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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS

O caso de estudo paradigmático da entrada dos SIG na administração pública de forma mais estruturada, deu-se na área do ambiente, na então Direcção Geral da Qualidade do Ambiente (actual Instituto do Ambiente), fruto de algumas coincidências proveitosas que permitiram a constituição de uma equipa motivada, apoiada ao mais alto nível político. O IA teve depois uma grande dinâmica nesta área, quem sabe se pelo facto de Leonor Gomes ter tido a possibilidade do contacto com os SIG na altura do Gabinete de Sines (Julião, 2004).

Quando o Projecto de Sines acabou, Leonor Gomes, que tinha saído previamente da Gulbenkian, um organismo também com alguma capacidade de inovação, não ficou agradada com a reintegração num serviço da administração pública tradicional. Foi aconselhada a tentar a área do ambiente, uma vez que era uma área nova e onde existiam algumas potencialidades de inovação. Acabou por entrar na DGQA por sugestão de Carlos Pimenta que, não só a convidou a aderir ao novo projecto, como lhe terá sugerido que trouxesse mais técnicos da equipa de Sines, uma vez que já estavam familiarizados com os procedimentos de georeferenciação (Gomes, 2004).

geográfica dos dados, pelo que Leonor Gomes, que era Chefe de Divisão em Sines, trouxe a sua divisão completa (cerca de 11 pessoas) para o Ministério do Ambiente. Esta transferência ocorreu em 1986 e, também em 1986, foi trazida dos EUA uma cópia do PC Arc/INFO, oferecida pela ESRI, por ser a primeira e a título de divulgação. Foi a primeira cópia deste software que veio para Portugal (Gomes, 2004), tendo mais tarde sido obtida uma outra cópia de Arc/INFO (Painho, 2004). Foi também nesta altura que Marco Painho ingressou na DGQA, para trabalhar no arranque do Sistema de Informação da Qualidade do Ambiente (SIQA), após um mestrado com Julius Fabos, em Massachussets (que mais tarde veremos como consultor do grupo de trabalho do SNIG).

Nesta fase surge também o Atlas do Ambiente, que já existia em papel desde os anos 70 e que, aquando destas alterações na DGQA, em 1986, se quis imediatamente informatizar e disponibilizar (Gomes, 2004). O esforço feito na divulgação do Atlas do Ambiente enquanto cartografia de base uniforme, nomeadamente a Carta Administrativa, que foi a primeira e talvez única carta administrativa (até há pouco tempo) à escala 1:250000 disponibilizada para todo o país, foi significativo, disponibilizando a informação e estimulando as pessoas a que a usassem, a custo zero.

Figura 11 - Portal do Atlas do Ambiente em versão estática

(Fonte: Instituto do Ambiente, 2005, http://www.iambiente.pt/atlas/est/index.jsp )

O Atlas do Ambiente, ainda na versão em papel, tinha tido a sua génese em 1972, no Grupo de Trabalho do Atlas do Ambiente, criado no seio de uma comissão entretanto extinta, a Comissão Nacional do Ambiente. Este grupo de trabalho, de natureza interdisciplinar integrava pessoas de várias formações, de modo a abranger os vários temas e os vários organismos com envolvimento na

produção da cartografia. As cartas em papel eram publicadas à escala 1:1.000.000, tendo sido elaboradas, até 1993, seis dezenas de cartas diferentes (Painho et al, 1993).

A Direcção Geral do Ambiente (DGA) decide entretanto, em 1987, desenvolver um sistema de informação geográfica que, numa primeira fase, deu apoio à DGQA nas tarefas que lhe estavam incumbidas, com destaque para o projecto da Rede de Aquisição e Monitorização de Dados do Ambiente, já iniciado em 1986, e na constituição da Base de Dados, com o objectivo da sua integração no Sistema de Informação da Qualidade do Ambiente (Painho et al, 1993).

As cartas em papel do Atlas começaram a ser digitalizadas em 1986, num primeiro teste ao processo de digitalização que, como seria de prever, enfrentou vários problemas de inconsistências dos dados, alguns provenientes das cartas originais (que foram elaboradas, impressas e armazenadas em épocas e contextos diferentes), outros da própria técnica de digitalização e dos vários operadores que executaram o projecto. A própria evolução do território, sobretudo nas áreas mais sujeitas a mudanças, como os estuários dos rios ou a linha de costa, motivou a necessidade de correcções tendo- se optado, por exemplo no caso dos limites do país, pela última versão disponível, sendo esta digitalizada uma vez e usada em todas as outras cartas (Painho et al, 1993).

O Atlas do Ambiente começou por ser disponibilizado em disquetes e depois em disco compacto, sendo acompanhado de vários ficheiros de metadados, quer para cada tema ou carta, quer para o pacote completo, com informação vária: índice, folheto informativo e ficha de utilizador (Painho et al, 1993). Desde 1996, em formato estático (Figura 11) e desde 2001 em formato dinâmico (Machado, Cabral e Painho, 2002), o Atlas passou a estar disponível online, quer através da página do Instituto do Ambiente, quer através de um servidor do ISEGI, permitindo, além da possibilidade de descarregar um ou mais temas em ficheiros compactados, consultas dinâmicas de vária ordem, recorrendo a sobreposição de temas e operações de ampliação relativamente simples. À data em que escrevemos, o valor médio de ficheiros descarregados ronda os 5000 por mês, o que atesta o interesse ainda mantido por este produto, para determinado tipo de trabalhos, por uma faixa alargada de cidadãos.

Em simultâneo com a DGA, o LNEC mantinha projectos e actividade de investigação na área do ambiente, alguma da qual em contacto com entidades estrangeiras. Por exemplo, o contacto de João Ribeiro da Costa com os SIG começou nos EUA, na Universidade de Cornell, no contexto de um trabalho do LNEC sobre gestão de bacias hidrográficas, em 1983. As pessoas mais activas no LNEC nesta área e naquela época, seriam Rui Gonçalves Henriques e Eduardo Sousa, usando primitivas gráficas para fazer a georeferenciação dos dados, dado que não havia ainda boas ferramentas de SIG, que só apareceram disponíveis no mercado depois de 1986 (Costa, 2004).

Um projecto dessa fase inicial foi o NATO POWATERS, em 1983, em que além de João Ribeiro da Costa, trabalhou também António Câmara, em optimização de redes de ETAR. Terá sido este um dos primeiros trabalhos de António Câmara, após o seu regresso dos EUA, onde tinha trabalhado em sistemas ligados à georeferenciação de linhas de alta tensão (primeiro trabalhou ainda no Sistema de Gestão da Qualidade da Água do Estuário do Tejo). Como referimos, até 1986 tinham mesmo de desenhar os rios, desenhar as bacias hidrográficas, as ETAR, com primitivas gráficas (Costa, 2004).

A partir de 1986, houve contacto com o ArcINFO e também com os técnicos que transitaram de Sines para a DGQA. Começa então uma fase nova em que se deixou de fazer programação para

georeferenciar, para passar a desenvolver análises sobre verdadeiros sistemas de informação geográfica. Foram então usados no LNEC o GRASS, o IDRISI e depois o ArcView. Neste laboratório, sempre se trabalhou com modelos raster e vectoriais, em simultâneo, argumentando que dissociar as duas coisas não faz grande sentido (Costa, 2004).