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4.1 OS PIONEIROS PORTUGUESES

4.1.4 Base de dados do CEP-DCP / CIUR

No início dos anos 1970, no Centro de Estudos de Planeamento (CEP) do Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, foi criada a oportunidade de estabelecer os primeiros contactos com as emergentes novas tecnologias de informação geográfica (Machado, 2004). O CEP nasceu com o objectivo de apoiar a Presidência do Conselho na elaboração dos “planos de fomento”. Este organismo foi mais tarde, em 1976, substituído nas suas funções pelo Departamento Central de Planeamento que, no entanto, manteve a mesma linha de actuação no aperfeiçoamento da base de dados existente.

Entre as missões realizadas, envolvendo as principais universidades e organismos de planeamento europeus, foi estabelecida colaboração, entre outros, com o “Department of the Environment” de Londres. Numa parceria entre serviços públicos e universidades, incluindo contribuições norte-americanas, diversos especialistas encontravam-se nessa altura a desenvolver e a aplicar entre outros, o programa LINMAP, concebido para representação gráfica dos resultados do último Recenseamento da População do Reino Unido. Este programa é percursor, na Europa, dos processos de produção de cartografia automática realizada com o auxílio de computador (Machado, 2000).

Também com a Universidade de Cambridge, principalmente com o seu Centro de Estudos “Land Use and Built Form Studies” (LUBFS), foi estabelecida estreita colaboração, no sentido de aplicar a cidades portuguesas alguns dos modelos matemáticos urbanos em desenvolvimento na América do Norte e Reino Unido (Machado, 2004).

Entre a tecnologia usada, contava-se o programa SYMAP, concebido pelo Harvard Lab, assim como o SYGRAPH e SYMVU (em 1978 e 1979). A linguagem de programação era o FORTRAN, correndo sobre computadores potentes para a época, como o UNIVAC 1100 (do GAS) e o WANG 2200 NVP/64K (do DCP) e, no início dos anos 80, o IBM 4331/16Mb (também do DCP). Todos estes equipamentos informáticos constituem exemplos das ferramentas com que, nalguns locais ligados ao planeamento e administração, se trabalhava nessa altura em projectos urbanos e regionais (Machado, 2004).

Embora o sistema do CEP-DCP nunca tenha tido meios para impressão ou representação da informação georeferenciada, esta preocupação esteve sempre presente, tendo-se recorrido a outros organismos (IST e SCE) para a produção de mapas. O exemplo mais conhecido será o do mapa de população residente do país em quadrícula de 1x1 Km, feito à escala 1:500000, com base no recenseamento de 1970 (Machado, 2000). Os Censos ofereciam resultados muito precários, e o INE demorou praticamente 10 anos a publicar os resultados de 1970, devido à inexistência de milhares de boletins. Só foram publicados, por isso, os dados relativos à população residente a nível de concelho.

Este projecto obrigou a trabalhos de campo significativos, uma vez que foi necessário percorrer o país, fazendo corresponder a toponímia constante do recenseamento à sua localização geográfica, que muitas vezes não constava em nenhuma das cartas disponíveis (Machado, 2004). Para este efeito o Serviço Cartográfico do Exército disponibilizou muitas das suas capacidades humanas e materiais.

Dois outros trabalhos referenciados por Machado (2002) consistem num estudo sobre “Desequilíbrios Regionais” e noutro denominado “Migrações Pendulares e Unidades Geográficas de Emprego” (CEP, 1978), que reuniram quantidades consideráveis de variáveis, sempre georeferenciadas, neste último exemplo usando uma quadrícula de quilómetro quadrado.

Em 1977, por proposta do CEP, é criada na JNICT a Comissão para a Investigação Urbana e Regional (CIUR), à imagem de outras Comissões criadas especificamente, para os outros grandes domínios científicos. Esta Comissão, tal como muitas das restantes, embora não tivesse sido extinta formalmente, funcionou até 1986, ano em que iniciou em pleno as suas funções um novo Governo. O saldo do trabalho realizado havia-se traduzido em resultados importantes, em termos da coordenação da investigação científica urbana e regional (Machado, 2004).

Com efeito, os objectivos desta Comissão haviam consistido em promover a investigação urbana e regional em Portugal, identificar e cobrir principais lacunas da investigação, mobilizar os melhores técnicos existentes no sentido de representar condignamente Portugal nas principais conferências e iniciativas especializadas internacionais. Cada um dos organismos públicos envolvidos na problemática urbana e regional designava os seus representantes entre os técnicos mais qualificados para cada tema. A orgânica instituída compreendia um Presidente e um Vice-Presidente, bem como coordenadores dos grupos de trabalho, para além dos serviços de Secretariado que eram prestados pela JNICT. Todos os dirigentes eram eleitos pelos representantes de cada organismo (Machado, 2004).

Universidades, laboratórios de estado e ministérios conviveram e trabalharam em conjunto no lançamento de várias conferências nacionais e internacionais, bem como participaram em vários projectos, prestando ainda funções consultivas de carácter oficial, para além da gestão corrente dos fluxos de informação nacional e internacional, nomeadamente, a que se relacionava com o inventário dos projectos em curso.

A CIUR tornou disponíveis e divulgou as experiências dos organismos públicos e universidades que na altura desenvolviam bases de dados gráficas e alfanuméricas para planeamento regional e urbano, nomeadamente, o Gabinete da Área de Sines (GAS), o Departamento Central de Planeamento (DCP), a Empresa Geral de Fomento (EGF), o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), o Serviço Cartográfico do Exército (SCE), o Instituto Geográfico e Cadastral (IGC), o Instituto Nacional de Estatística (INE) e as Comissões de Coordenação Regional.

Foi também no âmbito da CIUR que, em Maio de 1980, nas “Jornadas de Reflexão sobre estatísticas para a investigação urbana e regional” realizadas no LNEC, pela primeira vez foi proposto ao INE a adopção de um conceito utilizado correntemente a partir de 1991: as Bases Geográficas de Referenciação da Informação (BGRI). A tentativa de representação por quadrícula de 1x1 km realizada parcialmente com base nos dados censitários de 1970 foi assim aplicada pelo INE aos Recenseamentos de 1991 e 2001, envolvendo desta última vez, não apenas uma variável, a população residente, como para 1970, mas cerca de 80 (Machado, 2004).