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REALIZAÇÃO DE METAS

3.1.3 Geração de ideias em grupo

Briggs e Reinig (2007) afirmam que uma ideia pode ser definida como uma construção conceitual materializada em uma frase que contenha objetos e verbos, acionável, apresentada como uma solução potencial para uma tarefa designada. Os mesmos autores, prosseguem designando a geração de ideias, ou ideação, como o processo de gerar ou conceber ideias e conceitos que podem ser úteis para atender algum estado ou resultado desejado. Esse processo requer esforços conscientes e, para que seja produtivo, o fluxo de ideias deve ser contínuo, indo além das respostas habituais para encontrar soluções criativas aos problemas (PENTEADO, 2010).

No caso de geração de ideias, acredita-se que os grupos, atuando para este fim, conseguem melhores resultados que os indivíduos atuando sozinhos (DeROSA; SMITH; HANTULA, 2007). Essa conjectura remonta aos estudos de Osborn (1957) que formulou um procedimento específico para a geração de ideias em grupo e o nomeou group brainstorming.

Nesta técnica, um grupo se reúne em uma sala e é exposto a um problema. Os membros são instigados a gerarem ideias subordinando-se a quatro regras básicas: não criticar, privilegiar a quantidade de ideias, combinar e melhorar as ideias sugeridas e expor instantaneamente as ideias que vierem à mente. Além disso, algum membro é designado para anotar todas as ideias geradas.

No entanto, percebeu-se que o desempenho do grupo, ao usar técnicas como o

brainstorming, em reuniões genéricas de ideação face a face, não atingia às

expectativas desejadas por conta de alguns problemas enfrentados pelos membros, o que comprometia a produtividade e o bom resultado do processo de ideação. Tal fato motivou (e ainda motiva) a investigação de técnicas que promovam melhores resultados aos processos de ideação, mitigando os bloqueios de produção (production

blocking, em acepção inglesa) já mapeados por alguns pesquisadores (PAULUS;

YANG, 2000; BARKI; PINSONNEAULT, 2001; BRIGGS; REINIG, 2007; CHEN; ZHANG; LATIMER, 2014; PAULUS; KORDE; DICKSON, 2015) e que estão exibidos na figura 16.

Figura 16 – Perdas na produtividade durante o processo de brainstorming.

Foco na informação em comum em detrimento do compartilhamento de

experiências

Interação face a face como condição

inibidora ao compartilhamento de

novas ideias

Abstenção de participar por achar-

se desnecessário ao processo

Esquecimento das ideias durante o processo de espera pela fala dos outros

colegas

Temor de ser avaliado negativamente pelos pares ao expor ideias Dificuldade em expor

ideias durante a exposição dos colegas

Fonte: baseado em Paulus e Yang (2000); Barki e Pinsonneault (2001); Briggs e Reinig (2007); Chen, Zhang e Latimer (2014); Paulus, Korde e Dickson (2015).

Em contrapartida, McGrath (1984) evidencia que indivíduos trabalhando separadamente geram muito mais ideias, as quais são mais criativas, que grupos, mesmo após tratar as redundâncias entre as ideias. A discrepância é intensa e geral, enfatiza aquele autor.

Outros autores como Valacich, Dennis e Connolly (1994), Paulus e Yang (2000), Barki e Pinsonneault (2001), Briggs e Reinig (2007), DeRosa, Smith e Hantula (2007), Chen, Zhang e Latimer (2014), Paulus, Korde e Dickson (2015) exibem diversos estudos que evidenciam a falta de efetividade na geração de ideias com o uso de técnicas como brainstorming, pois com ela consegue-se gerar uma

quantidade relevante de ideias, mas há as limitações por conta dos bloqueios de produção.

Numa tentativa de minimizar esses bloqueios, desenvolveu-se o brainwritting, em que os participantes trabalham, na mesma lógica do braisntorming, só que escrevendo as ideias em papéis, listando-as e depois lendo-as para o grupo. Mas os problemas persistiam, pois a produção só se equiparava a de indivíduos trabalhando isoladamente (PAULUS; YANG, 2000; BROWN; PAULUS, 2002).

Neste sentido, pesquisadores experimentaram as interações em grupos do tipo face a face e em grupos nominais, onde os indivíduos do grupo trabalhavam separadamente, conforme relatado em DeRosa, Smith e Hantula (2007).

Tais estudos evidenciaram uma maior performance, tanto na quantidade quanto na qualidade das ideias geradas, nos grupos nominais. Contudo, a ideia de que o grupo é capaz de ser mais produtivo na geração de ideias persiste.

Por esta razão, os sistemas computadorizados de suporte a grupo trouxeram funcionalidades que apoiaram à geração de ideias em grupo, contribuindo para o surgimento e desenvolvimento de uma técnica nomeada electronic brainstorming, um método de colaboração eletrônica que empregava computadores em rede e software específico para permitir o processo eletrônico de geração de ideias aos membros dos grupos (DENNIS; VALACICH, 1994).

Posteriormente, Paulus e Yang (2000) mostraram a possibilidade efetiva de realizar o brainstorming mediado pela TI, nomeando-o de e-brainstorming (EBS). A partir de então, várias pesquisas experimentaram o uso desta nova técnica intuindo melhorar a efetividade do processo de ideação (STEVENS; DORNBURG; HENDRICKSON, 2008; DENNIS; MINAS; BHAGWATWAR, 2013).

Essa técnica prevê a troca de ideias num ambiente estruturado, mitigando elementos de bloqueio de produtividade que ocorrem no modo presencial, oral ou escrito.

Parece que a chegada da TI incrementou substancialmente a técnica, que é listada na figura 17, aproximando o processo de ideação do resultado almejado há tanto.

Figura 17 – Mapa conceitual do e-brainstorming. e-brainstorming TI computadores em rede software específico brainstorming brainwritting grupo nominal colaboração eletrônica geração de ideias em grupo bloqueios de produção é um tipo de é u m m é to d o d e

Fonte: inspirado nos autores referenciados nesta seção.

Sendo assim, conforme destacado em Dennis, Minas e Bhagwatwar (2013), o EBS captura os melhores elementos do brainstorming (e suas variações, como

brainwritting e grupos nominais), ao permitir que os membros do grupo compartilhem

e construam novas ideias baseadas em ideias já criadas. Ainda minimiza os efeitos do bloqueio de produção ao permitir que os integrantes do grupo trabalhem simultaneamente mediados pelas telas dos dispositivos em uso e pelo sistema adotado. Essa lista segue destacando ainda que, no EBS, pode-se utilizar o modo de anonimato, não sendo possível atribuir autoria explícita às ideias postadas, o que pode encorajar aqueles que se sentiam constrangidos em participar desse tipo de interação. Por outro lado, o anonimato pode desumanizar a discussão e difundir a responsabilidade, aumentando a vadiagem social (social loafing em acepção inglesa). Esta, por sua vez, pode ter seu efeito minimizado a partir de comparação social, quando são constituídos processos de exibir o progresso do grupo coletivamente em tempo real.

Somando-se ao que já fora relatado, Paulus e Coskun (2013) destacam que a razão principal em colocar grupos para trabalharem em tarefas criativas é que as interações que ocorrem resultam em uma maior e melhor geração de ideias. Para esses autores, o apoio da TI no EBS concedeu maior flexibilidade aos participantes que podem ser guiados pela estrutura subjacente, mas também podem auto gerenciar o fluxo e o tempo em que produzirão. Por exemplo, quando uma ideia ocorrer a um participante, ele pode inseri-la no ambiente, sem ter que esperar seu momento de

participar; ou, se preferir, pode anotar as ideias que vão surgindo em uma lista e inserir todas de uma vez no ambiente virtual compartilhado.

Outro benefício relevante do EBS é que a plataforma permite que os indivíduos dediquem tempo para refletir com o intuito de criar novas ideias, ou sobre as ideias postadas pelos colegas, podendo, ou não, criar novas ideias. Também, podem dedicar momentos para interagir com os outros membros, comentar as ideias exibidas e utilizar outras funcionalidades disponíveis, como curtir, votar ou criar uma etiqueta para uma ideia.

Importa constatar aqui que no EBS não se observaram perdas de produção (PAULUS; COSKUN, 2013) e que o processo de ideação nesse modelo de interação apresenta melhor produtividade que o modelo presencial (DENNIS; MINAS; BHAGWATWAR, 2013).

Destaca-se, pois a relevância do conceito de grupo, por um lado, ao passo que, por outro lado, reforça-se o contexto do trabalho em grupo, o qual é resgatado em, praticamente, todas as teorias que tratam de estudos organizacionais.

Tais teorias constituem pilares que proveem lentes por onde se observará uma dada realidade e congregam conceitos relevantes, os quais auxiliarão no desenvolvimento dessa tese. Por isso, o estudo de algumas dessas teorias soma-se a essa pauta de pesquisa.