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ANÁLISE DE CASOS SUCESSÓRIOS CONCRETOS APROFUNDAMENTO DAS REGRAS DA SUCESSÃO LEGÍTIMA

No documento Flávio Tartuce - Vol. 06.pdf (páginas 190-196)

A finalizar o capítulo, e com o fim de aplicar todos os conceitos e todas as divergências expostas até o presente momento, insta trazer à exposição alguns casos concretos sucessórios, comuns à prática, com a finalidade de concretizar o Direito Privado brasileiro.

Como é notório, tornou-se comum, na metodologia jurídica, a exposição das razões fáticas que amparam uma tese ou uma premissa levantada. Conforme demonstra Castanheira Neves, o caso jurídico é um concreto problema jurídico: “nesses termos, o caso jurídico é um concreto problema jurídico: a pré-síntese de um interrogativo sentido concreto de intenção jurídica que conjuga uma intenção normativa geral ou de validade com uma situação concreta, enquanto fundamenta naquela intenção a pergunta que dirige a esta situação” (Metodologia..., 1993, p. 162).

Na esteira dessa constatação, Francisco Amaral demonstra que, do ponto de vista prático, uma das funções que se pode atribuir ao Direito Civil é a de resolução dos conflitos de natureza privada. Nasce daí, para ele, a vivência social que interessa ao âmbito jurídico, a experiência jurídica, que constitui “uma concreta experiência de conflitos de interesses que o direito é chamado a disciplinar no exercício de uma das suas mais importantes funções, a de resolver tais problemas, visando garantir a realização dos ideais humanos de ordem, justiça e bem comum” (Direito..., 2003, p. 10).

Cabe lembrar que a visão tridimensional do Direito gera demandas de buscas reais do alcance das normas jurídicas, que, além de válidas e eficazes, devem ser eficientes no campo prático. Por isso, Miguel Reale fala em um normativismo concreto, “consubstanciando-se nas regras de direito toda a gama de valores, interesses e motivos de que se compõe a vida humana, e que o intérprete deve procurar captar, não apenas segundo as significações particulares emergentes da ‘práxis social’, mas também na unidade sistemática e objetiva do ordenamento vigente” (Teoria..., 2003, p. 77).

Na linha do exposto pelos notáveis juristas citados, uma boa obra que se propõe não pode ficar alheia a essa experiência. Desse modo, é essencial demonstrar como as regras jurídicas estudadas têm as correspondentes soluções práticas, o que, a partir do presente momento, será empreendido por este livro, a partir da análise detalhada de dez casos sucessórios propostos.

Alerte-se que todas as hipóteses fáticas envolvem sucessões abertas na vigência da atual legislação e que os problemas, definitivamente, não esgotam a matéria, servindo apenas para cumprir a missão que dever ser desempenhada por um manual de Direito Civil.

Como muitas dúvidas percebidas por este autor dizem respeito também à meação – que, como dito em vários momentos deste livro, não se confunde com a herança –, essa categoria também estará em cena a partir de agora. Cabe ressaltar que serão utilizados os termos recebe e receberá também para meação, mas apenas para fins didáticos, pois tais bens já são do cônjuge ou companheiro sobrevivente. Vejamos caso a caso, já atualizados com a recente decisão do Supremo Tribunal Federal, sobre a inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC.

1.º CASO. Concorrência sucessória do cônjuge com descendentes na comunhão parcial. O caso sucessório mais comum

João e Maria casaram-se em 2003, muito jovens e sem patrimônio, pelo regime da comunhão parcial de bens. Da união nasceram dois filhos, José e Carlos. Em 10.10.2013 João faleceu, deixando um patrimônio de R$ 2.000.000,00, adquirido na constância do casamento. O falecido deixou bens particulares, porém apenas bens de uso pessoal de pequena monta. Como

serão partilhados tais bens, levando-se em conta a meação e a sucessão?

Resposta: No caso descrito, deve-se, inicialmente, assegurar a meação de Maria, que é de R$ 1.000.000,00. Em relação ao restante dos bens, adquirido durante o casamento (bens comuns), será dividido igualmente entre os filhos, José e Carlos, a título de herança, que recebem R$ 500.000,00 cada um, interpretação do art. 1.829, inciso I, do Código Civil. Isso porque, na linha do entendimento majoritário antes exposto, da doutrina e agora também da jurisprudência do STJ, a concorrência do cônjuge, no caso descrito e por ser o regime de bens do casamento, o da comunhão parcial, somente diz respeito aos bens particulares do falecido, que não são relatados no problema. Por esse caminho, a esposa é reconhecida apenas como meeira, e não como herdeira.

No entanto, se adotada a posição anterior do Superior Tribunal de Justiça no REsp 1.117.563/SP e no REsp 1.377.084/MG, no sentido de que a concorrência sucessória diz respeito aos bens comuns, Maria receberia, além de sua meação, o valor de R$ 166.666,66, em conjunto com os filhos José e Carlos, que recebem a mesma quota. Pela última ideia, a esposa passaria a ser meeira e herdeira, o que não contava com o apoio deste autor, que sempre seguiu aquela posição majoritária.

Cabe ressaltar que essa posição anterior parece ter sido superada pelo próprio Tribunal da Cidadania, que acabou por consolidar em sua Segunda Seção que a concorrência sucessória do cônjuge, na comunhão parcial, diz respeito apenas aos bens particulares (ver: REsp 1.368.123/SP, 2.ª Seção, Rel. Min. Sidnei Beneti, Rel. p/ Acórdão Min. Raul Araújo, j. 22.04.2015, DJe 08.06.2015).

2.º CASO. Concorrência sucessória do companheiro com descendentes comuns. Soluções anterior e posterior ao julgamento do STF, de inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC.

João e Maria passaram a viver em união estável em 2003, muito jovens, sem patrimônio e sem a celebração de um contrato de convivência. Da união nasceram dois filhos, José e Carlos. Em 10.10.2013 João faleceu, deixando um patrimônio de R$ 2.000.000,00, todo ele adquirido onerosamente na constância da união estável. Como serão partilhados tais bens, levando-se em conta a meação e a sucessão?

Resposta anterior à decisão do STF: A presente análise é interessante, a fim de demonstrar a premissa antes exposta, de que o companheiro poderia ser beneficiado em relação ao cônjuge nas situações em que todo o patrimônio é adquirido durante o relacionamento. Não se pode negar, aliás, que essas hipóteses são a maioria no meio social, pelo menos pelas experiências narradas para este autor em sua atuação nos âmbitos familiarista e sucessório.

Pois bem, como não há contrato de convivência fazendo a opção por outro regime, aplica-se à união estável o regime da comunhão parcial de bens (art. 1.725 do CC). Assim sendo, dever-se-ia assegurar a meação de Maria, que é de R$ 1.000.000,00. No tocante à herança, que engloba o restante dos bens (R$ 1.000.000,00) – todos eles adquiridos onerosamente durante a união estável –, dever-se-ia reconhecer a concorrência sucessória de Maria em relação aos descendentes comuns, recebendo ela a mesma quota que os filhos, conforme o art. 1.790, inciso I, do Código Civil. Assim, todos eles – Maria, José e Carlos – receberiam o valor de R$ 333.333,33, ficando bem claro que a companheira era meeira e herdeira, no sistema de vigência do art. 1.790 do CC.

Resposta posterior à decisão do STF: Como a união estável deve ser equiparada ao casamento, o companheiro deve ser colocado na ordem de sucessão legítima do art. 1.829 do Código Civil. Assim, inicialmente, deve-se assegurar a meação de Maria, que é de R$ 1.000.000,00. Em relação ao restante dos bens, adquirido durante o casamento (bens comuns), será dividido igualmente entre os filhos, José e Carlos, a título de herança, que recebem R$ 500.000,00 cada um, interpretação do art. 1.829, inciso I, do Código Civil. Como se nota, com a decisão do STF, a companheira recebe menos do que receberia no sistema anterior, ficando em dúvida o argumento da vedação do retrocesso, lançado no voto do Ministro Barroso.

3.º CASO. Concorrência sucessória do cônjuge com descendentes na comunhão universal de bens

João e Maria se casaram em 1973, pelo então regime legal, que era o da comunhão universal de bens; ele com um patrimônio que corresponde hoje a R$ 1.000.000,00, ela sem bens. Da união nasceram dois filhos, José e Carlos. Durante o casamento, foi amealhado um patrimônio total de R$ 5.000.000,00, pelo trabalho de ambos. Além disso, João recebeu uma herança de R$ 3.000.000. No ano de 2012, João faleceu, vítima de um infarto. Como deve ser dividido todo o patrimônio, de R$ 9.000.000,00, levando-se em conta a meação e a sucessão?

Resposta: Mais uma vez, é necessário assegurar a meação de Maria, que é de metade de todos os bens, anteriores e posteriores ao casamento, ou seja, o montante de R$ 4.500.000,00. Como o regime é o da comunhão universal de bens, não haverá concorrência sucessória do cônjuge em relação aos bens comuns adquiridos durante o casamento, ou seja, os R$ 2.500.000,00 restantes serão divididos igualmente entre José e Carlos, que recebem R$ 1.250.000,00 cada um. Trata-se de interpretação do inciso I do art. 1.829 do CC/2002. Entretanto, conforme ressaltado e na linha do entendimento majoritário, é preciso reconhecer a concorrência sucessória do cônjuge na comunhão universal em relação aos bens particulares, que totalizam

R$ 2.000.000,00 (bens que João já possuía ao se casar + bens recebidos por herança, descontada a meação). Esse último montante será dividido igualmente entre Maria, José e Carlos, que recebem R$ 666.666,66. Assim resumindo:

Maria receberá R$ 4.500.000,00 (meação) + R$ 666.666,66 (concorrência com os descendentes quanto aos bens partilhares do falecido) = R$ 5.166.666,66.

José receberá R$ 1.250.000,00 (herança sem concorrência, relativa aos bens comuns) + R$ 666.666,66 (concorrência com o cônjuge quanto aos bens particulares do falecido) = R$ 1.916.666,66.

Carlos receberá R$ 1.250.000,00 (herança sem concorrência, relativa aos bens comuns) + R$ 666.666,66 (concorrência com o cônjuge quanto aos bens particulares do falecido) = R$ 1.916.666,66.

SOMA TOTAL DOS VALORES = R$ 8.999.999,98, valor mais próximo dos R$ 9.000.000,00.

4.º CASO. Concorrência do cônjuge com descendentes do falecido na separação obrigatória de bens

João e Maria se casaram em 2005, ele então com sessenta e dois anos de idade, ela com trinta e cinco anos. Foi imposto o regime da separação obrigatória de bens, que até então atingia o maior de sessenta anos, pela redação originária do art. 1.641, inciso II, do Código Civil. Quando do casamento, João tinha um patrimônio de R$ 3.000.000,00 e dois filhos, José e Sílvia, havidos de um casamento anterior. Nada foi adquirido durante o casamento. João faleceu no ano de 2013. Como deve ser dividido todo o patrimônio, de R$ 3.000.000,00, levando-se em conta a meação e a sucessão?

Resposta: De início, não há qualquer meação a ser reconhecida para Maria, pois o regime foi o da separação obrigatória de bens, imposto pela norma jurídica, não havendo nenhum bem adquirido durante a relação. Se houvesse, seria cogitada a aplicação da Súmula 377 do Supremo Tribunal Federal, que estabelece a comunicação dos bens adquiridos durante a constância do casamento, com debate a respeito da necessidade da prova ou não do esforço comum. Partindo-se para a divisão da herança, não há concorrência sucessória do cônjuge no regime da separação obrigatória, por expressa dicção do art. 1.829, inciso I, do CC/2002. Desse modo, todo o patrimônio do de cujus será dividido igualmente entre José e Silvia, que recebem R$ 1.500.000,00 cada um.

5.º CASO. Concorrência do cônjuge com descendentes na separação convencional de bens

João e Maria se casaram em 2003 e fizeram a opção pelo regime da separação convencional de bens, firmando um pacto antenupcial nesse sentido. Quando do casamento, João já tinha um patrimônio de R$ 3.000.000,00 e, durante o relacionamento, aumentou os seus bens em mais R$ 2.000.000,00. Do casamento nasceram dois filhos, José e Sílvia, únicos de ambos. João faleceu no ano de 2012. Como deve ser dividido todo o patrimônio do morto, de R$ 5.000.000,00, levando-se em conta a meação e a sucessão?

Resposta: Quanto à meação, nada deve ser reconhecido para Maria, diante da adoção do regime da separação convencional de bens. Em relação à herança, adotando-se o entendimento majoritário de interpretação do art. 1.829, inciso I, do CC/2002, deve ser reconhecida a concorrência sucessória de Maria com os seus descendentes, o que engloba todo o monte. Assim, Maria, José e Sílvia recebem R$ 1.666.666,66. Cabe lembrar que essa posição acabou por ser consolidada pela Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, encerrando grande divergência anterior na Corte (REsp 1.382.170/SP, 2.ª Seção, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Min. João Otávio de Noronha, j. 22.04.2015, DJe 26.05.2015).

Contudo, se adotado o entendimento anterior e ora superado do Superior Tribunal de Justiça no REsp 992.749/MS, no sentido de que o regime da separação convencional é espécie do regime da separação obrigatória, há que afastar a concorrência sucessória do cônjuge. Por esse último caminho, Maria nada herdaria, sendo o patrimônio de R$ 5.000.000,00 dividido igualmente entre José e Sílvia, que recebem R$ 2.5000.000,00 cada um.

6.º CASO. Concorrência do cônjuge com ascendentes do falecido, que não deixou filhos. Casamento celebrado pelo regime da comunhão parcial de bens

João e Maria se casaram em 1998, pelo então regime legal, qual seja o da comunhão parcial de bens. Não tiveram filhos. Em 2010, João faleceu, deixando apenas a esposa e os pais, Carlos e Josefina. João se casou sem bens e adquiriu um patrimônio de R$ 6.000.000,00. Como deve ser dividido todo o patrimônio do morto, levando-se em conta a meação e a sucessão?

Resposta: Maria deve ter assegurada a sua meação de R$ 3.000.00,00, pois todos os bens foram adquiridos durante o casamento. Quanto à outra metade, o cônjuge concorre com os ascendentes em relação a todos os bens, e sem qualquer influência do regime de bens adotado (art. 1.829, inciso II, do CC/2002). Nos termos do art. 1.837 da codificação, como o cônjuge concorre com ascendente em primeiro grau, terá direito a um terço da herança. Em suma, Maria recebe mais R$ 1.000.000,00, totalizando o seu montante recebido R$ 4.000.000,00. Carlos e Josefina, pais do morto, recebem R$ 1.000.000,00

– – – – – – – – cada um.

7.º CASO. Concorrência do companheiro com descendentes exclusivos do autor da herança. Soluções anterior e posterior ao julgamento do STF, de inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC.

João e Maria passaram a viver em união estável em 2003, quando João já tinha dois filhos, Carlos e Silvia. Não houve a celebração de contrato de convivência, sendo o regime o da comunhão parcial de bens. Em 2013, João faleceu, deixando um patrimônio de R$ 3.000.000,00. Desse montante, João já tinha R$ 1.000.000,00 quando teve início o relacionamento. O restante – R$ 2.000.000,00 – foi adquirido onerosamente durante a união estável. Como serão partilhados tais bens, levando-se em conta a meação e a sucessão?

Resposta anterior à decisão do STF: Reservava-se, inicialmente, a meação de Maria, que corresponderia a R$ 1.000.000,00, metade dos bens havidos durante a união estável. Em relação aos bens anteriores à união estável (R$ 1.000.000,00), não havia qualquer meação ou direito sucessório da companheira, recebendo os filhos do de cujus R$ 500.000,00 cada um. Haveria concorrência sucessória de Maria com Carlos e Sílvia quanto à parte do morto nos bens adquiridos onerosamente durante a união, nos termos do art. 1.790, caput, do CC/2002, ou seja, no montante de R$ 1.000.000,00. Conforme constava do inciso II do último preceito, se o companheiro concorresse com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-ia a metade do que coubesse a cada um daquele. Então, era preciso dividir tal valor em cinco partes, para que se chegasse ao valor de cada um, pois os filhos recebem 2x o que o convivente teria como direito. O valor de x era R$ 200.000,00, sendo esse o monte do companheiro. Os filhos receberiam 2x, ou seja, R$ 400.000,00. Em resumo:

Maria receberia R$ 1.000.000,00 (meação dos adquiridos durante a união estável) + R$ 200.000,00 (herança, em concorrência com descendentes do falecido) = Total de R$ 1.200.000,00.

Carlos receberia R$ 500.00.00 (herança dos bens anteriores à união) + R$ 400.000,00 (concorrência com o companheiro quanto aos bens havidos onerosamente durante a união) = R$ 900.000,00.

Sílvia receberia R$ 500.00.00 (herança dos bens anteriores à união) + R$ 400.000,00 (concorrência com o companheiro quanto aos bens havidos onerosamente durante a união) = R$ 900.000,00.

SOMA TOTAL DOS VALORES = R$ 3.000.000,00.

Resposta posterior à decisão do STF: Com a equiparação da união estável ao casamento, a solução é simplificada. De início, é preciso reservar a meação de Maria quanto aos bens havidos durante a união, que é de R$1.000,00. Quanto ao restante dos bens, aplicando-se o art. 1.829, I, do Código Civil, o companheiro irá concorrer com os filhos quanto aos bens particulares do falecido, havidos antes da união (R$1.000.000,00). Assim, Maria, Carlos e Silvia recebem R$ 333.333,33 cada um.

Quanto aos R$1.000.00,00 restantes e que são posteriores ao casamento, devem ser atribuídos apenas aos filhos Carlos e Sílvia, que recebem R$500.000,00 cada um. Em resumo, o que agora coloca a companheira em situação de privilégio perante o sistema anterior:

Maria recebe R$ 1.000.000,00 (meação dos adquiridos durante a união estável) + R$ 333.333,33 (herança, em concorrência com descendentes do falecido, quanto aos bens particulares) = Total de R$ 1.333.333,33.

Carlos recebe R$ 500.000,00 (metade dos bens posteriores à união estável) + R$ 333.333,33 (concorrência com o companheiro e outro descendente quanto aos bens particulares) = Total de R$ 833.333,33.

Sílvia recebe a R$ 500.000,00 (metade dos bens posteriores à união estável) + R$ 333.333,33 (concorrência com o companheiro e outro descendente quanto aos bens particulares) = Total de R$ 833.333,33.

SOMA TOTAL DOS VALORES = R$ 3.000.000,00.

8.º CASO. Concorrência do companheiro com descendentes comuns e não comuns. Problema anterior atinente à filiação híbrida e a sua solução atual, com a decisão do STF.

João e Maria passaram a viver em união estável em 2003, quando João já tinha dois filhos, Carlos e Sílvia. Não houve a celebração de contrato de convivência, sendo o regime o da comunhão parcial de bens. Em 2013, João faleceu, deixando um patrimônio de R$ 6.000.000,00, todo ele adquirido onerosamente durante a união estável. Da união nasceram dois filhos, Mário e Luiza. Como serão partilhados tais bens, levando-se em conta a meação e a sucessão?

Resposta anterior à decisão do STF: Reservava-se, inicialmente, a meação de Maria, que corresponderia a R$ 3.000.000,00, metade dos bens adquiridos durante a relação. Quanto aos bens adquiridos onerosamente, durante a união estável, haveria concorrência do companheiro com os descendentes. Como existem filhos comuns e exclusivos do falecido, a hipótese

– – – – – – – – – – – – –

era de concorrência na sucessão híbrida, não tratada expressamente na legislação.

Deixando-se de lado as soluções matemáticas, a divergência dizia respeito à incidência do inciso I ou II do art. 1.790 do CC/2002. A maioria da doutrina entendia pela subsunção do inciso I. Sendo assim, por tal visão, o companheiro concorreria com os descendentes recebendo a mesma quota que estes. Desse modo, os R$ 3.000.000,00 restantes seriam divididos em cinco partes iguais (4 descendentes + companheira), recebendo cada um R$ 600.000,00. Então, resumindo, seguindo a corrente majoritária na doutrina anterior:

Maria receberia R$ 3.000.000,00 (meação) + R$ 600.000,00 (concorrência com os descendentes) = R$ 3.600.000,00. Carlos receberia R$ 600.000,00 (concorrência com a companheira).

Sílvia receberia R$ 600.000,00 (concorrência com a companheira). Mário receberia R$ 600.000,00 (concorrência com a companheira). Luiza receberia R$ 600.000,00 (concorrência com a companheira). SOMA TOTAL DOS VALORES = R$ 6.000.000,00.

Todavia, como antes exposto, alguns julgados concluíam pela subsunção do inciso II em casos tais, tese que era seguida por este autor. Sendo assim, a companheira passaria a concorrer com os descendentes recebendo meia quota destes. Assim, a parte relativa à concorrência deveria ser dividida em 9 partes, sendo x a quota da companheira e 2x as quotas dos filhos. Dividindo-se os R$ 3.000.000,00 por 9 chegar-se-ia ao montante de R$ 333.333,33, que é a quota da companheira, recebendo cada descendente R$ 666.666,66. Em resumo, seguindo-se essa corrente, a divisão passaria a ser a seguinte:

Maria receberia R$ 3.000.000,00 (meação) + R$ 333.333,33 (concorrência com os descendentes) = R$ 3.333.333,33. Carlos receberia R$ 666.666,66 (concorrência com a companheira).

Sílvia receberia R$ 666.666,66 (concorrência com a companheira). Mário receberia R$ 666.666,66 (concorrência com a companheira). Luiza receberia R$ 666.666,66 (concorrência com a companheira).

SOMA TOTAL DOS VALORES = R$ 5.999.999,99, valor mais próximo de R$ 6.000.000,00.

Resposta posterior à decisão do STF: Mais uma vez, toda a polêmica acima relatada desaparece, devendo o companheiro ser equiparado ao cônjuge e aplicando-se o art. 1.829 do Código Civil. Todavia, surgirá outro problema da sucessão híbrida, qual seja a necessidade de reserva ou não da quarta parte para o companheiro, assim como ocorre com o cônjuge. Acreditamos que, com a decisão do STF, o art. 1.832 do CC também se aplica à união estável, diante da necessidade de equiparação sucessória de ambas as entidades familiares. Ademais, seguiremos a doutrina amplamente majoritária, posição compartilhada por este autor, no sentido de não se fazer a reserva dessa quarta parte na sucessão híbrida. Pois bem, para a companheira, de início, é necessário reservar a meação de R$ 3.000,000, sendo certo que todos os bens foram adquiridos durante a união estável. Desse modo, não há concorrência sucessória de Maria com os descendentes, pois não existem bens particulares. Ato contínuo, o restante dos bens será dividido entre os quatro filhos do falecido, de forma igualitária, que receberão R$ 750.000,00 cada um. Como se nota, mais uma vez, a companheira ficou em situação pior do que no sistema anterior, seja por uma ou outra corrente que antes se seguia.

9.º CASO. Concorrência do companheiro com ascendentes do falecido, que não deixou filhos. Soluções anterior e posterior ao julgamento do STF, de inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC.

João e Maria passaram a viver em união estável em 2003, ambos sem filhos. Da união também não foram havidos descendentes. Não houve a celebração de contrato de convivência, sendo o regime o da comunhão parcial de bens. Em 2013, João faleceu, deixando um patrimônio de R$ 3.000.000,00, todo ele adquirido onerosamente durante a união estável. Além da companheira, João deixou os pais Lúcio e Cláudia. Como serão partilhados tais bens, levando-se em conta a meação e a sucessão?

Resposta anterior à decisão do STF: Para começar, seria necessário reservar a meação de Maria, que corresponderia a R$ 1.500.000,00, a metade dos bens adquiridos. Quanto à outra metade, a companheira concorreria com os ascendentes, recebendo um terço da herança (art. 1.790, inciso III, do CC/2002). Diante desse último preceito, Maria, Lúcio e Cláudia receberiam R$ 500.000,00 cada um, ficando a questão assim solucionada:

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Lúcio receberia R$ 500.000,00 (concorrência com a convivente). Cláudia receberia R$ 500.000,00 (concorrência com a convivente). SOMA TOTAL DOS VALORES = R$ 3.000.000,00.

Resposta posterior à decisão do STF: Para começar, seria necessário reservar a meação de Maria, que corresponderia a R$ 1.500.000,00, a metade dos bens adquiridos durante a união. Quanto à outra metade, aplicando-se agora o art. 1.829, inciso II, e

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