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CAPÍTULO 2 TRANSAÇÃO PENAL E SUSPENSÃO CONDICIONAL DO

2.2 Suspensão Condicional do Processo

2.2.3 Fundamento

Quanto ao fundamento da suspensão condicional do processo, pode-se destacar o princípio da oportunidade regrada, o princípio da autonomia da vontade e o princípio da desnecessidade da prisão.218

O princípio da obrigatoriedade da ação penal constitui a regra geral. Porém, excepcionalmente em algumas hipóteses taxativamente previstas na lei, o Ministério Público pode dispor da persecutio criminis para propor uma medida alternativa, como a transação penal e a suspensão condicional do processo (art. 98, inciso I e 129, inciso I, da CF/88). A essa possibilidade de deixar de oferecer a ação penal, em razão da possibilidade trazida pela Lei 9.099/95, dá-se o nome de princípio da oportunidade regrada ou discricionariedade regulada ou controlada.219

O Ministério Público, detentor da exclusividade da ação penal pública, poderá dispô-la, nos termos do art. 98, inciso I, da CF/88, e da Lei 9.099/95, ao propor a denúncia, oferecendo a suspensão condicional do processo, que será homologada pelo juiz, após expressa aceitação do acusado, desde que presentes os requisitos legais.220 Trata-se do princípio da oportunidade regrada221, instituído pela Lei 9.099/95. Nesse panorama, Gomes222 leciona que

jurídico [...]”, uma vez que a discricionariedade regrada imprime ao Ministério Público – e somente a ele – a análise da conveniência de se ofertar ou não a proposta de suspensão condicional do processo, de conformidade com a política criminal de cada comarca. Segundo esse entendimento, caberia ao Ministério Público a análise da reprovabilidade de cada delito, de acordo com a sua política criminal repressiva (institucional). Cf. OLIVEIRA, Lucas Pimentel de. Juizados especiais criminais. São Paulo: Edipro, 1995. p. 76.

216 GOMES, 1997, op. cit., p. 140.

217 “A suspensão condicional do processo não beneficia tão-somente o réu, mas, também, a Justiça e a sociedade.

Livra o réu de um tormento, que é o processo; facilita a prestação jurisdicional, com diminuição de processos; e diminui os gastos do tesouro, beneficiando a sociedade.” Cf. TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados especiais federais cíveis e criminais. 3. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2011. p. 690.

218 GOMES, Luiz Flávio. Suspensão condicional do processo penal: e a representação nas lesões corporais,

sob a perspectiva do novo modelo consensual de justiça criminal. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1997. p. 187.

219 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados especiais. 5. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005. p. 260. 220 PAZZAGLINI FILHO, Marino et al. Juizado especial criminal. São Paulo: Atlas, 1996. p. 94.

221 A suspensão condicional do processo, prevista na Lei 9.099/95, “[...] se circunscreve no princípio da

O verdadeiro sentido do princípio da oportunidade regrada, destarte, não esgota seu conteúdo numa mera opção de conveniência. Em virtude do princípio da proporcionalidade, qualquer restrição a um direito fundamental (e é disso que estamos tratando, visto que a suspensão condicional do processo como medida despenalizadora tem seu ponto fulcral no ius libertatis), para se revestir de constitucionalidade, deve preencher o requisito extrínseco formal da motivação, que atende não só o interesse de tutela dos direitos fundamentais, senão também de erradicação da arbitrariedade, de efetiva aplicação do direito, de facilitar o controle da atuação pública, da correta aplicação do direito, de convencimento da sociedade de que as pautas de atuação não são arbitrárias etc.

O princípio da autonomia da vontade constitui o segundo fundamento da suspensão condicional do processo, pois sem o consentimento do acusado, não há se falar neste instituto (art. 89, § 1º).223 Já o princípio da desnecessidade da pena de prisão de curta duração compõe o terceiro fundamento da suspensão constitucional do processo.

As medidas alternativas buscam contornar as consequências negativas da pena privativa de liberdade. Na lição de Cernicchiaro224, “A experiência demonstra, ninguém duvida, o presídio é a escola da indisciplina, da deformação de caráter, não exerce nenhum efeito educativo, deseduca, amplia a desadaptação social.”

A suspensão condicional do processo mostra-se fundamental para evitar que o acusado seja submetido a uma pena de prisão de curta duração, onde será privado do convívio em sociedade e enclausurado em um ambiente inóspito. A melhor solução é fazer com que o acusado cumpra as condições da suspensão condicional do processo, livrando-se do cárcere.225

É pacífico o entendimento sobre a nocividade da pena de prisão de curta duração, bem como do seu fracasso quanto à ressocialização do acusado. Isso justifica a procura de soluções despenalizadoras e descarcerizadoras pelos ordenamentos jurídicos de cada país, inclusive o nosso (Lei 9.099/95), visando uma resposta jurídico-penal adequada a cada caso

aplicação da pena privativa de liberdade de curta duração, tendo em vista o menor potencial ofensivo da infração.” Cf. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Habeas-corpus 5027/RJ. Relator: Min. Cid Flaquer Scartezzini. Quinta Turma. Julgado em: 12 nov. 1996. Diário da Justiça, Brasilia, DF, 28 abr. 1997. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp?newsession=yes&tipo_visualizacao=RESUMO &b=ACOR&livre=HC%205027#>. Acesso em: 1º set. 2012.

222 GOMES, 1997, op. cit., p. 156.

223 O assunto foi abordado no item 1.4.8, quando se tratou da questão da aceitação da proposta de transação penal

ou suspensão condicional do processo pelo autor do fato/acusado.

224 CERNICCHIARO, Luiz Vicente; COSTA JÚNIOR, Paulo José da. Direito penal na constituição. 2. ed. São

Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1991. p. 103-104.

225 GOMES, Luiz Flávio. Suspensão condicional do processo penal: e a representação nas lesões corporais,

sob a perspectiva do novo modelo consensual de justiça criminal. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1997. p. 189.

concreto, “[...] capaz de levar à extinção das penas em troca de benefícios constatáveis pela correção do comportamento do delinqüente.”226

A Lei 9.099/95 buscou evitar a pena de prisão de curta duração, trazendo os institutos já analisados. Contudo, neste instituto ora tratado, se o acusado descumpre as condições estabelecidas na proposta de suspensão processual, o processo retoma o seu curso, podendo resultar em uma sentença penal condenatória, perdendo as características iniciais, almejadas por essa Lei, ou seja, um procedimento rápido, informal, eficaz, econômico e, acima de tudo, sem pena privativa de liberdade.