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REALIZAÇÃO DE METAS

5 Resultados do estudo

5.6.2 Análise das dimensões do modelo 3C

O modelo 3C de colaboração analisa a colaboração em três dimensões, que são coordenação, cooperação e comunicação, além do componente percepção. Esse modelo se ampara fortemente na teoria da atividade que tem sido muito utilizada para “descrever e analisar o uso de sistemas computacionais na realização de atividades humanas em contextos reais” (FUKS et al., 2011, p. 16).

5.6.2.1 A impressão sobre coordenação

Em sistemas colaborativos, coordenar, geralmente, contempla mecanismos implícitos e flexíveis para viabilizar o trabalho colaborativo (MALONE; CROWSTON, 1990). No B2i, a dimensão coordenação não estava tão visível para os participantes, pois as tarefas de coordenação executadas no sistema foram mais de configuração prévia, antes de cada desafio, envolvendo o registro do tema e da descrição do desafio, a configuração do período de cada etapa do desafio (data de início e fim) e, posteriormente à geração de ideias, a análise das ideias por meio de um painel de votação, cuja síntese foi disponibilizada ao comitê, automaticamente, na fase 3 de cada desafio.

À pesquisadora, coube constituir, por meio de aplicativos acoplados à estrutura do Laboratório de Ideias, canais para notificar os participantes suprindo necessidades de comunicação e, também, para trocar mensagens relativas a problemas técnicos e outras dificuldades mediante requisição do participante. Esta estrutura foi constituída com finalidade de garantir que os trabalhos individuais fossem realizados e consolidados em termos do objetivo proposto no Laboratório de ideias, conforme preconizou Filippo (2008).

Mesmo assim, verificou-se que a coordenação, embora escondida nos bastidores do sistema, foi percebida e entendida como parte da estrutura modelada.

Gráfico 18 – A dimensão coordenação no B2i sob enfoque quantitativo.

No desafio 1, evidenciou-se uma diferença na percepção da dimensão coordenação entre os momentos pré (cerca de 78%) e pós-teste (cerca de 95%). De início, tal fato pode se respaldar no desconhecimento e falta de familiaridade com a ferramenta e com as funcionalidades nela embutidas. Todavia, a repetição do experimento fez modificar a percepção, o que pode ser notado na eliminação (desafio 2) e diminuição da mesma nos desafios subsequentes, conforme mostra o gráfico 18.

Por outro lado, o grupo de controle procedeu de forma mais cooperativa durante a execução dos quatro desafios. O encontro face a face e a figura da pesquisadora in loco estimularam um comportamento mais cooperativo, forçando os integrantes a atuarem em conjunto para completarem o objetivo da tarefa. Tal constatação reforça a demanda latente de incrementar o B2i com funcionalidades da dimensão coordenação.

A proposta essencial das atividades de coordenação é estabelecer harmonia entre os atos, conforme já dizia Fayol (1990). Acredita-se que a estrutura configurada para coordenar o Laboratório de ideias, incluindo o B2i, contribuiu, em parte, para atingir os resultados preconizados, viabilizando a ação coordenada entre as pessoas, mesmo com a pouca participação de alguns indivíduos.

5.6.2.2 A impressão sobre cooperação

A dimensão cooperação foi configurada no B2i por meio das funcionalidades de comentários, associação de ideias, visualização em um painel das ideias dos

participantes, votação e sinalização das ideias julgadas mais interessantes por meio da opção curtir.

Conforme já mencionado, a estrutura funcional do B2i, por conta de seus aspectos mais subjetivos, como o espírito do sistema, clamava por cooperação. Mas, contrariando as expectativas, o trabalho cooperativo foi comprometido por questões relacionadas às restrições de infra-estrutura, de tempo e de adequação da tarefa de geração de ideias à rotina de atividades naturais do trabalho, bem como pelo desinteresse de alguns participantes. Isso, provavelmente, contribuiu decisivamente para um desempenho abaixo do esperado para os grupos experimentais, embora a opção pelo quase-experimento já considerasse essa possibilidade.

Tais constatações se refletiram na percepção dos participantes sobre os elementos funcionais acoplados à dimensão de cooperação no B2i. Ora, se as funcionalidades existiam, gerando expectativas como já mencionado, mas foram subutilizadas, os respondentes podem ter sentido dificuldade em avaliar esta dimensão.

O gráfico 19 demonstra as sucessivas medições, pré e pós testes, durante os desafios, evidenciando, principalmente no desafio 3, uma diferença marcante direcionada a uma baixa percepção recorrente nos grupos daquilo que se entende como cooperação; ou seja, antes do desafio esperava-se que os participantes cooperassem, mas, após o desafio, os participantes não perceberam melhoria na cooperação demandada mediante o apoio do B2i.

Essa análise preliminar reforça a ideia de que nem todos os grupos são cooperativos (JOHNSON; JOHNSON, 2014), pois para que haja cooperação é mister que alguns elementos básicos se façam presentes, quais sejam: interdependência entre os indivíduos, responsabilidade individual e grupal, processamento em grupo, uso de habilidades sociais e interação promovida.

Tais elementos, em maior ou menor grau, apareceram pontualmente em alguns momentos durante a execução das atividades, mas o que prevaleceu, de fato, foi um comportamento mais individualista, principalmente dos indivíduos que capitanearam a quantidade de ideias geradas, mascarando a real expressão de uma atividade colaborativa, notadamente no grupo 1.

Por outro lado, os grupos 2 e 3 apresentaram produção mais equilibrada e uma tendência de alguns de seus integrantes a cooperarem, principalmente na mesclagem de ideias e na postagem de comentários às ideias dos colegas, o que fomentou maior interação entre os componentes desses grupos.

No grupo de controle, percebeu-se que os integrantes atuaram com mais cooperação. Possivelmente, a configuração do encontro face a face e a limitação do tempo para a execução da tarefa de geração contribuíram para que o grupo se unisse em torno do objetivo e atuasse em conjunto.

Tal constatação é prevista nos estudos sobre grupos (McGRATH, 1984; McGRATH; ARROW; BARDAL, 2000); no entanto, os sistemas colaborativos podem ter funcionalidades acopladas que minimizam os aspectos da virtualidade e potencializam elementos viabilizadores do trabalho colaborativo.

Especula-se que as condições naturais do trabalho e o inusitado dos grupos formados ad hoc possam ter dificultado que os elementos de cooperação emergissem a partir das sucessivas interações. Em reforço, cita-se o fato de que o experimento foi realizado numa época onde os indivíduos estavam na reta final do período anual produtivo da empresa.

Sintetizando tais fatos, a figura 93, mostra excertos das respostas às perguntas do questionário pós-experimento que foram relacionadas à dimensão cooperação do modelo 3C, reforçando o reconhecimento dessa dimensão no B2i.

Figura 93 – A dimensão cooperação do modelo 3C no B2i sob enfoque qualitativo.

Fonte: extraído da análise no Atlas.ti® em 21/7/2015.

Em detalhe, na análise dos dados qualitativos, foi possível perceber alguns elementos da cooperação expressos na fala dos respondentes, dentre os quais: importância do trabalho em equipe, interação com os participantes, compartilhar de ideias e criação de novas ideias com insights proporcionados pelo ambiente compartilhado. Ou seja, há a compreensão, mesmo que não materializada no desempenho durante o Laboratório de Ideias, que a cooperação foi percebida como sendo um elemento importante no processo de geração de ideias.

Assim, parece que o B2i cumpriu, e cumpriria mais fortemente, o seu papel de fomentar a dimensão cooperação. A plataforma foi desenvolvida sob medida para fomentar o comportamento cooperativo dos participantes e impulsionar o trabalho em equipe.

No entanto, o quase-experimento ratificou o que é dito por O’Brien e Marakas (2013), que o elemento humano é fator decisivo para que qualquer empreitada tecnológica apresente bons resultados e, ainda, reforçou o que já dizia Alter (1994) a