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3.6 UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO EUROPEU

3.6.3 Associações e organizações europeias

A Association Geographic Information Laboratories Europe (AGILE) foi fundada em 1998 com o objectivo de promover o ensino da ciência de informação geográfica, a investigação nesta área, e a continuação das actividades surgidas no âmbito das conferências EGIS e do Programa GISDATA da European Science Foundation (AGILE, 2004). O outro grande objectivo é garantir a representatividade da comunidade de investigadores e académicos de informação geográfica nas tomadas de decisões em futuros programas de investigação ao nível europeu. Em simultâneo, providencia um fórum de troca de informações e experiências entre os seus associados. (AGILE,

2004).

Portugal foi representado desde o primeiro momento pelo ISEGI que, através do Laboratório de Novas Tecnologias foi membro fundador da AGILE, seguido depois pelo Laboratório SIG da Universidade do Minho. Marco Painho é também membro do conselho que superintende esta organização, que é dirigida por um grupo de oito elementos que tem como missão, além de implementar a estrutura que permita atingir os seus objectivos, o de estruturar uma agenda de investigação europeia, a criação de grupos de trabalho e a organização de uma conferência anual. Sendo uma associação de laboratórios e não de indivíduos isolados, a sua representatividade é significativa, reunindo entidades ligadas ao ensino e investigação em toda a Europa (http://agile.isegi.unl.pt). Organizou um número significativo de conferências anuais, as EUGISES.

3.6.3.2 EUROGI

A European Umbrella Organization for Geographic Information (EUROGI) nasceu em 1993, de um estudo promovido pela então DG XIII da Comissão Europeia, elaborado no sentido de desenvolver uma aproximação unificada europeia ás tecnologias SIG.

Os seus objectivos passam pelo encorajamento ao maior uso da informação geográfica na Europa, a demonstração do valor das tecnologias SIG, o desenvolvimento de associações em todos os países europeus, a colaboração na implementação da infra-estrutura europeia (ESDI) e, não menos importante, a representação dos interesses europeus nas infra-estruturas mundiais.

A missão desta organização exprime-se no seguinte texto: “To maximise the effective use of

geographic information for the benefit of the citizen, good governance and commerce in Europe and to represent the views of the geographic information community. EUROGI achieves this by promoting, stimulating, encouraging and supporting the development and use of geographic information and technology”.

A EUROGI participou em todos os grandes projectos da Comissão Europeia na área dos SIG, desde o GINIE, aos ETeMII, GEOWEB-Europe, PANEL-GI, ESMI ou GISEDI Europe, fazendo-se representar Portugal na EUROGI através do Instituto Geográfico Português.

3.7 Conclusões

A capacidade europeia de liderar a investigação em sistemas de informação geográfica é evidente, tendo sido inúmeras vezes os exemplos europeus a marcarem o avanço em áreas determinantes para a evolução a nível global. Por razões que se prendem com o tipo de propriedade e de governo existente na Europa, que origina uma grande fragmentação dos poderes administrativos e uma noção de propriedade da terra e de protecção aos valores individuais e sua privacidade, os SIG tiveram na Europa um terreno de crescimento culturalmente muito diferente do encontrado nos EUA. Esse facto explica em boa parte as diferenças de crescimento do ponto de vista das aplicações e dos projectos concretos de aplicação dos sistemas.

Por outro lado, a enorme capacidade comercial e de marketing do continente americano esmagou facilmente a concorrência europeia, deixando apenas alguns nichos de mercado ocupados por produtos locais. No entanto, o mercado potencial europeu é superior ao americano, o que justifica

o esforço dessas empresas em investir num continente que culturalmente lhes é desfavorável. Esse potencial poderá ser facilmente capitalizado a favor de uma indústria de aplicações europeia, desde que as infra-estruturas sejam implementadas.

Muitos dos avanços na ciência ocorreram em simultâneo na Europa e nos EUA e Canadá. E muitos dos cientistas envolvidos mantiveram fortes relações com ambas as correntes de investigação. Alguns dos cientistas que mais contribuíram para o avanço americano, como Michael Goodchild, eram e são europeus e mantiveram fortes laços com os países de origem. Outros, como Jean-Claude Müller ou Andrew Frank, trabalharam em ambos os continentes (Rhind, 1998). Muitos estudaram ou desenvolveram projectos de investigação nos EUA, como Philip Parent, Marco Painho ou António Câmara. É difícil, senão impossível, separar completamente a história europeia da história global da informação geográfica, mas sabemos que a Europa teve aqui um papel decisivo que raramente lhe é atribuído.

3.8 Resumo cronológico

1950 Coppock usa um computador para classificar dados agrícolas (talvez a primeira investigação de sempre em SIG)

1952 Textos de Nordbeck sobre georeferenciação

1954 Instituto de Meteorologia de Estocolmo produz cartas meteorológicas

1954 Coppock usa computadores para analisar um inventário de terrenos

1958 Bickmore defende o uso de computadores para dados geográficos

1963 Atlas of Great Britain and Northern Ireland

1964 Governo sueco decide implementar o cadastro dos terrenos

1964 Bickmore e Boyle descrevem um sistema de cartografia automática Inventam a primeira mesa digitalizadora de cursor livre

1966 Criado o Land Register Committee na Suécia

1967 Torsten Hagerstrand escreve sobre geografia e computação

1967 Bickmore funda a Experimental Cartography Unit (ECU)

1967 National Swedish Council for Building Research lança programa de investigação

1968 No Ministry of Local Housing and Government é criado o software LINMAP

1970 ECU publica standards de troca de dados

1971 ECU produz o primeiro mapa colorido a nível global

1973 Software vectorial Geographic Information Mapping and Manipulation System (GIMMS).

1973 Ordnance Survey monta linha de produção para conversão de mapas em papel

1975 Swedish Land Data Bank entra em funcionamento

1983 Primeiro sistema comercial ARC/INFOv2 no Birbeck College

1986 Conferência Auto Carto London

1987 Holanda lidera a formação e investigação universitária na Europa

1990 Conferência European GIS (EGIS) em Amsterdão

1991 Workshop da ESF sobre investigação europeia em SIG

1993 Lançado o Programa GISDATA

1993 Criada a European Umbrella Organization for Geographic Information (EUROGI)

1998 Criada a Association Geographic Information Laboratories Europe (AGILE)

2001 Início do Programa GINIE

2002 Iniciativa INSPIRE da Comissão Europeia

2003 Conferência de encerramento do Programa GINIE

4 Evolução dos SIG em Portugal (até 1986)

Os sistemas de informação geográfica em Portugal terão começado nos anos 70 (a partir de 1971) de forma isolada em várias empresas e organismos da administração. Os sistemas mais conhecidos em funcionamento nessa época são os do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o do Gabinete da Área de Sines e o da Empresa Geral de Fomento. Estas duas últimas entidades desapareceram e, com elas, a possibilidade de reconstituir a história destes sistemas.

Uma das consequências da estruturação do sistema de planeamento em Portugal, que ocorreu nos anos 1960, foi o reforço das funções de investigação do Estado e das Universidades, sendo criada em 1968 a Junta Nacional de Investigação Científica (JNICT) e, ao mesmo tempo, uma rede de organismos vocacionados para o estudo dos projectos previstos pelos Planos Nacionais de Fomento, nomeadamente, no âmbito do ordenamento do território. É neste contexto que são criados nos Ministérios os Gabinetes de Estudos de Planeamento de apoio ao Planeamento Central e realizados diversos trabalhos que, a partir dos anos 1970, podem ser considerados como situando-se na origem do advento em Portugal das novas tecnologias de informação geográfica (Machado, 2004).

Este ambiente de iniciativas relativamente isoladas manteve-se até à constituição do grupo de trabalho que propôs, em 1986, a criação do Sistema Nacional de Informação Geográfica. A nomeação deste grupo, que analisaremos adiante, terá sido a primeira iniciativa de natureza governamental para agrupar, coordenar e desenvolver esforços no sentido de explorar as potencialidades do uso da informação geográfica nos vários níveis da administração. Neste capítulo iremos pois abordar as várias iniciativas conhecidas e identificadas, anteriores a 1986, que propiciaram o ambiente necessário ao arranque do conceito SNIG.