• Nenhum resultado encontrado

Análise do ambiente compartilhado no desempenho dos grupos experimentais

REALIZAÇÃO DE METAS

5 Resultados do estudo

5.3 Discutindo a quantidade de ideias geradas

5.3.5 Análise do ambiente compartilhado no desempenho dos grupos experimentais

As questões 11 e 14 do questionário aplicado no pré e pós testes (Apêndice A) arguiram sobre o impacto, na geração de novas ideias, das facilidades de poder ver as ideias dos outros, bem como os comentários dos outros às ideias geradas disponibilizadas pelo B2i

Os indivíduos, em maioria, confirmaram que ver os comentários dos colegas sobre as ideias geradas os incentivou a gerar mais ideias. No entanto, percebeu-se também certa diferença nas medições entre os momentos pré e pós experimento durante o percurso do Laboratório de Ideias. Certamente, alguns poucos indivíduos mudaram de opinião, justificando-se, talvez, pela tímida quantidade de comentários postados durante o experimento.

Isso pode ter desestimulado o uso da funcionalidade de postar comentários nas ideias dos colegas, como mencionou uma participante: “também não houve comentários nas ideias dos colegas, isso me desestimulou um pouco na reta final” (RelatWA-Ind2).

Esta expressão é confirmada no movimento linear, sutilmente descendente, das linhas representativas da opção concordo e daquelas representativas da opção discordo, nos dois momentos de arguição (pré e pós desafio), conforme exibido no gráfico 6.

Soma-se a esses dados, o fato de que apenas alguns indivíduos, em seus respectivos grupos, mantiveram uma sistemática de postar comentários nas ideias dos colegas, o que foi mais intenso, em alguns momentos pontuais, nos grupos 1, 2 e 3.

Mesmo assim, numa análise geral desta perspectiva, percebeu-se que os comentários incentivaram sutilmente a geração de ideias, mostrando potencial de contribuir para um comportamento mais colaborativo do grupo.

Gráfico 6 - Incentivo à geração de mais ideias em função da visualização aos comentários dos colegas.

Nesta linha, ancorando-se em Paulus e Yang (2000), após a fase de geração individual de ideias, seguiu-se para a fase colaborativa, na qual as ideias foram compartilhadas. Aqueles autores defendiam que os participantes são estimulados a gerar mais ideias ao visualizarem as ideias geradas por outros membros do grupo. Ao serem arguidos sobre esse assunto, os participantes demonstraram certa expectativa de que seriam, de fato, instigados a gerar mais ideias ao ver as ideias postadas no ambiente. No entanto, como a maioria dos participantes procrastinava o registro de ideias para o final dos desafios, a dinâmica expectada foi prejudicada, mas se percebeu nas medições com os questionários pré e pós, bem como no questionário aplicado após o experimento, que os participantes perceberam o incentivo gerado pelo contato com as ideias dos colegas.

Considerando na perspectiva performática dos grupos, o grupo 1 e o 2 revelaram um ambiente mais interativo, provavelmente por conta da participação mais intensa e sistemática de dois indivíduos (2 e 7). Tais participantes postavam ideias e instigavam os demais a partir de mensagens no grupo do WhatsApp®, o que movimentava o ambiente do B2i com novas ideias. Tal constatação pode ser observada em trechos das respostas desses indivíduos ao questionário aplicado após o experimento quando arguidos sobre o que mais gostaram no Laboratório de Ideias:

“ver as ideias dos meus colegas como complemento das minhas e vice-versa”, “a criação de novas ideias a partir das ideias vistas” (QuestPos-Ind2), “conhecer as ideias dos outros participantes para depois mesclar com a sua, melhorando-a” (QuestPos- Ind7).

Ainda considerando as features discutidas nos parágrafos anteriores, percebeu- se que a desarmonia percebida entre o pré e o pós teste cresceu do desafio 1 para o desafio 2, provavelmente manifestado por algum tipo de frustração. Especula-se que houve uma expectativa de participação dos colegas constituída pela própria natureza do Laboratório de Ideias, a qual foi evidenciada nas falas coletadas no questionário aplicado após o experimento, bem como pelo aspecto colaborativo do B2i, mas que não teve a resposta satisfatória dos participantes, os quais não atuaram com a intensidade demandada.

Ao se elaborar o B2i, buscou-se acoplar funcionalidades estruturais à luz do Modelo 3C de colaboração que, por consequência, traduziu-se em um conjunto de valores e objetivos subjacentes à plataforma de interação constituída. Isso se traduz no espírito do sistema, conforme preconizaram DeSanctis e Poole (1994), que se materializa nas propriedades da tecnologia apresentada aos usuários. Supõe-se, então, que os participantes do experimento, ao terem contato com o B2i, expectaram vivenciar momentos de colaboração com os colegas do grupo. Tal constatação encontra respaldo nos dados qualitativos, que serão exibidos no decorrer desta análise.

Notou-se, também, que alguns indivíduos deixaram para postar as ideias nos momentos finais, enquanto outros participaram intensamente, alinhando-se aos prazos estabelecidos. Essa variabilidade de comportamento é propriedade característica dos grupos (ROBBINS; JUDGE, 2014), conforme já mencionado em seção anterior. Tais propriedades se desdobram em papéis, normas, status, tamanho, coesão e diversidade, e cada um desses elementos varia conforme a composição do grupo. Neste caso, há variabilidade no cumprimento das normas, mais especificamente no quesito desempenho, onde uns se dedicam mais que outros, contribuindo para a baixa coesão do grupo.

No entanto, o percurso das quatro rodadas de tratamento pode ter contribuído para uma maior apropriação do B2i pelos participantes, bem como a assimilação da rotina estruturada no B2i, desencadeando uma sensível diminuição das diferenças entre as medições pré e pós durante os desafios 3 e 4.

O gráfico 7, exibido a seguir, evidencia os dados analisados anteriormente, destacando a impressão dos grupos experimentais quando questionados se a visualização das ideias postadas pelos colegas incentivava a geração e novas ideias.

Gráfico 7 - Incentivo a gerar mais ideias ao conhecer as ideias dos colegas.

O B2i também possibilitou mesclar ideias postadas pelos participantes, associando-as e criando uma nova ideia. De acordo com a revisão de literatura, esta é uma funcionalidade importante para a tarefa de geração de ideias em ambientes colaborativos virtuais, pois contribui com a rota de convergência das ideias, afunilando a multiplicidade de ideias postadas e encaminhando para a concentração de esforço naquelas ideias que mais se destacaram na visão do grupo, conforme preconizaram Milliken, Bartel e Kurtzberg (2003). Tais autores defendem que a divergência em processos de ideação é um fenômeno desejado para que haja mais diversificação de ideias; mas, também há a necessidade de convergência, o que demandaria um esforço maior na construção de links entre as ideias criadas para o processo de afunilamento para a escolha das mais relevantes.

Diferentemente do esperado, a funcionalidade de mesclar ideias foi explorada, apenas, por alguns indivíduos, denotando certa apropriação, principalmente pela participação mais proeminente dos indivíduos 3, 7 e 9, destacando a participação mais intensa dos grupos 1 e 2, conforme demonstrado no gráfico 8.

O grupo 2 apresentou um comportamento mais equilibrado dos seus integrantes que participaram mais ativamente, gerando 11 ideias mescladas, 50% da

produtividade dos quatro grupos juntos. Denota-se que esse grupo tendeu a ter um comportamento mais colaborativo e equilibrado, no qual todos os componentes participaram com algum esforço, buscando a construção conjunta. Tal feito, provavelmente, amparou-se no possível desenvolvimento de uma visão comum dos integrantes em busca de um objetivo em comum e, também, na influência positiva da plataforma colaborativa que embute funcionalidades capazes de instigar o trabalho em grupo.

Gráfico 8 – Criação de ideias mescladas pelos grupos experimentais.

Mirando intensificar a cooperação, os indivíduos eram convocados pelo B2i a comentar as ideias postadas para que algum diálogo fosse estabelecido e as ideias pudessem ser discutidas. De fato, a função comentar as ideias também contribuiu para o processo de convergência de ideias esperado em tarefas de criatividade. Alguns indivíduos fizeram uso dessa funcionalidade, mas em intensidade abaixo do projetado para este quase-experimento. O gráfico 9 exibe a participação dos indivíduos, destacando a participação mais intensa de alguns deles.

Observando na perspectiva da performance dos grupos, percebeu-se, de um modo geral, que o grupo 3 postou mais comentários, 22 no total, representando 38% do total de comentários contabilizados, seguindo-se pelo grupo 2 com 16 comentários e o grupo 1 com 15.

Numa análise individual, percebe-se que o indivíduo 2, que foi aquele que gerou mais ideias durante o Laboratório de Ideias (27 ideias – 18% de participação no total de ideias geradas), não foi o que apresentou um comportamento mais colaborativo. O destaque quantitativo que o mesmo obteve antes, cedeu lugar a um comportamento mais passivo e individualista frente a alguns participantes, como pode-se perceber na performance dos indivíduos 5, 10, 11 e 12 na postagem de comentários. Tal constatação reforça a importância de se desenvolver um comportamento colaborativo uníssono no grupo, com a participação sistemática dos componentes em busca de uma construção conjunta (PAULUS; COSKUN, 2013).

A impressão que se tem ao interpretar os dados é que a plataforma do B2i ao estruturar a interação, convida os indivíduos a colaborarem, mas forças contrárias, como a falta de participação e a subutilização das funcionalidades tecnológicas, afastam o grupo do trabalho conjunto.

Gráfico 9 – Comentários às ideias geradas pelos grupos experimentais.

A análise dos dados coletados no questionário final permitiu complementar a compreensão até então constituída.

Os indivíduos, de fato, declararam ser estimulados pela possibilidade de perceberem a produção dos colegas, e eles esperaram isso, ficando frustrados quando a ação não aconteceu.

Tudo indica que, ver a dedicação dos colegas e ter acesso às ideias já postadas, estimulou a produção de novas ideias e também permitiu melhorar ideias já criadas,

reiterando a ideia de espírito do sistema já comentada. Tal fato materializa o conceito de percepção, componente do Modelo 3C, a ser discutido mais à frente. A figura 89 exibe as expressões de alguns participantes do experimento nesse quesito.

Figura 89 – Evidências de melhoria na produtividade devido ao contato com as ideias dos colegas.

Fonte: extraído da análise do Atlas.ti® em 21/07/2015.

Sabe-se que a tarefa de geração de ideias é um processo social (EPPLER; HOFFMAN; BRESCIANI, 2011), o quê, naturalmente, demanda cooperação. Sendo assim, o trabalho em grupo é vital neste contexto. No entanto, a diversidade de formação do grupo, bem como a assimilação dos papéis designados pela tarefa e a apropriação do programa, nominado Laboratório de Ideias e da plataforma tecnológica B2i, dependeriam de cada integrante do grupo, o que pode explicar a participação mais intensa de alguns.

Por outro lado, o grupo de controle também foi instado a gerar ideias, mas numa ambientação diferente. Este grupo se reuniu presencialmente, em dia e horário fixo, para realizar a mesma tarefa dos grupos experimentais, oportunizando uma análise comparativa profícua para algumas constatações deste estudo e que será exibida na próxima seção.