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somatopoético Foram ainda elaborados mais alguns conceitos A autoimpressividade será discutida a seguir, nas próximas páginas Os outros conceitos serão apresentados no último

3.5 Linhas de investigação da expressividade somática

3.5.1 Anatomia vivencial

Por essa linha de investigação, conhecemos o corpo anatomicamente. Todo recurso material útil a esse propósito pode e deve ser utilizado. Esqueletos didáticos, por exemplo, são ótimos para o conhecimento das formas ósseas e suas relações articulares. Esponjas macias são boas para ajudar no entendimento referente ao enchimento dos pulmões. Quando temos uma esponja desse tipo apertada entre os dedos, e em seguidas abrimos a mão, percebemos que ela na mesma hora retoma seu tamanho original. Isso acontece porque, de modo semelhante ao que acontece com nossos pulmões, a compressão que estava atuando sobre ela se neutralizou. Se esticamos algumas tiras elásticas com as mãos, sentimos uma qualidade muscular: a elasticidade. Me detenho nesses detalhes para explicitar que o aprendizado anatômico não deve ser apenas visual, mas também táctil.

Em relação ao recursos visuais, as imagens utilizadas devem ter boa resolução e oferecer diferentes vistas da mesma estrutura. Por exemplo, ao estudarmos o conjunto ósseo do assoalho pélvico, é importante observá-lo de cima, de baixo, de frente e de costas. Precisamos ter imagens que nos tragam todas essas perspectivas de observação, porque é necessário que captemos a forma óssea tridimensionalmente. Se estudamos a musculatura do assoalho pélvico, idem. As imagens devem ser trazidas para o corpo, localizadas e sentidas no corpo; devem ser corporalizadas. Depois de observar imagens da caixa das costelas, preciso tocar minhas costelas e visualizar essa minha caixa óssea no meu volume interno. Posso rolar pelo chão lentamente procurando empurrar as costelas contra o chão durante cada instante do rolamento, isso me ajudará a sentir seu formato de barril. Depois disso, se eu quiser, posso voltar a experimentar um toque nas costelas novamente.

Em trabalhos em duplas, posso tocar o outro ao mesmo tempo que tenho minha vista livre para observar a presença dos ossos na superfície do corpo dele, ou a presença de vísceras, de músculos etc. Somo o trabalho do tato com o trabalho dos olhos. Posso apalpar meu próprio abdômen para estimular minhas vísceras, sabendo onde cada uma delas está. Posso circular o globo ocular pelos olhos fechados, e visualizar a cavidade óssea onde eles se encaixam. Posso fazer isso deitada, e em seguida abandonar essa ação perceptiva, deixando meus olhos descansarem sobre o apoio ósseo do crânio; deixando que eles encontrem seu próprio chão, já que a gravidade também atua sobre eles.

Quando eu conheço a coluna, sei que ela não se restringe a ser um lindo móbile ósseo. Sei que dentro dela passa a medula nervosa. Sei que pelas laterais das vértebras

saem os nervos que se espalharão por todo o corpo. Sei que vasos sanguíneos chegam aos ossos, aos nervos e à medula, e que deles saem. Sei que entre as vértebras existem discos intervertebrais, e que esses discos são como bolachas amortecedoras. Sei que eles são o o que restou do meu eixo longitudinal embrionário. Sei que as vértebras são "costuradas" umas às outras por ligamentos, e "forradas" por camadas de músculos. Sei que na frente da coluna estão localizadas as vísceras, e que entre elas e a coluna passsam vigorosos ligamentos que tem formato de tiras compridas. Sei que o "talo" do diafragma se ficha à coluna lombar, quase no mesmo local onde se fixam as tiras do músculo pssoas. Sei que as vértebras se afastam umas das outras ligeiramente a cada vez que inspiro profundamente, e que a respiração massageia minhas vísceras. Todos esses conhecimentos agregam dados somáticos à vivência do movimento somático. Estimulam a sensibilidade, ampliando a expressividade.

No trecho transcrito abaixo, Hackney narra uma dificuldade de movimento que ela tinha, e como ela superou essa dificuldade por meio de um embasamento anatômico. Temos em sua fala um exemplo de como esse tipo de conhecimento pode ser muito válido ao ganho de liberdade de movimento:

[...] quando, pela primeira vez, comecei a estudar a respiração em relação ao movimento, minha própria preocupação de movimento era ser capaz de conectar meu corpo superior com meu corpo inferior. Eu tinha um hábito de quebrar a coordenação e o fluxo conectivo de movimento da minha metade inferior para minha metade superior na área da minha cintura. Quando eu movia meus braços amplamente, eu tendia a prender minha respiração levemente e perder meu aterramento. Isso era perturbador, e eu precisava de um suporte anatômico para uma imagem que pudesse me levar a experienciar como todo o meu corpo estava relacionado por meio do meu centro. Quando eu descobri a relação de integração do diafragma com o pssoas (como a respiração dava suporte à conexão na metade inferior do corpo [...]) Gradualmente, meu próprio entendimento interno cresceu, ajudado pela informação anatômica" (HACKNEY, 2002, p. 60, tradução nossa203).

203

[...] when I first began studying breathing in relation to movement, my own movement concern was to be able to connect my upper body with my lower body. I had a habit of breaking the coordination and connective flow of movement from my lower to my upper at my waist area. When I moved my arms fully, I tended to hold my breath slightly and lose my grounding. This was disturbing and I needed anatomical support for an image that could let me experience how my whole body was related through my central core. When I discovered the integrating relationship of the diaphragm and the psoas (how breathing supported connection into the lower body [...] Gradually my own internal understanding grew, aided by the anatomical information.