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REALIZAÇÃO DE METAS

3.2 Teorias organizacionais e seu foco em grupo

3.3.1 Modelos de decisão

A proposta de se trabalhar com modelos consiste em construir uma representação da realidade que permita, de modo mais seguro e econômico, criar um ambiente para abstrair a realidade (AUDY; ANDRADE; CIDRAL, 2005; TURBAN; ARONSON; LIANG, 2006).

O uso de modelos contribui para que se tenha uma visão ampliada da natureza de uma tomada de decisão, constituindo-se como meio adequado para demonstrar a diversidade de disciplinas envolvidas e a natureza eclética da decisão (CAVALCANTE NETO, 2006).

Assim, os estudiosos nesta área do saber, qual seja decisão e processo decisório, constituíram diferentes modelos, dos quais se destacam aqueles mencionados na figura 27, os quais serão discutidos na sequência, nas subseções deste documento.

Figura 27 – Modelos de tomada de decisão.

M o d e lo s d e t o m a d a d e d e c is ã o Modelo racional

Modelo da racionalidade limitada

Modelo político Modelo processual

Modelo multicriterial

Fonte: baseado em Cavalcante Neto (2006).

3.3.1.1 Modelo racional

O modelo racional de tomada de decisão prescreve meios de maximizar os resultados das decisões em busca de uma decisão ideal. Para isso, pressupõe que há domínio da situação formulada e das informações necessárias, não há limitação da capacidade cognitiva do decisor, não há restrições de tempo e de recursos, os critérios e preferências para avaliar as alternativas são plenamente identificados e permanecem estáveis no decorrer do tempo (HARRISON, 1993). Também, considera o decisor

como um ser racional, dotado de objetivos e preferências relativamente estáveis, que usa a lógica para avaliar e ordenar as alternativas, escolhendo aquela que irá maximizar os resultados desejados (DAVIS, 1996).

Na prática, uma decisão tomada à luz do modelo racional iniciaria a partir da identificação de um problema, dando início a um fluxo linear de coleta e análise da informação para a construção de alternativas, cuja melhor, dentre as formuladas, garantiria o sucesso do processo ao ter resultados compatíveis aos objetivos organizacionais (TEODÓSIO, 2003; BITTENCOURT, 2013). O arranjo gráfico deste processo é apresentado na figura 28.

Figura 28 – Etapas do processo decisório racional.

Fonte: baseado em Harrison (1993), Teodósio (2003) e Bittencourt (2013).

Segundo Robbins e Judge (2014), o modelo racional é melhor empregado na resolução de problemas simples, com poucas alternativas de ação ou quando o custo de procurar e avaliar alternativas são pequenos. Por outro lado, considerando a necessidade de lidar com problemas mais complexos, recorre-se ao modelo da racionalidade limitada que traz mais subsídios para o processo decisório.

3.3.1.2 Modelo de racionalidade limitada

Daft (2014, p. 344) defende que “a tentativa de ser racional é restringida (limitada) pela enorme complexidade de muitos problemas”. Foi nessa concepção que Simon (1997) postulou que o decisor tende a optar por uma alternativa que seja a melhor dentro do que lhe é possível, ou seja, que o satisfaça e finalize a custosa busca por alternativas em um ambiente tão complexo e multifacetado. Logo, o critério de escolha é a satisfação e não a maximização da utilidade do valor da decisão.

Para Cavalcanti Neto (2006), o modelo de racionalidade limitada reconhece as dificuldades dos que tomarão decisões na vida real, tais como: informações insuficientes para a resolução de problemas, escassez de tempo, falta de recursos necessários para a coleta das informações, percepções distorcidas, incapacidade de processamento de todas as informações e o limite da inteligência.

Mapeando tais condições, Simon (1997) propôs um processo com três grandes fases, quais sejam inteligência, concepção e escolha, seguindo-se da implementação e do controle. Soma-se a isso, o feedback que confere ao processo uma sistemática de revisão independente da fase em que se encontre. Esse processo é ilustrado na figura 29.

Figura 29 – Processo decisório no modelo de racionalidade limitada.

Fonte: baseado em Simon (1997).

Percebe-se que a estrutura processual do modelo da racionalidade limitada já se molda numa perspectiva menos linear, por privilegiar o retorno da informação de cada fase com a função de retroalimentação da fase de inteligência.

Por outro lado, o modelo da racionalidade limitada destaca a necessidade de se estruturar o espaço de ação dos atores sociais, compondo-o com regras, procedimentos, equilíbrio de poder e sistemas de aliança política.

3.3.1.3 Modelo processual

O modelo processual desenvolvido por Mintzberg, Raisinghani e Theoret (1976) e incrementado por Choo (2003) é bem complexo, idealizando uma estrutura sofisticada para apoiar o processo de decisões estratégicas. É um modelo que se aproxima bastante do modelo de racionalidade limitada, pois apresenta características de processo num enfoque orientado ao resultado (CAVALCANTE NETO, 2006).

Nesse modelo, há três fases decisórias principais, quais sejam identificação, desenvolvimento e seleção, e cada uma dessas fases decompõe-se em atividades específicas, ancoradas em rotinas de apoio à decisão. O modelo também identifica

rotinas que apoiam a decisão e seis grupos dinâmicos que interferem no processo decisório, conforme ilustrado na figura 30 e no quadro 2.

Figura 30 – Modelo processual do processo decisório.

Fonte: inspirado em Mintzberg, Raisinghani e Theoret (1976) e Choo (2003). Quadro 2 – Especificação das rotinas de apoio à decisão.

Rotinas de apoio à decisão

Especificação

Controle Contemplam ações de planejamento e seleção dos participantes, restrições de prazos, distribuição de recursos e procedimentos de comutação para as próximas fases

Comunicação Contemplam ações de sondagem, investigação e disseminação

Políticas Concentram-se em ações de barganha para negociar acordos, ações de persuasão para convencer e influenciar

Fonte: inspirado em Mintzberg, Raisinghani e Theoret (1976) e Choo (2003).

De modo geral, a principal contribuição do modelo processual está em definir as fases e atividades que estruturam os processos decisórios estratégicos. Dessa forma, as organizações podem administrar melhor o fluxo dinâmico das atividades decisórias, antecipar e tirar vantagem das interrupções, dos bloqueios e da introdução de novas opções, que são aspectos inerentes à decisão estratégica (CHOO, 2003).

3.3.1.4 Modelo político

Para Yang (2003), o modelo político de decisão postula que a tomada de decisão é amplamente determinada por fatores políticos organizacionais, estando incorporada em determinadas relações sociais que são tacitamente reproduzidas.

Nesta perspectiva, a organização é vista como um conjunto de indivíduos, ou coalizões de indivíduos, que buscam seus próprios interesses em detrimento dos preconizados objetivos comuns. Dessa forma, as decisões tomadas resultam de processos de negociação e barganha, cujos participantes buscam satisfazer interesses pessoais, agindo por meio de suas percepções (ALISSON, 1971). A figura 31 sintetiza o contexto do modelo político de decisão.

Figura 31 – Contexto do modelo político de decisão.

Tomada de decisão Fatores políticos organizacionais Processos de negociação e barganha Interesses individuais incidem em

Fonte: inspirado em Alisson (1971).

O modelo político é foco de disputas internas de poder e de influência, conforme defendem Lousada e Pomim (2011). Muitas vezes, os objetivos pessoais ultrapassam os organizacionais e, às vezes, prejudicam a própria organização. Por outro lado, esta abordagem exorta os gestores a prestarem especial atenção aos aspectos sociais e políticos da tomada de decisão. Portanto, os gestores devem identificar cuidadosamente as relações de poder e pessoais, bem como os interesses organizacionais envolvidos (YANG, 2003).

3.3.1.5 Modelo multicriterial

Os métodos multicritério têm sido desenvolvidos para lidar com situações específicas de decisão, pois permitem uma modelagem mais flexível de problemas mais complexos, facilitando a comparabilidade entre todas as alternativas. Também

não impõem ao decisor uma estruturação hierárquica dos critérios existentes (GOMES; GOMES; ALMEIDA, 2009).

Segundo Malczewski (1999), existem seis componentes que caracterizam um problema multicritério, quais sejam: um objetivo, um decisor (ou decisores), um conjunto de critérios de decisão, um conjunto de alternativas, um conjunto de estados da natureza e a consequência das decisões, conforme ilustrado na figura 32.

Figura 32 – Componentes do problema multicritério.

Fonte: baseado em Malczewski (1999).

O modelo multicritério considera diferentes aspectos e, por conseguinte, avalia as ações com base nos critérios estabelecidos, sendo cada critério uma função matemática que mensura o desempenho das ações em relação a um dado fator, objetivando otimizar tais funções de forma simultânea. Por isso, há necessidade de obter as informações das preferências dos tomadores de decisão (ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001)