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its self-imposed limits.

Capítulo 2 Corpo, movimento, mente e consciência

2.1 Corpo, ambiente

2.1.1 O corpo é um ambiente repleto de movimento

Os corpos vivos são, em si mesmos, movimento. Existem os movimentos do corpo no espaço e os movimentos que acontecem no espaço-corpo. Já que o corpo é um conjunto de sistemas orgânicos, cada um responsável por uma função vital, e sabendo-se que vida é movimento, fica nítido que o corpo é movimento não apenas no espaço, mas também internamente. Como coloca Whitehouse, o homem, estando parado ou não, é puro movimento:

Seu corpo é, por si próprio, um mundo de movimento. Respiração e circulação, digestão e reprodução, são todos processos inconscientes de movimento - o maravilhoso padrão motor da vida. Por esse padrão, o homem se deita, se senta, fica em pé, e de pé, caminha e corre. Ele dorme, come, copula, luta, chora, ri e fala. (WHITEHOUSE, 1995, p. 241, tradução nossa148).

Ciane Fernandes reforça essa ideia:

As mudanças rítmicas na respiração, o controle dos esfíncteres, as respostas constantes do corpo aos estímulos internos e externos, provêem um fluxo constante que impulsiona o movimento. Por isso, o movimento deve ser observado como o estado natural do corpo humano vivo. (FERNANDES, 2006, p. 315).

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And man? Whoever he is, wherever he is, he too lives in movement. His body is a world of movement in itself. Breathing and circulation, digestion and reproduction are all unconscious movement processes, the wonderful motor pattern of his life. Within this pattern he lies down, he sits, he stands, and standing, walks and runs. He sleeps, eats, copulates, fights, weeps, laughs, and talks.

Vale a pena lembrar que o corpo é um universo organizado de células; que as células são um universo organizado de compostos químicos; que os compostos são uma organização de átomos; e que os átomos são uma organização de partículas atômicas e subatômicas. Além do ser humano viver em um ambiente, ele também é um ambiente: um ambiente formado por milhares de unidades vitais (células), bem como por inúmeros seres vivos (bactérias, vírus etc.). As células vivem e se relacionam. Coletivamente, formam tecidos. Os diferentes tecidos, quando agrupados, formam órgãos, e os órgãos, quando associados entre si ou com outros tipos de víscera (como os vasos sanguíneos) formam os sistemas orgânicos mencionados a pouco.

Nosso movimento corporal é o resultado não apenas de decisões, sentimentos, percepções etc., mas também de uma série de acontecimentos ocorridos a nível fisiológico. Assim como o corpo é o resultado de diversos arranjos formados por múltiplas estruturas microscópicas. Cada estrutura dessas, e cada arranjo, tem suas movimentações. Tais movimentações estão diretamente relacionadas com a macromovimentação do corpo, e para além disso: estão relacionadas com a expressão do corpo. Essa conexão entre movimentos fisiológicos e expressão corporal é algo muito investigado pelos biólogos etólogos, que estudam o comportamento dos animais, mas normalmente pouco considerada pelas pessoas que trabalham com a expressividade corporal por um viés criativo ou artístico. Essa conexão se dá da mesma maneira como se dá a relação entre a saúde de nossas estruturas fisiológicas internas e a nossa saúde geral. Para sermos dinâmicos, adaptáveis às situações, e por isso inerentemente expressivos, o movimento que ocorre no nosso mundo interno é imenso e ininterrupto. O trecho de Sherwood transcrito abaixo ilustra muito bem essa impressionante dinâmica:

Durante o minuto que levará para você ler esta página [o texto abaixo fica em uma única página do livro de Sherwood]:

Seus olhos converterão a imagem desta página em sinais elétricos (impulsos nervosos) que transmitirão as informações ao seu cérebro para processamento.

Além de receber e processar informações como impulsos visuais, seu cérebro fornecerá informação aos seus músculos, para ajudar a manter sua postura, mover os olhos pela página enquanto você lê, e virar a página quando necessário. Mensageiros químicos levarão sinais entre seus nervos e músculos para ativar a contração muscular adequada.

Seu coração baterá 70 vezes bombeando 5 litros de sangue para seus pulmões e outros 5 litros para o restante do corpo.

Aproximadamente 150 milhões de glóbulos vermelhos velhos morrerão e serão substituídos por outros recém-produzidos.

Você inspirará e expirará cerca de 12 vezes, trocando 6 litros de ar entre a atmosfera e seus pulmões.

Suas células consumirão 250 ml (cerca de uma xícara) de oxigênio e produzirão 200 ml de dióxido de carbono.

Mais de 1 litro de sangue fluirá através de seus rins, que atuarão nele para preservar os materiais "desejados" e eliminar os "indesejados" na urina. Seus rins produzirão 1 ml (cerca de uma pitada) de urina.

Seu sistema digestório processará sua última refeição para transferência para a corrente sanguínea e entrega para as células.

Você usará cerca de 2 calorias de energia derivada dos alimentos para apoiar o "custo de vida" de seu organismo, e seus músculos em contração queimarão calorias adicionais. (SHERWOOD, 2011, p. xviii).

Toda essa movimentação organizada pelos sistemas corporais pede que haja uma harmonia, caso contrário, vários colapsos se tornam possíveis. Para que haja um bom desenvolvimento das células, e do organismo como um todo, é necessário haver equilíbrio entre as funções vitais. O corpo é, em si mesmo, movimento: é fluxo tanto quanto é estrutura; variação tanto quanto constância. O equilíbrio entre as funções vitais também é igualmente importante para o movimento corporal no espaço.

O movimento dos impulsos nervosos possibilita a existência da mente humana. Os impulsos nervosos - as sinapses - transitam pelas células nervosas, passando pelo tecido nervoso. Imagino as vias nervosas sempre ocupadas por velozes luzes transeuntes. Visualizo o cérebro: uma aglomerada zona nervosa onde há intenso movimento sináptico. Esse movimento também é o movimento dos fluxos mentais entre consciência e subconsciência; os fluxos sensoriais nos portos de chegada do corpo, onde o mundo adentra o corpo; os constantes fluxos perceptivos. A percepção cria um ambiente nervoso de base onde há constantes ajustes. Nossa base é dinâmica. A mudança é o fator constante. Embora possamos nos sentir estanques am algumas circunstâncias da vida, também isso faz parte de um movimento. Embora visualmente estejamos quietos, por dentro nada está parado. Tomando as palavras de Feldenkrais:

Enquanto estou escrevendo, estou ciente de apenas algumas partes do meu corpo, bem como de minha atividade. Você, enquanto está lendo, está igualmente ciente de apenas algumas partes de você mesmo e de sua atividade. Uma imensa atividade segue em frente em nós, muito maior do que apreciamos ou estamos cientes. Esta atividade está relacionada ao que nós temos aprendido durante nossa vida inteira (FENDENKRAIS, 1995, p. 143-144, tradução nossa149).

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