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O ensino ao nível das escolas secundárias

6.6 AS UNIVERSIDADES E A INVESTIGAÇÃO

6.6.8 O ensino ao nível das escolas secundárias

O reconhecimento generalizado que a formação em tecnologias de informação tem de descer ao nível do ensino secundário (ou antes ainda) levou a que, no âmbito de uma reestruturação curricular do ensino secundário, tenha sido criada uma nova disciplina no Curso tecnológico de Ordenamento do Território, mais precisamente no 12º ano, com o nome de Introdução aos Sistemas de Informação Geográfica.

Por outro lado, uma iniciativa desenvolvida no seio da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, denominada projecto GEOLAB, tem vindo a possibilitar a divulgação dos SIG junto das camadas pré-universitárias, com várias sessões de divulgação destas tecnologias. Foi ainda possível criar cerca de vinte laboratórios de informação geográfica em escolas de todo o país (Julião, 2001).

Numa outra vertente, a das escolas profissionais, destaca-se também a experiência levada a cabo pelo ISEGI em parceria com a Escola Profissional de Ciências Cartográficas (EPCC), que recebeu três alunos desta escola. Esta iniciativa conduziu á elaboração por parte dos alunos de várias aplicações WebGIS, apresentadas no ESIG de 2002 (Painho et al, 2002). Esta escola profissional, que existe na tutela do próprio Instituto Geográfico Português, ministra desde 1998 um curso de Técnico de Sistemas de Informação Geográfica, com a duração de três anos, dirigidos a alunos com o 9º ano de escolaridade ou equivalente.

6.7 Resumo cronológico

1986 Governo prepara o lançamento de um Sistema Nacional de Informação Geográfica

1986 Grupo de trabalho inicia os estudos de implementação do SNIG

1986 Leonor Gomes recruta técnicos de Sines (cerca de 11 pessoas) para o Ministério do Ambiente

1986 Trazida dos EUA uma cópia do PC Arc/INFO, oferecida pela ESRI

1986 Concluído o relatório “Sistema Nacional de Informação Geográfica – Relatório Síntese”

1987 Começa na FCSH o ensino formal de Detecção Remota

1987 Direcção Geral do Ambiente (DGA) decide desenvolver um SIG

1987 Iniciado o projecto SIG da Câmara Municipal de Oeiras (inauguração experimental em 1989)

1987 Workshop destinado a avaliar a proposta de criação do SNIG

1988 Lançado o concurso para aquisição dos equipamentos dos nós do SNIG

1989 Equipamento adquirido no concurso era instalado

1989 Realizado o Urban Data Management Symposium

1990 Comissão de reestruturação do IGC apresenta conjunto de medidas para viabilizar o cadastro

1990 Criada a USIG com um modelo semelhante a outras associações congéneres europeias

1990 ISEGI iniciou o ensino na área dos SIG com cadeiras específicas

1990 Pós-Graduação em SIG na Universidade Atlântica, em colaboração com a Municípia

1991 CNIG é criado em 1990 pelo mesmo Decreto-Lei que institucionaliza o SNIG

1991 Iniciado no CNIG o processo de contratação de técnicos para investigação e desenvolvimento.

1991 Primeira grande realização da USIG: o ESIG de 1991 (que se repetiram em 1991, 1993,

1995, 1997, 1999, 2000, 2001, 2002 e 2004)

1992 Começam a surgir de forma disseminada os SIG baseados em PC

1993 Criada a Rede Temática de Processamento Digital de Imagens, em colaboração com a JNICT

1993 Inauguração do SNIG em Junho de 1993, utilizando o suporte físico da rede da Telepac

1993 Surgem no Instituto Hidrográfico (IH) as tecnologias de cartografia digital

1994 CNIG inicia os processos de conversão da cartografia temática civil existente em papel

1994 Grupo de Cartografia de Risco de Incêndio Florestal inicia cartografia 22 municípios

1994 IST lança o curso de mestrado no ano lectivo 1994/95

1994 Lançados os programas PROSIG e PROGIP

1995 Cobertura total do continente em fotografia aérea, em colaboração com a CELPA e DGF

1995 INE inicia experiências de digitalização de bases geográficas

1995 Instituto Hidrográfico a primeira carta digital (impressa em papel)

1995 SNIG foi o primeiro sistema de informação geográfica na World Wide Web a nível mundial

1996 A aplicação PROGIP recebe o Prémio Descartes de 1995, do Instituto de Informática

1996 Atlas do Ambiente passa a estar disponível online (desde 2001 em formato dinâmico)

1997 Criada pelo CNIG a Rede de Observação da Terra (ROT)

1997 Primeiros passos do SIGAMAR (Sistema de Informação Geográfico sobre o Ambiente

Marinho)

1997 Processo de produção de cartas em formato digital iniciado no IH

1997 Universidade de Coimbra incorpora o ensino formal de SIG na licenciatura em Geografia

1998 CNIG colabora com SNPC num sistema de gestão das situações de emergência

1998 Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa inicia ensino formal de SIG

1998 Realizado em Portugal o GIS Planet ‘98, evento marcante do ponto de vista internacional

Geográfica

1999 Criação do GEOCID, um portal de informação geográfica orientado para o cidadão comum

1999 Fotografias aéreas da CELPA ficam disponíveis para visualização através da WWW

1999 ISA lecciona disciplina de Sistemas de Informação Geográfica

1999 PROSIG termina, com 92 protocolos de adesão celebrados, num total de 178 municípios

2000 Desenvolvimento de um protótipo SIG no Instituto Hidrográfico

2000 Universidade de Lisboa introduz uma licenciatura com cadeiras dedicadas aos SIG

2002 Criado Mestrado em Ciência e Sistemas de Informação Geográfica, recorrendo a ensino à

distância

7 A situação portuguesa no final do século

7.1 As mudanças recentes

Ao longo dos últimos anos, tanto em Portugal como no resto do mundo, houve vários aspectos que se alteraram profundamente, no domínio dos SIG. Assistimos, em determinada altura, a uma fase de comportamento quase aberrante face ao que deveriam ser as preocupações de introdução de uma nova tecnologia (Bento, 2004). Tivemos por isso durante o período áureo do CNIG uma inversão de valores, com consultores e académicos à procura de problemas para poder vender as soluções. Quando este tipo de comportamento atinge o exagero, mais cedo ou mais tarde deixa de ser sustentável, e as organizações percebem que foram arrastadas mais pelo entusiasmo, do que propriamente pela necessidade de adquirir as soluções que lhes foram propostas (Bento, 2004). Terá acontecido isso em Portugal, bem como em muitos outros sítios, quer nos meios académicos, no final da década de 90 e princípio deste século, quer nos meios profissionais, quer no mercado dos utilizadores. As empresas procuraram angariar clientes, procurando (e mesmo inventando) problemas que eles nem tinham ainda encontrado, para depois lhes poder vender a solução que resolvia esses problemas.

No momento actual, pautado por uma maior ponderação, temos (talvez pela primeira vez) organizações em que os seus departamentos de marketing, de logística, de gestão de infra-estruturas, e mesmo a administração (para as questões de gestão do território), são finalmente utilizadores genuínos. Enquanto que, na década de 90, existia uma grande excitação em torno dos SIG, mas a utilidade dos sistemas montados era muito pequena, estamos agora numa fase em que a tal excitação desceu bastante, mas a utilidade cresceu e é bastante mais genuína (Bento, 2004), porque os sistemas passaram a responder efectivamente às necessidades e à procura de soluções por parte dos utilizadores finais. Esta tendência de maior sobriedade pode atribuir-se ao facto de termos hoje, quer nas empresas, quer nas universidades, novas pessoas a reflectir sobre os problemas da informação geográfica, e do seu ensino, de uma forma mais serena e mais conscientes dos problemas organizacionais e sociais que uma revolução nas tecnologias da informação implica.

Inicialmente os SIG foram usados (não só em Portugal) como instrumentos quase autónomos no contexto das organizações, com uma faixa de utilização que se restringia a alguns departamentos técnicos no seio das organizações. Hoje são muito mais abrangentes no âmbito da sua utilização. Sabemos que a localização é o denominador comum por excelência de quase toda a informação que existe, a qual está associada a uma outra variável extremamente importante: o tempo (Julião, 2004), na qual ainda subsistem algumas dificuldades, decorrentes em boa parte do próprio conceito do modelo relacional de base de dados que ainda impera no mercado. Ainda assim, mesmo com uma modelação da variável tempo ainda grosseira, estes sistemas têm aplicabilidade em quase todas as áreas empresariais e do conhecimento.

Um outro impacto nas organizações, este de natureza mais tecnológica, foi a alteração na forma tradicional de implementar os sistemas, com bases de dados alfanuméricas monumentais, a que correspondem umas bases de dados também enormes de informação cartográfica. Isso explica porque uma área emergente hoje em dia seja o data mining: as bases de dados começam a ser tão grandes, que já não é possível procurar evidências nesse mar de informação sem ferramentas de análise muito

específicas (Julião, 2004), como as de data mining. Esses grandes sistemas proprietários e fechados, encontram-se ultrapassados (Bento, 2004). Com o aparecimento de uma World Wide Web utilizável (i.e. com uma largura de banda que permite o uso de dados geográficos) e a disponibilidade de tecnologias de integração de fontes diferentes, o grau de disseminação da informação geográfica é bastante maior do que na década de 90.

Os próprios SIG mudaram muito enquanto tecnologia, tanto na facilidade de utilização como na capacidade de análise. Temos hoje ferramentas mais poderosas do ponto de vista das funções, mas com interfaces muito mais simples de operar e custos equivalentes ou menores (Julião, 2004), fruto em grande parte de uma progressiva evolução “user-friendly” dos próprios sistemas operativos e, naturalmente, de uma queda brutal do custo do hardware. Actualmente, a utilização da tecnologia propriamente dita é simples, e é mais importante saber mais da área temática daquilo que está a ser tratado, do que da ferramenta de SIG. Em suma, saber daquilo que estamos a modelar.

Espera-se que o papel dos consultores deixe de ser a formação de base no uso de um ou outro software (que foi o grande mercado dos anos 90, a par da conversão de formatos), e acabe por se restringir ao aconselhamento sobre as grandes opções e estratégias de implementação nas organizações. Os sistemas a funcionar em organizações vão estar seguramente mais integrados no sistema de informação genérico, embora parte da informação seja georeferenciada. Quando se atingir este estado de desenvolvimento, os SIG estarão perfeitamente maduros do ponto de vista organizacional.

Na opinião de Costa (2004), dentro de 50 anos já não falaremos de SIG, que acabarão por se banalizar. As grandes etapas no desenvolvimento terão que ver, ou com desenvolvimento de software, ou com grandes bases de dados que passaram a ser disponíveis e, por isso, tiveram impacto significativo nas coisas que aconteceram a seguir. Os disponibilidade dos ficheiros TIGER nos Estados Unidos são um bom exemplo deste tipo de impulso. Estando particularmente atrasados neste aspecto, de existência e disponibilidade de dados com qualidade, espera-se que este venha a ser um salto muito significativo nos SIG portugueses, quando a informação existir e for pública.

Em Portugal, o diagnóstico actual feito por alguns dos entrevistados, como Machado (2004) não é contudo favorável, o que parece ser reconhecido pela própria administração. Este mencionou, como exemplo, o texto publicado em Diário da República em Despacho do Ministro das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente em que se afirma necessária uma base nacional de informação geográfica, propriedade do Estado, mantendo-se actualizada, exigindo uma gestão rigorosa dos dinheiros públicos e uma eficaz articulação entre serviços (D. R. II Série, N.º 125 – 30 de Maio de 2003, pp. 8419):

“Isto não tem acontecido, e a falta de estratégia para a actividade cartográfica, tendo em vista a sua dinamização, a optimização dos recursos e a obtenção de economias de escala, nunca existiu, o que se tem traduzido numa redutora intervenção do papel regulador do Estado, em enormes desperdícios e sobreposições no consumo dos recursos públicos e à inexistência de um sistema nacional de informação geográfica consistente e que verdadeiramente responda às reais necessidades multisectoriais do País em matéria de informação geográfica.”