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Um outro aspecto, não menos importante que o cadastro, que é apresentado como uma mais valia por cada vendedor de sistemas de informação geográfica, são os sistemas de gestão de redes de infra-estruturas. Esses sistemas nasceram também nos anos 60, por força da necessidade sentidas nas empresas de prestação de serviços dependentes de redes de distribuição (energia, gás, comunicações, água, esgotos) em manter um cadastro actualizado das suas redes (McDaniel, Howard e Emery, 1998), em particular as subterrâneas. Estas empresas denominadas geralmente de “utilities” precisaram em dada altura de investir em métodos automáticos e computadorizados de mapeamento e gestão das suas redes e dos órgão de comando, uma vez que os métodos manuais já não suportavam o crescimento e a crescente exigência posta na manutenção e gestão dessas redes. Ainda hoje, uma boa parte da motivação das empresas, para além dos objectivos de economia de meios e lucros acrescidos, é a resposta a uma maior solicitação e exigência por parte dos consumidores. Mesmo nos países em que os monopólios estatais só agora começam a desaparecer, a concorrência e a prestação de um melhor serviço obriga a uma gestão das redes que só um sistema de AM/FM permite.

As origens da necessidade de um cadastro das redes é tão antigo quanto as próprias redes e remonta ao século XIX. Embora estes cadastros fossem muito desordenados e incompletos, eles serviram numa primeira fase para garantir os direitos e servidões de passagem, sobretudo das redes subterrâneas. Depois, com o aumento das redes privadas e a concorrência, houve necessidade de delimitar as zonas de cada companhia, logo seguida da necessidade de evitar duplicações e optimizar os percursos. Por fim, o estado pretendeu cobrar impostos sobre as redes estendidas, o que completou o ciclo de exigência do cadastro, de modo a ser possível contabilizar o valor de cada infra-estrutura. Por outro lado, o facto de não serem concorrenciais no mesmo território e serem reguladas superiormente, obrigou a que os registos das redes fossem muito semelhantes e pudessem ser partilhados sem grandes problemas, criando um interesse comum das companhias pela solução de um problema também comum (McDaniel, Howard e Emery, 1998).

levou a um progressivo abandono das redes à superfície para os sistemas enterrados, motivou também uma maior complexidade das redes e dos problemas legais e de contiguidade entre sistemas diferentes, que tinham de ser resolvidos com recurso a cartografia cada vez mais exigente e precisa. No entanto, as capacidades computacionais das empresas eram muito limitadas, situação que só se veio a alterar com o lançamento em 1964 da série 360 da IBM e a revolução que originou em termos de unificação dos sistemas informáticos que até aí se dividiam em científicos e comerciais (McDaniel, Howard e Emery, 1998).

Naturalmente, o primeiro problema que se pôs a estas companhia foi o da referenciação espacial das suas instalações, ainda antes de se pensar em cartografia digital. Tal foi por exemplo o caso da Bell of Pennsylvania, que pretendeu georeferenciar as suas infra-estruturas usando o “state plan coordinate system” já referido anteriormente. Estas ideias não foram aceites de imediato, mas estava lançada a necessidade de encontrar um sistema inequívoco, simples e universal (McDaniel, Howard e Emery, 1998).

Em 1968, a Public Service Company of Colorado iniciou um projecto que visava identificar um código capaz de identificar e ligar entre si todas as infra-estruturas de modo a constituir uma grande base de dados: o “Common Identification Number System”. Numa primeira fase o trabalho centrou-se na procura de um sistema de coordenadas que possibilitasse a junção de todos os mapas avulsos em papel do cadastro das redes, com grelhas e orientações diferentes. Também aqui o relatório apontou no sentido das coordenadas estaduais atrás referidas. Outro aspecto do estudo apontava para a eliminação das múltiplas bases de dados parcelares, que eram constituídas para cada objectivo e logo abandonadas sem actualização, refeitas no ano seguinte e por ai adiante. Pretendia-se montar uma base de dados central, utilizável por todos os projectos e permanentemente actualizada (McDaniel, Howard e Emery, 1998).

Este projecto inicial marcou o nascimento da indústria de AM/FM, sobretudo pela influência gerada pelo disseminar dos vários técnicos envolvidos pelas empresas que mais tarde viriam a desenvolver essa indústria. A IBM entretanto envolvera-se nestas ideias, desenvolvendo estudos de mercado junto de outras companhias e iniciando projectos de desenvolvimento de software específico. Com o início dos anos 70, a investigação segui no entanto três caminhos diferentes, embora todos tivessem os mesmos objectivos finais: a IBM tentando resolver os problemas de gestão da base de dados e ligação entre ficheiros; a Computer Graphics Company tentando trabalhar os problemas de interface com o utilizador e conversão de dados; a M&S Computing orientada para a combinação dos problemas de interface com o utilizador com a tecnologia de base de dados (McDaniel, Howard e Emery, 1998).

No entanto, até 1978, continuou a não existir um empenho de nenhuma empresa numa solução comercial viável. Isso aconteceu apenas quando McDaniel e Hargis passaram a trabalhar na Intergraph, combinando os conceitos de ambas com uma já desenvolvida estrutura de desenho assistido por computador (McDaniel, Howard e Emery, 1998). Na mesma altura, a IBM decidiu finalmente avançar com um produto de software. A presença destas duas grandes empresas fez o resto, motivando os clientes para a necessidade da AM/FM e desenvolvendo os produtos necessários. Por fim, Emery lança uma conferência e uma publicação dedicada ao tema, possibilitando o circular de ideias e conceitos de forma mais aberta e publicitada.

IBM, a que não será alheia a vantagem de que dispunha à partida no campo das aplicações gráficas. A IBM demorou algum tempo a conseguir reunir um pacote de hardware e software adequado, mas serviu para incutir segurança e confiança aos potenciais compradores deste tipo de sistemas (McDaniel, Howard e Emery, 1998).

A partir dos finais dos anos 80, a procura estava estabilizada no mercado e novas companhias como a ESRI, a Smallworld ou a GeoVision apareciam também neste nicho de aplicações. Terá sido esta uma das maiores novidades desta época: o aparecimento das empresas de aplicações e a homogeneização entre os conceitos de AM/FM e SIG (GIS) derivada da integração destas aplicações (McDaniel, Howard e Emery, 1998).

Ainda assim, numerosas novidades viriam enriquecer esta tecnologia, agora perfeitamente fundida no conceito SIG. Referimos por exemplo o conceito de bases de dados orientadas por objectos (com enormes potencialidades nesta área), ou a integração de imagens raster com dados vectoriais. Ao nível da imagem, a aquisição de imagens por detecção remota, quer de satélite, quer de fotografia aérea, abriu também novos caminhos à realização de projectos com custos e prazos aceitáveis. E, para terminar, o que dizer da utilização do sistema de posicionamento global (GPS) como sistema de referenciação absoluto das redes e infra-estruturas, ou da interoperabilidade de sistemas perseguido pelos sistemas abertos, que permitem (ou permitirão) a fácil comunicação entre entidades e sistemas diferentes?