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6.5.1 Estatísticas de pequenas áreas / Munistat

As primeiras iniciativas que incorporaram o tratamento espacial de informação estatística com recurso à utilização de ferramentas de SIG começaram na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, no âmbito da investigação em curso no respectivo Departamento de Informática, sob a orientação do Prof. António Arnaud que, desde 1985, desenvolveu actividades de investigação no domínio da georeferenciação e produção de estatísticas de pequenas áreas, nomeadamente através do projecto Municenso (Arnaud, 1985).

A partir de 1989 esta abordagem foi aprofundada com a constituição de uma equipa de trabalho, no âmbito do referido departamento, no sentido de vir a demonstrar o potencial da georeferenciação de informação sócio-económica de pequenas áreas junto do Instituto Nacional de Estatística (INE). Este organismo resolveu posteriormente adoptar as metodologias desenvolvidas,

dando origem à sua implementação generalizada no âmbito do projecto Munistat, o que veio a constituir o ponto de partida para o posterior processo de conversão analógico-digital, que viria a ser executado alguns anos mais tarde.

O INE dispunha já, nessa altura, de um Núcleo de Cartografia responsável pela informação cartográfica elaborada para os censos de 1981, bem como pelas matrizes em papel com toda a informação espacial coligida para suporte aos Censos de 1991. Este grupo de técnicos mantinha um interesse pela georeferenciação dos dados já desde 1988 (Santos, 2005). As matrizes em papel cobriam, pela primeira vez, a totalidade do território nacional ao nível da sub-secção estatística. Foram então dados os primeiros passos para que essa informação em papel pudesse ser digitalizada e que aos polígonos daí resultantes pudesse ser associada informação estatística desagregada, nomeadamente a proveniente do Ficheiro-Síntese, que era então constituído por um conjunto com cerca de meia centena variáveis dos censos referenciados à referida unidade de subsecção estatística. O objectivo era o de disponibilizar mais informação desagregada ao nível de subsecção, de modo a que o seu conjunto funcionasse como uma potencial infra-estrutura para a referenciação de informação estatística e como instrumento fundamental para a implementação de SIG, tanto no INE como noutras entidades (Geirinhas, 2004).

Para testar estas soluções, foram utilizados pacotes comerciais de baixo custo, nomeadamente o software Atlas MapMaker e Atlas GIS, ambos produzidos pela Strategic Mapping Inc., e posteriormente o MapInfo (foi este o primeiro projecto a utilizar ferramentas SIG no INE). Nesta fase, a informação foi digitalizada em CAD por entidades externas e convertida para os formatos proprietários do software referido, podendo-se então efectuar a referenciação dos dados. Nesta fase, recorrendo já aos meios internamente disponíveis no INE e demonstrando as potencialidades da representação espacial da informação estatística. (Geirinhas, 2004).

O Projecto Munistat preconizava a generalização dos procedimentos então desenvolvidos, tendo sido elaborado um plano de investimento que identificou as necessárias aquisições de equipamentos, a formação de recursos humanos e demais necessidades. Este projecto não foi contudo levado a bom termo, tendo encontrado condicionalismos internos que impediram a sua concretização, de que se destacam, segundo Geirinhas (2004), dois aspectos:

- a alteração de liderança que, como acontece em geral para projectos com necessidade de forte proximidade aos níveis de decisão, condicionou o seu desenvolvimento;

- o ciclo de investimento do INE que, estando incumbido de executar decenalmente os censos, fica muito condicionado pelo seu calendário operacional, coincidente com a preparação, recolha, registo e produção de resultados, a que se segue um natural período de contracção. O alargamento destas experiências de digitalização das matrizes em papel, existentes nos arquivos do INE, à totalidade da informação geográfica existente não foi pois implementada, pelo que a digitalização das bases cartográficas só veio a ocorrer anos mais tarde.

6.5.2 Conversão analógico digital dos dados do INE

De facto, o INE teve uma experiência mais séria de digitalização de bases geográficas em 1995, no âmbito de um projecto comunitário, com a participação do CNIG e do LNEC, que tratava de definir os aglomerados urbanos na área da grande Lisboa. A delimitação era feita de acordo com três

vertentes específicas: duas delas passavam pela utilização de imagem satélite (a cargo do LNEC e do CNIG, respectivamente) e a terceira recorria ao uso de informação estatística sobre habitação e construção, disponível internamente no próprio INE.

Este projecto levou a que fosse feita a primeira digitalização alargada de dados em papel, tendo-se adquirido um software PCArcINFO e duas mesas digitalizadoras, sendo inclusivamente ministrada formação aos técnicos envolvidos. Quando, em 1995, começaram a desenvolver o trabalho com o LNEC e o CNIG a escolha do software foi orientada para os produtos da ESRI, mais pelas especificações do trabalho e das necessidades de formato final, dos dados do que por outro factor. O INE acabou por evoluir nessa gama de produtos, tendo tido contacto, antes do ArcINFO, com o PCArcINFO e o ArcView 3.0 (eventualmente 2.1). A informação de subsecção da BGRE existente neste momento decorre desse primeiro trabalho (Santos, 2005).

O CNIG viria a manter com o INE uma colaboração importante, desde 1997, tendo tido um papel determinante na digitalização e construção do suporte cartográfico da informação, bem como no financiamento da digitalização, para os censos de 2001 (Santos, 2005). Foi inclusivamente previsto que a informação da BGRI fosse disponibilizada no SNIG, mas tal não chegou a acontecer.

6.5.3 Base Geográfica de Referenciação de Informação (BGRI)

Esta metodologia veio a arrancar em pleno em 1997, tendo em vista a preparação dos censos de 2001, elaborando um exaustivo e bem sucedido plano de implementação que recorreu à contratação de entidades externas, nomeadamente o Instituto Geográfico do Exército (IGeoE). Neste âmbito verificou-se o envolvimento de várias entidades, de que se destacam o Centro Nacional de Informação Geográfica (CNIG), o Instituto Português de Cartografia e Cadastro (IPCC) e a totalidade das Câmaras Municipais. O objectivo era obter a base geográfica digitalizada e actualizada, preparando os dados para posterior impressão massiva, destinada a suportar a execução do trabalho de campo dos Censos 2001 (Geirinhas, 2004).

Em termos de georeferenciação esta operação correu de forma positiva (Geirinhas, 2004), estando a inicialmente designada Base Geográfica de Referenciação Espacial (BGRE) de 1991, a Base Geográfica de Referenciação de Informação (BGRI) de 2001, e a Base Mínima Comum (BMC), que permite relacionar ambas (BGRI 1991 e BGRI 2001), disponíveis e estabilizadas, assim como os respectivos dados do Ficheiro-Síntese referenciados a essas unidades (Geirinhas, 2001).

A BGRI 2001 foi executada a partir da de 1991, recorrendo a fontes diversas para a sua actualização, tendo sido discutida e aprovada, caso a caso, com todos os municípios, negociando soluções de consenso para fins estatísticos sempre que se registaram situações de conflito nos respectivos limites. Nesta tarefa de preparação dos últimos censos, o INE contou com a colaboração do ISEGI, com um suporte definido em protocolo e, especificamente, com Marco Painho. Recentemente houve uma harmonização com os limites da Carta Administrativa Oficial de Portugal (CAOP) produzida pelo Instituto Geográfico Português (IGP). A CAOP terá sido um dos mais importantes projectos em que o INE participou, ao contribuir para uma Carta Administrativa única do território nacional (Santos, 2005).

O custo do suporte cartográfico, com tudo o que está envolvido (incluindo trabalho de campo e validação), rondou os 20% do custo total do recenseamento, num valor que ronda os 10 milhões de

euros. Na altura dos grandes projectos, nomeadamente os recenseamentos, existe mais financiamento disponível para projectos de investigação, o que acaba por ser o grande motor do desenvolvimento desta área relativamente recente. Em direcções anteriores houve orientações para que houvesse alguma recuperação de custos na venda da BGRI. Desse modo, a BGRE chegou a ser a segunda maior fonte de receita do INE (Santos, 2005). A tendência parece entretanto ter sido invertida, tendo vindo a ser disponibilizados de forma gratuita um maior número de dados estatísticos.

Para trabalhos futuros, o INE encontra-se a enriquecer a sua base de georeferenciação para fins estatísticos, que terá duas componentes fundamentais, com dois objectivos: a divulgação dos dados e o suporte à produção: a divulgação de dados para pequenas áreas e, nos aspectos de produção, a realização de estatísticas mais detalhadas (Santos, 2005). Assim estão já a descer abaixo da subsecção, na perspectiva de vir a ter três componentes no sistema de georeferenciação. Uma componente poligonal, que já existe e para a qual é necessário proceder à actualização constante (aplicaram a CAOP à BGRI o que originou inúmeros acertos). Uma segunda componente, que passa por criar novas subdivisões dentro dessas subsecções, o que implica uma cartografia actualizada em escala grande. Isso tem novas dificuldades: tem de ser feita de acordo com os municípios e requer a disponibilidade de uma cartografia de referência actualizada. Ao terceiro nível, de natureza pontual, tenta-se criar uma base referente a edifícios, começando pelo Alentejo, usando dados recolhidos nos censos de 2001 pela Direcção Regional do Alentejo (Santos, 2005). Esta última componente virá a ser progressivamente melhorada com o aperfeiçoamento do SIOU que veremos de seguida.

6.5.4 Sistema de Informação das Operações Urbanísticas

No âmbito do Sistema de Informação das Operações Urbanísticas (SIOU) que preconiza actualmente a referenciação das respectivas licenças ao nível da sub-secção e, numa próxima fase, mediante a sua marcação pontual (definindo o local) sobre a BGRI, o INE disporá futuramente de um instrumento susceptível de actualizar indirectamente as suas infra-estruturas de informação geográfica para as quais, uma vez recuperado o passivo desde 2001, bastará a validação das Câmaras Municipais. (Geirinhas, 2004).

Este projecto, ainda sem grandes resultados, tem sido referenciado à freguesia, e poucas autarquias o fazem com detalhe maior. Algumas, como as do Alentejo, fazem a referenciação ao nível da subsecção. Para ultrapassar estas dificuldades, foi elaborada uma aplicação que irá começar a ser usada por algumas CM, com acesso por autenticação, onde se visualizam as subsecções, se pode fazer pesquisa por rua ou morada e depois por reconhecimento visual, se marca o sítio e recolhe o código do local, ficando o ponto devidamente referenciado no espaço (Santos, 2005).

6.5.5 Tecnologias móveis nos censos

Em 2001 não foram usados PDA, mas os técnicos do INE tiveram contacto um projecto de Timor em que foi usada essa tecnologia onde perceberam o manancial de informação que foi possível recolher. Num projecto sobre recenseamento de estabelecimentos de restauração, fizeram um estudo relativo aos custos de preparação do suporte cartográfico com uso de PDA e revelou-se que era vantajoso para o INE, na altura, usar esse tipo de tecnologia (Santos, 2005). É previsível que, num

futuro relativamente próximo, esta venha a ser uma ferramenta vulgar na recolha de informação estatística porta a porta.

Por outro lado, o INE nunca teve uma ferramenta que lhe permitisse normalizar endereços e esse trabalho foi sempre encomendado a entidades do exterior para fazer. As novas directivas vão agora no sentido de ser altura de investirem no tratamento de moradas, adquirindo primeiro uma aplicação e desenvolvendo conhecimento que lhes permita ser autónomos nesta área (Santos, 2005). Esse será um primeiro e fundamental passo para que, sobre este conhecimento das moradas, sejam desenvolvidos métodos mais expeditos de recolha de informação no terreno, quer usando os PDA, quer outras tecnologias.

6.5.6 O fim anunciado dos censos

Há um grupo de trabalho que tem como objectivo estudar as necessidades de informação geográfica para os censos de 2011 e está relativamente definido o caminho: uma base de dados georeferenciada, em vez de uma “amostra mãe” de áreas, cuja natureza é granular. Pretende-se vir a ter uma base nacional de endereços, de alojamentos (Santos, 2005).

Não sabendo ainda como vai ser o próximo censo, o INE trabalha com dois objectivos: por um lado aproveitar a informação interna de que dispõe desde 2001 (que não estava a ser usada totalmente) e criar uma infra-estrutura que permita georeferenciar ficheiros de endereços. Tudo aponta para que a actividade estatística use cada vez mais ficheiros administrativos. Nesse sentido estão a desenvolver uma base de segmentos de arruamentos, com o eixo de via da BGRI e as moradas dos censos. Com uma análise de vizinhança, pretendem classificar os eixos de via com informação das moradas disponíveis para a área. Existe um protótipo já a funcionar e irá ser criada uma primeira versão para validação junto das autarquias. Esse será um primeiro passo que, no extremo, poderá levar à elaboração de análises estatísticas efectuadas inteiramente por tratamento de dados administrativos.

Existem países que já não fazem censos: ou fazem amostragens com algum significado e extrapolam o resto, ou fazem apenas um controle por amostragem, porque o resto da informação decorre de actos administrativos. Ou seja, a informação é inferida indirectamente de actos administrativos que são registados, e processam a informação periodicamente, fazendo amostragens para aferir a qualidade do modelo. A tendência é a de aproveitar estes actos para obter a informação, não gastando recursos em censos (Geirinhas, 2004).

Na opinião de Ana Santos (Santos, 2005), é muito difícil deixar de haver censos, pelo menos em 2011. O próximo vai ser um censo clássico, embora com alguma inovação, uma vez que não foi preparada em 2001 a estrutura para que fosse possível no próximo fazer um censo exclusivamente administrativo. No entanto, essa possibilidade não está posta de parte em futuros recenseamentos, caso se verifique ser essa a maneira mais adequada de o fazer.