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somatopoético Foram ainda elaborados mais alguns conceitos A autoimpressividade será discutida a seguir, nas próximas páginas Os outros conceitos serão apresentados no último

3.4 Modos de trabalhar o soma e provocar a expressividade somática

Conforme fora abordado no capítulo 1, no processo educacional/terapêutico somático, existem diferentes modos de trabalhar o desenvolvimento do soma. Os modos abordados nesta tese são: o toque, a visualização e o movimento193. A combinação desses modos de lidar com o corpo é algo próprio da Educação Somatica. Queremos que a consciência se volte para movimentos, conteúdos corporais e processos fisiológicos, e para isso nos tocamos ou tocamos alguém, nos movemos e imaginamos.

Durante uma vivência de movimento somático, os modos de trabalho podem acontecer em momentos intercalados ou em um mesmo momento. Um modo potencializa a efetividade do outro. A simultaneidade de modos pode aumentar o aprendizado. Por exemplo, quando um toque é aplicado, a pessoa que toca pode lançar mão de visualizações para direcionar sua consciência para o lugar que pretende acessar via toque. Ou seja, se ela toca em si mesma, ela visualiza o lugar de si mesma no qual pretende 'chegar', conduzindo o foco imagético da consciência para esse lugar. Se ela toca o outro, ela visualiza o lugar do outro que pretende acessar, direcionando o foco imagético da consciência para esse lugar, como se quisesse visitar esse lugar no outro. Outro exemplo: estou me movendo para contatar os ossos do meu antebraço. Enquato flexiono e extendo o cotovelo ou prono e supino o antebraço, estou procurando sentir os ossos a partir da ativação das articulações. Se aperto moderadamente uma parte do antebraço com uma mão, usando o toque, consigo sentir mais nitidamente os ossos e as conexões que eles fazem com os ossos que se articulam com eles. Quando me move lentamente, explorando as possibilidades articulatórias da coluna ao mesmo tempo em que as mãos de um parceiro estão "plantadas" ao longo do eixo das minhas costas, minha percepção táctil irá se misturar à minha percepção de movimento, dilatando o quadro perceptivo/sensitivo.

3.4.1 Visualização

Pela visualização desencadeamos vivências somáticas a partir da imaginação. Usamos nossa capacidade mental de gerar imagens para frutificar nossa experiência do soma, já que, conforme dito por Gerda Alexander, “todo pensamento, por mais abstrato que seja, tem uma repercussão real no organismo inteiro" (ALEXANDER, 1991, p. 33). A visualização pode ocorrer de modos diferenciados. Podemos imaginar coisas reais, como

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No capítulo 4, em 'Inspiração, expiração e pausa', a partir da página 183, a vocalização também é abordada.

um osso, uma célula; podemos imaginar coisas não reais, como um osso de chumbo e um volume corporal gelatinoso. Podemos imaginar processos reais, como a respiração celular; podemos imaginar processos não reais, como a respiração pelos poros da pele. Quando visualizamos coisas e processos reais, precisamos conhecer aquilo que imaginamos. Se for uma coisa, precisamos conhecer a forma dessa coisa, sua consistência, sua textura, seu peso (quanto mais conhecimento, melhor). Se for um processo, precisamos saber como esse processo se desenvolve, quais conteúdos corporais fazem parte dele, e quais estruturas orgânicas estão envolvidas nesse processo.

Quando utilizamos a visualização de coisas reais, isso nos ajuda a ser mais precisos durante um toque, durante uma intenção de localizar algo dentro de nós, e durante um movimento. Exemplos dessas três possibilidades (seguindo a ordem em que foram mencionadas): visualizar o conjunto ósseo pélvico enquanto tateamos esse conjunto; visualizar o menisco do nosso joelho direito dentro do joelho; visualizar nossas costas enquanto avançamos de costas no espaço. A visualização de um conteúdo corporal irá levar a mente a frisar a presença desse conteúdo em nossas representações corporais cerebrais e, a depender do caso, irá ajudar a consciência a localizar/sentir corporalmente esse conteúdo. Quando o conteúdo tem dimensões muito pequenas, como por exemplo, uma das glândulas endócrinas da cabeça, não chegamos a sentir a localização desse conteúdo (pelo menos não normalmente), mas a imaginamos. Também podemos visualizar coisas e processos no outro, como uma forma de oferecer auxílio a nós mesmos durante um toque que realizamos nele, ou durante uma leitura dos movimentos dele.

Figura 5: Dois exemplos de visualização que podem ser feitas em um bebê.

Na visualização de processos reais, quando se trata de um processo voluntário, como por exemplo, a movimentação do braço esquerdo, procuramos visualizar o processo acontecendo para nos apropriarmos mais dele. Enquanto movemos o úmero, visualizamos o movimento acontecendo na articulação úmeroescapular; o úmero se movendo pelo espaço devido ao movimento articulatório com a escápula. É como diz Andrea Olsen: "Abra seus olhos da mente e torne-se ciente da imagem que há lá para mover-se nesse caminho" (HACKNEY, 2002, p. 57, tradução nossa194). Quando o processo que está sendo visualizado não é um processo voluntário, podemos procurar nos mover a partir de sua visualização. Por exemplo, imaginamos o movimento fluídico que existe em todos nossos tecidos corporais, no ambiente intercelular: o fluxo de maré que existe no plasma dos tecidos, e que é decorrente da pulsação cardíaca. E depois de sentirmos que conseguimos trazer essa imagem dinâmica para a consciência, nos movemos a partir dessa imagem, procurando "deixar" que o próprio fluxo plasmático nos mova pelo espaço. É como diz Olsen: "O que quer que você imagine, deixe isso mover você" (HACKNEY, 2002, p. 57, tradução nossa195).

Quando imaginamos coisas ou processos não reais, o fato da coisa não existir no corpo, ou do processo não acontecer de verdade, não faz a menor importância. É preciso que isso fique claro, porque se houver um julgamento interno condenando essa estratégia, o processo de aprendizado somático estará sendo prejudicado. As visualizações de coisas e processos não reais são usadas para gerar o acionamento de produtivas configurações em nossa malha neuromotora, mudanças de tônus e de qualidade de movimento. Lançamos mão da inventividade perceptiva196. Ao imaginarmos coisas, levamos o cérebro a "construir"

as percepções e sentimentos que essas coisas desencadeiam em nós, mesmo que sejam coisas irreais. Como coloca Irene Dowd:

todos os padrões de alinhamento postural, todo uso e desenvolvimento muscular, todo movimento do corpo humano é direcionado e coordenado pela atividade do nosso sistema nervoso [...] Portanto, a fim de mudar nossa forma corporal ou nossos padrões de movimento, nós precisamos mudar nossa atividade neurológica. Apesar dessa atividade neurológica ser habitual e/ou não consciente, mudar nossas metas conscientes exatas afeta esse processo inconsciente subcortical extensivo. (DOWD, 1995, p. 1-2, tradução nossa197).

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Open your mind's eye and become aware of the image that is there for moving in this way.

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Whatever your image, let it move you.

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Conceito apresentado na nota 103, na página 68.

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[...] all postural alignment patterns, all muscle use and development, all human body movement is directed and coordinated by the activity of our nervous system [...] Therefore, in order to change our body shape or our movement patterns we must change our neurological activity. Although this neurological activity is habitual and/or nonconscious, changing our exact conscious goals affects this extensive subcortical, unconscious process.

Quando imaginamos que nosso corpo é um volume inteiramente fluídico, que da pele para dentro há apenas fluidos, ajudamos a função tônica muscular corporal a homogeneizar, ou pelo menos a harmonizar, o tônus de diferentes partes do corpo. Quando visualizamos que há correntes aquáticas mobilizando nosso volume corporal fluídico, levamos o sistema nervoso a acionar sutis impulsos de movimento. E quando deixamos essas correntes nos fazerem rolar pelo chão, ajudamos o sistema neuromotor a refinar padrões de iniciação do movimento. A vivência de movimento experimentada a partir dessa imagem tem muitas semelhanças com a vivência experimentada a partir da imagem do fluxo plasmático. Não é de todo mentira que somos líquidos por dentro, já que corporalmente somos 70% água.

No uso de imagens não reais, estamos ajudando processos reais, no sentido de colaborar para que suas peculiaridades sejam mais reconhecidas pelo próprio organismo. Se visualizamos que dentro de nós, em um ambiente escuro como uma noite selvagem sem lua, tem uma faísca que, como um relâmpago, ascende e apaga veloz, e se imaginamos que na próxima aparição dessa faísca, iremos chicotear um braço no ar, como se ele fosse a faísca, realizaremos uma chicoteada veloz, mas com um tônus relativamente baixo no braço. Isso significa que o movimento se aproximou, em alguma medida, da natureza de um movimento reflexo. Isso significa que ajudamos nosso cérebro a comandar uma inervação muscular de modo preciso. Isso significa que no nosso esquema corporal cerebral, colocamos um brilho sobre a representação do nosso ombro e da nossa escápula. Algumas imaginações são até mesmo tão reais quanto imaginárias, como por exemplo, quando imaginamos que ao empurrar a sola dos pés contra o chão, fazemos nascer um broto de cada sola do pé, que cresce na direção contrária desse empurrar, subindo rapidamente pelas pernas. Os dois brotos se encontram na região do centro corporal e sobem pelo tronco até saírem pelo topo da cabeça. Isso é real ou imaginário? Em parte, imaginário. Em parte, real. Somos seres longitudinais antigravitacionais. É como relata Gerda Alexander:

Formas familiares em que pensamos, como linhas retas, onduladas ou em ziguezague, círculos ou triângulos, uma mudança de direção de uma linha fictícia, formas que não acreditamos que tenham repercussão no corpo, uma vez que foram apenas ‘pensadas’, provocam, no entanto, mudanças palpáveis e mensuráveis no tônus muscular e na circulação. (ALEXANDER, 1991, p. 33).

Ao visualizarmos, dentro de nós, que nosso conjunto ósseo sacrococcígeo é de chumbo, nos ajudamos a fazer com que o vetor da descarga de peso passe por essa região da pélvis. Junto disso, podemos fazer pequenos ajustes no posicionamento dos pés, no posicionamento dos joelhos e na rotação do fêmur. Isso pode nos fazer encontrar um

posicionamento mais eficiente para a pélvis ao longo do nosso eixo. No capítulo 4, no decorrer dos temas para reflexão e experimentação, vários exemplos de visualização serão trabalhados.

3.4.2 Toque

Quando tocamos alguém, estamos usando a parte do nosso corpo especializada em perceber formatos: as mãos. É bom trazer as próprias mãos à frente do rosto e olhá-las, e nada mais. Passear os olhos por elas, observar sua forma, as texturas da pele, as junções entre as diferentes partes. Eu, pessoalmente, gosto de praticar o exercício de me maravilhar com minhas mãos. Vou observando os dedos, cada ponta de dedo, as linhas por toda a palma, os poros do dorso, os pelos, a base da mão, o encontro com o braço, como os dedos se movem em direção ao centro da mão, como a palma se dobra, como a base do polegar tem mobilidade, como a mão inteira se encolhe com força, como hipertensiono os dedos, como movo os dedos espiraladamente, como agarro lentamente um pouco de ar, como vou abrindo a palma da mão continuamente; como essas ações me trazem percepções e sentimentos curiosos. Preciosas são as mãos. Elas desejam o mundo.

Como coloca Hacknet: "Tocar é uma maneira maravilhosa de ganhar conhecimento e de dar conhecimento" (HACKNEY, 2002, p. 56, tradução nossa198). Desdobrando a primeira parte dessa frase, podemos observar que tocar o outro é sempre uma possibilidade de conhecer algo diferente, de deixar isso reverberar em nós, e de aprender com isso. Assim como o tato "[...] nos fornece informações essenciais sobre o mundo que nos cerca – suas formas, sua temperatura, sua consistência" (ALEXANDER, 1991, p. 17), ele também nos fornece informações sobre o outro que tocamos. E desdobrando a segunda parte da frase de Hackney: quando toco alguém, estou mostrando à pessoa que aquela parte dela existe; estou dando algo a ela: estou dando a ela um pouco dela mesma. Quando alguém me toca, além de me dar um pouco de mim mesma, também me dá apoio psicológico, afeto, conforto. Mas isso, se o toque for bom. Se for o contrário, irei ganhar coisas desagradáveis, como dor, desconforto, agonia.

O toque tem uma natureza primitiva, ele é livre. Não é por ser leve, que ele será leviano ou insignificante. Pelo contrário, um toque extremamente delicado pode despertar profundezas. No entanto, um toque acalorado e afetuosamente vigoroso também pode despertar profundezas. O toque é livre e primitivo nesse sentido: ele é variável. Como ele nos faz atuar na fronteira eu-outro - no encontro das minhas mãos com o outro - ele ressalta diferenças: a diferença eu x o outro; a diferença táctil que sinto na minha área tocada; a

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diferença no meu modo de tocar. No entanto, por meio do toque, também apagamos as diferenças, nos unindo ao outro. Em relação a isso, são bonitas as palavras de Feldenkrais: "Por meio do toque, duas pessoas, o tocador e o tocado, podem se tornar algo novo juntos; dois corpos, quando conectados por dois braços e mãos são uma nova entidade" (FELDENKRAIS, 1995, p. 139, tradução nossa199). Assim como o foco no movimento repadroniza o movimento, um toque com foco repadroniza aquilo que toca. De acordo com Bonnie Cohen: "A arte do toque e da repadronização é uma exploração da comunicação pelo toque" (COHEN, 2015, p. 31).

Quando trabalhamos o desenvolvimento do soma pelo toque, a visualização nos oferece um significativo suporte. Conhecer a forma, a densidade daquilo que queremos tocar, bem como sua localização, é fundamental. É importante ter a imagem da coisa em mente. Isso nos ajuda a reconhecer o terreno, uma vez que tenhamos chegado nele. Então, é preciso haver o conhecimento - tanto por parte de quem toca, quanto por parte de quem é tocado - de que o corpo é composto por diferentes tecidos dispostos em diferentes camadas. Ter esse conhecimento torna mais potente a experiência de tocar e ser tocado. A relação tátil é uma com cada tecido; para cada tecido, toques peculiares. A sensibilidade tátil nos faz sentir diferenças de textura, temperatura, consistência, relevo, forma. Quando toco o braço de alguém, posso estar procurando realizar um toque ósseo (que trava o contato tátil com os ossos, por jeitos de tocar que estimulem o osso), ou um toque muscular (que trabalhe os músculos; que me ponha em comunicação táctil com o tecido muscular, estimulando-o), ou um toque que objetiva acessar os ligamentos (que será um toque de manipulação de uma articulação; um toque que pretende ecoar no espaço articular) etc. Existe a possibilidade de a pessoa tocada nos dar um retorno, nos informando a respeito do que está sentindo. Como coloca Bonnie Cohen:

No trabalho do toque, ao tocar em diferentes ritmos, voltando a atenção para camadas específicas do corpo, seguindo as linhas de força existentes e sugerindo novas, e pelas mudanças na pressão e na qualidade do toque, entramos em harmonia com os diferentes tecidos (COHEN, 2015, p. 31).

Conforme praticamos o toque, vamos reconhecendo as características mais específicas de cada tecido, e vamos decantando a percepção que temos deles. Percebemos que a rigidez é a principal característica de um tecido; que a maleabilidade é a principal característica de outro; que a elasticidade é a principal características de outro etc. Com o tempo, essas percepções vão se desdobrando. A experiência do toque se faz mais completa

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Through touch, two persons, the toucher and the touched, can become a new ensemble; two bodies when connected by two arms and hands are a new entity.

se a pessoa que está sendo tocada contatar seu próprio tecido mentalmente. Entretanto, como coloca Bonnie, se a pessoa tocada não estiver participando com sua intenção, ou se estiver inconsciente, ainda assim, o toque comunica, porque de todo modo, ele fala aos tecidos do corpo (COHEN, 2015, p. 31).

O toque também pode se dar apenas pelo sentir, quando não há como percebermos pelo tato aquilo que desejamos acessar ou estimular via toque. No toque celular do BMC, pousamos as mãos sobre a área que queremos tocar, sentindo o tecido, e imaginamos as células dessa área. Para o BMC, essas células sentem que estão sendo tocadas, e isso estimula seu funcionamento vital. O toque, por si só, já tem uma propriedade curativa.

Precisamos usar o toque não apenas para tocar o outro, mas também nós mesmos. Para o soma, se tocar é algo muito potente. Elizabeth Behnke aborda um ponto importante quando nos lembra que tocar a si mesmo é sempre uma tripla possibilidade: nos sentirmos a mão que toca; nos sentirmos a parte tocada; e nos sentirmos as duas coisas ao mesmo tempo (BEHNKE, 1995, p. 322). Quando somos a mão que toca, podemos sentir: a estrutura, o tônus, a adesão ou não entre os tecidos etc. Quando somos a parte tocada: recebemos o toque, sentimos os diferentes toques e o que eles nos causam; ficamos receptivos. Quando somos ambos, tocador e tocado, nos localizamos nessas duas perspectivas ao mesmo tempo.

O toque em diferentes partes do corpo, conforme exposto por Gerda Alexander, nos ajuda a enriquecer ou complexificar nosso esquema corporal cerebral, pois uma parte do modo pelo qual o corpo se sente, se dá via tato (ALEXANDER, 1994, p. 11). Por essa via, o corpo vai ganhando informações sobre sua própria forma, volume etc. Com isso, conforme somos tocados, nossa representação corporal cerebral vai se tornando mais harmônica, com conexões mais bem feitas entre as partes. A integração vai acontecendo. No que diz respeito a isso, o toque na pele é importante. Estimular a pele de todo o corpo é ajudar o corpo a ter uma imagem mais integrada de si mesmo.

Ser tocado é então um grande estímulo para o movimento somático, e é algo que provoca a expressividade somática. O toque, mesmo depois de finalizado, ecoa no corpo, e podemos nos mover a partir desses ecos, percebendo a presença ressaltada das partes tocadas e colocando essas partes em comunicação. Também é possível e muito proveitoso explorar combinações de toque e movimento, como por exemplo, nos movermos com alguém tocando nossa coluna. Se a pressão das mãos de quem toca for bem dosada, o toque não interferirá na espontaneidade direcional de quem se move. Uma pressão mais forte irá interferir. No entanto, a pressão mais forte pode ser útil, a depender do objetivo,

assim como um toque pincelado, que se move. Quando o toque direciona ou sugere o direcionamento espacial àquele que toca, outras possibilidades exploratórias se abrem.

O BMC é um exemplo de abordagem de Educação Somática que explora detalhadamente o toque. Por exemplo: o profissional de BMC quer manipular os tecidos do braço da pessoa com quem está trabalhando para ajudar a consciência corporal dela a diferenciá-los. E ele também quer finalizar o toque demorando-se mais em um toque ósseo, para ajudar o corpo a ganhar mais consciência das dimensões dos ossos do braço (comprimento, largura, volume). Quando o educador põe as mãos sobre o braço da pessoa, ele pode direcionar a consciência para o nível das células, utilizando uma visualização, o que o ajudará a sentir o outro de um modo mais celular. Isso facilitará a conexão com o outro e com a região tocada. Em seguida, ele pode começar a usar um toque epidérmico, para harmonizar a pele da pessoa. Para melhorar sua conexão com esse tecido corporal, ele pode visualizar o tecido epidérmico da região que toca, o que o faz entrar em contato com seu próprio tecido epidérmico. Ao lermos, abaixo, as palavras escritas por Bonnie Cohen, notamos como seu envolvimento consigo mesma é tão intenso quanto seu envolvimento com o outro que toca:

Se estou trabalhando com qualquer área do corpo de alguém, eu vou para esta área no meu próprio corpo para ver. Nesse processo, eu me torno ainda mais aberta. Isso vai se desenvolvendo, e é como se dois sinos badalassem na mesma batida. Podemos ressoar um no outro. (COHEN, 1993, p. 55, tradução nossa200).

No capítulo 4, serão mencionados casos em que o toque é utilizado no trabalho de desenvolvimento do movimento somatopoético. Isso é feito não com o objetivo de exaurir as possibilidades de uso do toque, mas sim de inspirar ações investigativas.

3.4.3 Movimento

O movimento, conforme exposto no capítulo 2, em 'Funcionamento sensoriomotor' (página 108), gera percepções que são utilizadas pelo corpo. A somatização, no contexto da Educação Somática, é o soma em movimento; é a geração de dados somáticos por meio do movimento. Os dados são de natureza variável, porque o soma é multidimensional. Ele é perceptivo, sensitivo, emocional, lúdico, social etc.

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If I'm working with any area of someone else's body, I will go into that area of my own body to see. In the process I become more open also. It becomes like two bells ringing on the same pitch. We can resonate each other.

Tal qual fora abordado em 'Perceber, sentir e brincar' (página 136), quando nos