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REALIZAÇÃO DE METAS

3.2 Teorias organizacionais e seu foco em grupo

3.2.2 Teoria da estruturação adaptativa

DeSanctis (1993) acreditava que os estudos em tecnologias que apoiam grupos em organizações tinham por base cinco teorias dominantes:

 Teorias da tomada de decisão: apresentam modelos de organizações como coleções de indivíduos tomadores de decisão, que são capazes de resolver problemas complexos, via uso de modelos que agregam julgamentos dos membros do grupo;

 Teorias de processo em grupo: argumentam que a maximização da utilidade é menos importante que alcançar o consenso ou o engajamento das partes, sendo importante prover procedimentos para gerenciar a discussão em grupo e obter consenso, satisfação de todos e uma maior qualidade da decisão;

 Teorias da comunicação: tendem a enfatizar os tradeoffs associados ao uso das tecnologias de suporte a grupos, centrando-se em comparar o valor relativo da comunicação virtual versus a comunicação face-a-face;

 Teorias institucionais: enfatizam o valor simbólico da informação mais do que seu conteúdo e meio de entrega, criticando as concepções tecnocêntricas que afirmam ter a tecnologia um poder inerente para moldar a cognição humana e o comportamento;

 Teorias da coordenação: têm como objetivo prover modelos cibernéticos a partir da influência mútua entre computadores, membros de grupos, objetivos e atividades, em função do trabalho cooperativo.

Mesmo com a diversidade de abordagens, as teorias existentes e utilizadas como prescrito acima, não davam conta de todos os elementos que cercam o campo de

pesquisa em sistemas computadorizados de suporte a grupos, em especial quando se previa um contexto de avanço contínuo para as tecnologias da informação.

Isso motivou DeSanctis (1993) a buscar elementos que ainda não haviam sido trabalhados nas teorias existentes, dentre os quais: aspectos afetivos, dimensões morais, diversidade acomodativa, liberdade e poder. Aquela autora considerava que essa nova apresentação da TI promovera avanços em suas funcionalidades, como o suporte à coordenação entre pessoas e aos procedimentos para a realização de trocas interpessoais, como troca de ideias por meio eletrônico, ferramentas de votação e escolha e discussões em grupo, mas continuava a ignorar aspectos mais sensíveis de tom humano.

Aquela autora ainda enfatizara a necessidade de uma mudança nas bases teóricas que sustentavam os estudos neste front. Essas mudanças deviam envolver uma abordagem multiparadigmática considerando as dimensões individual e coletiva.

Para ratificar esta ideia, DeSanctis e Poole (1994) propuseram a teoria da estruturação adaptativa (TEA), como abordagem viável para estudar o papel das tecnologias da informação mais avançadas no contexto de mudança organizacional.

A TEA examina o processo de mudança a partir de dois pontos de vista: os tipos de estruturas provenientes das tecnologias avançadas e as estruturas que emergem da ação humana quando há interação com essas tecnologias.

Um ponto expressivo da TEA é que a mesma expõe a natureza social das estruturas nas tecnologias da informação e nos processos-chave, possibilitando, assim, revelar a complexidade do relacionamento tecnologia-organização (DeSANCTIS; POOLE, 1994). Nesta linha, os principais conceitos da TEA são estruturação e apropriação e ambos proveem uma visão dinâmica da incorporação da tecnologia pelas pessoas nos processos de trabalho.

Ainda, segundo DeSanctis e Poole (1994), as estruturas sociais provenientes da tecnologia de informação poderiam ser descritas de duas maneiras: pelas funcionalidades estruturais e pelo espírito desse conjunto de funcionalidades.

As funcionalidades estruturais englobam os tipos específicos de regras e recursos disponibilizados no sistema. Definem como as informações serão coletadas e manipuladas pelo usuário. Em um sistema colaborativo, por exemplo, essas características podem compor um ambiente para gerar ideias através de funcionalidades de votação e escolha, fóruns para discussão assíncrona de temas específicos, chats para compartilhar ideias ou discutir assuntos, dentre outras.

Já o espírito dessas tecnologias reside na intenção geral dos valores e objetivos subjacentes a um determinado rol de funcionalidades estruturais. O espírito da tecnologia provê legitimação, uma estrutura normativa que orienta comportamentos apropriados no uso da tecnologia, tecendo um meio de significação que ajuda os usuários a entenderem e interpretarem o significado da tecnologia e, ainda, contribui com processos de dominação, ao apresentar os movimentos de influências usados na tecnologia (DeSANCTIS; POOLE, 1994). Na visão desta dupla de luminares, o espírito da TI pode ser caracterizado em cinco dimensões, quais sejam:

 Processo decisório: tipo de processo decisório em uso (consensual, empírico, racional, político ou individualista);

 Eficiência: ênfase na compressão do tempo já que os períodos de interação serão menores que as interações sem o uso da tecnologia;

 Liderança: tipos de lideranças que podem emergir mediante uso da tecnologia;

 Gestão de conflitos: controle sobre conflito no caso de interações caóticas ou mesmo ordenadas;

 Atmosfera: formalidade relativa ou natureza informal da interação, que pode ser estruturada ou não.

As dimensões mencionadas são características do espírito da TI e estão ilustradas graficamente na figura 20.

Markus e Silver (2008) destacam que o espírito da TI não é visto como a intenção do designer, tão pouco a percepção do usuário, mas como uma propriedade da tecnologia e da forma como é apresentada aos usuários. Na condição de funcionalidade estrutural, o espírito da tecnologia traz contribuições específicas para os estudos de sistemas de informação, incluindo aqueles de visão colaborativa:

 A caracterização dos artefatos tecnológicos relativos às intenções dos

designers e à percepção do usuário;

 O desvio do foco das funcionalidades para o conjunto das dimensões que projetam as estruturas sociais e focalizam a capacidade de ação dos usuários, a partir do uso dos sistemas;

 O fortalecimento dos valores humanos presentes viabilizando um estudo global do espírito da TI.

Figura 20 – Dimensões do espírito da TI na visão da TEA.

Fonte: baseado em DeSanctis e Poole (1994).

Assim, lista-se que a TEA é uma teoria que se alinha à teoria da estruturação por focar nas estruturas sociais, nas regras, nos recursos providos pela TI e nas instituições, como fundamentos para a atividade humana. Provê, pois, um modelo que descreve a inter-relação entre tecnologia da informação, estruturas sociais e interação humana, sendo as estruturas sociais os componentes fundamentais para planejar e realizar tarefas. Essas estruturas existem na tecnologia e nas ações e são entrelaçadas continuamente num relacionamento recursivo e iterativo entre ambas, intermoldando- se por meio de restrições e permissões num processo dinâmico dual.

Embora a proposta da TEA tome como objeto os sistemas de apoio à decisão em grupo, um tipo de sistema de informação bem estruturado, projeta-se sua aplicabilidade ao presente estudo, já que as dimensões elencadas são aderentes às demandas dos estudos de tecnologias mais sociais, como é o caso dos sistemas colaborativos.

Diante do exposto, é possível cogitar que o sistema colaborativo a ser utilizado neste estudo tenha sido desenhado com funcionalidades estruturais definidas, bem como confeccionado com intenções previamente explícitas. Contudo, em decorrência do seu uso e da apropriação dos usuários na execução das tarefas determinadas, estima-se que esta estrutura inicial, em ambos os aspectos, poderá ser influenciada pela agência bem como a influenciará.

Ademais, além da concepção de estrutura e do apelo social, esta pesquisa ainda demanda por teoria que trabalhe conceitos relacionados a tarefa em si, bem

como a especificidade de entender o aspecto mediador da tecnologia. Por isso, optou- se em trazer à discussão a teoria da atividade que proporciona um legado rico sobre os aspectos mencionados, bem como traz à tona outras dimensões relevantes à pesquisa.