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REALIZAÇÃO DE METAS

3.4 Colaboração em grupos

3.4.4 Modelo 3C de colaboração

Nesta tese, entende-se que a colaboração entre os participantes de um grupo envolve e deriva da troca de ideias (comunicação), da organização (coordenação) e da operação em conjunto num espaço compartilhado (cooperação). Essas são, em essência, as dimensões que compõem a modelagem conhecida justamente pelas iniciais das dimensões básicas: 3C; ou seja, fala-se do modelo 3C de colaboração, esquematizado na figura 37 e que tem como base2 os trabalhos de alguns

2 Em Gerosa (2006) encontram-se referências que abordam o modelo 3C sob diferentes composições e

pesquisadores da área, principalmente a publicação seminal de Ellis, Gibbs e Rein (1991) e, também, a de Laurillau e Nigay (2002).

Figura 37 - Diagramação do modelo 3C de colaboração.

Fonte: Fuks et al. (2011, p. 25).

O modelo 3C de colaboração posiciona cada C, ou dimensão, numa extremidade, mas, apesar desta separação para fins de análise, a comunicação, a coordenação e a cooperação não se realizam de maneira estanque e isolada. Essa tríade, atua conjunta e interativamente durante todo o processo de trabalho grupal (FUKS et al., 2005).

As tarefas se originam dos compromissos negociados durante a comunicação, são gerenciadas pela coordenação e se realizam durante a cooperação. Por meio dos mecanismos de percepção, os indivíduos obtêm feedback de suas ações e feedthrough das ações de seus colegas (FUKS et al., 2011). “Ao cooperar, é necessário renegociar e tomar decisões sobre situações inesperadas, o que requer novas rodadas de comunicação e coordenação” (FUKS et al., 2005, p. 302).

O modelo 3C objetiva prover uma estrutura para entender o domínio dos sistemas colaborativos, bem como estabelecer uma base para a modelagem e o desenvolvimento de aplicações colaborativas (GEROSA, 2006). A partir dele, criam- se kits de componentes em função do mapeamento das dimensões principais: comunicação, cooperação e coordenação, uma vez que essas dimensões estão inter- relacionadas.

Assim, o desenvolvedor de um artefato de colaboração em grupo definirá funcionalidades de comunicação, cooperação e coordenação, que deverão considerar o uso específico para o qual está se planejando a ferramenta.

Encontram-se, na literatura, diferentes aplicações do modelo 3C. Dentre elas, algumas foram selecionadas e exibidas no quadro 5.

Quadro 5 – Aplicações do modelo 3C em diferentes contextos.

Aplicação Referência

Classificação de ferramentas colaborativas Borgoff e Schlichtor (2000) Análise de relações interorganizacionais em cadeias de

suprimentos Tatikonda e Stock (2003)

Avaliação de ferramentas de coautoria Teixeira e Chagas (2005) Suporte à percepção em ambientes de produção de

documentos Muhammad et al. (2005)

Apoio no desenvolvimento de ambiente de negociação Lima et al. (2005) Ensino de programação distribuída em pares Borges et al. (2007) Engenharia de domínio para redes sociais de

compartilhamento na web 2.0 Oliveira e Gerosa (2010) Aprendizagem colaborativa Cordenosi et al. (2013) Incremento da dimensão interatividade ao modelo 3C Correia-Neto (2014)

As aplicações mencionadas são apenas um recorte do vasto acervo de publicações a respeito da apropriação do modelo 3C. Interessante destacar, contudo, que a grande contribuição do modelo parece ser ofertar a lente constituída pela estrutura inter-relacionada dos constructos envolvidos, os quais são tipicamente elementos dos estudos organizacionais, aplicando-se aos estudos organizacionais.

Adicionalmente, o ambiente colaborativo constituído deverá oferecer através dos mecanismos, ou funcionalidades, de cooperação, comunicação e coordenação, informações para fomentar a percepção dos indivíduos participantes do processo colaborativo. Esta última emerge como elemento catalizador de informações que nutrem os indivíduos em interação com informações pertinentes às ações individuais e dos pares durante o processo de colaboração (GEROSA; FUKS: LUCENA, 2001).

3.5 Percepção

Etimologicamente, percepção é ter conhecimento sobre algo; é a qualidade de estar atento, percebendo o que está acontecendo em volta (OD, 2015).

O termo tem relacionamento direto com estar atento, vigilante, advertido, ciente, cônscio, a par, informado, sentir, experienciar; implicando em um estado de vigilância em observar o que ocorre no entorno, inferindo sobre experiências (MERRIAN-WEBSTER, 2015).

Em psicologia, percepção é uma função cerebral que atribui significados a estímulos do ambiente, desencadeando um processo no qual o indivíduo organiza e interpreta suas impressões sensoriais, dando significado ao seu meio (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Durante esse processo, a mente elabora uma experiência completa. Por isso, a percepção é organizada de modo ativo, combinando elementos sensoriais, de modo a formar uma experiência coerente (MACHADO, 2015).

No entanto, o que o indivíduo percebe pode ser substancialmente diferente da realidade objetiva e isso condiciona seu comportamento a fundamentar-se na percepção sobre a realidade e não como a realidade é em si (ROBBINS; JUDGE, 2014).

Tal acepção traz a revelação de que indivíduos podem olhar para a mesma coisa e, mesmo assim, percebê-la de formas diferentes. Robbins e Judge (2014) explicam que isso ocorre por conta de alguns fatores que podem residir no observador; no objeto ou alvo que está sendo percebido; ou no contexto da situação onde a percepção está se manifestando, conforme representação na figura 38.

Figura 38 – Fatores que influenciam a percepção humana.

Fonte: baseado em Robbins e Judge (2014).

Portanto, não há garantias e não se tem como determinar o que será visto ou interpretado. O que se vê e se percebe depende de como o indivíduo se apropriará

daquilo que observou ou vivenciou e do que será usado como lente de interpretação, a partir do produto da intersecção entre o observador, o objeto e o contexto.

Na perspectiva do trabalho em grupo, percepção significa ter conhecimento sobre as atividades do grupo como um todo e dos indivíduos que o compõem: o que aconteceu, o que vem acontecendo, o que está se passando agora e o que poderá acontecer dentro das atividades do grupo, seus objetivos e sua estrutura (PINHEIRO; LIMA; BORGES, 2001).

Dourish e Bellotti (1992) deram início a uma jornada de pesquisas sobre a percepção no contexto de sistemas de informação que apoiam o trabalho em grupo, aqui chamados de sistemas colaborativos, ao introduzirem o termo percepção a partir de uma publicação seminal no campo de SI. Aqueles autores definiram o termo percepção como sendo um entendimento das atividades dos outros que provê um contexto para a atividade de um indivíduo.

Ora, se as interações e o próprio trabalho estão acontecendo mais intensamente no mundo virtual (WANG et al., 2014), prover funcionalidades de percepção mais adequadas nos sistemas colaborativos, mitigando as limitações do mundo físico e potencializando as conveniências do mundo virtual, configura-se como atributo vital para proporcionar a efetividade das interações que ocorrem nesse ambiente virtual de colaboração.

Neste sentido, Antunes et al. (2014) elaboraram um sistema conceitual de suporte à percepção que exibe os tipos de percepção identificados ao longo das pesquisas realizadas na área de SC, tomando como pedra fundamental a clássica matriz 4x4 de colaboração proposta por DeSanctis e Gallupe (1987) e Johansen et al. (1991). De acordo com essa matriz, as dimensões tempo e espaço se relacionam segundo perspectivas de co-localização ou não e de interação síncrona ou assíncrona, assim como está fortemente acoplada às propriedades físicas dos espaços e seu impacto na interação social e naquela suportada pela TI.

O sistema conceitual proposto apresenta uma nova dimensão: lugar. Esta nova dimensão assume que uma sala de reunião não é apenas um espaço físico ou virtual onde as ações ocorrem, mas é também uma coleção de regras, convenções e rituais que configuram um ambiente de reunião. Os autores defendem que “espaço é a oportunidade; lugar é a realidade entendida” (ANTUNES et al., 2014, p. 148).

Assim, essa contribuição incitou a uma maior subjetividade no estudo do conceito percepção através das lentes dos SC.

Esse esforço amparou-se na demanda latente por uma orientação conceitual que fundamentasse um melhor resultado da percepção, e seu objetivo foi tentar criar um contexto percebido de forma mais homogênea pelos participantes, servindo, fundamentalmente, de guia para aqueles que desenvolvem artefatos colaborativos. Tal feito é exibido na figura 39.

Figura 39 – Diagramação de suporte à percepção para sistemas colaborativos.

Percepção da colaboração Disponibilidade Colaboração Tempo Lugar Espaço Percepção do contexto Navegação Virtualidade Espaço virtual Percepção social Back ground Prática Espaço social

Percepção do espaço de trabalho Tarefa Interação Interdependência Espaço de trabalho Percepção situacional Entendimento Significação Ambiente de trabalho Percepção de localização Espaço geográfico Espacialidade Espaço físico Fisicalidade Mobilidade

Fonte: adaptado de Antunes et al. (2014).

O modelo tradicional de análise baseado nas dimensões de tempo e espaço ganhou um novo integrante, o lugar.

Além disso, deu-se início à materialização dos componentes funcionais da percepção ao destacar, em cada categoria de percepção, as categorias de design.

O resultado se configurou em categorias de percepção que expressam os significados encontrados para a dimensão espaço, quais sejam: percepção de colaboração, de localização, de contexto, social, do espaço de trabalho e situacional.

Cada categoria de percepção se subdivide em categorias de design que, por sua vez, são instanciadas em elementos de design, assim como está representado no quadro 6.

Quadro 6 – Descrição das categorias do sistema de suporte à percepção. Categorias de

percepção Categorias de design Elementos de design Percepção de

colaboração

Disponibilidade Disponibilidade em relação à presença física ou virtual Comunicação Modo de comunicação (síncrona ou assíncrona),

conectividade por meio de rede e entrega de mensagens Percepção de

localização

Espacialidade Localização cartesiana e topológica, distância, orientação e alcance da atenção

Mobilidade Modalidade de localização, nível de mobilidade e relação com outras demandas

Fisicalidade Limitações físicas, lugares físicos, topologia física e atributos físicos

Percepção do contexto

Navegação

Lugares virtuais, topologias virtuais (lugares e links para outros lugares), mapas de visões, visões além do espaço de trabalho e também sob o ponto de vista de outros Virtualidade

Objetos do grupo (compartilhados para uma tarefa), objetos públicos, atributos virtuais, relacionamentos virtuais, limitações virtuais

Percepção social

Prática Papéis e atividades

Background Privilégios e história do grupo Percepção do

espaço de trabalho

Tarefa Quem, o que, onde, quando, como e história da tarefa Interação

Feedback (input individual), feedthrough (input do

grupo), canal de feedback (dispositivo para respostas), contribuições por meio de contato visual e da fala

Interdependência

Atividades paralelas (independentes), atividades coordenadas, atividades mutuamente ajustadas e acesso de controle

Percepção situacional

Entendimento Eventos, ações, recursos, elementos críticos, significados e cenários futuros

Significação Significação individual, distribuída e colaborativa Fonte: adaptado de Antunes et al. (2014).

A proposta de elaborar uma base objetiva para direcionar e orientar os

designers de soluções em SC, ampara-se na necessidade cada vez maior de uso das

plataformas colaborativas com fortes raízes na TI e na perspectiva de grupo.

O quadro 6 serviu de base para o desenvolvimento de um checklist de percepção, constituindo-se em um roadmap para que elementos que compõem a dimensão percepção possam emergir e direcionar o suporte da TI para as aplicações de SC.

3.6 Tecnologia da informação e seu direcionamento a