fixa a unidade de processo e julgamento de infrações conexas, pois, no caso em tela, a competência dos Juizados é fixada no art. 98, inciso I, da CF/88, não podendo ser modificada por lei ordinária.63

61 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados especiais. 5. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005. p. 87. 62 O Código de Processo Penal, menos sistemático que o Código de Processo Civil, admitiu, em linhas gerais, os

mesmos critérios de fixação da competência “[...] (critério objetivo em razão da matéria, do valor e da pessoa/prerrogativa de função; critério territorial e critério funcional)”, porém, não cogitando da competência absoluta e da relativa. Já com relação à conexão e à continência, “[...] cogitou-as tanto para modificar a competência em razão da matéria, como a territorial, indistintamente.” Cf. CARVALHO, Luis Gustavo Grandinetti Castanho de; PRADO, Geraldo. Lei dos juizados especiais criminais: comentada e anotada. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 41.

O art. 63 trata da competência territorial, prescrevendo que a competência do Juizado Especial Criminal será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal. Para a determinação do lugar, utiliza-se a regra do art. 6º do Código Penal64, que trata do princípio da ubiquidade – o local onde foi cometida a infração penal é tanto aquele da prática da atividade delituosa quanto aquele em que se produziu o resultado.

De acordo com os princípios da celeridade e da informalidade, orientadores do processamento das infrações penais de menor potencial ofensivo, a Lei 9.099/95 autoriza o Juizado Especial Criminal a acolher as infrações executadas e as consumadas no âmbito de sua jurisdição.65

Por outro lado, caso ocorra a prática de atos de execução ou a consumação em território de mais de uma jurisdição, ambos os Juizados Especiais Criminais serão competentes para o processamento da infração penal, devendo a competência ser fixada pela prevenção (art. 83 do CPP).

O Juizado Especial Criminal que primeiro receber o termo circunstanciado referente ao cometimento de infração penal de menor potencial ofensivo, será o competente para o processamento da causa.