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A detecção remota, vista num sentido muito lato, foi iniciada por Wilbur Wright em 1909, altura em que foram tiradas as primeiras fotos a bordo de uma aeronave. Em boa medida isto não é inteiramente correcto, sendo conhecidas fotografia anteriores obtidas a bordo de balões (Hoffer, 1998). Assim, vamos cingir esta resenha da evolução da detecção remota às imagens obtidas a partir de aeronaves e satélites e, mais concretamente, das obtidas por sensores, geralmente multiespectrais, com objectivos específicos de classificação do uso do solo.

Como noutros aspectos da ciência, foi a guerra o motor de muitos do desenvolvimentos iniciais desta tecnologia: a primeira grande guerra, em que se descobriu a utilidade da fotografia aérea e a segunda guerra mundial, em que a fotografia conheceu grandes desenvolvimentos, nomeadamente com a descoberta dos filmes sensíveis aos infravermelhos.

A detecção remota com fins civis, e encarada de uma forma comercial, iniciou-se nos anos 20 e 30, tendo servido numa primeira fase para a elaboração de mapas de vários tipos. O uso de filme de infravermelhos terá sido usado, pelo menos de forma documentada, em 1956 por Robert Colwell, para detectar doenças em culturas agrícolas. Ora, este tipo de preocupações levou a que o Agricultural Board do National Research Council recomendasse em 1960 a criação de uma comissão para investigar a possibilidade de uso das fotografias aéreas na detecção de doenças e insectos em culturas e florestas (Hoffer, 1998). A comissão integrou vários cientistas conhecidos na altura pelas suas investigações na área, chefiados por Ralph Shay da Purdue University, e desenvolveu estudos usando sensores multiespectrais e radares, operando nas porções do espectro junto ao visível e infravermelho próximo, faixa em que as películas existentes à época eram sensíveis.

desenvolvia a sua capacidade de lançar satélites e ponderava a possibilidade de obter imagens com aplicações na área agrícola. Convergiram portanto aqui vários factores que levaram à formação do actual sistema de satélites de detecção remota: a necessidade de obter informação agrícola periódica de grandes áreas; a potencial utilidade de usar sensores multiespectrais com capacidade de obter finas faixas do espectro electromagnético; e o interesse da NASA em fornecer serviços aos cidadãos a partir de tecnologias espaciais (Hoffer, 1998).

Estes factores conduziram a que a referida comissão propusesse à NASA a realização de alguns estudos de viabilidade, em 1964, usando uma quinta da Universidade de Purdue com condições agrícolas conhecidas e controladas, e um sensor multiespectral obtido através da Universidade de Michigan. Foram voadas cinco missões no verão de 1964, sendo incumbido Roger Hoffer, entretanto contratado, para realizar as interpretações de todos os resultados.

As primeiras tentativas para identificar doenças nas culturas conduziu à conclusão de que seria primeiro necessário aprender as distinguir as culturas em si (Hoffer, 1998), e à noção de que seria necessário estudar primeiro o estado e a evolução fenológica das espécies ao longo do ano. Tal conduziu mais tarde a uma nova proposta colocada à NASA no sentido de financiar a pesquisa de métodos de classificação das imagens com base em reconhecimento de padrões, uma ideia que tinha sido desenvolvida em Purdue, embora noutra faculdade. A aceitação desta proposta levou à criação do Laboratory for Agriculture Remote Sensing (LARS), o organismo que daí em diante liderou toda a investigação nesta área. Foi contratado vário pessoal, desde a própria universidade até à IBM, nomeadamente o seu director, Robert MacDonald. Em simultâneo, a NASA financiava Colwell na universidade da Califórnia, para desenvolver o uso de aplicações em florestas e financiava um terceiro grupo na universidade de Michigan, para desenvolver sensores multiespectrais. O próprio USDA encetava também pesquisas na área das aplicações da detecção remota às actividades agrícolas, tornando-se o quarto local onde, de forma concertada, eram efectuadas investigações (Hoffer, 1998).

Em Purdue, usando como base voos de 1966, era entretanto desenvolvido um software de tratamento e classificação das imagens, chamado LARSYS, que terá sido a primeira utilização com sucesso das técnicas de reconhecimento de padrões a dados de sensores multiespectrais (Hoffer, 1998). Esse software é considerado um ponto de viragem e a base de muito software de sistemas de informação raster posteriores. Em 1968, o relatório do LARS dava conta da possibilidade de contar e medir áreas de diversas culturas agrícolas a partir da sua técnica de classificação, desde que conhecida a resolução espacial do sensor, estabelecendo outro ponto decisivo na evolução da tecnologia.

Posteriormente, em 1970, uma doença que atacava o milho percorreu parte dos Estados Unidos, levando a uma tentativa conjunta da NASA e do USDA para aplicar a detecção remota à monitorização da doença. Foi garantido financiamento e o projecto foi também dirigido a partir de Purdue por MacDonald. Embora a doença não tenha sido tão grave quanto esperado, os resultados da campanha científica foram enormes e decisivos (Hoffer, 1998).

No respeitante à vertente aeroespacial, a NASA consegui colocar em órbita em 1972 o primeiro satélite da série depois denominada Landsat, o ERTS-1, transportando um sensor multiespectral de quatro bandas. Não havia nessa altura melhor laboratório para analisar as imagens do que o LARS, pelo que a NASA incumbiu este laboratório de efectuar a primeira classificação. Após uma primeira classificação por análise de clusters, posterior visita ao local e nova classificação mais fina, obteve-se um resultado bastante aceitável e em muito curto espaço de tempo (Hoffer, 1998).

Estava reconhecido o potencial da utilização de imagens obtidas a partir de satélites para este fim. Entretanto a capacidade, tanto dos sensores montados em satélites, como as funcionalidades e capacidade de cálculo dos sistemas de informação geográficos actuais cresceram imenso, tornando a detecção remota presente em todos os SIG actuais. Nalguns casos será mesmo difícil distinguir entre si as funções de uma e outra abordagem, pelo menos nos SIG ditos raster. A detecção remota entro definitivamente no mercado como uma forma segura, barata e eficaz de obter, manter e actualizar informação geográfica sobre grandes áreas do território.